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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
No jornal Expresso do passado 18 de abril na sua coluna o professor Daniel Bessa que prezo como economista surprendeu-me com o comentário que fez criticando Jerónimo de Sousa que teria acusado o primeiro-ministro Passos Coelho de querer transformar o país na Singapura da Europa. Daniel Bessa diz que lhe custou a acreditar no que ouvia. Não pretendo defender o Secretário Geral do PCP, mas acho que é necessário um pequeno e simples contributo para clarificar o assunto.
Resolveu Daniel Bessa fazer uma comparação de dados estatísticos entre Singapura e Portugal. Pois bem, é um exercício interessante que Daniel Bessa faz a partir de dados estatísticos com os últimos valores conhecidos.
Taxa de desemprego era, em Singapura, de 1,9% (13,5% em Portugal).
Em 2013, o PIB per capita de Singapura foi de 54.775 USD (20.727 em Portugal).
Em 2014, no Relatório sobre a Competitividade no Mundo, do World Economic Fórum, Singapura ocupava o 2º lugar (Portugal era 36º).
Em 2014, no Índice do Desenvolvimento Humano das Nações Unidas, Singapura ocupava o 9º lugar (Portugal era 41º).
A dúvida está na leitura que podemos fazer para alguns países do indicador do PIB per capita. Sendo o PIB per capita calculado dividindo os indicadores económicos agregados (produto, renda, despesa) pela população pode ser enganadora a leitura daquele indicador para alguns países. O PIB per capita pode ser elevado e aumentar enquanto a maior parte da população pode ser pobre ou proporcionalmente não tão rica, pois o PIB não considera o nível de desigualdade de renda de uma sociedade. Veja-se o caso de países produtores de petróleo como a Arábia Saudita que tem um PIB per capita elevado mas onde a maior parte da população tem um nível de vida e uma renda baixíssima porque a riqueza do país está nas mãos de um pequeníssima parcela da população. Nem me a trevo sequer a colocar em dúvida que o professor Daniel Bessa se tenha esquecido disso.
Sobre a competitividade a leitura também não é linear pois a exploração da mão-de-obra ao nível salarial, nomeadamente a infantil, acumulados com o excessivo número de horas de trabalho contribuem, e muito, para o aumento da competitividade. Não é por acaso que Passos Coelho insiste na desvalorização salarial em Portugal.
Pelas informação dadas pelo professor Daniel Bessa parece até que deveríamos seguir o exemplo de Singapura em Portugal para alvcançarmos os mesmos índices. Isso seria ótimo, mas à custa de quê?
Sem querer meter a foice em seara alheia penso que não basta recolher os dados que mais nos agradem ou interessem, porque em macroeconomia há outros indices também importantes que, cruzados, devem servir como termos de comparação entre países e com o seu nível de bem estar pessoal e social porque a vida duma sociedade não é apenas o trabalho apesar de importante. A educação a saúde, a alimentação para além de outros são essenciais para o nível de desenvolvimento social de um país.
Quanto à aposentação Singapura têm fundos de aposentação menos adequados no mundo.
É o quinto lugar mais fácil para os ricos ficarem mais ricos se forem politicamente ligados ao governo. Singapura está ao nível de outros países em desenvolvimento como a Malásia, Índia e Indonésia. Basta consultar com critérios as estatísticas de organismo internacionais. O poder de compra é outro dos indicadores de igualdade que pode ser cruzado.
Para além de tudo isto os elementos do Governo de Singapura auferem salários mais altos entre os líderes políticos do mundo por vezes até quatro vezes mais. Não será isto também importante para avaliação?
Apresento em baixo uma recolha de alguns dados estatísticos que ajudam a comparar com Portugal.
Nome do Indíce |
País |
Observações |
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Singapura |
Portugal |
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Indíces comparativos |
Despesas gerais em saúde como percentagem no total da despesa da saúde |
31% (2010) |
65,80% (2010) |
|
Despesas com educação |
3,2% (2012) |
5,3% (2011) |
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Propinas |
5583 US dólares |
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Salário médio |
2925 US dólares (2011) |
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Desigualdades Indice de Gini |
0,412 (2011) |
0,342 (2011) |
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Taxa de pobreza |
28% |
11,9% (2011) 18,7% (2013) |
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Despesa do Estado em % do PIB |
17% |
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Despesas com segurança social, saúde e bem-estar em % do PIB |
2% (2012) |
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Número médio de horas de trabalho semanais |
50,8 horas (2011) |
35 horas (2014) |
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Salários milionários em % do PIB Ranking dos países onde é mais fácil para os ricos ficarem mais ricos se estiverem politicamente ligados ao governo. Mede a posição relativa onde os empresários politicamente ligados ao governo têm mais probabilidade de prosperar.
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5ª posição do ranking |
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Salários dos líderes políticos |
2.200.000 US dólares/ano |
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Salário médio ilíquido dos executivos |
200.000 euros/ano |
120.000 euros/ano |
Fonte: ECA Global Perspectives National Salary Comparison |
|
Salário médio líquido dos executivos |
170.000 euros/ano |
75.000 euros/ano |
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