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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Em certos momentos de acontecimentos da nossa política há um problema que aflige e agita a comunicação social e os jornalistas: quando não têm informação suficiente e exata sobre certos factos lançam para a opinião pública achas interpretativas e especulações sobre esses mesmos factos que, por vezes, se aproximam de oráculos.
É, por exemplo, o caso do roubo das armas de Tancos por causa do qual se tem estado a construir uma espécie de telenovela tipo mexicana a partir de alguns factos, outros pseudo factos, que surgem de penumbras que geram nebulosas segundo o Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa e névoas segundo o primeiro-ministro António Costa. Pode até acontecer que as nebulosas e as névoas sobre os factos sejam, com finalidades várias, adensadas e difundidas pelos próprios envolvidos durante processo de averiguações.
Recorde-se que o caso de Tancos surgiu numa altura crítica em que Governo e o país andavam preocupados com a catástrofe incendiária que grassou, ou fizeram grassar, e que tiveram uma gravidade sem par e, na mesma altura, por coincidência, é divulgado pela comunicação social o facto do roubo das armas em Tancos. Ouro sobre azul para partidos da direita cavalgarem a onda e poderem fazer oposição.
E claro que a oportunidade surgiu para a oposição explorar com a tentativa de atribuir responsabilidades exclusivamente políticas ao que deveria ser responsabilidade da competência da hierarquia militar.
A direita aproveita os nichos de “mercado” da política partidária que a vão ajudar a concentrar esforços onde têm maior probabilidade de sucesso que, aqui e ali, vão surgindo e se abrem no espaço político para fazer oposição partidária; os órgãos de comunicação aproveitam os mesmos nichos para vender informação (por vezes especulando sobre os factos) em consonância. Ambos são, afinal, consumidores públicos suscetíveis de exercer influência. A venda da agitação política para os primeiros e a venda da informação para os segundos contribuindo ambos para o mesmo fim. Assim, quanto mais radicais e agressivos forem a trocar argumentos lançando dúvidas nas mentes e proferindo ofensas, a favor das suas “causas”, mais adeptos ganham no caso de uns, e leitores ou telespectadores no caso dos outros. Para isso os grandes media têm hoje, nas suas versões impressas ou on-line mais colunas de opinião e pouco espaço para reportagens e apresentações factuais sem comentários inseridos pelo jornalista.
A falta de casos concretos e objetivos sobre a governação propriamente dita e de projetos de governação alternativos a oposição procura potencias nichos de factos, por vezes marginais, que potencialmente possam ser associados à conduta do governo para a obtenção de futuros dividendos eleitorais.
Apesar da importância que, sem dúvida, o caso de Tancos merece temos à nossa volta a perceção de que o povo já começa a estar farto desta novela que passa na comunicação social com conveniências várias porque, até ao momento, não existe objetivamente nada que concorra para o esclarecimento. O caso do roubo das armas de Tancos afigura-se-me como estando nesta configuração.
Alguns meios de comunicação, quando não todos, em certas circunstâncias cuidam de apresentar factos por vezes sem relevância, mas jornalisticamente elaborados, dando-lhes enfase de modo a criar polémicas e a ter efeito jornalístico que estimule o leitor ou o espectador.
Uma emoção leva uma pessoa a reagir diante de um acontecimento mesmo que lhe seja apenas descrito e faz ativar sentimentos sendo estes definidos como a observação das emoções e das reações provocadas por elas.
Há vários exemplos do que se afirma que contribuem para preparar e criar clima na opinião pública para julgamentos emocionais e estimular a conduta de partidos na oposição, sejam eles quais forem.
Tendo em vista a importância do layout das primeiras páginas dos jornais, nomeadamente os portugueses, é evidente a construção e a reprodução de ideias e valores na sociedade, quando abordam questões relacionadas com a possível construção de significados sociais como o objetivo de desencadear emoções e sentimentos (conceitos complementares) que possam ter muita importância quando se pretende induzir a opinião pública através da comunicação.
Vejamos dois exemplos ambos do Correio da Manhã.
CM dia 5 de novembro:
Repare-se no layout do título da manchete “Juiz de Sócrates Liberta Traficante de Armas” aparece acentuadamente em destaque em fontes garrafais que sugere informações mais relevantes da página, bem como da sua localização no domínio do “Ideal” que está associado à seção superior da primeira página e sugere os elementos representados como dotados de idealização, abstração, generalização ou emoção.
A manchetes mostram a informação relevante mais proeminente e do discurso noticioso. As manchetes simplesmente separam o evento principal da história e, portanto, são totalmente deriváveis da história. A chamada “Juiz de Sócrates Liberta Traficante de Armas” aparece com acentuado destaque, em função das fontes garrafais empregues seu respetivo título.
Assim, o diário Correio da Manhã pretende que o público faça a conotação do tráfico de armas com Sócrates aproveitando ser o mesmo juiz Ivo Rosa, a quem foi atribuída por sorteio a instrução da operação Marquês (que envolve entre José Sócrates e Ricardo Salgado, entre outros), associando-os ao tráfico de armas. Não está claro no título porque o pretendido será a opinião pública possa fazer conotações do julgamento de Sócrates com o tráfico de armas por ser o mesmo juiz a tomar as decisões judiciais.
Outro caso ainda tendo em vista neste caso a amplificação dirigida de casos.
CM 9 de novembro:
Como no primeiro exemplo nesta capa o layout do título da manchete “Juiz Apaga Teia da Máfia do Sangue” aparece acentuadamente em destaque com fontes garrafais em cor branca sobre fundo preto que sugere a informação mais relevante da página e o seu impacto bem como o da sua localização associada no domínio do “Ideal” ao centro da primeira página. Os significados sociais (re) produzidos pela composição das capas dos jornais estão ao nível do domínio do Ideais associados à seção superior da página e sugere os elementos representados como dotados de idealização, abstração, generalização ou emoção.
O tema principal da notícia está em letras reduzidas com cores e fundo contrastantes em fonte mais pequena, menos evidente e de difícil leitura. É obvio que neste caso o objetivo da redação parece ser o início da ofensiva contra o juiz Ivo Rosa com a procura de quaisquer decisões judiciais que tomar.
Este tipo de jornais e de jornalismo, e ainda os comentários e notícias que circulam nas redes sociais, procuram com títulos e frases persuasivos explorar o espaço emocional no corpo da opinião pública para desencadearem permanentemente o alerta emocional da sociedade e manter a atenção necessária para despertar em cada caso o correspondente conteúdo sentimental.
Este texto foi escrito, já lá vão cerca de quatro anos, para uma aula da disciplina de Relação Educativa que lecionei na licenciatura em Educação Social mas que nunca cheguei a apresentar na aula. Descobri-o agora arrumado na minha base de dados. Resolvi adaptá-lo à realidade política e publicá-lo neste blog.
Amor, alegria, satisfação, ciúme, tristeza, cólera e outros sentimentos desencadeiam comportamentos, que normalmente são observáveis através de reações fisiológicas e de expressão corporal, que fazem parte das experiências emocionais em que a emoção e a cognição estão envolvidas
A tristeza, a cólera, e outros do mesmo tipo, por sua vez, podem desencadear sentimentos também observáveis através de reações de expressão coletiva que, no meu ponto de vista, serão o somatório das várias emoções individuais derivadas de experiências vivenciadas onde a emoção e a cognição também estão envolvidas. São sentimentos indesejáveis que não se prestam à meditação isolada e melancólica antes se traduzem numa revolta coletiva.
Meditar sobre as políticas de há dez ou vinte anos e tentar remendar o que está defeituoso para, à luz de outro ponto de vista ideológico lhe dar perfeição que ela nunca teve deveria ser génese, passar anos a fio a tentar remediar, através de agressões sociais, políticas estruturas implementadas ao longo de muitos anos é apenas uma forma que só pode estar presente no ideário de políticos incultos e incompetentes que por tal deveriam ser génese de reações de expressão coletiva.
Não sei se alguma vez se poderá demonstrar que é possível ser um político são de consciência e honradez. Ao percorrermos a imprensa dos últimos 20 ou 30 anos, verifica-se que nas investigações sobre corrupção há sempre políticos envolvidos em maior ou menor grau. Há-os também impolutos mas, se o são na corrupção, não o serão no domínio da falência da verdade e na conformidade entre a concretização do seu pensamento e na sua expressão na prática. Basta retrocedermos a um passado muito recente, os últimos dois anos, para confirmarmos esta asserção. Não me refiro a utopias, mas a promessas potencialmente exequíveis que são enterradas na memória de longo prazo para, na maior parte das vezes, não mais de lá saírem até que outros venham para que, novamente, se reinicie o mesmo ciclo sem-fim.
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É isto que trazem as juventudes partidárias sem valores que lhes sejam incutidos e que não são mais do que centros de incubação daquelas elites políticas que nos irão governar em futuros próximos e iniciarão novos ciclos de logros e perversidades políticas.
Quando se chega a um estado de inanidade é mesmo a decadência e uma prova de abaixamento de nível político e moral de um povo que, desiludido, já sem forças para resistir, insiste na reeleição e aceita sem comentários, a inclusão em governos de elementos que, se não foram condenados em primeira instância no mínimo se encontram debaixo da alçada da justiça por corrupção ou estiveram envolvidos em ambientes onde foi manifesta.
Nós, o povo, ignoramos imensas coisas, que muito importava conhecer, e esta falta de conhecimento e de interesse pela discussão e debate político sente-se na maior parte dos jovens e até nas classes que, pela sua posição social, deviam ser esclarecidas.
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