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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
A troika foi, em grande parte, trazida pela direita, portanto, teria que libertar-se dela, já que mais não fosse virtualmente.
Todos os que agora querem, advogam, pedem e apelam ao consenso com a oposição para validarem medidas cada vez mais austeras que querem impor aos portugueses são os mesmos que, em 2011, não se interessaram em o fazer.
Obcecados que estavam pelo poder ajudaram a empurrar Portugal para um pedido de resgate de 78 mil milhões de euros da troika que veio de facto a governar secundarizando o próprio governo que, mesmo com a limpeza da saída, por cá vai ficando atrás da porta até 2021.
A política financeira do país, na altura muito pouco cuidada e desastrosa de José Sócrates, pese embora os sinais dados pela Europa no sentido da promoção do investimento público, a verdade é que Passos e Portas, quando decidiram recusar o PEC 4, tinham na mira do poder.
Não se ouviu naquela altura o Presidente da República apelar a quaisquer consensos e entendimentos como o faz agora tão insistentemente querendo ir para além do mero entendimento do DEO (Documento de Estratégia Orçamental).
Teria sido oportuno efetuar um acordo ou um pacto parlamentar que, na altura, evitasse o resgate da troika para que não tivéssemos hoje:
O empobrecimento da população em geral.
Um Estado social a enfraquecer bruscamente.
Um aumento dos desempregados cuja baixa se deve a meios artificiais e não por criação de postos de trabalhos reais.
Diminuição progressiva dos apoios sociais.
Cantinas socias cheias pelo que se vangloria o ministro Mota Soares.
Venda das melhores e mais rentáveis empresas do Estado.
Promessas da continuação da austeridade por muitos anos embora a propaganda diga que estamos a começar a entrar no melhor dos mundos e cantam loas de vitórias virtuais.
A Espanha, aqui ao lado, lá conseguiu recuperar sem tutelas externas e sem passar por humilhações como aquelas que ainda hoje passamos, como a da ingerência e pressões sobre as nossas instituições democráticas. Durão Barroso descobriu agora o seu país intrometendo-se na política interna, diz e desdiz o que já disse ajudando a que a humilhação continue, e o governo aceita tudo isto como de uma normalidade se tratasse.
A direita bem pode fazer um ato de contrição porque grande parte da responsabilidade pelo que hoje estamos a passar, senão a maior, também é dela.
A persistência da Memória (Salvador Dali - 1931)
Se as eleições europeias forem ganhas por uma maioria de direita neoliberal como a que ocupa este momento o Parlamento Europeu bem podemos esperar sentados pelo referido "pé de igualdade". Isso apenas se verificará se houver, de facto, uma alteração na composição parlamentar da U.E. que passe por uma votação em massa num sentido diferentes do atual, nomeadamente em Portugal. Recorde-se que a extrema-direita europeia está em força a tentar ocupar o maior número possível de lugares.
A comunicação de Passos Coelho que anunciou que Portugal vai sair do atual programa de resgate financeiro sem recorrer a qualquer programa cautelar não foi mais do que um discurso surreal e eleitoralista.Surreal tem o significado de algo estranho, absurdo, que não corresponde à realidade. Dizer que este acontecimento foi surreal significa que foge à realidade, que é bizarro ou absurdo.
O surrealismo foi uma consequência da psicanálise e da indefinição do contexto político do início do século XX, década de 20 mais propriamente, que fez emergir um movimento artístico e literário que questionava as crenças culturais da Europa da época, assim como a vulnerabilidade humana face a uma realidade difícil de compreender e de controlar. O surrealismo desliza "pelas águas mágicas da irrealidade, desprezando a realidade concreta" mergulhando na esfera da absoluta liberdade de expressão libertando-se dos cânones das conceções artísticas vigentes desde o Renascimento. A forma como Passo Coelho fala de um país em vias de prosperidade próxima e como é de facto navegar pelas águas mágicas da realidade.
Na comunicação ao país o primeiro-ministro continua a fazer dos portugueses mentecaptos e destituídos de memória recente. Sou de opinião de que em política, ao dizer-se que os portugueses têm memória curta, refere-se acontecimentos ou situações ou factos que perderam, através do tempo, os efeitos sociopolíticos que foram substituídos por outros mais recentes. Não é o caso. Todos temos bem presentes na memória tudo quanto foram estes três últimos anos de governação e que, por isso, não se esquecem facilmente. Não é possível esquecer as promessas feitas no passado antes da sua estratégia ansiosa para a tomada do poder.
O surrealismo do discurso leva-o a fazer comparações absurdas com o 25 de abril passando depois ao regresso ao passado com os argumentos do "dejá vu" do medo da bancarrota. Passos Coelho e os seus apoiantes do partido estimularam a vinda para Portugal das instâncias internacionais (troika) e até a elogiaram fazendo do memorando assinado o seu programa de governo mas levado ao mais alto grau neoliberal.
As estrofes vitoriosas que compõem a narrativa lírica da comunicação ao país são sorriais e cheias de contradições. Ter uma proteção dada pelas reservas financeiras para um ano é bom mas tem custos em juros que temos que pagar, embora mais baixos, para além do pagamento dos juros da restante dívida. A almofada do Estado custa 1,2 milhões por dia. Além disso, se tivermos que utilizar a tal almofada em caso de alarme esta vai-se num ápice e lá voltamos nós ao mesmo.
Claro que o regresso aos mercados em moletes é bom para o país, o problema é que, devido à instabilidade e especulação financeira que ainda se vive pode ter um volte-face e lá estaremos nós a braços com aumento dos juros da dívida e sem para-quedas.
Passos Coelho disse ainda que "Os sacrifícios feitos não foram um fim em si mesmo e pudemos alcançar os resultados que ambicionamos", não sabemos é quais, porque, ao mesmo tempo diz "estamos no caminho certo". Será que é continuando este caminho certo dos últimos três anos que vamos alcançar resultados? Resultados em quê e para quem?
Sublinha também que "A nossa escolha está alicerçada no apoio dos nossos parceiros europeus" e sublinha que, "Com a reconquista da nossa autonomia, Portugal poderá estar em pé de igualdade com os restantes Estados-membros".
Parece que, afinal, a escolha que se fez e que intitularam de "limpa" teria sempre o apoio dos nossos parceiros europeus porque, não sabendo o que poderá ainda acontecer, não se querem comprometer com nada, nomeadamente num eventual segundo resgate, que Passos e Portas dizem que não vai existir.
Coloca-se-me uma questão: a que pé de igualdade com os restantes Estados-membros se refere o primeiro-ministro? Irão os nossos parceiros na U.E. olhar-nos com outros olhos e deixarmos de ser um dos "PIIGS"?
Se as eleições europeias forem ganhas por uma maioria de direita neoliberal como a que ocupa este momento o Parlamento Europeu bem podemos esperar sentados pelo referido "pé de igualdade". Isso apenas se verificará se houver, de facto, uma alteração na composição parlamentar da U.E. que passe por uma votação em massa num sentido diferentes do atual, nomeadamente em Portugal. Recorde-se que a extrema-direita europeia está em força a tenter ocupar o maior número possível de lugares.
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