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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
1. Depois dos discursos de revelações apocalípticas provindas do azedume duma perda, o PSD, ou melhor o seu quase eis líder Passo Coelho, lança-se numa nova cruzada que ainda faz eco em muitos dos que o apoiam e faz diatribes casuísticas de oposição ao Governo numa espécie de personagem do “Walking Death”. A última foi num encontro com autarcas na Guarda onde considerou ser "inquietante", numa alusão à falta de esclarecimentos do Governo sobre o caso de "irregularidades graves que ocorreram no âmbito da adoção de menores", referência a "casos de corrupção ao mais alto nível da sociedade" relacionado com adoções ilegais de crianças, (presumivelmente praticados por elementos da IURD), lamentando que o Estado "se refugie no andamento da Justiça”. Ora, a afirmação do quase eis líder do PSD vem de encontro às suspeições que publiquei num post, que podem ver aqui, sobre uma manifestação efetuada por um dito movimento cívico autodenominado Movimento Verdade, com senhoras vestida de preto, à moda dos óscares de Hollywood, para "exigir respostas" sobre os casos de adoções ilegais que envolveram elementos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que está em investigação e que, como tal, não deverá haver lugar à intromissão do Estado como Passos defende. É legítimo fazer a ligação entre o dito movimento com as senhoras vestidas de preto sobre as quais afirmei na altura ser promovido pela direita aproveitando mais um caso para dar uma ajuda à oposição, ou à falta dela, através de populismo demagógico.
2. Os jovens de direita filiados na JSP em busca duma carreira política após as eleições no seu partido já se encontram muito ativos e estão a preparar programas à sua medida para não perderem o comboio com a eleição de Rui Rio. Defendem uma agenda focada na gestão dos fundos comunitários e no conhecimento como forma de reforçar a coesão territorial. Os jovens neoliberais também já falam na valorização do conhecimento. Terá sido inspirado no programa do PS?
Mas há uma palavra, essa sim, plagiada discurso de ano novo do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, reinventar. Dizem estes jovens que “Portugal precisa de se reinventar, garantindo a sustentabilidade dos territórios e das novas gerações. É aqui, na resolução dos problemas concretos que o PSD se deve apresentar com uma agenda capaz, um discurso claro e uma vontade férrea”. Palavras lindas, mas vazias de conteúdo para uma praxis “férrea”.
Falam também da “necessidade de reforçar a coesão territorial, um conceito que a JSD diz ainda estar em construção”. Pois é isso de estar em construção pode ser por tempo indeterminado, também já ouvimos isso do seu quase eis líder ao longo que quatro anos sobre cortes e tudo mais que não me apraz repetir. Mais uma tirada com referência ao “relatório europeu mais recente sobre a coesão que é citado onde reconhecem que "as disparidades regionais no PIB per capita permanecem pronunciadas, o que reflete a intensa concentração de crescimento em áreas metropolitanas." Que grande novidade! Esta foi mesmo reinventada. O tema das disparidades territoriais já estudava na faculdade em planeamento regional e local. Até hoje quantas vezes é que o PSD esteve no governo e alguma vez teve a vontade política para tratar este tema. Mas agora sim, é que vai ser.
Outro ponto parece ser também quase plagiado do programa do PS mudando as palavras quando abordam o tema mais uma vez, a área do conhecimento e da digitalização, fazem uma “agenda para a valorização económica destas matérias e a definição de planos de desenvolvimento regional que passem por aplicar estratégias da especialização inteligente”. Que frase bonita para apresentarem. É caso para se perguntar se foi apenas agora que descobriram esta necessidade do país depois de tantos anos. Caros “jotasdeanos”, disso já o PS falava no tempo de Sócrates, lembram-se?
3. Entretanto os apoiantes de Rui Rio começam a preparar-se para o congresso de fevereiro que irá confirmá-lo como presidente social-democrata e onde irão apresentar uma revisão estatutária para ir a votos apresentando uma proposta "séria, que pusesse o partido a olhar para si", dizem. Da proposta fazem parte medidas como a adoção do voto eletrónico, a obrigatoriedade de referendar coligações pós-eleitorais e a necessidade de o candidato a presidente do partido ir a votos com os nomes que pretende que façam parte da sua Comissão Política Nacional. A maior mudança pode mesmo vir a ser a das eleições diretas. O grupo sugere que aconteçam em simultâneo com o congresso, devolvendo ao PSD a mística dos grandes congressos.
Tudo isto parece ser promissor o que Rui Rio não pode esquecer é da oposição que os neoliberais do partido criados à volta de Passos Coelho estão preparados para uma oposição férrea após Santana ter perdido as eleições internas. Os fiéis seguidores da linha de Passos como Luís Montenegro autoexclui-se da futura direção de Rui Rio e assume divergências sobre a estratégia política. Outro da ala direita mais radical, membro da equipa de Santana Lopes, Carlos Carreiras, quer construir uma “proposta radicalmente alternativa ao socialismo”. Muitos outros estão a postos numa atitude conservadora e de oposição à inovação do partido e ao seu regresso a uma espécie de social democracia.
Há zombies que de vez em quando saem das profundezas predestinados a atormentar as vítimas sobreviventes dum regime em estado de decomposição, qual série televisiva "Walking Dead" onde os sobreviventes da destruição têm conhecimento limitado sobre o que realmente está a acontecer e lutam desesperadamente para se manterem.
Numa analogia com a série nós somos os sobreviventes que somos rodeados de informação confusa com que dia-a-dia nos confronta um Governo em estado de decomposição que nos arrasta também para um estado de mortos vivos. Veja-se o caso do Orçamento para 2015.
Mas agravando a situação o Presidente da República surge de vez em quando sorumbático a tentar inocular à população ameaçada pelo veneno zombie mensagens falaciosas tendo sempre em vista auxiliar o Governo zombie a branquear os seus elementos apesar da incompetência factual.
Estão desta vez em causa as declarações do Presidente da República sobre o desastre que está a ser o arranque do ano letivo.
Com grande pesar critica o que aconteceu na colocação de professores, todavia aligeira o facto dizendo que "alguns professores viveram tempos de angústia sem saberem onde é que iam trabalhar". O pormenor de "alguns" é relevante, claro que não foram todos, mas a utilização do advérbio é a minimização do facto. Não foi apenas a angústia de não saberem onde iam trabalhar, mas o também saberem se teriam ou não colocação, o de terem organizado as suas vidas em locais onde ficaram colocados vendo-se depois obrigados a ir para locais diametralmente opostos ou até de ficarem sem colocação após terem tido despesas.
O senhor Presidente afirma que "estes problemas são recorrentes". Quem lhe terá prestado tal informação? Deveria ter conhecimento que nada de comparável aconteceu durante trinta e tal anos a não ser no tempo de Santana Lopes, um Governo de coligação do partido PSD com o CDS/PP quando era ministra da educação a também incompetente Maria do Carmo Seabra. Os problemas pontuais e ocasionais que tem ocorrido não têm relevância significativa e em nada são comparáveis ao caos destes dois. Portanto o senhor Presidente refere-se a coisas incomparáveis. Cavaco Silva sem querer denuncia-se e coloca-se no campo de presidente de alguns portugueses. Estrategicamente e sem se o explicitar apoia a degradação da escola pública que é um dos objetivos de Nuno Crato. A estratégia é conhecida, por tudo em estado de sítio para depois vir dizer que o ensino público está de tal maneira que é melhor privatizar. O mesmo para outras áreas públicas, o que leva a desconfiar que tudo isto não foi erro mas premeditação.
Assistimos a mais uma tentativa de desculpabilização e apoio dado a este Governo pelo Presidente da República. Parece estar implícito que pelos vistos o Ministério das Educação não tem que resolver assuntos destes e pelo modelo de Nuno Crato nem deveria resolver nenhuns. A educação pública deveria implodir de vez e aí ele já não teria problemas.
De seguida Presidente comenta o modelo de colocação de professores justificando com o caso inglês (porque teve filhos a estudar em Inglaterra) a descentralização da colocação apoiando apoiar descaradamente a política deste ministro. Pede mais reflexão sobre um tema do modelo de colocação de professores que está mais que refletido para ganhar tempo. O senhor Presidente deveria saber que cada país tem a sua cultura própria e que a democracia existe naquele país há quinhentos anos. Por outro lado é um país onde os favoritismos e os compadrios são a exceção. Em Portugal um modelo de colocação de professores descentralizado, se não houver critérios bem definidos, poderá dar lugar a colocações por amizade, conhecimento ou outras formas.
Enfim são intervenções lamentáveis a que o senhor Presidente da República já nos vem habituando.
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