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A inveja portuguesa manifesta-se, daqui e dali, do interior ao litoral, em todos os níveis sociais, entre as freguesias de todo o território nacional e associada ao bairrismo nas grandes cidades.

Os dicionários da língua portuguesa apresentam vários significados para a palavra inveja. Vou utilizar um dos que me pareceu mais adequado ao contexto sobre o qual vou entediar alguns possíveis leitores.

Um dos conceitos de inveja, segundo o Dicionário da Língua Portuguesa da Porto Editora, é "desejo de possuir algo que outra pessoa possui ou de usufruir de uma situação semelhante à de outrem (geralmente acompanhado de animosidade face a quem detém o objeto de cobiça e de vontade de que esse outrem o não tivesse)". É, afinal, o desgosto ou pesar pelo bem dos outros.

Infelizmente a inveja ganha particular intensidade em Portugal. As figuras ímpares da nossa literatura têm-na referido e "denunciado" ironicamente. A personificação da inveja é, não raras vezes, manifesta por “personalidades” da política, da cultura, do jornalismo e do comentário político e toma por vezes um semblante com a gravidade duma atitude associada à hipocrisia e, em alguns casos, acrescida do habitual pedantismo  próprio daqueles que penduram palavras em vez de ideias, como se fossem os únicos capazes de o fazer e de que todos os outros são obviamente incapazes.

A expressão “dor de cotovelo” pode ser também usada em momentos de inveja ou ciúme quando alguém próximo consegue vantagens ou promoções que o deixam de fora.

A inveja em política traduz-se em ambição não apenas pessoal, mas também em relação aos sucessos políticos de elementos de um partido em relação a outro, ou seja, ambição ao ver num outro partido algo que se desejaria para aquele a que se pertence ou com que se simpatiza.

A grande motivação exógena para esta minha ação escrita sobre a inveja em política foi, mais uma vez, um artigo de opinião do douto escritor, cronista, comentador e dito ex-jornalista, João Miguel Tavares no jornal Público. Não…, não…, a minha postura para com ele não tem sido sempre discordante. Algumas vezes tenho sido pela concordância.

O artigo de João Miguel Tavares, como seria de esperar, mais uma vez, enferma da patológica assombração in vitae de José Sócrates, que nunca disfarçou nem conseguiu ainda sublimar. Assim, tudo e todos quantos estiveram próximos, ligados ou até afastados dele, mas o conhecem ou conheceram, ainda que não participassem em nada de quanto seja culpado, serve para lançar farpas. Como bom que é a escrever, lança mão a recursos linguísticos para tornar os textos mais expressivos e sugestivos para construção de reais ficções buscando ligações de factos para tentar arrolar para a esfera pública o enxovalho, a dúvida, a desconfiança.

JMT considera-se um virtuoso do comentário e da opinião que, devido às suas convicções liberais de direita, parece ter sempre o olho da direita tapado com uma pala, qual Camões, para tudo  quanto venha, mesmo que seja bom, do lado daquela esquerda que mais o incomoda e desconsola, fazendo jus à espécie de áurea política virtuosa e justiceira que o envolve e o impele a ver a política pelo olho descoberto.

No que se refere à política os textos de JMT fazem-me recordar uns tercetos de um poema de Gomes Leal, “Sátiras Modernas”, que versam assim:

“Teus brados de amor pátrio, e os farrapos banais
Dessa tua elegante e pompadour retórica,
São lixo… entulho… pó… caruncho… nada mais!”

     

E mais estes:                

“VIRTUDE, moça ideal que morreu de anemia,
Fica bem na oração de um tribuno violento,
E lê-se em folhetins dos jornais, dia a dia!...”

 

Desta feita o alvo do ataque insidioso, pleno de mexeriquice, como não podia deixar de ser, foi para Pedro Silva Pereira por ter sido eleito para vice-presidente do Parlamento Europeu, e, por isso, teve direito, nada mais nada menos, do que a quatro longos parágrafos de infamação mais ou menos adoçados pelo habitual azedume pessoal do autor.

E vejam só, como se fosse uma notícia de lesa Pátria até a revista Sábado de hoje traz uma nota a dizer que o filho de Pedro Silva Pereira chumbou num exame!  Por causa disso a nação está em risco no Parlamento Europeu!

Vão, mas é, tratar-se.

Como também não podia deixar de ser, Miguel Tavares, para que não o acusassem de unilateralidade e de ter um olho só virado para quem é de esquerda, mesmo que moderada, recorre à crítica simples e breve em dois parágrafos apenas, suavemente orientada ao eurodeputado do PSD Álvaro Amaro indiciado no âmbito da “Operação Rota Final” por uma alegada rede de favores na atribuição de contratos públicos.

Assim, ficará quite, já ninguém tem nada a dizer, pois então! Não venham cá dizer que eu, João Miguel Tavares, que tenho uma pala no olho direito por ser um encartado liberal de direita apenas critico um lado, nada disso!

Perguntam os leitores onde é que isto tem a ver com a inveja. O tipo não explica dirão alguns! Vou explicar.

Se recuássemos no tempo até 2004 veríamos Durão Barroso na altura primeiro-ministro a ser eleito pelo Parlamento Europeu para a presidência da Comissão Europeia tendo abandonado o país que entregou a pasta de primeiro-ministro a Santana Lopes como se tal fosse uma coisa vã, para se “pirar” para Bruxelas que ali é que estava a dar.

Na altura não faltaram elogios, dos comentadores, jornalistas e políticos da direita a dizerem que era um orgulho para Portugal e para os portugueses a eleição de Durão Barroso tal como fez Manuela Ferreira Leite que reagiu com "grande e duplo orgulho" à vitória de Durão Barroso. Era um prestígio e um orgulho para Portugal, diziam, "por ter um português que mais uma vez conseguiu vencer" e orgulho partidário por "não poder esquecer que ele é membro do partido social democrata".

Quando da entrada de Mário Centeno para presidente de Eurogrupo apesar de também ser prestígio para Portugal a mesma direita, não fez alarido, antes pelo contrário, fez todo o possível por denegrir a pessoa e o cargo que ocupava.

Uma nota final: que critérios o Presidente Marcelo Rebelo de Sousa seguiu para designar João Miguel Tavares para presidir à comissão das comemorações do 10 de junho, Dia de Portugal?!  Os discursos de JMT mais pareciam próximos do tempo em que Pedro Passos Coelho foi primeiro-ministro em 2011.

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publicado às 16:44


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