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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Se é isto que os americanos pretendem para o seu país que foi considerado a maior democracia do mundo, o país das liberdades e diziam lutar pela liberdade dos povos, então, terão a oportunidade para isso nas eleições do dia 3 de novembro. Mas depois não nos digam que não sabiam. Fazer dos EUA novamente grande outra vez é voltar à real democracia.
Raramente tenho dedicado neste blogue espaço para falar sobre Donald Trump, calha agora dias antes das eleições nos EUA.
O que se sabe sobre a presidência de Trump é o que a comunicação social nos vai informando e pelos jornais de referência dos EUA. As redes sociais o lá encontramos na sua maioria é apenas lixo desinteressante que nem para reciclagem serve.
Donald Trump é um autocrata, uma espécie de soberano absoluto e torna- se necessário que a américa o trave. Tem havido a tendência para um candidato a ditador autocrata, a exemplo de Donald Trump, seja apenas ridicularizado, como um palhaço político que não deve ser levado a sério. Será que há que veja a diferença entre os democratas e Donald Trump?
As ditaduras são construídas sobre o negacionismo. Atualmente os ditadores, sejam de esquerda, sejam de direita, assumem o poder gradualmente. Às vezes, um candidato a ditador é ridicularizado como um palhaço político que não deve ser levado a sério. Enquanto isso acontece, ninguém consegue acreditar que está a caminho da estrada da ditadura, algo que até agora seria impossível acontecer nos EUA.
Os autocratas geralmente gozam de amplo apoio público para as suas medidas repressivas. Inicialmente, eles visam “outros”, enquanto a maioria aplaude. O público apenas reconhece a ameaça quando seja tarde demais. Os partidários que mais aplaudiram o autocrata são frequentemente sujeitos a expurgos ideológicos e tornam-se algumas das primeiras vítimas do regime.
Pelo que nos chegou ao fim de quatro anos no cargo, é impossível não perceber o que Trump realmente é. Ele é um sujeito que deseja poderes ditatoriais manifesta-se através de comportamentos antissociais, egocentrismo extremo, instabilidade e impulsividade, que são características da psicopatia, talvez congénita, como Mary Trump por meias palavras o classificou no seu livro “Demasiado e nunca Suficiente”.
Trump retirou do governo todos as que poderiam atrapalhar o seu caminho. Está agora rodeado por entusiastas como o procurador-geral William Barr e o secretário de Estado, Mike Pompeo, Secretário de Estado dos Estados Unidos desde 2018.
O general Mark Milley, que afirma ser oficial militar americano, caminhou pelas ruas de Washington, D.C. na noite da primeira segunda-feira de junho com Trump e Barr, enquanto militares dos EUA eram usados ilegalmente para atacar manifestantes e afastá-los para que Trump pudesse posar para uma foto segurando uma Bíblia em frente à Igreja Episcopal St. John’s, pensando que possuir uma Bíblia seria suficiente para reunir a sua base evangélica branca o que demonstrou ser um homem sem convicções morais.
Segundo a imprensa americana na altura das manifestações contra a brutal morte de Floyd pela polícia de Minneapolis helicópteros militares voavam baixo sobre Washington, logo acima das cabeças dos manifestantes que protestavam contra o assassinato em 25 de maio. O barulho e as explosões aéreas vindas dos helicópteros foram usados para dispersar multidões (a presidente da autarquia de Washington, Muriel Bowser, disse que o Pentágono pediu tropas a Maryland e Virgínia sem o conhecimento do governo local.
Ainda segundo a imprensa america Trump revelou suas intenções autoritárias em uma teleconferência com os governadores estaduais, na qual os repreendeu por serem fracos diante dos protestos, exigindo que eles “dominassem” os manifestantes, ameaçando enviar tropas para seus estados se não atendessem às suas demandas. Trump também conversou naquele dia por telefone com o presidente russo Vladimir Putin; talvez ele estivesse recebendo dicas sobre como esmagar os dissidentes.
Num artigo de James Risen, ex-repórter do New York Times e prémio Pulitzer de Reportagem Nacional de 2006, numa revista norte americana pode ler-se que “Trump a acelerar para um caminho em direção a uma ditadura porque o que resta do Partido Republicano está ansioso para que ele assuma cada vez mais poder. Trata-se, neste momento, de um partido identitário branco, cheio de velhos brancos que temem as tendências demográficas do aumento da diversidade. Eles não gostam da América como ela é agora e querem que Trump destrua as regras e leis que protegem as minorias, os pobres e os menos favorecidos”.
No início do mês, o congressista Matt Gaetz, seguidor de Trump, sugeriu uma resposta republicana aos protestos quando “pediu que todas as armas letais da guerra global contra o terror fossem trazidas para a américa e se voltassem contra manifestantes americanos. Gaetz colocou no Twitter a ameaça “Agora que vemos os grupos de oposição ao fascismo (Antifa) claramente como terroristas, podemos caçá-los como fazemos com aqueles no Oriente Médio?” Parece que o Twitter restringiu o acesso ao tuite de Gaetz, designando-o como como glorificação da violência. Republicanos como Gaetz que defendem o fim do estado de direito, vão acabar vendo a sua sobrevivência depender dos caprichos de Trump.
Se é isto que os americanos pretendem para o seu país que foi considerado a maior democracia do mundo, o país das liberdades e diziam lutar pela liberdade dos povos, então, terão a oportunidade para isso nas eleições do dia 3 de novembro. Mas depois não nos digam que não sabiam. Fazer dos EUA novamente grande outra vez é voltar à real democracia.
Dos Estados Unidos da América conheço apenas Nova York e, mesmo assim, não tão bem quanto gostaria. O resto que sei daquela América é através de notas de viagens, livros, revistas, jornais locais, documentários e filmes filtrados com espírito crítico assim como o que a internet nos permite consultar com a devida preocupação de filtrar a fidedignidade da informação.
Em Portugal somos tentados a considerar os Estados Unidos como uma nação unitária e não nos dando conta de que são apenas Estados duma União diferente nas mentalidades, na imprensa, na política, nos costumes e na justiça. Os Estados Unidos estão marcados pelo sentimento muito fundo pelo menosprezo sistemático por tudo o que é estrangeiro e por um chauvinismo reacionário e absurdo que durante as últimas décadas estiveram ocultos. Foi isto que Donald Trump conseguiu perceber, e foi nessa base que construiu a linguagem das suas intervenções de campanha e que assim continua. Interpretado o sentimento de muitos americanos utilizou a estratégia populista e com um discurso de ação política para conquistar apoio através da manipulação de emoções populares em prejuízo de argumento lógicos e racionais para captar votos.
Mapa dos estados dos Estados Unidos da América
O que ultimamente se tem visto nos EUA é o aproveitamento dos media para uma campanha de marketing e de relações públicas nunca vista com anteriores presidentes fabricando e difundindo notícias de populismo favorável a Trum ao mesmo reduz as notícias desfavoráveis grande parte das vezes sem obter sucesso já que de modo geral os artigos de opinião sobre o seu executivo não lhe têm sido em quase nada favoráveis. Pelo que tenho percebido pela informação publicada parece que nesta nova administração existe uma força contrária que está a bloquear e a reduzir a influência das notícias desfavoráveis. Um dos exemplos foi caso das imagens divulgada pelos media sobre a população que assistiu à cerimónia da tomada de posse de Donald Trump que, em comparação com a de Obama, teve muito pouca afluência. O que sucedeu de seguida foi uma estratégia de contra informação que acusou a comunicação social de falsear as imagens que, como se sabe eram fiáveis e verídicas.
Pelas notícias veiculadas pela maior parte dos media dos EUA podemos caracterizar Trump, sem grande margem de erro, como a máscara assumida da prepotência e da presunção de quem não conhece, nem pressupõe, a existência de nada fora de si mesmo. Propagandismo rude e infantilizado, muito parecido ao da ex-união soviética no tempo de Estaline que mostra o rosto do americanismo mais rude e grosseiro de outrora manifesto no interior do país.
Do meu ponto de vista Trump fez promessas eleitorais a uma América, intelectualmente menor, das pequenas cidades do interior, dos estados onde prolifera aquilo que muitas das vezes os documentários, não propagandísticos, nos mostram: os bares com as paredes ornadas com troféu de caça das próprias florestas, os camponeses jogando às cartas, os chapéus à cowboy nas cabeças, as mulherzinhas sentadas à espera de engate, os bêbados que armam brigas saudosos do tempo dos duelos e da caça ao índio, enfim. E, quem não frequenta estes bares, passa o seu tempo livre enterrado num sofá a comer calorias em catadupa e a ver televisão sintonizada nos canais de propaganda conservadores como a da Fox Broadcasting Company. Haverá muitos que nunca votaram (e ainda bem que não), nem sabem o que isso é que, por isso, talvez Trump não tenha tido mais votos.
Há, todavia, uma situação poderá explicar a deslocação do voto tradicional nos democratas na região dos grandes lagos e na região nordeste, o denominada Manufacturing Belt, Cintura Industrial dos EUA (Mapa 1), como era conhecida nos anos 70 do século passado.
Mapa 1 – Cintura industrial EUA
Foi nos estados de Wisconsin, Ohio, Michigan, Indiana, parte de Illinois, West Virgínia e Pensilvânia, donde foram deslocalizadas muitas empresas fabris, muitas delas para fora dos Estados Unidos, e onde outras fecharam portas.
Foi naqueles estados que votaram nos democratas em 2008 e que em 2017 votaram nos republicanos com Trump. Podemos comparar as cartografias das eleições em 2008, quando os democratas ganharam, com as de 2017 em que ganharam os Republicanos (dos mapas 2 e 3).
Mapa 2 - Eleições de 2008. Os estados a vermelho correspondem a votações no Partido Republicano
Fonte: Geoawesomeness
Mapa 3 - Eleições de 2016. Os estados a vermelho correspondem a votações no Partido Republicano (Trump)
Comparando os dois mapas observa-se que foram os estados do nordeste do EUA que abandonaram a votação nos democratas em favor de Donald Trump. O mesmo se passou com o estado da Califórnia, mas por causas diferentes.
Mapa 3 - Eleições de 2016. Os condados a vermelho foi onde o Partido Republicano (Trump) aumentou as suas votações
Fonte: New York Times
Os condados, (subdivisão administrativa de cada um dos estados nos Estados Unidos), onde o Partido Republicano, com Trump, aumentou as votações estão evidenciados por uma linha a preto. Trump conseguiu vencer em estados em que os republicanos não tinha ganhado desde 2000 (ver evolução no Mapa 4).
Fonte: Geoawesomeness
Recordando alguns trabalhos sobre geografia industrial e económica dos EUA e recorrendo a uma recensão que fiz nos anos 80 de um artigo que Allan Pred publicou na revista Economic Geography sobre a região industrial dos Grandes Lagos constatava-se que era naquelas regiões onde a maior parte das indústrias de alto valor acrescentado estavam localizadas. Indústrias de alto valor acrescentado são aquelas cujas diferenças entre o valor total de receitas das vendas e o custo total de componentes, materiais e serviços adquiridos de outras empresas dentro de um relato período é mais elevada.
Foi no extremo nordeste que no princípio do século passado foram criadas estruturas onde se concentrava um número crescente de habitantes que obtinham empregos nas indústrias.
Era naquelas regiões onde se localizava também a indústria automóvel como por exemplo Detroit no estado de Michigan.
À volta da indústria automóvel foram criadas outras que serviam de fornecedoras de componentes e serviços às que ali se localizavam. Nestas regiões há ainda florestas de pinheiros, abetos e outras árvores que são utilizadas para a produção de papel e outras indústrias. Pred demonstrou no seu artigo que, na generalidade, as indústrias de alto valor acrescentado concentravam-se nas regiões tradicionalmente mais populosas e industrializadas do país.
A conceção comum do “Manufactoring Belt” era a das grandes fábricas com um impacto ambiental significativo e provavelmente negativo. Empregavam mão-de-obra não qualificada, fazendo trabalho repetitivo nas linhas de produção. Entretanto as empresas industriais evoluíram significativamente e surgiram novas indústrias e, portanto, a perceção que se tinha de indústria está desatualizada. A definição clássica circunscrevia o fabrico à transformação de matérias-primas em produtos acabados. Esta definição era limitada e não admitia a complexidade das modernas operações das atividades industriais. Daí o abandono e a deslocalização de muitas daquelas indústrias do “Manufacturing Belt” para outros países onde a mão de obra é mais barata e outros custos são menores. Muita coisa mudou no Mundo e nos EUA ao nível da produção industrial quer nos processos, quer na utilização de novas tecnologias.
Os Estados Unidos têm tipicamente um grande desequilíbrio comercial com a maioria das regiões do mundo, mas o desequilíbrio com a Ásia, especialmente com a China, continua a aumentar como pude verificar nas estatísticas do comércio externo do país ver Mapa 5. Não é por acaso que Trump ora diz que vai modificar isso, ora fala telefonicamente com o presidente da China.
Mapa 5 – Maiores parceiros comerciais das importações e exportações em cada estado em 2014
Segundo a revista US News Worls Report o presidente Donald Trump prometeu revitalizar a produção de bens nos EUA e recuperar milhares de empregos das industrias incluindo a mineira que se perderam ao longo dos últimos 20 a 30 anos. Parece, contudo, ser uma mistificação de Trump porque a retoma da produção já estava em andamento antes dele se candidatar a presidente e da tomada de posse no mês de janeiro. A US News cita o Bureau of Labor Statistics que mostra que a contratação de postos de trabalho em dezembro atingiu uma alta de quatro meses. Embora a produção de bens e de equipamentos nas indústrias de mineira exploração de madeira, construção e indústria mesmo que representem apenas 13% dos ganhos de contratação de dezembro, sua força relativa era difícil de perder. “As contratações na construção subiram para o nível mais alto desde dezembro de 2014. As contratações na indústria tiveram em novembro o melhor desempenho mensal desde 2010. As oportunidades de emprego na exploração mineira e exploração de madeira, entretanto, subiram para seu segundo maior nível de 2016.”.
Segundo as estatísticas do trabalho, numa entrevista reproduzida pela US News, e de acordo com dados de janeiro, em 2016 “os setores de produção de bens da economia verificaram uma perda mensal média de 2.000 empregos nos EUA, enquanto os setores de prestação de serviços cresceram a uma média de 166.000 empregos/mês”.
Foi esta situação que terá levado ao descontentamento que muitos trabalhadores dos estados industriais do denominado Manufactoring Belt estavam a sentir entre parte de 2015 e início de 2016. Este descontentamento manifestou-se pela votação em Trump naqueles estados (comparar Mapas 1 e 2).
Trump, durante a campanha eleitoral, sugeriu que a fabricação de peças de veículos, que já tinha subido 19% entre 2012 e 2015, seriam uma prioridade fundamental nas conversações com as administrações das fábricas de automóveis. A revista online US News afirma que o fabrico de peças par veículos automóveis, de acordo com o relatório, em 2015 representou 47% do emprego direto total em Michigan, Ohio, Indiana, Tennessee e Kentucky.
Várias situações destas foram aproveitadas de forma populista por Trump durante a campanha eleitoral para fazer promessas irrealistas que, a serem cumpridas, podem levar os EUA a recuar mais de 50 anos.
Trump prometeu uma nova era de produção de bens e mercadorias nos EUA através de impostos alfandegários e restrições comerciais para incentivar mais empresas a montar fábricas no país em vez de importar produtos do exterior. Não sou eu que digo, isto foi várias vezes ouvido nas televisões aqui em Portugal durante a campanha.
Economistas nos EUA têm feito críticas a esta política dizendo que “a automatização eliminou a necessidade de se manterem os mesmos tipos de cadeias de abastecimento de baixo nível de competência e mão-de-obra de baixa qualidade que estavam presentes no auge da fabricação americana.”, como era no passado. "Esses números mostram a associação de fabricantes e as suas empresas associadas estão a impulsionar a inovação, os empregos e o crescimento económico nos EUA, combinando fabrico e tecnologia"
O argumento de Trump é que as estatísticas são falsas, e que a taxa de desemprego nacional é "falsa", e que outros aspetos de indicadores económicos são de alguma forma imprecisos. Estes argumentos devem ter pesado em alguns eleitores nos estados de produção da indústria pesada a que me referi anteriormente e soou como verdadeiro para os eleitores nos estados da indústria pesada como o de Michigan onde as indústrias primárias não viram o mesmo tipo de crescimento de emprego e veio a perder o papel que tivera nos anos 70 do século passado quando pertencia ao grupo de estados de alto valor acrescentado. Sabendo isto, ou disseram-lhe, que Trump delineou a sua estratégia de modo a captar votos aproveitando o descontentamento localizado naquelas regiões que foram perdendo a sua hegemonia.
Gráfico 1- Total de empregados por setor de atividade 1970-2015
A mensagem de tornar a “América Grande outra vez” não sendo inovadora parece ser mais um espetáculo revivalista de Trump do que uma realidade. Os esforços para tornar a produção de bens novamente grande estão em curso há anos, tendo gerado mais de 2 milhões de empregos no setor da produção. Foi a depressão de 2009, provocada pelo sistema bancário, que levou a que os níveis mais baixos fossem atingidos em 2010. Apesar disso, no final da semana passada, Trump assinou uma Ordem Executiva para a revisão das regras aplicadas à banca no âmbito da lei Dodd-Frank, reforma aplicada à banca após o colapso do Lehman Brothers para evitar uma nova crise financeira mundial.
Segundo o que Trump, como afirmou durante a campanha contra Hillary Clinton, todo o sistema financeiro precisava de ser liberalizado, passando a estar sujeito a menos regras e supervisão para que possa tomar as melhores decisões de investimento. A teoria neoliberalista foi aplicada durante toda a presidência de George Bush, com resultados discutíveis porque, apesar de terem registado lucros históricos, os bancos criaram uma série de hipotecas tóxicas que fizeram rebentar a 'bolha' do imobiliário após a queda do Lehman Brothers. Parece que, não tendo percebido esta realidade, Trump quer agora voltar à liberalização total e desordenada dos bancos revogando uma lei que possibilitava um maior controle. Os neoliberais cometem sempre os mesmos erros, mas sabem que que beneficia e não é atingido são aqueles que eles favorecem quando estão nos governos.
Não fossem aqueles estados e condados, onde tradicionalmente votam nos democratas, terem votado em Trump e estaria ele agora com uma grande depressão provocada pela perda. Foram enganados e com eles também o Mundo. Temos pena.
O Estados Unidos da América são agora um feudo de Trump em que o modelo de desenvolvimento vai ser incompatível com a preservação ambiental afim de abastecer o seu parque industrial, o país vai continuar a ser o um dos maiores poluidores e devastador de recursos naturais do planeta.
Boa parte dos habitantes convive com sérios problemas socioeconómicos relacionados, especialmente, com a marginalização de segmentos da população e à discriminação racial decorrentes da concentração da renda, em que prevalece a busca pelo enriquecimento ainda maior de alguns já em si mesmo muito ricos.
Que país vai ser este a partir de agora?
Há cerca de dois anos passei duas semanas no EUA, concretamente em Nova York, em casa de família que, na altura, lá estava como Embaixador. Apesar do controle exigido desde os atentados do onze de setembro respirava-se liberdade. Frequentar aquelas extensas avenidas era um prazer. Respirava-se paz, movimento, agitação, trabalho, comércio, passeio, cultura, cruzamento de etnias. Receio que tudo isso se vá perder regressando ao passado da desconfiança, do racismo, da perseguição, da insegurança justificada pela necessidade de mais segurança. Talvez por tudo isso, no estado de Nova York a democracia venceu.
Chamemos o que quisermos a Donald Trump, e critiquemos o seu projeto político, mas ele apenas foi o intérprete do sentir duma parte do povo da América. Foi assim que o III Reich (Alemanha nazista) conquistou o poder após as eleições de 1932. Como no governo do III Reich, Trump também glorifica o passado ao pretender “fazer a América grande de novo” e considera inimigos os que lá trabalham em serviços que os americanos já não querem fazer. Dizer que os imigrantes estão a retirar empregos é uma falácia. Nos Estados Unidos o desemprego é baixíssimo cerca de 4,2%. Criar postos de trabalho? Quais e para quem? Foi um ardil para iludir o eleitorado.
Se não era o manifesto sentir do povo Trump fez com que o fosse sem que houvesse um desmontar do seu populismo por parte os media que, aqui e ali, foram desdramatizando, como se Trump fosse aquele que, apesar das sondagens se aproximarem dos democratas não ganharia as eleições.
Comentadores há que, sapientemente, falam de esquerda e direita no EUA. Não há esses epítetos nos Estados Unidos onde há um sistema bipartidário, Republicanos e Democratas. O que há, de facto, são várias tendências que se congregam em cada um dos partidos.
Racismo, segregacionismo, xenofobia, islamofobia e misoginia estão a tornar-se as palavras chave nos Estados Unidos. As tenebrosas organizações racistas surgem sem vergonha à luz do sol e na sombra da noite, Trump e os que nomeará para o seu Governo serão o escudo.
Em Portugal e na Europa aliados à extrema-direita já estão a vir sem medos para fora das tocas.
Na política externa Trump quer fechar-se, está contra todos, contra a Europa e com as suas relações comerciais, contra os muçulmanos, todos terroristas, contra os países da América do Sul, nomeadamente o México, donde provém os imigrantes que se acomodaram no seu país, cerca de três milhões de marginais e assassinos que pretende expulsar ou encarcerar das prisões. Não se sabe é como. Deverá ser à custa de muita construção civil que levará Trump, através das suas empresas, a retirar vantagens. É contra a China, é contra a NATO, é contra a comprovação científica do aquecimento global e das alterações climáticas que são uma invenção dos chineses, enfim está contra tudo e todos que não sejam da américa fechada e refém de si própria.
É a favor das negociações a leste, com Putin. Resta saber se quebrará as relações com a Coreia do Sul e restabelecerá alianças com a Coreia do Norte de Kim Jong-un.
Na pior das hipóteses irá promover o regresso ao passado das perseguições Mccartistas com acusações de subversão ou de traição através de alegações injustas por denúncias de outros cidadão para restringir a divergência e a crítica política. Na política externa poderá verificar-se uma espécie de Guerra Fria de sentido contrário, não com a Rússia, mas com o ocidente.
Não concretizar as promessas que fez será o que menos ele deseja.
Esperemos para ver, mas com olhos bem abertos.
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