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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
A frase do título deste post que penso ter sido atribuída a Óscar Wilde fez-me recordar Donald Trump que, para uns, sofre de autoritarismo, é fascizante e tem falta de senso político, e, para outros, é o melhor político como, por exemplo, para Bolsonaro no Brasil que gosta de o imitar o que me levou a refletir sobre os avanços na U.E. da extrema-direita e dos seus tentáculos. O crescimento destas ideologias é um dos assuntos mais sérios que tem vindo a público e não pode ser desvalorizado pela U.E. apesar de que alguns em Portugal digam estarmos livres. Não, não estamos livres. Não há dúvidas do começo do seu despontar embora que, ainda, timidamente.
São as tendências autoritárias e extremistas que vivem sob a capa de democratas no seio da própria democracia que a estão a minar. São os nacionalismos exacerbados, as xenofobias, os racismos, o ódio, o apelo à segurança por causa da insegurança, o ser contra tudo quanto é diferente que se vai amplificando no seio das democracias.
Por cá, invocam-se recordações saudosistas dos tempos de Salazar que alguns, os mais velhos, na sua instabilidade e insegurança que a idade avançada lhes vai trazendo, recordam e acham que um regresso a esse espírito lhes faz falta. Outros, os mais novos, eventualmente angariados por estes extremismos, os que não viveram aqueles tempos e que dizem não haver agora liberdade de expressão por não poderem clamar hinos rácicos e xenófobos, reclamam por novos tempos que acabam por trazer, novamente, a falta dela como se pode confirmar por afirmações de André Ventura (ainda no PSD?) ao semanário Sol.
É muito fácil fugir a perguntas, ao diálogo e à controvérsia com mensagens curtas e inteligíveis, com frases e discursos redondos e bacocos, feitos à medida, sem coerência argumentativa, convencer um povo e desencadear as suas emoções mais primárias. Um povo menos culto, com algum défice de literacia política, impreparado e desavisado, recebe e assimila rápida e facilmente essas mensagens e dá-lhes crédito. É o endeusamento dos que falam direto e fácil, por serem compreendidos com um mínimo esforço.
Aqueles que anseiam por um novo homem ele aí esteve, na televisão, identificando-se como sendo uma nova pessoa, um novo homem após libertação, terminada a prisão por violência racista. Se a prisão recupera aí está a prova manifestada pelo arrependido. O passado de violência e assassinatos por motivos raciais, as cruzes gamadas tatuadas nos braços, as saudações nazis, nada disso interessa, foram coisas do passado, coisas de juventude. Mas esse novo homem diz precisarmos de um Salazar que nada teve a ver com fascismo e que no seu tempo havia liberdade de expressão coisa que atualmente não existe. Salazar salvou Portugal da guerra e recebeu judeus fugidos dos nazis, não era fascista e nessa altura havia segurança.
Hoje, que já não há um Salazar precisarmos de um, ou mais do que um. Quem o diz é o novo homem que saiu da prisão e é contra a imigração e os negros porque a violência vem dos africanos, provado que está nas prisões, onde se encontram em maioria, devido a crimes violentos. Compreende-se, é uma nova pessoa, um novo homem como afirma categoricamente, talvez escondendo tatuagens reveladoras dessa nova pessoa debaixo da manga comprida do casaco que traz vestido.
Claro que já adivinharam de quem estou a falar. É desse novo homem, Mário Machado, líder do movimento Nova Ordem Social, várias vezes condenado por crimes de ódio racial, mas que não tem nada contra os homossexuais. Quando no programa "Você na TV", Manuel Luís Goucha lhe perguntou no final da entrevista:
- Vivo há vinte anos com um homem, tem alguma coisa contra mim? - perguntou Luís Goucha a Mário Machado.
A resposta veio de imediato:
- Claro que não, senão não estaria aqui - responde o entrevistado.
Esta foi mais uma novidade que nos trouxe este novo homem!!
Goucha levanta-se muito rápido e, com uma expressão de regozijo por esta afirmação, sentindo-se talvez “aliviado” dos ataques que lhe terão feito nas redes sociais pelo convite dirigido àquele novo homem, encaminha-se, porventura envaidecido, para o ecrã gigante onde passa uma mini reportagem, espécie de vox populi. Foi, porventura, a sua forma de vingança.
Gostava que me explicassem por desenhos este fenómeno de recuperação que levou Mário Machado a transformar-se num novo homem uma vez que, em 2016, apenas há dois anos, foi noticiado que “Comunistas, negros, muçulmanos e homossexuais foram violentamente espancados por skinheads entre 2013 e 2015, no centro de Lisboa. A motivação político-ideológica das cabeças rapadas, que pertencem à fação mais perigosa do movimento internacional de extrema-direita Hammer Skin Nation, levou à intervenção da Unidade Nacional de Contraterrorismo (UNCT) da PJ, que deteve ontem 20 suspeitos.”. “Os cabecilhas do grupo agora detido fizeram parte do núcleo duro do ex-líder dos Portuguese Hammer Skins (PHS), Mário Machado, detido desde 2007, data da última megaoperação da UNCT contra os crimes deste movimento neonazi.”, que pode ler aqui.
Esses, como Mário Machado, que falam em censura e em falta liberdade de expressão que dizem atualmente não existir, cortariam, sem hesitação, este texto se fosse escrito, sob um regime como o que ele defende.
A polémica e os protestos instalados sobre o dito programa da TVI, na rubrica "Diga de Sua (In)Justiça" da autoria de Bruno Caetano, deu lugar a uma quantidade de artigos de opinião que talvez tenham sido exagerados, porque "a única coisa pior do que ser falado é não ser falado". E Mário Machado foi falado, e até de mais! Neste preciso momento ele está a ser falado e você está a ler. Terá sido esse o objetivo que a TVI teve em mente?!. . .
Para além da tentativa de branqueamento do seu passado, a TVI ofereceu ao nazi que agora diz ser nacionalista e um outro homem, a publicidade gratuita que intentou elevar os telespectadores ao nível de consumidores do produto enganoso que é Mário Machado.
E termino com uma citação de Vasco M. Barreto no jornal Público:
“Independentemente do que possamos pensar sobre a liberdade de expressão, qualquer texto que mencione o mais famoso neonazi da pátria deve incluir uma referência a Alcindo Monteiro, Manuel Domingos Silva, Contreiras Ferreira, Alberto Adriano, Fausto Soares, João Soares e Matias de Almeida, entre outros, que a 10 de Junho de 1995 foram agredidos à paulada e aos pontapés no corpo e na cabeça por skinheads.”.
A direita normalmente não tem senso de autocrítica, e seguramente não se questiona sobre seus próprios equívocos. A direita perde a confiança do eleitorado, apesar de ter toda a máquina mediática nas suas mãos e começa a sentir que não têm líderes com credibilidade suficiente.
Não apresenta políticas inovadoras, mantem-se no neoliberalismo anti estado social que se provou fazer duvidosas privatizações. O conservadorismo religioso católico está colado à direita que pretende esta tome conta do país. A direita utiliza falsos discursos sociais democratas, mas que, prontamente, descarta uma vez chegada ao poder. Limita-se a reproduzir mantras repercutidos à exaustão como o de a esquerda é incompetente.
Com a economia em ciclo de crise tenta descobrir corrupção na esquerda para fazer esquecer a sua própria, que é mais eficaz, oculta e guardada por arames farpados e cães de guarda que a protegem para tachar a esquerda de economicamente incompetente e irresponsável.
Poderiam, quando no poder, pensar num verdadeiro do sistema judiciário para lidar com a corrupção de maneira estrutural e institucional (porque corrupção não tem lado e não é apenas um problema pessoal) e acabar com a morosidade dos tribunais que impossibilitam o equilíbrio entre a presunção da inocência e a condenação necessários para a construção de um executivo ético. Mas não, limitaram-se a mudar o visível, o físico e o superficial, mantendo o que necessitava ser mudado.
Para esta situação contribuem os do clube dos direitalhos formado a partir de adeptos direitistas que são todos os que são da verdadeira direita democrática. Direitalho é uma palavra que não faz parte do vocabulário português e o seu antónimo é a palavra esquerdalho, mencionada com sentido pejorativo por alguns que se dizem contra a esquerda, seja qual for o motivo. A palavra esquerdalho faz parte do léxico dos direitalhos frequentadores das redes socias e dos comentários dos jornais online e nos blogs. Deixaremos para outra ocasião os esquerdalhos que, apesar de se encontrarem do lado oposto, abraçam a mesma linguagem, mas de sinal contrário.
Para os direitalhos, esquerdalhos são todos os que não são de direita, os que não são neoliberais, os que não são radicais de direita, os que não perfilham ideias e princípios fascizantes, os que são pela manutenção do status quo que abandona uns setores da sociedade em favorecimento de outros. Os direitalhos não sabem porque o são, nem lhes interessa saber. São direitalhos e chega.
Acham que lhes dá um certo estatuto e aceitação na ordem social. Muitos vivendo apenas do seu salário alinham com os que defendem baixar impostos para uns, os mais favorecidos, e aumentá-los para os outros, privatizar tudo porque acham que poderão vir a obter vantagens, gostam que outros pensem que o seu estatuto social é superior, apenas, e só, porque são direitalhos. Outros têm potencial financeiro, mas cultura, valores e ética são baixos, mas, por outro lado mostram o seu fervor religioso católico através de todos as organizações onde se infiltram e mostram a sua grande religiosodade. Não fazemos discriminação de género, as direitalhas também são deste grupo. Muitas conseguiram, por vários fatores, trepar a um patamar onde se julgam pertencer à “high society” e pretendem distinguir-se pelo tratamento dos filhos ou netos por você, evocando quando acompanhados nomes sonates da sociedade, dando-se ares perante vizinhos e amigos.
Os direitalhos apenas falam na necessidade de reformas, papagueando o que outros dizem, mas não identificam quais. São pelo imobilismo e não mostram interesse em acompanhar a europa. São contra o investimento público e alguns pertencem ao grupo daqueles que esperam que caia do céu o investimento privado e anseiam para que haja uma mão de obra dócil e barata, e quanto mais barata melhor. Os investidores defendidos pelos direitalhos são os que pretendem que o investimento efetuado hoje, ao fim de alguns meses, tenha retorno do capital mais o lucro.
Os direitalhos são contra tudo o que seja social, mas são a favor de tudo o que lhes possibilite a livre especulação, de preferência sem legislação laboral. Neles incluem-se os revanchistas, os invejosos, os xenófobos, os racistas, os que acham que a direita, a deles, resolve os problemas que enfrentam e que ainda ninguém resolveu, os que vivem na espectativa duma viragem direitalha para os resolver.
Direitalhos são também os que enxovalham os outros, os que difamam, os que caluniam sem prova, os que, escondidos pela capa do anonimato lançam denúncias, (que mais fazem lembrar elementos pidescos infiltrados), guardam na gaveta do lixo os mexericos e as falsas suspeições para oportunisticamente os lançar para a opinião pública através dos media que lhes dão cobertura. Utilizam o lema do vale tudo desde que seja contra os outros, e nada contra eles.
Há antigos líderes que, à falta de melhor, transformaram-se em formadores de putativos direitalhos da JSD, como o fez Cavaco Silva no Pontal. Desdenhou a ideologia, como se ele próprio não tivesse uma, e lançou disparates como duma possível realização duma revolução socialistas através do Governo. Identificou-se assim ele próprio como possível direitalho.
É importante esclarecer que no grupelho dos direitalhos não incluo os da verdadeira direita democrática, os que valorizam os valores democráticos, os que têm uma visão socialmente diferente para as soluções e problemas do país e das pessoas, e que, através duma oposição construtiva e de verdade, consigam ganhar o poder através dos mecanismos que a democracia proporciona.
Os direitalhos não são de direita, são contra a esquerda porque consegue baralhar os seus pobres espíritos politiqueiros. Não sabem o que é ser de direita, nem sabem o que é ser de esquerda. Porque não sabem o que é, nem uma, nem outra. Todos os que não sejam direitalhos são “comunas” e perigosos revolucionários. Imitam alguns esquerdalhos que dizem que os de direita são todos fascistas.
Recorrendo a uma metáfora e como mero exercício intelectual podemos imaginar uma entrevista a um adepto dum clube de futebol e estabelecer uma analogia com o pensamento político do direitalho. Porque não se trata de qualquer crítica ao espírito desportivo dos que gostam de futebol o leitor deve ter em mente que esta analogia trata duma transposição a partir do espírito clubista. A ideia é que leitor substitua a palavra clube pela palavra partido, a que um direitalho pertença, e imagine uma entrevista nesse sentido.
-Porque é do clube A?
-Porque os meus pais sempre foram desse clube e os meus vizinhos também são.
Pergunta-se a outro:
-Porque é do clube B?
-Porque me inscreveram no clube desde muito pequenino e dei por mim sendo sempre desse clube.
-Alguma vez criticou o seu clube?
-Só nas alturas em que perde. Mas luto sempre por ele.
-Acha que o seu clube lhe traz algumas vantagens pessoais e familiares?
-Sim porque me dá alegrias quando vence.
-Como considera os outros clubes?
-São do pior que há. São todos uns…E porque, “ó meu”, fico lixado por terem ganho. São todos trapaceiros.
-E quando o seu clube ganha?
-Ah! Isso é diferente. Isso é devido à sua própria capacidade e competência.
-Pensou alguma vez mudar de clube?
-Nem pensar, serei deste clube até ao fim dos meus dias.
Os direitalhos que colocam posts aqui e ali são assim, de pensamento oco, e de menoridade mental e não entendem que a democracia possui um vasto espectro de opções e um enorme potencial para a resolução de problemas sem a necessidade de golpes baixos e assim haja vontade participativa de todos.
O jornal i, primo pobre do semanário Sol, ambos propriedade da Newplex, SA e ambos com orientação de direita embora com algumas, poucas, opiniões de esquerda, traz hoje na primeira página a notícia da abertura de inquérito pelo Ministério Público a André Ventura, candidato pela direita, (agora apenas do PSD porque o CDS retirou-lhe o apoio), à presidência da Câmara de Loures, na sequência das afirmações feita sobre a etnia cigana.
Recordando, André Ventura critica a “impunidade” da comunidade cigana e que se julgam acima do Estado de direito, entre outras afirmações polémicas que pode consultar em jornal i de 17 de julho próximo passado, o que levou o CDS a retirar-lhe o apoio.
Por tais afirmações explicitas aos ciganos foi apelidado de racista e xenófobo, o que levou o Bloco de Esquerda a considerar que essa entrevista “não só difama as pessoas de etnia cigana, dizendo que estas são beneficiadas, como incita explicitamente à discriminação destas pessoas”.
À semelhança de muitos racistas e xenófobos que, com algum efémero e ilusório atravessaram a história, André Ventura, para captar votos, tornou-se o intérprete do sentir de setores da população, e não são poucos, que não têm coragem para se revelarem.
Diz Ventura que não retira uma vírgula ao que disse relativamente à comunidade cigana e que ficou “surpreendido com a decisão de instaurar um inquérito sobre algo que é evidente estar no domínio da liberdade de expressão e opinião, fundamentais à nossa democracia”.
Tem todo o direito de fazer críticas sobre políticas aplicadas a grupos sociais e apresentar soluções para tal sem referir casos específicos. O que ele devia denunciar não é oportunismo como se fosse exclusivo de um grupo étnico, neste caso os ciganos. A denúncia deveria ser da política errada aplicada na generalidade, quer fosse uma etnia, agremiação religiosa, raça ou a qualquer outros grupo social.
Como não podia deixar de ser, como sempre faz a direita, André Ventura clama pela liberdade de expressão e de opinião querendo fazer crer que é direito exprimir publicamente, enquanto responsável político, ou não, quaisquer opiniões sejam elas de que natureza forem. Veio-me agora à memória o caso de Miguem Sousa Tavares chamar palhaço a Cavaco Silva e este lhe levantar um processo, posteriormente arquivado. Isto é, para Ventura vale tudo quando é dito pela direita. O que diria se fosse qualquer afirmação polémica contra a direita ou a qualquer grupo da sua pertença ideológica vinda da esquerda? A direita quando lhe convém refugia-se na liberdade de expressão.
Já agora, o caso de Passos Coelho ter mantido o apoio a Ventura levou a que alguns entusiastas dos clubes do disparate e dos que julgam dever ser o bom tom do debate político de esquerda, viessem chamar ao líder do PSD racista e xenófobo. De certo esta gente não sabe o que diz.
Quem tem lido os meus postes neste blogue conhece bem qual tem sido, ao longo dos últimos anos, a minha posição crítica sobre as políticas de Passos, por isso estou à vontade para poder dizer claramente: porque não se calam!
Há cerca de dois anos passei duas semanas no EUA, concretamente em Nova York, em casa de família que, na altura, lá estava como Embaixador. Apesar do controle exigido desde os atentados do onze de setembro respirava-se liberdade. Frequentar aquelas extensas avenidas era um prazer. Respirava-se paz, movimento, agitação, trabalho, comércio, passeio, cultura, cruzamento de etnias. Receio que tudo isso se vá perder regressando ao passado da desconfiança, do racismo, da perseguição, da insegurança justificada pela necessidade de mais segurança. Talvez por tudo isso, no estado de Nova York a democracia venceu.
Chamemos o que quisermos a Donald Trump, e critiquemos o seu projeto político, mas ele apenas foi o intérprete do sentir duma parte do povo da América. Foi assim que o III Reich (Alemanha nazista) conquistou o poder após as eleições de 1932. Como no governo do III Reich, Trump também glorifica o passado ao pretender “fazer a América grande de novo” e considera inimigos os que lá trabalham em serviços que os americanos já não querem fazer. Dizer que os imigrantes estão a retirar empregos é uma falácia. Nos Estados Unidos o desemprego é baixíssimo cerca de 4,2%. Criar postos de trabalho? Quais e para quem? Foi um ardil para iludir o eleitorado.
Se não era o manifesto sentir do povo Trump fez com que o fosse sem que houvesse um desmontar do seu populismo por parte os media que, aqui e ali, foram desdramatizando, como se Trump fosse aquele que, apesar das sondagens se aproximarem dos democratas não ganharia as eleições.
Comentadores há que, sapientemente, falam de esquerda e direita no EUA. Não há esses epítetos nos Estados Unidos onde há um sistema bipartidário, Republicanos e Democratas. O que há, de facto, são várias tendências que se congregam em cada um dos partidos.
Racismo, segregacionismo, xenofobia, islamofobia e misoginia estão a tornar-se as palavras chave nos Estados Unidos. As tenebrosas organizações racistas surgem sem vergonha à luz do sol e na sombra da noite, Trump e os que nomeará para o seu Governo serão o escudo.
Em Portugal e na Europa aliados à extrema-direita já estão a vir sem medos para fora das tocas.
Na política externa Trump quer fechar-se, está contra todos, contra a Europa e com as suas relações comerciais, contra os muçulmanos, todos terroristas, contra os países da América do Sul, nomeadamente o México, donde provém os imigrantes que se acomodaram no seu país, cerca de três milhões de marginais e assassinos que pretende expulsar ou encarcerar das prisões. Não se sabe é como. Deverá ser à custa de muita construção civil que levará Trump, através das suas empresas, a retirar vantagens. É contra a China, é contra a NATO, é contra a comprovação científica do aquecimento global e das alterações climáticas que são uma invenção dos chineses, enfim está contra tudo e todos que não sejam da américa fechada e refém de si própria.
É a favor das negociações a leste, com Putin. Resta saber se quebrará as relações com a Coreia do Sul e restabelecerá alianças com a Coreia do Norte de Kim Jong-un.
Na pior das hipóteses irá promover o regresso ao passado das perseguições Mccartistas com acusações de subversão ou de traição através de alegações injustas por denúncias de outros cidadão para restringir a divergência e a crítica política. Na política externa poderá verificar-se uma espécie de Guerra Fria de sentido contrário, não com a Rússia, mas com o ocidente.
Não concretizar as promessas que fez será o que menos ele deseja.
Esperemos para ver, mas com olhos bem abertos.
A apresentação de diferentes pontos de vista sobre veracidade de factos políticos e a crítica a políticas que estão a ser seguidas deve servir para reforçar a democracia e não para a destruir.
Durante as campanhas eleitorais e, não raras vezes, durante debates parlamentares, partidos políticos das diferentes áreas, à direita e à esquerda acusam-se mutuamente de intervenções populistas. Mas será o populismo algo que deva ser rejeitado mesmo quando vai de encontro ao que o povo sente e pensa?
A utilização corrente do termo populismo pretende defender e ir de encontro aos anseios do povo em contraste com as elites do poder. Combina ideias de direita e de esquerda e frequentemente é hostil aos partidos socialistas e ou trabalhistas. Todavia, também são bem conhecidos populismos exacerbados por partidos ditos socialistas e comunistas durante a revolução soviética e cultural chinesa.
Na França o partido de Marine Le Pen, Frente Nacional, tem sido o mais mediático, intitulado de populista, nacionalista e de extrema-direita.
Onde começa e acaba o populismo de Marine Le Pen parece ser um tema de reflexão para quem passou a desconfiar desde as últimas eleições duma direita que se instalou em Portugal, apoiada por liberais, neoliberais e conservadores de toda a espécie, e de um partido socialista atrofiado que tem vindo a demorar a brotar do terreno de desconforto onde se aninhou.
Marine Le Pen moderou o discurso radical e extremista do seu pai, Jean Marie Le Pen, e hoje não se identifica com sendo nem de direita radical, nem nacionalista quando diz "não me sinto como sendo da direita radical. No plano económico não me sinto mesmo nada da direita. Não sou por menos Estado, não sou por mais privatizações, não sou pelo ultraliberalismo, não sou por essas leis do mercado que eu considero deverem ser controladas porque, caso contrário, conduzem ao esclavagismo...".
São políticas de esquerda mas quando confrontada com esse rótulo responde que é de extrema-esquerda para Nicolas Sarkozy e de extrema-direita para o Partido Socialista e afirma-se como sendo nem de esquerda, nem de direita, mas que é de França.
À data em que publico este "post" a FN de Le Pen ficou em segundo lugar nas eleições departamentais em França, com 25,2% dos votos na primeira volta das eleições.
Na entrevista concedida e publicada na Revista do jornal Expresso Marine Le Pen apresenta-se como representando o patriotismo, a defesa da França e do seu povo. Cá está. O apelo ao povo e contra a União Europeia e a globalização. Não há quem não reconheça que a União Europeia está a atravessar uma crise grave e, como se sabe, com problemas económicos e políticos de vária ordem. A austeridade tem tornado descontentes e céticos relativamente à Europa, cidadãos de vários países, nomeadamente os países do sul e o caso muito especial da Grécia.
Le Pen não esconde que tem o apoio de portugueses imigrantes em França porque "são respeitadores das leis francesas e criticam os abusadores estrangeiros delinquentes, os fundamentalistas islâmicos e os que abusam do nosso generoso sistema social".
O multiculturalismo para ela não tem que existir e defende a assimilação dos estrangeiros e não a integração e o ensino de línguas e culturas dos países de origem. "A escola deve fabricar franceses de corpo inteiro e não remeter as crianças para as suas diferenças". Pensamento nacionalista exacerbado e xenófobo com laivos de violência assimilacionista que não é mais do que uma assimilação forçada pela cultura dominante das culturas de povos que emigraram para um país.
Toda a filosofia e princípios multiculturalistas que foram construídos há mais de trinta e cinco anos na Europa são postos em causa. Mas Le Pen vai mais longe ao defender que "as sociedades multiculturais são sociedades, a prazo, multiconflituosas" e dá como exemplo "o desenvolvimento do islamismo radical".
O aproveitamento das emoções pessoais multiplicadas na sociedade devido aos ataques terroristas que geram o descontentamento popular é a cama para arranjar causas que sustentem e validem a tese da existência de um fundamentalismo islâmico, rejeitando o comunitarismo que está centrado nas sociedades, nas comunidades e nas suas tradições e culturas. Argumenta que a justiça não as pode levar em conta. Neste campo é este o pensamento de Marine Le Pen. O Nacional-socialismo numa primeira fase também escolheu os judeus como a causa de todos os males que afligiam a Alemanha.
O multiculturalismo nasceu com o aprofundamento duma União Europeia multicultural e multifacetada.
A indignação do povo francês sobre o atentado de janeiro é aproveitada por Marine Le Pen para despertar sentimentos populares primários de racismo, xenofobia e punição de tudo o que seja imigrante em França o que se depreende quando diz que "As autoridades não atacam as causas, apenas atacam as consequências. Quer dizer: metem na prisão os que apanham e que podem estar ligados a atentados. Mas não atacam as raízes desse mal para que não continue a disseminar no país os frutos podres do terrorismo islamita. Contra essas causas nada se faz. Perante as múltiplas reivindicações político-religiosas, de vestuário, alimentares, contra o código do trabalho, etc., nada tem sido feito. Pelo contrário, essas reivindicações comunitaristas tem-se intensificado".
Estas afirmações vão ao encontro do sentimento de alguns setores descontentes do povo. O discurso de Le Pen é claro, incisivo e de fácil assimilação para quem a escuta, condição essencial para fazer passar a sua mensagem.
O tema União Europeia capta as atenções dos que se opõem a uma austeridade imposta à França que Marine Le Pen aproveita para fazer a apologia da saída do euro como condição necessária para se assegurarem os interesses dos povos e explica a existência de tensões entre os povos europeus e exemplifica com as relações atuais entre a Alemanha e a Grécia afirmando que os fortes tratam os países do sul como "parasitas, gastadores, preguiçosos".
Há uma guerra económica que está a decorrer na UE através de um dumping social. Quando Le Pen fala de dumping social está a referir-se ao preço do trabalho que está a ser comparado com a venda de produtos abaixo do praticado no mercado, isto é, as empresas procuram eliminar a concorrência à custa dos direitos básicos dos trabalhadores. Os empregadores violam os direitos dos trabalhadores com o objetivo de conseguirem vantagens comerciais e financeiras justificando a necessidade de competitividade.
É evidente a sua posição é coincidente com opiniões de muitos políticos ao dizer que, "Quanto mais se avança mais a UE se transforma num palco… onde também decorre uma guerra psicológica que não une os diferentes povos mas sim, ao contrário, os divide cada vez mais e os põe em confronto. Penso que as nações são a estrutura mais adequada para ao mesmo tempo assegurarem a defesa dos interesses dos seus povos sobretudo para criarem relações equilibradas entre as diferentes nações".
Para Le Pen, Angela Merkel é a "patroa de tudo" a "diretora da prisão" que é a União Europeia e Durão Barroso era "o chefe dos guardas da prisão".
A atitude quanto à questão grega é muito próxima das posições da esquerda, pelo menos em Portugal. O que é imposto à Grécia sobre o que deve e como deve, ou não, fazer nada tem a ver com a soberania do povo grego é devido ao que ela apelida de "ditadura europeia". A "eurosteridade" é a ligação indissolúvel entre o euro e a austeridade.
Sobre este ponto merece a pena registar o que Marine Le Pen disse sobre Junker quase defendendo uma teoria da conspiração baseada no livero Clube Bilderberg de Daniel Estulin: " É o chefe dos guardas prisionais que sucedeu ao antigo chefe da guarda prisional, que era Barroso. Faz exatamente a mesma coisa. Eis dois exemplos de pessoas que vão para Bruxelas precisamente com urna ideologia do mundialismo porque eles nem sequer defendem os interesses da Europa. Passaram a vida a assinar acordos de trocas livres com o mundo inteiro. 0 objetivo deles não é defender os interesses dos europeus é o de criar um mercado único mundial. Vemo-lo com o Tratado Transatlântico[1], no qual os mais fortes ganharão, as multinacionais ganharão, e os fracos morrerão. E isso está a ser feito pagando o preço de sofrimentos horríveis. No vejo onde está o progresso, por exemplo na situação em que se encontra a Grécia ou Portugal, com as perdas de direitos das pessoas, os recuos de vantagens sociais, as perdas salariais, as privatizações forçadas. Mesmo com muita imaginação não consigo encontrar um pingo de progresso nessa situação. Apenas vejo regressões e recuos".
A questão das nacionalizações da banca que, ao longo dos tempos tem sido uma das bandeiras das esquerdas mais ou menos radicais, é recuperada por Le Pen ao defender que "Se um banco tem problemas é preciso nacionalizá-lo, mesmo de forma temporária… Por muito liberal que seja a Grã-Bretanha compreendeu que o Estado-estratego deve defender o interesse dos seus compatriotas e não hesitou em nacionalizar bancos quando foi necessário".
A troika, é um organismo tripartido que "está a reenviar os países para a idade média económica" e "cujo único objetivo é defender os interesses dos bancos das grandes instituições financeiras, dos credores dos países e de modo algum defender os interesses dos povos".
Se não conhecêssemos a autora destas ideias poderíamos atribuí-las a um partido de esquerda radical.
Os milhões de euros transferidos para Grécia não chegaram à economia através do povo que nada recebeu, foi para salvar os bancos, especialmente franceses e alemães que transferiram os riscos para os estados. Aliás isto já foi confirmado por Philippe Legrain.
A saída do euro é uma hipótese que ela coloca, voltando não ao velho franco mas a uma moeda que será o novo franco. Concorda que não é fácil acabar com o euro de forma pacífica e afirma que tal é antidemocrático porque são os povos que decidem. Dá o exemplo do que se tem passado com a Grécia que demonstra que a europa diz que os povos devem votar mas que "o seu voto não tem qualquer importância nem influência, quer dizer que estamos numa ditadura" que ela denomina "euroditadura". Diz ainda que "não é o povo grego que é soberano na Grécia. É a ditadura europeia que impõe à Grécia o que deve ou deve fazer".
Aqui em Portugal a direita e a esquerda vão apelidando o pensamento de Le Pen de populista, de acordo o que lhes interessa ou não. A linguagem política de Marine Le Pen é direita e de esquerda tendo como objetivo agradar e captar votos à esquerda, à direita e ao centro. Tudo quanto vier à rede são votos.
Muitas pessoas podem ser tentadas a reverem-se nas posições tomadas por Marine Le Pen que muitos dizem ser populistas. Sê-lo-ão de facto ou serão realistas face ao atual contexto europeu? O problema não está em saber se o discurso e as mensagens que transmite são ou não populistas, se algumas são ou não aceitáveis sejam de direita ou de esquerda mas, antes de mais, tentar perceber onde tudo isso poderá levar. Experiências de discurso idêntico, divergindo o seu conteúdo apenas no contexto histórico em que foram pronunciados foram de má memória.
Poderemos ser levados a pensar que, se o populismo defende os interesses do povo dum país e segue os preceitos dos regimes democráticos em liberdade, então seremos também populista. Mas quem garante que para cumprir o prometido e sua execução não seja lançado o germe de pré ditadura a reboque de implementação das tais medidas populares. Tanto mais que afirmações do seu pai, Jean Marie Le Pen, foram demasiado graves para que isso não possa acontecer.
Se os 25,2% que o populismo de Marine Le Pen da Frente Nacional conseguiu são um facto inegável, então, deve tornar-se numa preocupação para os próprios franceses. Porque muito do que defende Marine Le Pen é o sentir de muitos, mas ditaduras também se geram aproveitando-se de regimes democráticos. Há oradores eloquentes e ardilosos que podem atrair um grande número de seguidores desesperados por mudanças.
Em 1932 os nazistas tiveram 33% dos votos, mais do que qualquer outro partido. Em janeiro de 1933, Hitler foi nomeado chanceler, o líder do governo alemão, e os alemães acreditaram que haviam encontrado o salvador de sua pátria.
Nós, por cá, ainda não nos preocupamos muito com partidos como a FN por que as direitas unem-se e as esquerdas dividem-se. Nunca se sabe quando poderá surgir alguém que se coloque entre as duas, não rigorosamente ao centro, mas aproveitando o que ambas possam ter de bom e poderemos ser levados por populismos.
Mas há sempre quem, em Portugal, com discursos desajustados à realidade venha dizer em público que "Polémicas político-partidárias não criam um único emprego". O debate político e o confronto partidário de ideias não servem para nada. É este tipo de pensamentos que revelam potenciais ideias de partido único. A apresentação e a discussão de diferentes pontos de vista sobre veracidade de factos políticos devem servir para reforçar a democracia e não para a destruir.
Um Presidente da República que se cola clara e descaradamente a um partido, neste caso que está no Governo, deve estar com uma qualquer pedra no sapato, esperando em troca uma proteção sabe-se lá sobre quê.
[1] O Acordo de Parceria Transatlântica (APT), negociado desde Julho de 2013 pelos Estados Unidos e pela União Europeia, é uma versão modificada do AMI. Prevê que as legislações em vigor dos dois lados do Atlântico se verguem às normas do comércio livre estabelecidas por e para as grandes empresas europeias e norte-americanas, sob pena de sanções comerciais para os países infractores ou de reparações de vários milhões de euros em benefícios dos queixosos.
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