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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Depois da apresentação pelo Partido Socialista do documento para a década elaborado por um conjunto de economistas das mais variadas áreas e tendências políticas a coligação PSD/CDS no Governo, em especial o PSD, em aberta campanha eleitoral parece ter entrado num círculo (ou será circo?) de insanidade política.
Primeiro foi o caso do projeto da validação prévia do acompanhamento e programação da campanha eleitoral pelos órgãos de comunicação social, apresentado pelo PSD, CDS e pela deputada socialista Inês de Medeiros que mais pareceu ir a reboque dos outros dois acabando todos por cavar a sepultura do projeto.
Agora é essa voz da demagogia do PSD, Marco António Costa, com mostras de fã de partido único, quer transformar órgãos independentes do Parlamento numa espécie de órgãos de exame prévio aos programas e propostas apresentadas pelos partidos políticos (será só de alguns?).
Quer o PSD goste ou não, as coisas têm que ser chamadas pelos seus nomes. Ao que chamam escrutínio de documentos não é mais do que um exame prévio mas sem lápis azul. Quem tem que escrutinar os programas e os projetos dos partidos são os eleitores e mais ninguém. O que Marco António quer é música para desviar o debate sério e disfarçar a fraqueza e a indigência das propostas do seu partido e do Governo.
A proposta de marco António é como a dum mau aluno e mal comportado que pretende boicotar e desautorizar o professor que tinha marcado um teste para determinado dia e diz que tem dúvidas porque a matéria não foi toda dada. Pede então ao professor para haver uma aula prévia para dúvidas e assim adiar o teste e confundir os outros alunos. Alinhavou à pressa uma série de perguntas para levar para a aula esperando que lhe caiam de mão beijada algumas das respostas para depois as escarrapachar no teste.
A iniciativa duma proposta como esta é a evidência da insanidade política que prolifera nas hostes do PSD e do Governo cuja patologia está relacionada com o stress, o mau estar e a desorientação que lhe causou o relatório apresentado pelo Partido Socialista.
A abertura duma porta como a que Marco António e o PSD pretendem abrir passaria a instrumentalizar partidariamente um órgão independente como a UTAO - Unidade Técnica de Apoio ao Orçamento que se pretende seja autónomo face aos partidos.
Isto é, um partido que apresentasse ao país um programa económico na sua campanha eleitoral teria que o submeter a uma avaliação prévia. Marco António pretende abrir caminho para uma censura prévia encapotada aos programas e propostas partidárias.
No limite, a ideia estereotipada dum órgão independente passar levaria a impossibilitar ou não, que um programa de um qualquer partido que não agradasse ao poder pudesse ser invalidado. A partir daí poderia ficar fora da corrida eleitoral e tudo seria possível.
Deixem-se de tretas, visões distorcidas e artimanhas de baixo nível e debatam o documento mas com pés e cabeça.
Surpreendidos pelo documento "Uma década para Portugal" apresentado pelo Partido Socialista sucedeu-se o contra-ataque com duas reações opostas, uma à direita do PS outra à esquerda. A primeira, desvairada, agita o fantasma da troica e do regresso ao passado, argumento que já mais do que gasto ao longo de quatro anos, e diz que não apresenta nada de novo. A intervenção de ontem de Paulo Portas no Parlamento foi disso a prova da preocupação da maioria. A segunda, tenta colar o PS à direita, afirmando que é um documento que não se distingue em nada do que a direita propõe.
Não vou agora abordar os aspetos eventualmente mais polémicos do documento, que alvoroçou e promete alvoroçar a campanha eleitoral. Não é por acaso que Maria Luís Albuquerque já avançou com uma promessa baseada na diminuição dos prazos de devolução dos salários da função pública apresentada no PE, (agora Programa de Estabilidade, antes PEC Programa de Estabilidade e Crescimento). Isto é, numa tentativa de desespero, e contrariamente ao que ela tinha avançado na passada semana, tenta fazer ajustamentos em função do documento do PS. Passos Coelho disse que o documento apresentado pelo PS era eleitoralista, e isto o que é?
O que falta em todas as propostas não são as mexidas na regulação do mercado de trabalho nem a descida da TSU das empresas e do IRC mas outro tipo de incentivos que estimulem as empresas ao investimento e à da criação de emprego na agricultura, na indústria e nos serviços. Tudo quanto seja reduzir encargos das empresas com o trabalho e os impostos são apenas redução de custos que vão aumentar o lucro das empresas que não será reinvestido mas para acrescentar à distribuição de dividendos aos acionistas e aos donos das empresas. Temos como exemplo o caso mais gritante da EDP.
A partir de agora a direita fará tudo para conquistar alguns votos ao Partido Socialista e os partidos à esquerda deste farão tudo para colar o PS à direita para conquistar também alguns votos. Entre os partidos à esquerda do PS a guerra da caça ao voto também vai iniciar-se não se sabe ainda é em que moldes.
Será que no centro onde o PS se coloca é onde estará a virtude? Uma coisa é certa, já basta desta direita que nos afoga, não apenas na austeridade mas também nos argumentos sem sentido, falaciosos e sem a certeza de que fala verdade aos portugueses.
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