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Um regresso ao passado através de Salazar

por Manuel_AR, em 18.09.17

Discurso salazarista.png

Acabei de ler o este livro que foi o resultado de uma tese de doutoramento de Moisés de Lemos Martins em 1990. Esta é uma 2ª edição lançada em dezembro de 2016.

Escrita por um sociólogo que não se poupou a linguagens técnicas do discurso filosófico e sociológico torna-se, especialmente na primeira parte do livro, de leitura difícil para o comum dos cidadãos que não possua uma formação académica numa daquelas áreas.

O livro é uma análise de conteúdo do ponto de vista semiológica e interpretativo da política salazarista através dos seus discursos que o autor várias vezes cita. Os discursos de Salazar desde 1928 foram construídos para uma política redutora da sociedade portuguesa que necessitava duma regenerescência concretizada através duma construção minimalista da nação pelo somatório das células familiares que ele considerava ser essencial para o controle e manutenção da ordem social, mas que era redutor no seu conjunto e apenas como corpo da nação.

Os sistemas partidários destroem as nações são os fabricantes da mentira comparado com verdade do regime. A ordem militar prevenia a desordem civil. A nação era um corpo cujos órgãos necessitavam de regeneração e consequente de normalização.

Dizia Salazar num dos seus discursos “O lar desagrega este, separa os membros da família, torna-os um pouco estranhos uns dos outros”.  E noutro ainda “A União Nacional vincula os indivíduos a uma disciplina que previne os efeitos da divisão irracional do espaço nacional, da exploração das paixões dos indivíduos, da sua concentração doentia (espirito de grupo, de partidos, etc.)”.

Para o autor era a tecnologia da obediência, para Salazar a disciplina ética que prevenia a fragmentação nacional instaurada pela violência dos partidos. Ora, os órgãos da nação doente necessitavam de uma reordenação disciplinar através dum conjunto de táticas que combatessem a fragmentação e a irracionalidade da pátria. Mais adiante o discurso salazarista afirma implicitamente que pretende prevenir a revolução social, a luta de classes, a associação revolucionária, quer dizer, «a força ao serviço da desordem», a disciplina ética impõe o «espírito corporativo» a todos os interesses materiais e morais da nação.

Uma leitura acrítica da mensagem salazarista pode levar alguns a saudosismos ideológicos da filosofia política de Salazar que ainda andam por aí.

Enfim um livro difícil, mas interessante.

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publicado às 13:26



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