Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
O que vou escrever não foi movido pela inveja porque nada tenho a invejar a Cristina Ferreira, não sou da profissão, nem que o fosse, não pertenço ao seu grupo de amizades, não a conheço pessoalmente o que dela sei é somente e apenas pelos programas que ela protagoniza e o que a comunicação social vai dizendo sobre o que se passa nos bastidores dos canais onde trabalhou ou trabalha.
Pacheco Pereira pessoa que considero ser séria como escritor e que também admiro pelo seu estilo de comentário de opinião escreveu no jornal Público um artigo em defesa de Cristina Ferreira. Em epígrafe escreve “O ódio dos covardes que anda por aí” e “Sim, este elogio da denúncia de Cristina Ferreira é para vosso escarmento, vosso opróbrio, vosso desluzimento, vossa vergonha e, se tiverem de ir ao dicionário para perceber algumas palavras, ao menos ganha-se alguma coisa.”
Concordo com Pacheco Pereira unicamente enquanto elogio da denúncia que Cristina Ferreira faz no seu livro do esterco de comentários por alguma gente que se movimenta pelas redes sociais. Devemos, todavia, separar algumas águas quando se trata de pessoas a que se resolveu chamar figuras públicas, que, por princípio, têm mais visibilidade através dos canais televisivos porque a carência de protagonismo que é o seu alimento poderá conduzi-las aos mais variados e falsos altruísmos que, apesar de tudo não deixam de ser altruísmos quando praticados.
Pacheco Pereira elogia Cristina pelo seu livro porque também se indigna, com plena razão e direito, com os discursos de ódio, grosseria, de ameaças, de violência que passam impunemente pela rede sociais
O título deste meu texto “Oportunismo com oportunidade” vem mesmo a propósito e vem a propósito da publicação do livro “Pra Cima de Puta” da autoria de Cristina Ferreira, (tê-lo-á escrito?), editado em novembro de 2020 pela Contraponto Editores. A esta publicação seguiu-se, quase de imediato, a petição contra o cyberbullying para levar à Assembleia da República o que ao mesmo tempo veio servir de marketing para a promoção do livro e, sobretudo, da sua autora. Parece-me ser uma motivação exclusivamente pessoal, mas que pretende transvasar para a generalidade. Enfim, coincidências! O título do livro é sugestivo e pode levar muita gente não apenas as que frequentam as redes sociais a comprá-lo, e é isso que interessa.
As audiências dos programas por ela geridos, e alguns também apresentados, estão em baixa, pelo que todo este movimento marketing à volta de Cristina possa vir a exercer uma espécie de alavancagem para os seus programas televisivos na TVI que tem vindo a ter maus resultados devido à sua interferência e que, por isso, encontra-se fragilizada segundo consta nos bastidores da estação televisiva.
Os seus sorrisos para as câmaras e a aparente simpatia, que seduzem muitos espectadores, não são mais do que mera representação porque, dizem, ao vivo e em trabalho de bastidores é do piorio gritando e insultando os seus colaboradores.
O livro, ao transcrever comentários a ela dirigidos e por ela transcritos para o seu livro poderá ser uma forma de Cristina Ferreira se vitimizar perante o público. Transformar ameaças e crises numa boa oportunidade de negócio é atributo de empreendedorismo e praticado em algumas empresas, e Cristina é uma empresa. É isso que Cristina Ferreira tenta fazer.
As ameaças que advêm da utilização imprópria das redes sociais não é de hoje, embora se tenha agravado, vem desde o seu lançamento. Ameaças, ciberbullying, notícias falsas, difamação, falsidades, maledicências, maldade, machismo, mulheres que rebaixam mulheres e outros impropérios idênticos, para tal a imaginação não falta têm sido várias vezes denunciados e objeto de debate. Esta situação tem vindo a gravar-se e o exemplo é encorajado por alguns altos responsáveis de alguns países bem conhecidos de muitos.
Não é de hoje que as redes sociais têm sido utilizadas para fazer ataques pessoais em que as emoções, boas ou más, extravasam o limite do possível. O tema ciberbullying não é novo e tem sido debatido internacionalmente, nomeadamente na União Europeia cujo Parlamento tem abordado. Tentar resolver ou mitigar o problema dos conteúdos nocivos ou ilegais online e, ao mesmo tempo, proteger a liberdade de expressão é uma das questões fundamentais que os eurodeputados querem abordar assim como a da proteção dos utilizadores contra aquele tipo de conteúdos.
A legislação sobre a informação que circula pelas redes sociais vai apresentar até final do ano uma nova legislação (‘Digital Services Act’ – Lei de Serviços Digitais) para regulamentar melhor os gigantes tecnológicos, em termos de gestão de dados, desinformação e discurso do ódio, em particular.
A Comissão Europeia está a trabalhar numa legislação para garantir que os conteúdos ilegais sejam retirados com as salvaguardas necessárias para proteger a liberdade de expressão porque o ódio não conhece fronteiras. A União Europeia tem, desde 2016, um código de conduta contra o discurso do ódio, de base voluntária, que foi assinado pelos grupos e redes sociais Facebook, Microsoft, Twitter, Youtube, Instagram, Snapchat, Dailymotion, Jeuxvideo.com e Tiktok.
Na Internet e nas redes sociais há gente infame ou que sofre de alguma psicose que difama e se alimenta destilando ódio, agredindo com facilidade e sem pudor pessoas que consideraram tomar como alvo, quer sejam políticos, quer sejam outros que se expões publicamente e Cristina Ferreira é uma dessas muitas pessoas que se expõe assumida e publicamente nas redes sociais.
Fico perplexo quando famílias e muita outra gente que, mesmo não sendo figuras públicas, se expõem através de imagens em família estimulando até os filhos a promoverem-se através de fotografia nas redes sociais. Assusta-me perceber que isso acontece sem qualquer controlo e autocrítica e que depois de serem alvos lamentam-se e julgam-se agredidos.
Não sei se o que mais preocupa Cristina se será sentir-se “Pra cima de Puta” ou se é sentir que está abaixo de puta nas redes sociais. Não percebo a metáfora, mas eis que descobri uma interpretação. Ao escrever aqui abaixo de puta, pensei que teria sido original, mas não fui porque há quem já utilizasse o termo no mesmo contexto que passo a citar e que também podem ler aqui:
“I. Que Cristina Ferreira use a expressão como título de um livro seu, eis uma escolha inevitavelmente curiosa, tendo em conta que a autora quer evitar qualquer arbitrariedade metaforizante, esclarecendo que se trata de uma "provocação", no sentido em que o seu objetivo primordial é uma "chamada de atenção". Atenção para quê? Para uma "análise sociológica" das "agressões" nas "redes sociais" — a começar por aquelas a que ela tem sido sujeita, incluindo a classificação "pra cima de puta".
III. Somos todos pavlovianos, eis a questão. Por um lado, Cristina Ferreira é uma personalidade pública do espaço televisivo, em grande parte apoiada nas chamadas redes sociais, o que ajudará a explicar o seu natural interesse pela sociologia. Identidade, sistema moral e estratégia empresarial, tudo nela existe arquitetado e exponenciado através de tais circuitos. Por outro lado, pressente agora que a utopia "social" que tão empenhadamente tem protagonizado pode ser uma ilusão cruel, convocando os seus seguidores "para percebermos que mulheres e homens atacam ferozmente".
Cristina é em grande parte apoiada nas chamadas redes sociais, mas desconhecem tudo quanto faz a não ser os risos e sorrisos para as câmaras, mas, do que tem vindo a público (consultar revista Sábado de 25 de novembro), é sintoma nítido de megalomania egocentrismo.
Pegar no que lhe chamam nas redes sociais, convencida, traidora, vergonhosa, manipuladora, exibicionista, gananciosa e tentar colocá-los como vantagem para si própria é o objetivo de Cristina para se vitimizar. A vitimização por vezes dá resultados face à queda das audiências.
Quem frequenta redes sociais como o Instagram pode confirmar que Cristina se expõe a tudo quanto sejam abutres do cyberbullyng e ela sabe disso porque não é nem parva, nem estúpida.
O discurso de ódio algumas vezes tem motivações induzidas por quem é o alvo movidas por comportamentos, atitudes, opções partidárias e ideológicas e que se revelam em ataques de todas as espécies que servem aos seus autores de escape que a liberdade de expressão das redes sociais proporciona.
O que me parece estranho é que Cristina Ferreira só agora tenha descoberto os ataques verbais de que tem sido alvo ache também agora que vem em auxílio de outros estão a ser alvos da mesma situação. Estranho é ainda que só ao fim alguns anos venha a insurgir-se contra as injurias, e muitas outras formas de ódio de que tem sido vítima através do cyberbullying e se atribua a si própria a grande defensora de todos e todas que dele têm sido vítimas quando o tema na sua generalidade tem sido abordado não raras vezes.
Há pelas redes sociais milhares de figura públicas, ou não, que são insultadas, enxovalhadas e vilipendiadas que não se queixam e que, com elevação moral não dão resposta a essas provocações que circula nas redes sociais, em vez de se focarem e darem valor a essa gente abjeta que se embrenha no anonimato. Todavia não são apenas insultos há também manifestações de indignação.
Há os que se põem a jeito e Cristina põe-se demais a jeito. O que dizer de quem publica vídeos e fotografias no seu Instagram fotografias com um seu protegido por ela relançado passeando-se num iate apresentando a ideia de alguma cumplicidade entre ambos para alimentar a imprensa. “Na montra do Instagram apresenta sorrisos e uma vida despreocupada financeiramente que contradiz o que se passa nos bastidores. Quem tem contacto com ela na estação descrevem a tensão que se vive na estação. Em público Cristina disfarça a desolação com as derrotas e não baixa a guarda… As fúrias são à porta fechada, fora dali…” Ler aqui.
A megalomania e declarações de “eu é que mando”, “eu é que escolhi” é uma necessidade de transmitir para se auto compensar revelam um egocentrismo patológico. Aquando da XXIV cerimónia dos Globos de Ouro da SIC recorde-se o seu discurso que recebeu críticas vindas de vários setores: "Cristina, a rainha da humildade"; "Presunção e água benta..."; "Que convencida e arrogante", foram alguns dos comentários ao discurso da apresentadora, que ganhou o prémio 'Personalidade do Ano' na área do Entretenimento.
Num fragmento do discurso que não está descontextualizado afirmava que "Eu dizia não quero, isto não faz sentido nenhum, estou lá a apresentar e depois vou lá receber o prémio... e depois percebi que quero. E quero, porque é justo", afirmou, como autoelogio e arrogância que lhe é habitual.
Ser figura pública e ambicionar por visibilidade e protagonismo para benefício próprio tem, e sempre teve os seus riscos, mesmo antes das redes sociais. Publicações como tabloides e revistas cor de rosa e outras lançavam para o público, amores, casamentos, escândalos e outros “tesourinhos” sobre vedetas ou personalidades mais conhecidas.
Portanto, não nos admiremos, Cristina Ferreira não é a vacina que vai salvar o “mundo” do discurso de ódios nas redes sociais.
Em Portugal sempre existiu populismo, embora contido, nos vários partidos, sobretudo em tempo de campanha eleitoral. Nessa altura regressam à tona partidos mais radicais que, não tendo programa exequível, tentam demonstrar contradições dos sistema e procuram a distinção entre dois grupos antagónicos: um, virtuoso e maioritário, o povo, que todos exaltam e outros que o dizem defender procurando ganhar vantagens com o apelo a reivindicações ou preconceitos amplamente disseminados entre a população nomeadamente através das redes sociais.
Nessas alturas os dirigentes partidários apelam às emoções, o que é legítimo, porque a política também é feita de emoções, todos os políticos tentam utilizar uma linguagem emocional e tentam apresentar propostas que agradem aos eleitores.
Por outro lado, o desinteresse pela política por parte dos cidadãos, porque acham que a discussão política é para meia dúzia de iluminados dos partidos que lutam entre si para chegar ao poder, é um outro fator explicativo.
Quais as implicações de aceitar de forma cega tudo o que se diz e escreve nos órgãos de comunicação clássicos e, sobretudo, nas redes sociais e quais as consequências dessa aceitação devido ao desvario das populações que o reproduzem acriticamente de forma viral?
Governantes de países passaram a utilizar a tecnologia das redes sociais para comunicar com as pessoas e que por serem governantes o que eles dizem são aceites pelos seus apoiantes como verdades e opiniões a serem aceites ou desmentidas transformando verdade em mentiras e mentiras em verdades. Mentiras e informações falsas colocadas nas redes sociais até mesmo em conferências de imprensa ditas por responsáveis máximos da política dos países são por muitos tomadas como verdades, o caso do Presidente Trump nos EUA é um caso de estudo.
Em Portugal passou a estar também na moda dirigentes partidários e responsáveis do Governo comunicarem através das redes sociais. Os partidos da extrema-direita são prolíferos na propagação do populismo e das suas mais absurdas teses.
Após as eleições nos Açores o acordo com o Chega gerou polémica que emergiu na comunicação social e nas redes sociais que deu, e ainda está a dar, para todos os gostos. Numa primeira análise o PSD caiu, por vontade própria, na armadilha de se apoiar num partido populista como o Chega dando-lhe o protagonismo que até então lhe tinha faltado para além das caóticas intervenções de André Ventura na AR. Não é por acaso que os populistas utilizam uma retórica para chegar a segmentos da população que sentem que foram deixados para trás pelos dois maiores partidos e que se deixam, devido á sua ignorância política, encantar por discursos simplistas e chavões fáceis de fixar repetidos até à exaustão.
Como tem sido habitual ao longo de décadas as inovações e modas em sentido lato, sejam elas boas ou más, chegam com anos de atraso. O mesmo aconteceu com o populismo da extrema-direita que se pensava ser pouco ou nada representativa na nossa sociedade e que Portugal estaria a salvo, muito embora soubéssemos que andavam por aí acantoados em partidos de direita e do centro-direita considerados democráticos e que fazem parte do denominado arco da governação.
Aliás, os partidos populistas e da extrema radical de direita estiveram sempre presentes na maior parte dos países, especialmente na U.E., não se extinguiram após a derrota do nazismo e dos fascismos, apenas ficaram adormecidos durante algumas décadas vindo a ressurgir.
O fenómeno do populismo associado ao próprio conceito não é fácil de caracterizar embora vários especialistas já tenham proposto várias definições. Na perspetiva do filósofo e historiador britânico de Isaiah Berlin não há apenas um populismo, há versões do mesmo “consoante a mudança histórica que sublinha a natureza específica do desenvolvimento do populismo em países, locais e datas específicas”. Acha que uma única fórmula para cobrir todos os populismos em todo o lado não serão muito úteis.
O interessante foi que Berlin comparou ao conto da Cinderela a tentativa de definir populismo através de uma única definição. Diz que não devemos sofrer de um complexo de Cinderela. Há um sapato, para o qual deve existir um pé em algum lado. Há vários tipos de pés nos quais os sapatos “quase” se encaixam. O príncipe que anda sempre a vaguear com o sapato acredita que um dia encontrará o pé certo. Esse será o populismo puro e a sua essência.
Para Isaiah Berlin “Todos os populismos são derivações do mesmo, desvios do mesmo e variantes do mesmo, mas algures por aí esconde-se um verdadeiro e perfeito populismo, que pode ter durado apenas seis meses, ou [ocorreu] em apenas um lugar”. Consultar BERLIN, Isaiah – «To define populism»., 1967, p. 6.
O populismo reclama ser pela afirmação dos direitos do povo face ao grupo dos interesses privilegiados, considerados habitualmente como inimigos do povo e da nação, dirige as suas críticas às deficiências da democracia representativa que diz não refletir o pensar e o querer do povo. Veja, por exemplo, o caso do partido Chega e o género de intervenções feitas por André Ventura e os estribilhos e lugares-comuns que ele utiliza. O Chega representa a chegada do populismo da extrema-direita a Portugal.
Como chegámos até aqui?
Acima de tudo, a globalização fez com que as nossas vidas fossem de facto influenciadas por fatores que não podemos controlar. E enquanto os populistas dizem que é preciso "recuperar o controlo", os outros políticos dizem que não se pode fazer nada, "ou porque somos parte da UE ou porque a imigração vai continuar…". O resultado é que a maioria não tenta responder às necessidades e aos receios, às vezes justificáveis, das populações.
Nos estados europeus a globalização e a crise económico-financeira diminuíram o investimento, impedindo ou retardando o desenvolvimento económico agravado pela crise de 2008 e pelos efeitos da austeridade consequentes aplicados pelos governos acrescidos pelo aumento do desemprego que causaram um sentimento de insegurança. A "crise migratória" que os dirigentes europeus declararam existir no território da União Europeia ajudou ao crescimento de partidos populistas e xenófobos.
Os movimentos de imigração e de refugiados que assolaram e assolam os países da U.E. geram uma concorrência no mercado de trabalho nos países que os acolhem aproveitado como um dos argumentos da extrema-direita xenófoba que é falacioso porque aqueles vão ocupar as lacunas que os autóctones não querem ocupar assim como a escassez de investimento no comércio local que tem vindo a desaparecer e onde ninguém quer investir. Estas imigrações ocasionam graves problemas de acolhimento nos países de chegada que são aproveitados pelos populistas da extrema-direita racista e xenófoba.
Esta situação e outras, assim como as indecisões ao nível da U.E. tem sido aproveitada por alguns governos apoiados por partidos de direita ou de extrema-direita como na Hungria de Orbán, na Polónia de Jaroslaw Kaczynski, e na Áustria de Sebastian Kurz em coligação com o Partido da Liberdade da Áustria (FPö), que têm adotado políticas violadoras dos direitos fundamentais e da democracia liberal defendidos pela U.E. Em Espanha, pelos mesmos motivos e como reação à política de austeridade e contra o euro, surge o Podemos, embora sem conseguir chegar ao poder. No espaço da União Europeia foi a "crise migratória" existente que ajudou ao crescimento de partidos populistas e xenófobos como o AfD alemão.
Marine Le Pen, a líder da Frente Nacional, partido da extrema-direita francesa e nacionalista radical, antes da eleição de Macron, apresentava-se como uma perigosa candidata à vitória na eleição presidencial, o que poderia colocar em perigo a sobrevivência do projeto europeu.
Quando foi colocada a Le Pen a questão sobre as razões por que os partidos que se dizem antissistema estão a obter tanto relevo na Europa resumiu o credo populista da extrema-direita na europa: «Creio que todos os povos aspiram a ser livres. Os povos dos países da União Europeia, e talvez também os americanos, terão tido durante demasiado tempo a sensação de que os líderes políticos não estão a defender os seus interesses (os do povo), mas antes, interesses especiais(?). Há uma espécie de revolta da parte do povo contra o sistema, que já não os serve mais, mas antes a si próprio». Ver aqui. É com este palavreado, a que chamam argumento, que as extremas-direita, nacionalistas, xenófobas e populistas se agarram para, habilidosamente, iludirem os insatisfeitos com as políticas praticadas em democracia que acham não ter contemplado os seus interesses.
Uma das evidências dos perigos que espreitam as democracias liberais vem dos partidos de extrema-direita é o que atualmente estão a perpetrar os governos da Hungria e da Polónia, a que se juntou depois o apoio da Eslovénia, utilizando uma força de bloqueio contra o pacote de resposta à crise aceite por todos. Consideram ser inaceitável que não possam aceder aos novos fundos europeus por discordarem da condicionalidade do critério pelo respeito ao Estado de Direito. São eles os mesmos países que propagam que se mostram receosos do regresso do “espectro do comunismo” à Europa, como se no atual contexto político isso fosse o perigo real.
Este é apenas um exemplo de como governos autocráticos de extrema-direita se dedicam por todos os meios democraticamente disponibilizados a minar os alicerces das democracias e dos perigos que a direita populista faz pairar sobre a democracia europeia. Manuel Carvalho escreveu num editorial do jornal Público que “Não se pode aceitar que a Hungria ou a Polónia beneficiem das vantagens da Europa, ao mesmo tempo que se dedicam a minar os seus alicerces”.
A mensagem nacionalista, anti-imigrante, anti étnica, racista e xenófoba, por vezes eurocética e anti União Europeia veiculada pela extrema-direita é representada em Portugal pelo partido Chega. O populismo em Portugal ainda está no seu início, mas já está a dar os seus frutos e a “vender bem”. O perigo do populismo do Chega, e de outros partidos do mesmo, ou pior espetro, deteta-se por meio de diatribes tais como:
- Críticas isoladas e desconexas dirigidas aos políticos, aos partidos (que não seja o deles);
- Críticas aos órgãos representativos dos cidadãos indigitados através de eleições livres;
- Chamando a si a luta contra a corrupção colocando em causa setores da administração pública, organizações privadas com relevância na vida económica ou social com tentativas para descredibilizar, sem fundamentação científica, o funcionamento do sistema político (veja-se o caso de Trump nos EUA);
- Incoerência com outros valores e medidas que igualmente defende, que são um fator disruptor dos direitos fundamentais da liberdade e da igualdade e da tolerância garantes da dignidade da pessoa humana, pondo também em risco o Estado de direito que os salvaguarda.
Estes movimentos e partidos são um vírus que se está a expandir tornando-se uma ameaça e um perigo para a democracia e que vai corrompendo por forma dissimulada os seus valores e procedimentos essenciais, tanto mais perigoso se torna quando partidos democráticos para obterem ou manterem no poder os chamam para fazer acordos colocando os interesse partidários acima dos interesses democráticos do país e dos próprios cidadãos.
Sofia Lorena, num artigo publicado no jornal Público em 2018 baseado no pensamento de Daniele Albertazzi, especialista em movimentos políticos e estudioso do fenómeno populista na “Escola de Governo e Sociedade da Universidade de Birmingham”, escreveu que «Um líder populista é aquele que se vai apresentar como representante de um único povo, unido e homogéneo, que está face a uma ameaça. Esta ameaça pode ser a elite política ou algo externo. Estes líderes defendem que o seu povo está a ser roubado — dos seus valores, princípios, identidade. E em breve será demasiado tarde para recuperar o que lhes está a ser tirada».
É fácil defender que os povos europeus perderam o controlo das suas vidas porque há anos que a Liga Norte italiana de Salvini, partido de extrema-direita, dizia que "temos de ser donos e senhores da nossa própria terra". André Ventura chegou a dizer em agosto de 2020 que “Eu e Salvini, de mãos dadas, é um sinal para o futuro de Portugal e Itália”.
Para os populistas há sempre bodes expiatórios que são os causadores da desgraça do povo, na Alemanha nazi eram os judeus, noutros países são os muçulmanos, em Portugal, por enquanto, são os ciganos e em alguns casos os negros e outras etnias, os políticos e os partidos são extensão da corrupção.
Os populistas atacam a lentidão da democracia representativa e liberal e "apresentam-se sempre como defensores do tal povo homogéneo contra outros — os imigrantes, as etnias, as pessoas que seguem uma religião minoritária ou que não se encaixam por algum motivo", diz Albertazzi.
Hoje resolvi recuperar um comentário que escrevi a um artigo de opinião de Raquel Varela para analisar uma crítica que um leitor do referido artigo me fez e que achei interessante sem pretender com isso levantar polémica.
Em 24 de março do corrente fiz um comentário a um artigo da Profª Raquel Varela que pode ver aqui. Foi uma crítica ao artigo e, consequentemente, à atitude da autora relativamente a algumas posições auto abonatórias da sua pessoa que, do meu ponto de vista, continha pinceladas de egocentrismo e autopromoção que me pareceram um pouco desajustado ao tema do artigo.
Pois bem, em relação à minha crítica ao conteúdo do texto da autora foi colocado um comentário que dizia o seguinte: Na falta de argumentos ataca-se o mensageiro, dejá vu!
Não reagi a este comentário na altura no local próprio, apesar de alguém ter reagido no meu lugar e em meu favor. Todavia, achei-o, interessante. Hoje penso que tal comentário não merece uma crítica, mas sim uma opinião sobre mensageiros e mensagens.
O tema pareceu-me ser interessante porque nas redes sociais há cometários colocados por radicais ineptos que por lá “transitam” atacando, quando não trucidando, quem coloca mensagens que, quando não lhes agradam, estes sim, que por falta de argumentos agridem os mensageiros com palavras ofensivas de verdadeiro bullyng.
A origem da morte dos mensageiros que levavam mensagens com más notícias são antigas. Cerca do século IV antes de Cristo o rei da Pérsia Dario III quando foi derrotado por Alexandre o Grande, tivera sido antes avisado por Charidemos, um seu conselheiro para a guerra, de que poderia vir a cometer vários erros de estratégia de guerra e informou o rei do possível fracasso de suas estratégias. Dario III teria mandado matá-lo por lhe trazer más notícias e ter-lhe transmitido a verdade honestamente por isso mesmo tornou-se incómodo.
No século XIII, também Gengis Khan conquistou um enorme império e tinha um serviço de correio montado em que os mensageiros oficiais podiam percorrer até 200 quilómetros por dia. Ficou célebre a sua sistemática reação quando os mensageiros lhe traziam más notícias: a morte imediata dos mesmos.
Ora bem, face à crítica que me foi feita ao comentário que escrevi sobre o artigo de Raquel Varela parece-me que, eu, ao ser redator da mensagem crítica à atitude da autora enquanto comentadora de política, e simultaneamente o mensageiro, então, segundo o autor que me fez a crítica, eu, como mensageiro, também deveria ser “morto” por quem recebeu mal a minha crítica.
Como se percebe não se tratou dum mensageiro da mensagem de raquel Varela, porque o mensageiro foi ela mesmo, a autora da mensagem. Talvez daí a confusão do meu crítico que não se apercebeu que ambos, mensageiros e mensagem se confundem, são a mesma pessoa. Não estou a matar o mensageiro, a Raquel Varela, mas sim a contestar a sua mensagem.
Por outro lado, é consensual que um autor, quando escreve a criticar ou sustentar uma realidade está pessoalmente envolvido na mensagem porque está também a espelhar-se através do que escreve ficando, por isso, sujeito a críticas de quem acompanhe os seus pontos de vista.
Ao escrever uma mensagem com opiniões que, para o referido adepto do artigo de Raquel Varela foram supostamente más, matei a mensageira que também redigiu a mensagem. A autora da mensagem é também a mensageira, são unas. Está a aqui a simultaneidade que o autor do comentário não pensou. Fui eu que redigi a mensagem de que ele não gostou, consequentemente também sou o mensageiro e, por isso, também deveria ser morto, em sentido figurado claro está. Ele também matou o mensageiro porque não gostou da mensagem.
A limitação aos contactos sociais a que estamos sujeitos para proteção nossa e dos outros cria na maior parte das pessoas novos estados de ansiedade e emocionais. Até que se encontrem caminhos seguros devem ser dados apenas pequenos passos em direção à porta da liberdade. Até lá os canais de televisão e a imprensa têm-nos brindado com oráculos da desgraça que aparecem como cogumelos no espaço mediático com intervenções, entrevistas, divagações, propostas, palpites, comentários e opiniões das mais díspares e contraditórias.
Entre os que de modo imparcial e com base na ciência se pronunciam sobre a atual situação fazendo projeções com base no que a ciência conhece até ao momento, surge umas outras espécies que, de forma muitas vezes categórica, proferem sobre assuntos de que não são especialistas, mas apenas aprendizes de profetas da desgraça conforme as conveniências.
Acenam com ameaças terríveis que hão de chegar, por vezes contraditórias, pouco concisas e até redundantes que, embora possam parecer despejadas de intencionalidade, o objetivo parece ser o de influenciar, confundir e desorientar quem os escuta. Laçam para o ar medidas para responder às crise causada pelo novo coronavírus e consequente área socioeconómica, o que é agravado pelo lixo de conselhos errados, perigosos e falsas e forjadas notícias difundidas por alienados (com objetivos obscuros) que não têm o mínimo pejo em troçar de populações desprevenidas, ansiosas e com fraca capacidade de avaliar e compreender as mensagens dos vários meios de comunicação social, ou seja, com fraca literacia mediática.
Na passada semana órgãos internacionais de comunicação social como New York Times, o El País ou o Der Spiegel dedicaram-nos artigos com elogios aos procedimentos no que respeita aos controle do COVID-19 mesmo que as coisas possam estar a correr bem, há que, para além de não aligeirar as guardas, tentar descobrir maneiras de evitar a tempestade económica e social que se forma no horizonte.
Portugal sempre foi um país muito permeável ao que vem de fora e, claro, como imitador convicto em tudo não podia deixar de imitar o que se fez em França, país onde os problemas não são comparáveis, e em nada têm a ver com os nossos, até porque a direita neoliberal lá governa. Havendo falta de originalidade recorre-se à imitação com movimento organizado, manipulado e manipulador de opinião, onde estará envolvida organizações da extrema-direita como o partido PNR, mas não há a certeza.
Isto leva-me a refletir sobre a relação da política exercida com este tipo de movimentos ditos espontâneos. No dia 25 de abril de 1974 durante o cerco do Quartel do Carmo, quando Salgueiro Maia consegue a rendição de Marcelo Caetano este faz uma exigência: só aceita entregar-se a um oficial de patente superior para que o "poder não caia na rua". António de Spínola foi o homem escolhido. Na altura não havia internet, nem redes sociais como o Twitter e o Facebook.
Hoje em dia o Poder pode, através das redes sociais, correr o risco de cair na rua e as decisões políticas serem pressionadas sem qualquer reflexão. Basta uma convocatória no Facebook por um qualquer grupo de indivíduos, ou “amigos facebookianos” que compartilham os mesmo objetivos para haver uma concentração na rua a reivindicar e a exigir, o quer que seja, sem ponderação sobre as consequências, a não ser as das exigências que satisfaçam os seus pontos de vista que dizem também ser os de todo o povo sem que haja representantes para uma intermediação. Falam em nome do povo, e o povo acolhe essa demagogia populista porque vai ao encontro do seu sentir como uma espécie de epifania. É a constatação do tentar fazer cair o Poder na rua como se verificou em França com os autodenominados coletes amarelos.
Políticos de vários quadrantes face ao mal-estar que se tem gerado relativamente à política e aos políticos, não raras vezes alimentado pela comunicação social, prometem em ocasiões eleitorais uma política de proximidade sem clarificarem o que entendem por isso, cada um tem a sua própria interpretação. Podemos pensar que todos eles se referem a uma aproximação da política às comunidades e às pessoas.
Por sua vez as televisões para captar audiência procuram através de peças ditas de jornalismo de investigação e outras, mais rebuscadas, dirigidas mais à emoção do que à racionalidade dos telespectadores, insinuando oposições aos governos que estão na altura no poder. Diga-se, mais a uns, quando são de esquerda, menos a outros, quando são de direita. Organizações e grupos de interesses têm contribuído também para debilitar o poder quando este não vai de encontro aos seus interesses.
Veja-se o caso do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, que incita os bombeiros a manifestarem-se contra a proposta do Governo para a lei orgânica para a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), na área da proteção civil que vai passar a chamar-se Autoridade Nacional de Emergências e Proteção Civil e que, segundo ele, não tem nenhuma das ideias apresentadas pela Liga dos Bombeiros Portugueses. A dúvida que se pode colocar é se este confronto com o Governo não será apenas por uma questão de perda de poder que terá sido retirado ao senhor Marta Soares.
Outro tema que causa mal-estar para com os políticos é a fraude e a corrupção que faz gastar nas redes sociais, não rios de tinta, mas rios de tempo e de frases digitadas. Há dias, 5 de dezembro do corrente, saiu um aviso do Tribunal de Contas alertando para “risco de fraude fiscal com viagens de deputados”. O tema sobre as despesas fraudulentas de deputados não é novo e acontece o mesmo noutros países. Por exemplo, no Reino Unido, em 2009, David Cameron o líder dos conservadores na altura, num artigo publicado no The Guardian afirmava que “a fúria pública no escândalo das despesas dos deputados aponta para problemas profundos no sistema político britânico” e apelava para restaurar o controle local. Mais à frente acrescentava: “Portanto, acredito que o objetivo central da nova política de que precisamos deve ser uma redistribuição massiva, ampla e radical do poder: do Estado para os cidadãos; do governo ao parlamento;”. “Por meio da descentralização, transparência e responsabilidade, devemos tomar o poder da elite e entregá-lo ao homem e à mulher na rua.”.
Aquelas afirmações parecem ter vindo de um qualquer extremista de esquerda, mas sabemos que era pura demagogia. Numa tentativa de transparência Cameron ao fazer um referendo de consulta ao povo sobre a saída ou permanência na União Europeia tramou-se, tramou o Reino Unido, e o povo tramou-se também ao votar SIM.
Vem isto a propósito da política de proximidade e vontade para que haja o menos possível de intermediação. As redes sociais passaram a ser a tecnologia da proximidade entre políticos e o povo muitas vezes inculto e iletrado, mas que maneja com à vontade as tecnologias dessas redes com as quais o poder tende agora a comunicar.
Julga-se que esta é uma nova onda democratizadora com base nas novas possibilidades comunicativas. Com mais acesso à informação as pessoas adquiriram mais capacidade de conhecimento antes apenas na posse de especialistas com autoridade indiscutível. Daí que a transparência e o acesso à informação imediata e ao conhecimento podem levar a que nas redes sociais se chame a atenção para um estado insuportável de coisas para as quais é necessária a mobilização popular, o que não basta.
Para que se cumpra a democracia em contextos como este também é necessária uma representação e o assumir de compromissos, isto numa base de democracia representativa construída entre povo e governantes para que funcione uma lógica de proximidade q.b. que obrigue os políticos a manter-se em contacto com os cidadãos. Em convocações de mobilização popular nas redes sociais sem representantes quem vai negociar? Quem vai assumir quaisquer compromissos? Quem diz ao que vai? Ninguém. Todos querem tudo, cada um à sua maneira e esquecendo o país como um todo e colocando na dianteiros interesses individuais e particulares dissimulados por falsas atitudes coletivas.
Em França Macron capitulou. Deu tudo. Não se sabe é onde vai buscar o dinheiro para tudo quanto prometeu aos “revoltantes” coletes amarelos. Será que não ficou fragilizado e outras reivindicações sem fim aparecerão? A culpa do estado a que a França chegou com o governo neoliberal de Macron não terá sido dos mesmos que agora contestam as suas políticas e que o elegeram com 66% dos votos? O povo parece então não saber o quer quando vota ou, então, deixa enganar por lhe faltar literacia política que eu penso os franceses terão perdido. Se me perguntarem se estou do lado de Macron direi que não, mas também não estou do lado de movimentos inorgânicos sem liderança ou com lideranças ad hoc feitas ao momento. Contudo, é um facto que a maioria das conquistas sociais não foram antecipadas pelo poder político, mas sim o resultado de pressões sociais concretas o que apesar disso não podemos ficar deslumbrados com a espontaneidade popular ao ponto de se concluir que quem protesta tem sempre razão.
O editorial do jornal Le Monde de hoje sintetizava: “Confrontado com as teorias da conspiração que abundam nas redes sociais, é necessário incentivá-los a desenvolver o pensamento crítico, a fim de evitar que este fenómeno anda a minar o funcionamento da democracia.”. Ora é aqui que bate o ponto.
Para amplos setores da população a realidade representada pelos partidos deixou de ser atrativa ao mesmo tempo que a cultura virtual da rede lhes permite articular comodamente as suas disposições políticas fluídas, como o são as convocações de movimentos espontâneos sem liderança e intermitentes, e inclusive situar-se online em qualquer momento bombardeando o sistema político com exigências de todos os tipos. A falta de liderança é apenas aparente visto que por detrás deles se encontram certas ideologias das extremas políticas que os incentivam.
Estes movimentos querem ser antipolíticos fazendo política e puxam o povo para a rua em contrapartida aos atores políticos que apenas em tempo de eleições se desdobram numa atitude forçada para saírem dos seus gabinetes e aparecerem junto do povo como se isso fosse a prática que sempre tiveram, quando é por demais reconhecido que apenas o faziam em período de campanha eleitoral. Partidos políticos do arco da governação e da oposição dita tradicional, que fazem parte da esfera do poder querem passar a ideia de que estão em sintonia com o povo competindo freneticamente para ver quem faz melhor com slogans esgotados e/ou reagindo a ideias e propostas alheias, apresentando-as com novas roupagens como sendo suas, e tentando promover uma conduta imaculada.
Hoje a direita através da comissão do PSD para a Reforma do Sistema Político e Eleitoral desafia os militantes do partido a enviarem os seus contributos para “construir um PSD 4.0 Sem se referir a medidas concretas, Pedro Rodrigues defende a introdução de "uma urgente reforma da lei eleitoral, de forma a potenciar a aproximação entre os eleitos e os eleitores”.
Os políticos dos partidos quando se encontram na oposição, assim como jornalistas e comentadores, pretendem convencer os potenciais eleitores de que quem está no Governo deve fazer uma política de proximidade e ter a capacidade de ubiquidade. Isto é, a proximidade presume a obrigação de os governantes parecerem próximos e terem a arte e a qualidade de estar ou ir a todo o lado. Como exemplo cito Assunção Cristas que criticou António Costa por não ter ido a Borba no caso do acidente da pedreira ou o desagrado de alguns quando o Presidente da República Marcelo não pode estar quando o convidam por tudo e por nada.
A democracia representativa não é antagónica com os vínculos sociais e políticos da proximidade, escutando os cidadãos e as suas preocupações e expectativas superando os efeitos do fosso entre eleitos e eleitores, privilegiando uma aproximação concreta, precisa às realidades da diferente posição dominante das tarefas do Estado. Não fazendo essa tentativa surgem movimentos manipulados e manipuladores que obrigam os políticos a ouvi-los.
A distância entre os governantes e o povo foi encurtada com o acesso às redes sociais. Os governantes quando pretendem enviar mensagens ao momento não contam já com os órgãos de comunicação que tardam por horas ou dias a divulgar a informação. As redes sociais são mais rápidas e as mensagens podem ser acedidas em qualquer hora ou lugar através de um simples telemóvel no momento em que foi colocada. Não é por acaso que líderes de governos usam e abusam da sua utilização com as mais diversas finalidades. É o caso do Presidente Trump nos EUA que faz política através de curtos comunicados, por vezes com verdades distorcidas ou até meias verdades que induzem falsas conclusões.
As redes socais passaram a ser “territórios” de proximidade e de exibicionismos político como é o caso de Trump EUA que abusa do Twitter como uma espécie de ferramenta para fazer truques de ilusão da sua política. Através destes meios a opinião pública pode ser manipulada, mesmo sem ser através das “fake news”. Com a proximidade através das redes sociais há a possibilidade de encenação.
Com as redes sociais passou a existir uma ligação íntima entre conversas e publicações informais, próprios das comunidades reais e virtuais, e a capacidade de auto governação de grandes grupos sociais sem a necessidade de monarcas ou ditadores e que passaram a fazer parte da esfera pública isto é, o domínio da vida social onde se forma a opinião pública. Há ainda porções da esfera pública quando as pessoas se reúnem para falar e para tratar de diversas questões de interesse geral sem estarem sujeitos a constrangimentos por estar garantida a sua liberdade de reunião e expressão de ideias.
Mesmo sem a proximidade ilusória das redes socias a proximidade real é também artificial, tem muito de encenação, traduzindo-se numa impressão de proximidade produzida pelas estratégias dos partidos. Mais uma vez recorro ao exemplo da líder do CDS/PP, Assunção Cristas, que faz por aparecer em teatros de operações, nomeadamente de tragédia, fazendo confundir proximidade com notoriedade e visibilidade nos que os órgãos de comunicação ajudam a construir. Produz-se assim um efeito de proximidade que é uma encenação de falsa familiaridade sobretudo a partir do momento em que ela pode ser produzida através dos meios de comunicação.
De acordo com o jornal Le Monde estará marcada um nova manifestação dos “coletes amarelos” em França para sábado 1º de dezembro?
Marine Le Pen líder do partido União Nacional, ex FN, sob a capa da moderação, provoca implicitamente o confronto quando disse na Europe 1, segundo o jornal FranceSoir, "Se os Champs Elysees forem interdito aos “coletes amarelos” eles sentirão isso como um ato de mais humilhação, mais uma forma de desprezo", argumentou o Marine Le Pen. "Os Champs-Élysées é uma avenida que é o símbolo da França, ora os “coletes amarelos” são o povo francês…” Eles consideram isso como como sendo seu.”, afirmou Le Pen. Pode conferir aqui.
Segundo uma sondagem em França que pode ver aqui são cada vez mais os franceses que apoiam os “coletes amarelos” e os protestos pela redução de impostos e reposição do poder de compra: 84%,. Os eleitores da União Nacional de Le Pen, antiga FN, são os que mais apoiam a contestação com 92%. Os apoiantes de Macron dividen-se: 50% apoiam e 50% não.
Isto leva-nos a refletir sobre este tipo de movimentos. As manifestações são ações democráticas em que se pretende expressar coletiva e publicamente um sentimento ou uma opinião podendo ser
Hoje venho para aqui falar de imbecilidades e de imbecis que frequentam as redes sociais, fazem comentários nos jornais online e que, como eu, escrevem em blogs. Isto por me ter lembrado de Umberto Eco, vulto enorme da cultura europeia, filósofo, escritor, semiólogo, linguista de fama internacional que em junho de 2015, quando recebeu o título de doutor honoris causa em comunicação e cultura na Universidade de Turim, afirmou publicamente que “As redes sociais dão o direito à palavra a uma legião de imbecis que antes apenas falavam num bar depois de um copo de vinho sem prejudicar a comunidade e agora eles têm o mesmo direito à palavra do que um Prémio Nobel, é a invasão de idiotas ". Declaração que podem consultar aqui.
Numa primeira leitura diria que Umberto Eco estava a chamar-me idiota e imbecil a mim e a outros milhares, e com alguma razão. Embora em Portugal não tenha sido dada muita relevância ao facto, mesmo assim muitos se indignaram quando aquelas afirmações foram proferidas e, claro, muitas idiotices também se escreveram nos comentários na imprensa online e sites de canais televisivos como podem confirmar neste exemplo.
Jornalistas e intelectuais que tinham os seus blogues e contas em rede sociais reagiram e indignaram-se. Eu que também escrevo para um blogue e não sou Prémio Nobel, segundo o ponto de vista do próprio Umberto Eco, também estaria incluído no conjunto dos imbecis, mas não me indignei e até concordei com ele. As interpretações que foram dadas ao que ele disse é que foram erróneas.
Umberto Eco não se referia aos que escrevem e defendem opiniões pessoais ou partidárias, confrontam ideias, cada um à sua maneira, com narrativas e argumentos melhores ou piores, bons ou maus, discutíveis, concordantes ou discordantes de outros pontos de vistas. Referia-se ele aos selváticos imbecis que proliferam nas redes, profissionais da ofensa, da difamação, da mentira, da calúnia, da asneira, das informações falsas que, não sabendo redigir argumentação inteligível, utilizam uma linguagem obscena, grosseira, ofensiva, apenas e porque não concordam com outras opiniões que não sejam as da sua própria inabilidade argumentativa. Outros há, ainda, que utilizam uma linguagem intelectualoide numa amálgama de ofensas e obscenidades para que deem crédito à sua voz estupidificante.
A troca de comentários e a avidez de novidades estruturam a participação nas redes sociais. As pessoas já estão acostumadas a comentários rápidos e superficiais sobre tudo e todos. É fácil ver nesses comentários a preocupação de cada um em simplesmente dar sua opinião, mais do que ouvir a alheia. A opinião do outro é apenas a oportunidade para expressar a sua própria através de linguagem do mais baixo nível. São os “bullies” e os hooligans das redes sociais.
Era a todos estes que Umberto Eco se referia. Quando antigamente estavam silenciados por falta de canal agora são percursores de campanhas de notícia falsas e outras idiotices para captar cidadãos bem-intencionados, mas incautos, para as suas debilidades e posturas mentais. Umberto Eco terá sido o percursor da adjetivação dessa gentalha que prolifera nas redes sociais. Felizmente que, atualmente, cada vez mais comentadores e jornalistas de vários quadrantes ideológicos têm a mesma opinião.
O caso é tanto mais preocupante quanto mais essa imbecilidade que Umberto Eco menciona interfere pela distorção, invenção e falseamento de factos e notícias arquitetados e engendrados premeditadamente com finalidades e efeitos perversos. A estas estratégias, utilizadas em redes sociais, é dada cobertura com o exemplo dado por altos responsáveis de países com importante influência na política mundial como são os EUA. Quando o próprio presidente deste país, Donald Trump, manda manipular imagens de um facto captado e testemunhado presencialmente por várias pessoas e divulgadas mundialmente é evidente que outros farão o mesmo. Quando um presidente utiliza uma rede social para divulgar notícias falsas para combater órgãos de comunicação credíveis e responsáveis e lhes abre uma guerra aberta, não podemos estranhar que outros façam o mesmo com as mais obscuras intenções.
No caso do presidente do EUA a mentira e a manipulação sobre factos são validados pela ignorância de quem os lê, ouve ou vê sem qualquer necessidade de conferir. O que lhes é dado é uma presumível verdade assente na credibilidade da proveniência numa tese de: é emitida pelo próprio poder logo é credível, mesmo que falsa.
O vídeo abaixo é o original do canal CNBC.
Pode ler aqui a notícia completa.
O vídeo seguinte é o vídeo manipulado pela Casa Branca publicado no jornal online espanhol El Pais.
Quem anda pelas redes sociais e escreve em blogs e escuta comentários nos canais de televisão lê e ouve o que gosta e o que não gosta, até mesmo o que vem de alguns energúmenos da asneirada ofensiva e da mentira que proliferam nas redes sociais. Daí é necessário ter a dose respetiva de capacidade psicológica para o encaixe, e a disposição necessária para o desprezo de certo tipo de comentários.
Veja-se o exemplo do que se passou durante a campanha eleitoral no EUA e continua ainda a passar-se e, mais recentemente, no Brasil com Bolsonaro. Fazer comentários nas redes sociais contra ou a favor do que quer que seja ou denunciar notícias falsas não vale a pena porque, quando se trata de campanhas que se apoiam principalmente nas redes socias, a maior parte das vezes as respostas que contestem tais notícias mesmo que falsas e respetivos comentários caem no saco roto nos eleitores porque o povo irá votar irracionalmente, tanto mais, quanto a irracionalidade das atitudes perigosas e grosseiras investidas por quem faz campanha e apoia certas ideias contra a democracia, os políticos, os candidatos ou os partidos de forma radical, violenta, primitiva, brutal, deseducada.
Tenho-me referido várias vezes aos comentários e artigos de opinião escritos na imprensa alguns deles escritos para elites digerirem. José Miguel Tavares, uns dos liberais com o qual raramente estou de acordo que escreve artigos de opinião para o jornal Público, referiu naquele jornal, a propósito das eleições no Brasil, que: “as elites artísticas, intelectuais e jornalísticas têm de meter na cabeça de uma vez por todas que a sua influência sobre o povo, na hora do voto, é nula. Que os seus poderes de mediação e de persuasão, na era das redes, evaporaram-se de vez. Que ter escritores, comentadores, historiadores, músicos ou jornais a criar vídeos, e manifestos, e hashtags, e editoriais, e o diabo a quatro, onde do alto da sua imensa sabedoria tentam explicar ao povo brasileiro (como já haviam tentado explicar ao povo americano) em quem ele deve votar, é uma ridícula figura, por uma razão muito simples – aquele voto, o voto de dezenas de milhões de brasileiros e de norte-americanos, também é contra nós”.
Face a isto o confronto democrático e o debate político deve passar a seguir outro caminho porque a exigência do povo pela qualidade intelectual e cultural tem vindo a deteriorar-se progressivamente devido às redes sociais onde alguns exprimem o que lhes vai na alma através de grunhidos grosseiros rebuscados nas profundezas das cavernas mais obscuras de certa política partidária e ideológica que por vezes são mais eficazes do que dissuasores.
Nesta era das tecnologias da informação e comunicação todos passámos a ser, para além de consumidores, produtores de informação, falsa ou não, boa ou má, sem censura, enfim sem quaisquer riscos que não sejam os comentários dirigidos. A informação que antigamente era validada, e conferida segundo critérios pelos órgãos de comunicação social – felizmente alguns ainda continuam a seguir – deu lugar à desinformação desenfreada nas redes sociais e à contra informação, numa competição sem tréguas do quanto mais falso e ofensivo melhor que contribui para confundir opiniões, até as dos bem intencionados, numa espécie de rodopio de notícias confusas, e não factos, difundidas pelas redes.
Quem mantém blogs de opinião política seja qual for o quadrante, mesmo de visão sectária, está no seu direito de liberdade de expressão que a democracia lhe confere. Já no que diz respeito á comunicação social, nomeadamente a imprensa, a coisa é diferente. Detesto jornais de orientação tendencialmente unilateral. Em jornais online com opiniões provenientes de vários quadrantes ideológicos e partidários aparece de tudo na zona dos comentários, desde os que se insurgem contra a opinião do autor fazendo comentários insultuosos até aos que defendem as suas opiniões e criticam outros como se fossem eles os proprietários de verdades absolutas. Nestas tarefas de crítica e opinião no domínio da política temos de ter a capacidade de encaixe suficiente para podermos ler e ouvir quer o que gostamos ou com que concordamos, quer o que não gostamos ou com que não concordamos e se assim não for o melhor é: não comentar.
Há quem escreva artigos de opinião, mais ou menos polémicos, conceptuais e filosóficos que pretendem mostrar e evidenciar conhecimento pleno e absoluto das problemáticas que as redes sociais levantam. Divagam e divulgam numa escrita erudita dirigida aos da mesma tribo de intelectuais depois, outros, inserem no espaço online comentários mais ou menos elevados à categoria do incompreensível.
Fora do domínio da escrita que o rigor científico exige nos comentários prefiro utilizar uma linguagem acessível a maiorias de leitores de modo a ser compreendido mesmo por iletrados, e sem palavras de jornalista emproado e sabedor de tudo.
Quado se escreve um artigo de opinião há sempre quem concorde e quem discorde. Note-se, todavia, que, nem quem escreve nem quem comenta são donos da verdade, nem se pense que conseguem alguma vez converter-se mutuamente aos seus pontos de vista. Em janeiro de 2018 coloquei neste mesmo blog algo relacionado com este ponto de vista.
Sobre as redes sociais, tecnologia com que Pacheco Pereira, como muitos outros, parece não conviver bem, escreveu um artigo de opinião no jornal Público que merece ser lido e que, por isso, dada a liberdade de expressão também está sujeito a comentários. Foram vários os comentários ao artigo de opinião escritos com grandes tiradas, algumas até despropositadas para o tema, onde se brandem espadeiradas afastadas do objetivo do artigo. Alguns desses comentários, embora válidos, manifestam várias e possíveis interpretações, carecem de fundamentação e revelam mais emoção do que razão.
O dr. Pacheco Pereira, pessoa que admiro e considero enquanto intelectual e comentador, acha que as redes sociais são perversas e que são “formas de activismo simplista e grosseiro que o radicalismo “social” e político provoca nos nossos dias”.
A linguagem utilizada por quem frequenta as redes sociais é, a maior parte das vezes, exacerbada, não intelectualizada, não refletida; é sentida, irresponsável, espontânea. As redes sociais são frequentadas por um conjunto heterogéneo gente que vai desde a populaça ululante, tal qual uma manifestação de rua anti qualquer coisa onde os participantes apresentam cartazes insultuosos contra alguém ou alguma coisa, estes, felizmente uma minoria, até intelectuais bem-falantes, políticos, jornalistas, professores, comentadores, escritores, cientistas, pessoas não eruditas mas bem-intencionadas e muitos outros.
A linguagem dos que frequentam as redes sociais é, como diz Pacheco Pereira, primitiva onde surge uma “mão-cheia de “seguidores” que propagam e “amplificam todo o estilo de ataques, insultos e afirmações de má-fé que acabam por ter uma circulação em que o testemunho directo é substituído pelos comentários dos comentários dos comentários”.
Insurge-se Pacheco Pereira com o que se escreve nas redes sociais, e com alguma razão, mas a tecnologia das redes sociais e dos blogs apareceram muito depois do aparecimento da rede, vulgo internet, que possibilitou a qualquer cidadão ser também um potencial produtor de informação, (falsa ou não), para além de mero consumidor que lhe chegava unilateralmente apenas pelos clássicos órgãos de comunicação social imprensa, rádio, televisão. Pagando o aluguer de um espaço num qualquer servidor podia, desde logo, formatar uma página e colocar o lá que bem entendesse. Aceder à “fala” pública deixou de ser possível apenas a alguns “eleitos” para passar a ser aberta a todos.
O problema agravou-se com o surgir das redes sociais, com a sua miríade de interações, onde se angariam amigos, sejam eles quem forem, a maior parte das vezes aleatoriamente, e com o acesso a blogs, onde se publicam emoções e sentimentos sinceros ou inventados, opiniões e nuvens de perceções, manipulação de notícias e de factos forjados, e outros escritos não fundamentados. O livre acesso e direito a publicar na rede foi uma mágoa que se entranhou em muitos que consideram que tudo quanto se escreve nas redes sociais são heresias.
Quem frequenta as redes sociais deve estar informado sobre os seus conteúdos daí que tem de ser capaz de distinguir o trigo do joio, o que só se consegue com treino aturado ao longo do tempo. A leitura de comentários nas redes sociais e nos artigos de opinião exige treino para quem costuma ferver em pouca água.
Nesta amálgama de comentários que aparecem nas redes sociais, blogs e afins, alguns com uma linguagem de falsa neutralidade, acusa-se, condena-se, julga-se, injuria-se, ofende-se, destroem-se imagens, fazem-se autos de fé, e se manipula informação e deturpam factos, surgem também os inquisidores e os falsos moralistas que não aconselham, não sugerem, mas criticam, repreendem, ameaçam… Outros utilizam palavras acaloradas, menosprezo e desrespeito pela posição do outro, feito de forma muito fria e educada mas não menos ofensiva, com defesas e ataques de parte a parte conduzindo ao confronto de pontos de vista que, longe de permitir o enriquecimento de cada um ou de possibilitar uma posição de consenso, apenas redunda em desconforto, ou a ideias mais extremadas e repisadas pelo confronto.
Para mim o problema não está na linguagem utilizada por esses ululantes da escrita de comentários porque esse tipo de linguagem ouvimo-la ao virar da esquina duma qualquer rua ou café frequentados por jovens e adultos. O problema é, e Pacheco Pereira salienta-o, a repetição por ditos seguidores que propagam e repete até à exaustão “afirmações e opiniões grosseiras, falsidades, deturpações, que, não sendo verdadeiras, acabam por ganhar um estatuto competitivo com a verdade”. É neste ponto que reside o problema e o perigo que não se resolve nem evita com mediações ou verificações por uma espécie de “validadores” de comentários que podem vir a ser alcunhados de censores, ou como lhes queiramos chamar, que não validariam a veracidade ou a falsidade do que é escrito nem tão pouco as fontes, mas apenas e só a linguagem. Seria bom que estes inquisidores se limitassem apenas a questões de linguagem, mas vão mais fundo, pretendem silenciar o pensamento de outros. É aqui que para mim se deve centrar a discussão.
A linguagem não é neutra, ela está relacionada com fenómenos comunicativos e tem a capacidade que possuímos para expressar pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos, estimula comportamentos e atitudes e pode moldar convicções. Um dos problemas da linguagem é as palavras terem tantos significados - e tão diferentes.
A maior parte das vezes são as emoções e os sentimentos, contra ou a favor de algo, que geram uma linguagem utilizada por quem não tem argumentos e, por isso, os que escrevem e insistem em utilizar uma linguagem insidiosa, frases caracterizadas pelo exagero e tentam distorcer a realidade acabam sempre por ficar expostos à rejeição e ao voto ao desprezo pelos seus pares, e por outros. O reforço desta rejeição pode ser promovido pelo debate livre e aberto das ideias por argumentos e contra-argumentos refutando e pondo a descoberto o que for torpe. É nisto que se baseia a liberdade de imprensa que deve ser de liberdade absoluta para a linguagem. Todavia, como a liberdade de expressão de pensamento absoluta é uma utopia, para tal deveria ser universal, restrinjo a linguagem do calão grosseiro, sem conteúdo sustentável, utilizado apenas e para o ataque pessoal, político e religioso nem tão pouco manifestações racistas e xenófobas de extremistas de cabeças rapadas e ocas.
A manipulação de informação não existe apenas nas redes sociais ela também existe, embora de forma subtil, nos clássicos órgãos de comunicação social. Veja-se os títulos dos jornais que por vezes levam a falsas interpretações para quem não lê própria notícia.
Como anteriormente referi, há quem, mergulhado em preconceitos e conservadorismo do passado, advogue uma espécie de verificação prévia, nova fórmula light para censura, para o que se escreve nos comentários das redes sociais e noutros sítios, mas, neste caso, estou parcialmente de acordo com Pedro Norton quando escreveu na revista Visão que “se eu tivesse de escolher um mundo de censores sem insultos ou um mundo de insultos sem censores, eu não vacilaria um instante em preferir o último. Prefiro, sem sombra para qualquer dúvida, ser exposto a ideias e a palavras ofensivas e pre-conceituosas permanecendo livre para rebatê-las do que ser obrigado a prescindir da minha liberdade para ser defendido pelo poder sem freios de censores iluminados”.
A este ponto de vista que me parece ser mais ideológico do que realista acrescento que, apesar de tudo, não nos podemos esquecer de que a liberdade de expressão de pensamento não pode ser absoluta, sem regra nem lei, onde os insultos e puro calão asneirento são correntes, sobretudo quando em conflito com os invioláveis princípios e direitos relativos à imagem e ao bom nome. A publicação de matéria dita jornalística de opinião ou outra tem de respeitar a veracidade dos factos que relata não podendo extrair conclusões acerca da conduta das pessoas nela mencionadas ou incitações à violência e dignidade da pessoa humana tais como racismo, nazismo e outras formas de segregação e violência religiosa, política ou étnica.
Quando se fala em manipulação de informação e de difusão de notícias falsas (fake news) há vários exemplos que mostram que se generalizou e, até personalidades em altos cargos nos estados utilizam as redes sociais para fazer política através de mensagens frequentemente falsas, sendo o presidente dos EUA, Donald Trump, o exemplo mais paradigmático. Trump já fez nos seus tweets várias declarações falsas, mentiras por omissão, falsificações de verdades que funcionam para desvalorizar e ignorar a realidade de facto. Mas os que o apoiam não se importam e a outros parece não lhes interessar fazer desmentidos utilizando a própria verdade. À tribo que elegeu acriticamente Trump não lhe interessa a verdade e assimila sem intermediação o que ele lhes diz. Quando Trump afirma que o facto A não é verdade, sendo-o de facto, os seus apoiantes entram em coro a dizer que estão a conspirar contra ele e forjam e divulgam notícias falsas que possam comprovar o que ele disse. Trump percebe isso e usa o Twitter para comunicar “directamente” com a sua “base” sem intermediação. Como ninguém vai verificar a veracidade ou falsidade do que foi dito ou escrito, e é gratificante para os seus apoiantes, está lançada a replicação através da rede chegando até aos seus opositores que as aceitam sem se questionarem sobre a sua veracidade.
Quando são apresentadas notícias na comunicação social sobre algo que acontece hoje é dado como de facto fosse consequência do hoje. Explicando-me melhor. Muito do que acontece hoje em alguns setores, nomeadamente a saúde, é dado como de facto fosse consequência da governação atual, independentemente das correções que sustentadamente se tenham vindo a fazer.
Essas notícias que são lançadas agora, não apenas no setor da saúde, são dadas como sendo consequência do presente, e não a consequência do passado recente que foi o da Ex governação neoliberal de Passos Coelho. O que se desmantelou durante quatro anos e meio de Governo neoliberal não de reconstrói num ano, nem em dois, nem sabemos se em quatro, devido às restrições orçamentais.
A comunicação social quer fazer-nos acreditar que, o que se passa agora, é consequência do hoje, da governação atual. Não nos podemos admirar visto que a agenda mediática é ditada pela trupe neoliberal que cerrou fileiras em torno de Passos Coelho e que o mantem no poder do partido, senão, o que seria deles!
No tempo de Passos Coelho qualquer mínimo favorável nas estatísticas ou acontecimento positivo que foram muito poucos, diga-se, eram empolados e repetidos exaustivamente nos noticiários. Agora o que vinga é a procura do mau, sendo o bom divulgado com displicência. Depois há as redes sociais que replicam até à exaustão factos, notícias e acontecimentos falsos.
Veja-se sobre as redes sociais nos EUA o que escreve o New York Magazine:
“All throughout the election, these fake stories, sometimes papered over with flimsy “parody site” disclosures somewhere in small type, circulated throughout Facebook: The Pope endorses Trump. Hillary Clinton bought $137 million in illegal arms.”
Que, traduzindo, diz que durante toda a eleição, essas histórias falsas, às vezes dadas como inofensivas "paródias site", divulgadas em vários lugares, em letra de pequeno tipo, iam circulando pelo Facebook: O Papa apoia Trump. E, Hillary Clinton comprou US $ 137 milhões em armas ilegais.
E nós, aqui em Portugal, que as frequentamos, se não tivermos o devido cuidado de as confirmar pelos meios ao nosso dispor, corremos o risco de divulgar e replicar o que é falso, às vezes até ingenuamente.
Eu próprio já algumas vezes caí nessas armadilhas, mas creio que foram as primeiras e as últimas. As redes sociais são o media ideal para a informação e contra informação e também para uns, poucos, influenciarem pela desonestidade política e partidária, muitos outros. Opinião a que todos devemos ter direito é uma coisa, outra, é a mentira e a desonestidade utilizadas como arma política para influenciar, comportamentos e atitudes. Não foi por isso que Trump obteve a Casa Branca, mas ficou um aviso para a opinião pública americana.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.