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Dobrando a barra

por Manuel_AR, em 27.11.16

Passo Coelho_fazforça.pngBem pode Pedro Passos Coelho e a sua direita no PSD esforçarem-se para dar a volta aos factos, (não apenas os das sondagens), com esforçados e ferrugentos discursos e argumentos, como estivessem a dobrar um ferro direito sem o conseguirem. Os seus discursos, e os do seu braço direito Maria Luís Albuquerque, colaboracionista na situação que o PSD atravessa, estão oxidados.  

Uma hipótese de salvação para esta direita de Passos Coelho é fazer uma oposição aqui, e agora, que passe por novas propostas e alteração de rumo. Um rumo que não se sabe bem qual é, mas que está a agora pedir, em vão, ao Governo. Será o mesmo que seguiu no passado recente, mas sem coragem para o dizer?

Acho que Passos já não diz coisa com coisa e pretende baralhar-nos com isso. Falando para dentro do seu partido na Convenção Autárquica, afirmou ontem que “este primeiro ano de Governo socialista, ´ficou muito aquém` das possibilidades do país, e que em 2016 deveria ter sido um ano com maior crescimento económico, maior geração de emprego e maior redução de divida do que foi. Em primeiro lugar porque a embalagem que vinha de trás assim o permitia". Será que Passos Coelho quer dizer que estaríamos muito melhor e que, por isso, as políticas e as medidas que aplicou quando era primeiro-ministro deveriam continuar? Ou será que queria dizer que deveriam ser reforçadas para empobrecer mais o país (alguns, diga-se) e que então estaríamos muito melhor. Mas quem, o país ou nós os portugueses?

Traduzindo para o português corrente: se Passos não fosse agora um primeiro-ministro no exílio, e o fosse ainda de facto, faria novamente tudo como fez ou faria pior e, assim, hoje, o país estaria muito melhor.

Balelas! O PSD de Passo Coelho está preso entre varas. Não tem coragem de dizer claramente ao país que manteria o mesmo rumo, mas, ao mesmo tempo, afirma que este que está a ser seguido está errado. Se mudar de rumo deixa de ser neoliberal e passa a ser social democrata, o mesmo seria dizer que seguiria caminho idêntico ao que o atual Governo está a seguir. Por outro lado, não tem coragem para dizer que reverteria algumas medidas.

Comparativamente até o CDS consegue estar a ser mais social democrata que este PSD.

Acho que o tempo do reinado neoliberal de Pedro Passos Coelho, de Maria Luís Albuquerque e de outros seus correligionários está a chegar ao fim. Mantêm-se no Parlamento que nada dizem de novo e repetem-se sucessivamente. A novela da CGD, à falta de melhor para eles, é uma forma de dizerem que estão vivos, mas com isso não estão a prejudicar o Governo, mas sim o país.

Podemos perguntar, como fez ontem Pacheco Pereira, qual foi a intervenção do Governo de Passos Coelho durante o programa de ajustamento, face ao que a troika propunha, quando ele antecipava que “tínhamos que empobrecer”.

“É muito relevante saber, por exemplo, quem propôs determinadas medidas na anterior legislatura, o Governo ou a troika? Pergunta Pacheco Pereira no Público.

E continua:

“É que para a história futura é muito relevante saber, por exemplo, quem propôs determinadas medidas na anterior legislatura, o Governo ou a troika? Que discussões existiram sobre a política fiscal, como foram justificados falhanços e elogiados sucessos? O que disse a troika sobre alguns processos de privatizações? É que sabemos muito pouco sobre o nosso processo de “ajustamento”, já sabíamos pouco sobre o que Merkel combinou com Sócrates, como foi feito o memorando, quem disse o quê, quem pediu à troika para incluir esta ou aquela medida”, e aí adiante...

É a isto que Passos Coelho tem que responder e o que, concreta e claramente, propõe se voltar a ser Governo. Não me parece que o vá conseguir, tal é a tacanhez duma certa direita que se infiltrou no PSD.

 

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publicado às 15:14

Erros passados.png

Estes são os grandes feitos que a coligação PPD-PSD e CDS-PP oculta em campanha eleitoral mas é necessário que as pessoas recordem.

  • Passos Coelho/PSD/CDS = troika
  • Dívida de 78 mil milhões de euros que os portugueses estão a pagar e aumento da dívida em mais 30 mil milhões
  • Austeridade mais além da troika
  • O 'chefe' do PSD não cumpriu as suas promessas eleitorais
  • Tecnoforma (passos não pagou primeiramente o que devia à segurança social e depois não pagou tudo)
    • Corrupção e trafulhices:
      • Fomentiveste
      • Marco António Costa
      • Oliveira e costa
      • Cristina Ferreira
      • Luís filipe Menezes
      • Duarte lima
      • Isaltino Morais
      • BPN
      • BPP
      • BES
  • Cavaco Silva (o inútil/fantasma desta legislatura [reforma de 10.000 euros que não é suficiente e que ele ia receber mais que isto] e que quando aparece foi para iludir os lesados do BES em conjunto com Passos Coelho)
  • Miguel Macedo (vistos gold)
  • Miguel Relvas (licenciatura em 1 ano)
  • Nuno Crato (incompetente)
  • Paula Teixeira da Cruz (outra incompetente, Citius...)
  • Vítor Gaspar (enorme aumento impostos)
  • Maria Luís Albuquerque (idem)
  • Tribunais e escolas fecham portas por todo o país
  • Hospitais com falta de pessoal
  • Cortes nos salários da função pública
  • Cortes nas pensões
  • No rendimento mínimo e outros rendimentos sociais
  • Congelamento da progressão de carreiras
  • Paragem por completo da construção de obras públicas
  • Cortes na investigação científica, ensino artístico e educação
  • Aumento do IVA na restauração
  • Sobretaxa de IRS
  • Aumento do preço cobrado nos transportes públicos
  • Redução de feriados
  • Corte nas férias
  • Aumento das taxas moderadoras
  • Criação de novas portagens
  • Aumento do horário de trabalho para 40 horas semanais
  • Redução de 50 mil funcionários públicos com rescisões
  • Mobilidade especial
  • Diminuição do pagamento de horas extraordinárias
  • Corte nas pensões de viuvez
  • Aumento da idade da reforma para 66 anos
  • Maior manifestação de sempre da “geração à rasca” que no fim juntou todas as gerações
  • Venda das empresas do estado por uma ninharia
  • Tribunal constitucional declara como inconstitucionais imensas medidas que o governo pretendia implementar
  • Estatísticas de emprego manipuladas com trabalhos precários, formações e estágios mal remunerados
  • Não houve reforma do estado apostando por exemplo na eficiência e alocando os recursos de forma adequada e etc., pelo contrário e só se escondeu o buraco com mais dinheiro
  • Lista VIP que incluía quatro nomes: passos coelho, cavaco silva, paulo portas e paulo núncio
  • Governo não faz nada quanto à base das Lages
  • 20% da população portuguesa é pobre e socialmente excluída
  • Iva aumentou em 2015 de 23 para 23,25%
  • Deixam a sardinha ficar para os espanhóis pescarem
  • Não têm programa de governo como o ps por exemplo
  • Sondagens manipuladas (...as sondagens não são inspecionadas por nenhum organismo), ligação entre as sondagens da universidade católica (católicos conservadores por natureza) e PSD (partido conservador) que nunca na vida se aproximam sequer do PS depois de tudo o que fizeram no país e o que tem acontecido nos últimos dias é que têm tentado colar-se ao PS e junta-se a isso a ajuda de meios de comunicação como o expresso, a sic, sic notícias, visão e outros
  • Programa "vem" que só abrange 20 portugueses quando mais de 350 mil se foram embora
  • A coligação que lidera perdeu todos os debates com todos os partidos
  • Foi confrontado com manifestantes e pessoas pobres de todas as gerações mesmo em tempo de eleições e mesmo assim continua a mentir descaradamente aos portugueses em vários temas como a sua culpabilidade da troika vir para Portugal, do país estar cada vez mais pobre e de existirem pessoas que realmente se vêm aflitas para sobreviver.

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publicado às 11:10

Votação_2.png

Os textos que tenho vindo a escrever neste blog são uma espécie de cruzada política empreendida contra Passos Coelho, enquanto primeiro-ministro, e o seu Governo neoliberal e não subjugada a quaisquer interesses partidários. Uma cruzada, mesmo que no sentido figurado, não é um empreendimento de defesa mas de ataque para libertar algo ou alguém.

Durante os últimos anos de governação de José Sócrates já tinha feito o mesmo empreendimento. Só após a sua queda e após ter entrado em funções o Governo de Passos Coelho reconheci que tinha sido enganado e incorrido num erro grosseiro ao associar-me àquela expedição contra Sócrates devido a influências exógenas imanadas dos seus opositores e órgãos de comunicação a elas veiculados.

O meu arrependimento chegou quando afundei a minha cabeça entre as mãos e lamentei que tivesse havido desde o 25 de abril de 1974 um homem na política que me conseguiu enganar com o requinte com que Passos Coelho o fez. Como se costuma dizer, "comi gato por lebre".

Os próprios "ditos" de Passos Coelho que, ao negá-los afirma serem, como diz "mitos urbanos" que se criaram. Saberá ele por acaso o que é um mito urbano ou ter-lhe-ão soprado ao ouvido este conceito e ele apenas resolveu debitá-lo para a plateia que, como eu, ainda tem paciência para o ouvir.

O conceito de mito é complexo e tem várias formas de entendimento. O étimo da palavra tem origem grega (mythos) que significa narrativa ou lenda. O conceito mais genérico e comum de mito e, no caso mito urbano é uma crença imaginária baseada na credulidade daqueles que a aceitam. Isto é, o que foi dito por Passos Coelho sobre emigração dos jovens segundo o próprio não foi dito e não foi mais do que uma lenda e crença imaginária. Os órgãos de comunicação que replicaram o que ele disse não produziram mais do que uma narrativa dum acontecimento duvidoso, fantástica e inverosímil. Para bem da informação aquela ideia foi desmontada com as palavras do próprio primeiro-ministro.

Há afirmações que me ocorrem proferidas por ele ou outros do seu Governo que tinham a pretensão de colocar jovens contra pais, avós e idosos em geral, empregados contra desempregados, trabalhadores públicos contra trabalhadores privados baseando-se em postulados falsos. Será que tudo o que foi dito e ouvido por muita gente serão também mitos urbanos?

O meu empenho nesta cruzada aconteceu a partir de 2011 e levou-me a estar mais atento ao que se passava na política e a arriscar-me a todas as críticas contra os meus escritos que, por mais violentas, virulentas e contundentes, não me afastaram do meu objetivo.

Não se pode dizer que nada sabia e que inventava os assuntos porque o que soube, e sei, foi, e é, pelos órgãos de comunicação social. E das duas uma, ou estão todos errados ou eles próprios desconhecem os factos e os assuntos.

As minhas fontes não são os meandros da política são os órgãos de comunicação social, das conversas de café, dos taxistas e opiniões de conhecidos e desconhecidos.

Na pesquisa social há outros métodos para obter dados que não envolvem recolha direta de informação a partir de algo investigado. É o que se denomina em ciências sociais métodos não interferentes. As entrevistas, os questionários e as sondagens criam atitudes por parte das pessoas alvo porque os que respondem tentam na generalidade suscitar impressões de si próprio a fim de manter o seu estatuto aos olhos do entrevistador mesmo que este não esteja na sua presença.

Estudos sobre comportamento eleitoral concluem que há pessoas que declaram nos inquéritos, mesmo que telefónicos, ter votado, ir votar num sentido ou não ter votado não o tendo feito de facto.

Era meu objetivo percorrer todos os anos de governação PSD/CDS até 2015 mas o tempo escasseou e não saiu mais do que uma tentativa de síntese incompleta, diga-se, do que se passou nos primeiros dois anos do Governo PSD/CDS. Fiquei por alguns factos que, embora sem uma sequência temporal, do meu ponto de vista, julguei serem mais relevantes. Correndo o risco de saturar e esgotar a paciência, até dos mais curiosos, resolvi anexar o ficheiro com a parte descritiva de partes dos referidos anos.

Coloco em baixo um pequeno extrato dos apontamentos que podem podem ser consultados na íntegra em Política vista por um cidadão comum_final.pdf

 

Pouco dias antes daquela data 6 de abril de 2011 Portugal tinha proposto um programa de austeridade denominado PEC 4 (Plano de Estabilidade e Crescimento IV, atualmente chamam-lhe apenas PE - Plano de Estabilidade) que tinha sido elogiado por Angela Merkel. Com o seu apoio e o do presidente da Comissão Europeia, Portugal poderia ter obtido um resgate mais suave.

Sobre este facto José Sócrates dá conhecimento disso ao líder da oposição Passos Coelho. Nessa altura era bem conhecido o apoio partidário, o poder e a influência que José Relvas exercia sobre o líder do PSD. Podemos afirmar que Passos Coelho era dependente de Relvas e por este influenciado, e por isso não deixa passar o PEC IV.

Passos Coelho, justificando que já tinha havido vários PEC’s, alegava desconhecimento do que se passava e que não queria que os portugueses passassem mais sacrifícios. É bom considerar este seu pensamento e compará-lo com as posições posteriormente efetuadas durante a campanha eleitoral e também com as  depois já no Governo as posteriores de Passos.

Objetivo principal, óbvio e oportunista era a queda do Governo e a tomada do poder através de eleições antecipadas, cujas sondagens devido às medidas já tomadas pelos PEC’s anteriores davam uma maioria ao PSD.

No discurso da tomada de posse como Presidente da República, a 4 de abril, Cavaco Silva faz um ataque ao então Governo de Sócrates afirmando que não havia espaço para mais austeridade, “Há limites para os sacrifícios que se podem exigir ao comum dos cidadão”, dizia. Nesta altura começou a ser notado o alinhamento do Presidente da Repúblicacom o Governo e a sua falta de isenção e independência.

Entretanto os bancos pressionavam o ministro das Finanças da altura, Teixeira dos Santos que sem consultar José Sócrates anuncia publicamente que Portugal precisava de recorrer a ajuda financeira externa. Sócrates pede a intervenção da “troika”.

Angela Merkel que também desconhecia aquele facto mostra-se surpreendida e desconfortada com tal medida.

Claro que os partidos da oposição, obcecados pelo poder, e os comentadores neoliberais extremados e alinhados com o potencial futuro Governo de maioria, sem o mínimo espírito crítico, dão vivas ao memorando de entendimento que foi assinado como sendo o melhor que poderia ter acontecido a Portugal.

 

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publicado às 22:19

Pafirizar o país outra vez?

por Manuel_AR, em 21.09.15

ColigaçãoPAF.png

 

Passos Coelho e a coligação inventaram um novo verbo que é "Syrizar", coisa absurda não só pelo assassínio da língua com a introdução de neologismos absurdos e sem sentido. Assim, seguindo a mesma lógica, também podemos encontrar um verbo adequado para o que a coligação causou em Portugal. O verbo "Pafirizar" resulta de "PaF", acrónimo adotado pela coligação PSD/CDS liderada por Passos Coelho, e que poderá significar a ação que transformou Portugal num país espartilhado, vampirizado, empobrecido e deprimido.

Hoje foi iniciada oficialmente a campanha eleitoral e, pelo andar da carruagem, começa cada vez menos a haver paciência para ouvir as intervenções dos partidos, mas há um que já cansa: o primeiro-ministro Pedro Passos Coelho que a maior parte das vezes fala sem que a maior parte das pessoas o entenda e nada diz o que irá fazer se for novamente governo. Discute o programa dos outros sem apresentar o seu. Mais parece estar a dar aulas de formação à moda antiga em que o formador fala… fala… fala cansando o seu auditório. Talvez lhe tenha ficado o jeito que dos tempos da formação na Tecnoforma.  

Explica… explica… explica… mas não convence a não ser os seus eleitores fixos e tradicionais. Quando faz as suas preleções do tipo mestre-escola, com uma voz abaritonada, o que me vem à memória são as "cantigas" que cantou antes de ganhar as eleições passadas para atrair votos e gerar simpatias e que, depois durante estes exaustivos e cansativos anos de governação, desafinou com armadilhas e embustes sucessivamente desmascarados.

O argumento mais utilizado é o de encontrámos um país a braços com a troika, mas não diz que contribuiu para o memorando que ajudou a negociar e que Eduardo Catroga, na altura o coordenador do programa eleitoral do PSD, reiterou a importância da "influência social-democrata no acordo com a "troika". Quem quer que na altura tivesse ido para o governo, sem radicalismos, teria feito muito melhor ao país sem a destruição social e económica há muito premeditada pelos ultraliberais infiltrados no PSD a que se juntou depois o CDS.

Se Portugal está mal os únicos responsáveis são o PSD e o CDS da coligação PaF que agora se apresenta com pretensões de ganhar as eleições.

Dizem agora que, daqui para a frente, tudo vai ser diferente e melhor pretendendo mostrar um rosto mais social-democrata com preocupações sociais contrariando até o que então disseram. Já demos para esse peditório. E não se podem queixar que não tiveram condições para governar porque fizeram tudo o que quiseram e apoiados por um presidente partidarizado que os apoiava e lhes desculpava as falhas.

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publicado às 00:03

A conversa do costume

por Manuel_AR, em 14.09.15

O PSD se quiser voltar a ter o prestígio e credibilidade que teve terá que lavar e desinfetar a ferida causada pela tribo que o infetou.  

A coligação compara com a Grécia, ameaça com a Grécia, volta ao passado, agita com a troika, desfralda a bandeira do medo porque nada mais tem para propor. Todos os que não concordem com o seu não programa querem que Portugal seja uma nova Grécia. Tretas!  

Quem estiver atento, não apenas à forma mas ao essencial do conteúdo das mensagens, verificará que a campanha eleitoral da coligação PAF (Portugal à Frente) formada pelos partidos PSD e CDS não tem programa credível e não tem uma posição clara sobre o que pretende fazer se for novamente governo.

Ainda bem que Sócrates existiu e existe porque passou a ser um refúgio e um recurso para Passos Coelho e a coligação fugirem como o diabo da cruz à discussão do presente e do que pretende fazer para o futuro caso ganhe as eleições. Uma coisa sabemos é que, apesar de pequenos ajustes mais ou menos formais, manterá o mesmo rumo que seguiu até aqui sem mudar uma vírgula como Passos Coelho já afirmou.

Não é segredo para ninguém que o governo de Passos Coelho foi, e por enquanto ainda é, um acidente na democracia portuguesa. Foi, e é um acaso. Limitou-se a aplicar as medidas que a troika lhe ia prescrevendo de três em três meses, que eram por ele agravadas porque correspondiam à matriz ideológica da tribo neoliberal que se encaixou no PSD cujas medidas tirou da manga somente após as eleições que a levaram ao poder. 

Para esta tribo a democracia tem sido um obstáculo e fizeram todos os possíveis para ir contornando simulando o cumprimentos de formalismos. A Constituição era uma treta que devia ser totalmente revista e que saiu dos famigerados tempos da revolução de abril e do tempo em que Sá Carneiro solicitou a admissão do PSD na Internacional Socialista. Alguns até disseram por aí que o Tribunal Constitucional não servia para nada, como se países da Europa, como a Alemanha, não tivessem o seu e o respeitassem. Falaram nas limitações à lei da greve como um espécie de ensaio para outras limitações à democracia.

Na política em relação à Europa o governo andou e falou baixinho e estremeceu quando o ministro das finanças alemão Schäuble abria a boca e a direita europeia impunha soluções.  

A privatização da RTP foi uma autêntica peripécia sem transparência de avanços e recuos no sentido de a controlarem, não através do Estado, mas através dos privados que a comprassem, o que deu até um processo disciplinar a um diretor da informação.

Paulo Portas, face a protestos vindo dos mais diversos setores dizia na altura sermos um protetorado e que nada podíamos fazer, agora diz que somos soberanos. Ainda há semanas atrás a venda do Novo Banco tinha que ser vendida rapidamente até fins ade agosto e sem prejuízo para os contribuintes, vêm agora dizer que não há pressa na venda e que ficará para a próxima legislatura. Passos Coelho diz hoje o que já não dirá semanas depois. Pontapear para a frente a bola para não haver golos na própria baliza antes das eleições.

Passos Coelho faz comparações entre o BES e o caso BPN que era controlado por gente afeta ao partido a que pertence e que foi nacionalizado na altura em que o PS era governo. O caso do BES teve contornos totalmente diferentes do BPN em que está envolvido Dias Loureiro, penso que constituído arguido há mais de três anos e que foi publicamente elogiado pelo próprio Passos Coelho.

Não fala por exemplo do caso da venda do BPN ao BIC por preço abaixo do seu valor de mercado, 40 milhões em vez de 80 milhões, e que em 2013 o BIC Portugal reclamava do Estado reembolsos no valor de cerca de 100 milhões de euros, relativos ao BPN, e que estão relacionados com as contingências decorrentes do acordo de privatização celebrado em Março de 2012 como, por exemplo, os custos derivados da venda como indeminizações e outros.

Passos Coelho omite, desvia, engana e deturpa as realidades, como sempre o fez ao longo dos quatro anos e seis meses de governo. Agora nada por aí em fantochadas eleitoralistas a ver se não se afoga.

O que podemos esperar dum futuro governo com esta direita coligada é isto e muito mais. Volto a repetir que o PSD, se quiser voltar a ter o prestígio e credibilidade que teve, terá que desinfetar a ferida causada por esta tribo que o infetou. Quanto ao CDS nada a dizer, é e será sempre um partido que nunca enganou ninguém e que serve para animar a festa enquanto Paulo Portas lá estiver se tal não for irrevogável.

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publicado às 16:00

Confissão

por Manuel_AR, em 30.07.15

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Hoje dia da apresentação dum falacioso e eleitoralista programa de governo da coligação provavelmente não cumprível em muitos dos seus pontos, já não tenho paciência para ouvir o primeiro-ministro Passos Coelho, nem para o escutar com a pouca atenção que ele merece.

Nem o próprio sorriso que, ao pretender fazer-se simpático, se transforma num esgar que se aproxima do gozo cínico de quem está tentar convencer da veracidade do seu discurso e das promessas que sugerem mentira.

De cada vez que o ouço encho-me de arrependimento e propus-me uma confissão que me leve ao exercício do ato de contrição.

Assim, publicamente me confesso e arrependo de ter contribuído para o mal de muitos e penso que me perdoarão do contributo que dei através do voto, assim como outros portugueses e portuguesas, ao que depois se confirmou serem meras mentiras destinadas a levar-nos ao engano.

Pode vir agora dizer-nos que…, bem…., os números estavam errados. Pode dizer muita coisa, lá isso pode, mas não acreditar também podemos.

Eram mentiras de uma pessoa que pareceu convicto e convincente do que dizia, logo credível, logo potencial eleito.

É verdade que o “outro”, o que esteve no governo antes de Passos Coelho, também nos fez muitas “malandrices“, por isso o penalizámos tirando-lhe o poder para o dar àquele. O engano foi fatal. Foi muito pior do que o seu antecessor porque, sobretudo, ansiava há muito pela vinda duma “troika” que o ajudasse a implementar um programa de governo aquilo que antes já estava na sua mente, como ele próprio o disse: Temos que ir para além da troika!

Confesso-me arrependido da traição que cometi ao contribuir para desviar o meu voto para um partido em que, acreditara porque tinha na sua matriz preocupações sociais. Enganei-me. Essa matriz foi sendo desvirtuada pela atual liderança e seus acólitos, vindos da ala direita mais radical da JSD que trocaram a matriz de cariz social pela dum neoliberalismo do tipo bacoco.

Confesso que acreditei naquilo que depois verifiquei serem de enganos e falsas promessas. Mas agora prometo que, em plena campanha eleitoral, não vou acreditar em nada do que prometem nem nas manobras encobertas por narrativas mais ou menos enganosas destinadas ao convencimento dos cidadãos.  

Prometo ainda que nunca cometerei novamente tal pecado político ao votar nos que pretendem mostrar que tudo vai ser diferente e apelam àqueles que hostilizaram durante quatro anos que tudo mudou e vai melhorar (distribuindo aquilo que diziam não haver)  para, depois, e mais uma vez, repetirem novamente o massacre social e económico vestidos com outra roupagem.

A penitência que me inflijo é a de ouvir até à exaustão as narrativas professorais primárias de Passos Coelho e dos seus acólitos, mesmo sabendo que estão a agredir a minha inteligência, por pouca que seja, com a intenção de me enganarem novamente com afirmações enganosas disfarçadas de verdades.

Uma vez já chegou! Bem podem eles agora culpar o diabo, mas o diabo são eles.

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publicado às 18:10

O diabo das promessas

por Manuel_AR, em 27.07.15

 

Promessas_2.pngPromessas de Passos.png

Quatro anos de Passos Coelho e do seu governo provocaram nos portugueses divisões e feridas sociais que irão levar muito tempo a sarar e a esquecer.

Diz ele que não lhe interessam as eleições e que, por isso, irá continuar a seguir o mesmo caminho seguido até aqui mas, ao mesmo tempo, vai abrindo aqui e ali “os cordões à bolsa” distribuindo umas benesses que, caso ganhe as eleições, irá recuperar à custa de alguns e a qualquer preço. Os discursos laudatórios ao fim da crise e ao crescimento anémico e vão ter custos agravados ao chegarem ao poder. Serve para obter o poder a qualquer custo.

Não haverá ninguém que não ache positivo a redução ou a eliminação da sobretaxa do IRS, lá para 2016 se a receita fiscal aumentar conforme preveem, (espécie de cenoura para enganar os potenciais votantes que o ajudem a manter-se no poder). É mais uma das artimanhas, mas, entre linhas também vão dizendo que, se a receita fiscal diminuir, este imposto da sobretaxa do IRS pode voltar a subir.

Não é preciso lançar cartas do Tarot para se adivinhar o que vai acontecer caso a coligação, apoiada por Cavaco Silva, ganhe as eleições para justificar recuos no processo de austeridade que, dizem, ter abrandado ou terminado: o perdão ou a reestruturação da dívida grega, uma crise financeira de última hora, a dificuldade do cumprimento das metas do défice por causa das pensões em pagamento, os custos salariais com a educação pública, ou qualquer outra desculpa que não será difícil encontrar no atual contexto europeu, serão o motivo para retirar o que andam por aí a distribuir voltando às mesmas políticas que os moveram até aqui e, se possível, procederem ao seu agravamento.   

Passos Coelho, diz por aí, querer travar um combate sem tréguas às desigualdades sociais e à pobreza, fala em promessas e esperança de prosperidade coisa que esqueceu durante quatro anos escudando-se com o programa imposto no memorando da troika, mas lá ia dizendo que o seu programa era o mesmo e que tencionava ir mais além.

Entre confiar em Passos Coelho e no se acólito Presidente Cavaco mais vale confiar no diabo que, de acordo com a mitologia judaico-cristã, é falso, tentador e perfilha a traição e a arte da manipulação. 

Não podemos esperar da coligação PSD/CDS qualquer mudança de rumo a não ser a continuação da mesma política social, económica e fiscal com que governou até aqui, e o mesmo pensamento político sobre a sociedade.

Passos Coelho entrou para a política pela mão da JSD não por convicção pelos ideais da social-democracia mas por interesse, assim como tantos outros que lá se encontram. Não é por isso difícil perceber a distorção que o partido de que é líder tenha vindo a degenerar e a esquecer as suas raízes.     

Seguir as políticas ditadas pela Alemanha e a dos seus aliados do norte desdenhando o povo do seu país para se mostrar um fiel e bem comportado bom aluno dos “mestres” da destruição duma Europa que se quer mais unida, é outro dos pressupostos convictos de Passos Coelho, talvez como forma de se perfilar para voos mais altos no domínio dos lugares europeus porque, se assim não for não terá emprego. Quem não o conhecer então que se atreva a comprá-lo.

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publicado às 22:52

O astucioso

por Manuel_AR, em 30.06.15

Astucia.png

Cá estaremos para ver, mas não sei se ainda é possível haver portugueses que, não sendo ferranhos doentios do PSD/CDS, ainda acreditem nas patranhas que nos andam para aí a impingir.

Mas quem pode acreditar neste senhor primeiro-ministro Passos Coelho que, mês sim, mês não, diz uma coisa e depois o seu contrário de forma camuflada. Agora está a mudar o discurso mas continua a dizer que "os sacrifícios feitos pelos portugueses, nos últimos quatro anos, estão a dar resultados e serão fundamentais para um futuro economicamente e socialmente estável". Com que resultados? Parece que, no dizer do primeiro-ministro, já não é necessária mais austeridade. Em em menos de um mês tudo mudou e diz agora que já “não há necessidade de comprometer mais recursos do país e afetar mais contribuições e impostos dos portugueses para fazer aquilo que conseguimos fazer e resolver com menos recursos”, e diz isto não apenas por ter havido necessidade, mas também por convicção. O ter feito o que fez por forte convicção é uma das únicas verdades, ser neoliberal por convicção e de do ir para além da troika.

É preciso ter descaramento e, digo mais, atrevimento, para poder concluir que “Ao longo destes anos temos procurado trazer as necessidades de financiamento do Estado para um valor que seja comportável ao bolso dos portugueses, sem pôr em causa a realização dos objetivos e uma política económica e social ajustada às necessidades do país”. Outras verdades do que fez por convicção de ajustamento às necessidades do país, são o desemprego que voltou a aumentar, cortes nos salários e pensões, aumentos de impostos, caos no Serviço Nacional de Saúde, aumento da pobreza e lançamento de famílias para a ajuda social, destruição das classes médias.

Não sei se por lapso ou por convicção que Passos Coelho utiliza agora uma linguagem próxima do tipo dum Syriza travestido, ou será do Bloco de Esquerda, quando diz que há necessidade de que Portugal saia de uma “ditadura financeira”. Não sabíamos que afinal existia na Europa uma ditadura financeira. Será que talvez queira captar voto ao BE.

Mas há mais novidades sobre este país maravilhoso, ou a minha leitura está errada e está a referir-se a um outro país quando o primeiro-ministro afirma que os níveis do défice no início da legislatura, eram “sobrecarga para todos os contribuintes”. E eu que julgava que a sobrecarga para os contribuintes tinha sido o "enorme aumento de impostos" e os cortes que fizeram.

Melhor ainda são as previsões do défice, diz, vão ser abaixo dos 3%, e se for de 2,7% "há reservas para passar por este maior período de perturbação dos mercados financeiros e temos o suficiente para esperar que uma resposta mais robusta possa vir a acontecer, em defesa da própria zona euro, se isso for necessário”. Força Portugal valentão, com Passos Coelho na carruagem, vais no bom caminho e vais salvar a Europa da crise do euro. Mas… e a dívida de 132% do PIB como é que a vai pagar? E onde está o dinheiro para pagar aos credores e os juros altíssimos que por aí poderão vir?

Como frequentemente me engano e tenho sempre muitas dúvidas pode ser por isso que a minha leitura esteja errada. Mas á uma coisa em que de certo não me engano é que se esta coligação PAF (PSD/CDS) com Passos Coelho vier por mero acaso ganhar as eleições legislativas, todo es te discurso de otimismo de país maravilha vai mudar radicalmente ou, não tenha ele já dito ainda não há três meses que a austeridade é para continuar e que vai haver mais cortes.

Quem ainda for crente nas palavras e promessas encantatórias e aceitar de mão beijada que lhes possam fazer sentir do medo da mudança então são livres de decidir e bem podem esperar pelo melhor que da parte dele não virá. Em política há muitas maneiras de mentir e Passos Coelho ficou vacinado da mentiras e promessas que o levaram ao poder agora, faz o mesmo utilizando outra estratégia.

Cá estaremos para ver.

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publicado às 23:54

Em Portugal o problema da Grécia tem provocado comentários e análises motivados por preconceitos partidários e ideológicos que chegam ao ponto do irracional como os comentários de Luís Pedro Nunes, diretor do Inimigo Público, que pretende ter graça e satirizar mas que de graça nada tem. Em vez de distanciamento e isenção que se esperaria por parte de comentadores e analistas políticos, formando e informando, o que se vê é desinformação e tropeços em comentários emocionais, ideológica e tendencialmente partidarizados.

Os senhores que mandam na Europa não se dão bem com a esquerda, mas dá o seu beneplácito a governos de direita em coligação com sociais-democratas que lhe sejam fiéis e obedientes. É isto que está em cima da mesa, daí a teimosia dos dirigentes europeus que vêm com desagrado e querem fazer com que seja um mau exemplo para se no futuro chegarem ao poder partidos de esquerda mesmo que democraticamente eleitos. Chamam-lhe esquerda radical mas onde está a outra, a não radical? Essa já foi há muito absorvida deixando de ter representação significativa.

Há que reconheçer que a responsabilidade é de todos, políticos, governos, do povo, e dos líderes europeus mas parece que estes últimos não querem assumir as suas responsabilidades e centram-se apenas em arranjar formas de fazer cair um governo apenas por ser duma esquerda não-alinhada com as propostas que lhe querem impor.

O problema é, por isso, mais político do que financeiro e económico. Não é com vinagre que se apanham moscas diz o povo. A direita que toma posições radicais e que governa a europa, onde Portugal também se encontra, preferiu utilizar sprays fortíssimos para afastar uma espécie de moscas que lhe vieram cair em cima do prato.

É necessário ter em conta que não se trata de moscas mas de um país que foi enfraquecido por medicamentos que era suposto fortificá-lo mas que o colocaram num estado de tal depauperação que está em vias de não conseguir sequer levantar-se. No entanto, quem nos governa na Europa quer mostrar para a opinião pública que já reduziu o máximo que podia o princípio ativo do medicamento prescrito que estavam a obrigar os gregos a ingerir. Mas este princípio ativo não ajuda à cura da doença mas colocar o doente num estado de letargia durante anos.

Vamos ser objetivos, têm sido identificados na Grécia situações como evasão fiscal, a falta de agilização na cobrança de impostos, a corrupção, mau funcionamento dos tribunais administrativos, problemas de oligopólios, nas profissões, etc.. A quem devemos imputar a responsabilidade disso senão aos governos anteriores que fora socialistas, direita e de centro direita de coligação e outras fórmulas mágicas de coligações que nunca conseguiram por falta de vontade política, comprometimento com o status quo e porque nunca quiseram tocar em privilégios instalados durante anos.

A Grécia tem responsabilidades de estar na situação em que se encontra, mas a responsabilidade não é, por certo, do Syriza que nunca esteve sozinho no governo da Grécia nem sob a forma de qualquer coligação. O Syriza está no Governo da Grécia como consequência do que fizeram os governos antecedentes.

É bom recordar que em 23 de abril de 2010 o Governo da Grécia era liderado por Papandreou do partido socialista, altura em que foi pedido o primeiro resgate financeiro devido à crise europeia fazendo entrar 100 mil milhões de euros provenientes das três entidades internacionais (União Europeia, Banco Central Europeu e FMI). Em março de 2012 recorre a um segundo resgate de 130 mil milhões que entraram até finais de 2014. O resultado das condições impostas pela troika ao governo de Atenas, com Samaras da Nova Democracia então no poder, não foram cumpridas e as que o foram também não resultaram apesar dos extremos sacrifícios a que sujeitaram o povo grego.

Ao aceitar o empréstimo da troika em troca de €245,6 mil milhões de euros de maio de 2010 a março de 2016, o Governo comprometia-se à da implementação de reformas económicas, privatizações e medidas de austeridade.

No momento de uma das avaliações a troika encontrou um desfasamento no cumprimento das metas do plano de cerca de 2,5 mil milhões de euros nas contas e pedia medidas acrescidas de austeridade mas o Governo insistia nas suas contas que eram as corretas e sujeitou-as ao parlamento que as aprovou.

Para Mariana Mazzucato do The Guardian o problema da Grécia não pode ser resolvido com cortes e mais cortes e acrescenta que "o problema da Grécia nunca foi um problema de liquidez mas de solvência, ou seja, a sua incapacidade para cumprir os compromissos com os recursos que constituem seu património ou ativo. Foi a crise da competitividade agravada pela crise financeira. A crise grega não aguentando mais cortes deveria ser direcionada uma estratégia de investimento sério, acompanhado por reformas sérias do Estado e da fiscalidade tendo em vista a competitividade. A insistência no status quo de mais austeridade produz uma Grécia cada vez mais fraca, com mais desemprego e mais perda de competitividade."

A Grécia tem problemas que quer resolver mas precisa do apoio da União Europeia que lho está a negar apenas, e só, por mero preconceito e receio de que outros países possam seguir-lhe o exemplo de se atreverem a votar em partidos que não são aceites por governos que pretendem ser dominantes e hegemónicos. A estratégia tem sido dominar e controlar pacificamente outros países mais fracos, através de governos subservientes que não lhes crie problemas, de modo a possam ficar no domínio da sua influência e da qual não se possam libertar. É uma espécie de colonialismo dos tempos moderno através da finança, isto é, uma forma de domínio económico, político e social, exercido por um país sobre outro, separado geograficamente dele.

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publicado às 00:04

Feira das medalhas

por Manuel_AR, em 11.06.15

Condecoração.png

 

As distribuições de condecorações dadas pelo Presidente Cavaco Silva no dia 10 de junho raramente são comentadas na comunicação social. Quando alguém recusa receber tal condecoração, o que raramente acontece, a notícia espalha-se como pólvora acesa. E há razões para isso. Criticar uma atribuição é por em causa o mérito de quem a recebe.

Há também na distribuição das condecorações, não em todas convenhamos, algo de político e até perverso. Refiro-me ao caso do ex-ministro das Finanças Teixeira dos Santos. Não está minimamente em causa o mérito, o valor, as competências, o conhecimento, a capacidade de trabalho, a sua dedicação à causa pública e muitas outras virtudes do Prof. Teixeira dos Santos. O que, no meu ponto de vista, está em causa é a carga simbólica da oportunidade da condecoração.

Como todos sabemos o Prof. Teixeira dos Santos foi o último dos ministros das finanças dos governos de José Sócrates. Antes disso foi secretário de estado do Tesouro e Finanças no governo de António Guterres. Em 2005 foi chamado por José Sócrates para ministro da Finanças e de Estado do primeiro governo de José Sócrates função que desempenhou até 2009. No XVIII Governo Constitucional que tomou posse em julho de 2009 José Sócrates confiou-lhe a pasta ministro da Economia e da Inovação que desempenhou até outubro de 2009. Neste mesmo mês José Sócrates entregou-lhe a pasta de ministro de Estado e das Finanças onde se manteve até junho de 2011.

Foi Teixeira dos Santos que subiu o degrau que faltava para a queda do Governo de José Sócrates que foi precipitada pela crise política criada com a rejeição do PEC IV - Programa de Estabilidade e Crescimento IV, a 23 de Março de 2011.

Não sei se já estão ou não acessíveis os documentos confidenciais de tal facto porque será apenas por eles que se saberá com rigor por que razão o país foi forçado, a procurar ajuda externa. Na Assembleia da República os votos contra da direita PSD e CDS/PP, do PCP e do BE provocaram a queda do Governo do Eng, José Sócrates justificado pelas medidas de austeridade contidas no PEC IV que posteriormente acabaram por ser contempladas no memorando da troika que o Governo que Passos Coelho acabou por agravar.

No caso particular de Teixeira dos Santos a condecoração, do meu ponto de vista, contem um simbolismo que não podemos desligar do contributo indireto que ele teve para a queda do Governo, para a vinda da troika e para que a direita chegasse ao poder, facto que o senhor Presidente não podia deixar de louvar.

É bom recordar que Teixeira dos Santos foi quem em 2008 pediu a nacionalização do BPN, propriedade da Sociedade Lusa de Negócios, e que justificou na altura que está “numa situação muito perto da iminente rutura de pagamentos”, e sublinhou que a instituição “não tendo vindo a cumprir os rácios mínimos solvabilidade” impostos pelo Banco de Portugal e não existem perspetivas de que encontre, a curto prazo, "novas fontes de liquidez". E termina dizendo que “Face à inexistência de uma solução que permita defender o interesse dos depositantes, o Governo viu-se obrigado a propor à Assembleia da República a nacionalização do BPN”.

Todos sabemos quem eram as figuras públicas que estavam ligadas, tinham negócios ou utilizaram o BPN.  Mesmo que se queira não podemos deixar de fazer conotações com esta condecoração.

Esta condecoração foi um reforço para intensificar e maximizar um sintoma de recuperação de parte duma memória social e política que possa de algum modo, através da recordação, minimizar a situação evolutiva do prenúncio dum futuro que está mais ou menos determinado, que é a perda de eleições pela direita neoliberal.

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publicado às 20:14


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