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Quando matar o mensageiro

por Manuel_AR, em 28.04.20

Matar o mensageiro.png

Hoje resolvi recuperar um comentário que escrevi a um artigo de opinião de Raquel Varela para analisar uma crítica que um leitor do referido artigo me fez e que achei interessante sem pretender com isso levantar polémica.

Em 24 de março do corrente fiz um comentário a um artigo da Profª Raquel Varela que pode ver aqui. Foi uma crítica ao artigo e, consequentemente, à atitude da autora relativamente a algumas posições auto abonatórias da sua pessoa que, do meu ponto de vista, continha pinceladas de egocentrismo e autopromoção que me pareceram um pouco desajustado ao tema do artigo.

Pois bem, em relação à minha crítica ao conteúdo do texto da autora foi colocado um comentário que dizia o seguinte: Na falta de argumentos ataca-se o mensageiro, dejá vu!

Não reagi a este comentário na altura no local próprio, apesar de alguém ter reagido no meu lugar e em meu favor. Todavia, achei-o, interessante. Hoje penso que tal comentário não merece uma crítica, mas sim uma opinião sobre mensageiros e mensagens.

O tema pareceu-me ser interessante porque nas redes sociais há cometários colocados por radicais ineptos que por lá “transitam” atacando, quando não trucidando, quem coloca mensagens que, quando não lhes agradam, estes sim, que por falta de argumentos agridem os mensageiros com palavras ofensivas de verdadeiro bullyng.

A origem da morte dos mensageiros que levavam mensagens com más notícias são antigas.  Cerca do século IV antes de Cristo o rei da Pérsia Dario III quando foi derrotado por Alexandre o Grande, tivera sido antes avisado por Charidemos, um seu conselheiro para a guerra, de que poderia vir a cometer vários erros de estratégia de guerra e informou o rei do possível fracasso de suas estratégias. Dario III teria mandado matá-lo por lhe trazer más notícias e ter-lhe transmitido a verdade honestamente por isso mesmo tornou-se incómodo.

No século XIII, também Gengis Khan conquistou um enorme império e tinha um serviço de correio montado em que os mensageiros oficiais podiam percorrer até 200 quilómetros por dia. Ficou célebre a sua sistemática reação quando os mensageiros lhe traziam más notícias: a morte imediata dos mesmos.

Ora bem, face à crítica que me foi feita ao comentário que escrevi sobre o artigo de Raquel Varela parece-me que, eu, ao ser redator da mensagem crítica à atitude da autora enquanto comentadora de política, e simultaneamente o mensageiro, então, segundo o autor que me fez a crítica, eu, como mensageiro, também deveria ser “morto” por quem recebeu mal a minha crítica.

Como se percebe não se tratou dum mensageiro da mensagem de raquel Varela, porque o mensageiro foi ela mesmo, a autora da mensagem. Talvez daí a confusão do meu crítico que não se apercebeu que ambos, mensageiros e mensagem se confundem, são a mesma pessoa. Não estou a matar o mensageiro, a Raquel Varela, mas sim a contestar a sua mensagem.

Por outro lado, é consensual que um autor, quando escreve a criticar ou sustentar uma realidade está pessoalmente envolvido na mensagem porque está também a espelhar-se através do que escreve ficando, por isso, sujeito a críticas de quem acompanhe os seus pontos de vista.

Ao escrever uma mensagem com opiniões que, para o referido adepto do artigo de Raquel Varela foram supostamente más, matei a mensageira que também redigiu a mensagem. A autora da mensagem é também a mensageira, são unas. Está a aqui a simultaneidade que o autor do comentário não pensou.  Fui eu que redigi a mensagem de que ele não gostou, consequentemente também sou o mensageiro e, por isso, também deveria ser morto, em sentido figurado claro está. Ele também matou o mensageiro porque não gostou da mensagem.

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publicado às 16:31

Quando os abutres pairam

por Manuel_AR, em 19.06.17

Incêndio Predrógão.png

Todos lamentamos as vitimas causadas pela imensa tragédia provocada pelos incêndios dos últimos dias na região de Pedrógão Grande que ultrapassou as regiões periféricas daquele concelho.

Para quem acompanhou as reportagens e noticiários dos vários canais televisivos terá tido oportunidade de confirmar que esta tragédia tem sido, e continuará a ser, um pasto fácil para captar audiências.

Reportagens repetitivas, debates televisivos, entrevistas que, para além de informarem, servem também para fomentar a dúvida, pôr em causa tudo o que se fez e o que deveria ser feito ou, ainda poder contentar certa espécie de audiências, lançando achas de outra espécie para fogueira da comunicação, arremessando descréditos e subentendidos a instituições, apontando as mais diversas responsabilidades.

Na imprensa o triste acontecimento é fonte de inspiração para opiniões dispares e de interpretação subjetivas, reclamando o que anteriormente não reclamavam... Uma oportunidade também para contestarem as declarações do Presidente da República. Esquecem-se estas aves de rapina do que foi o tempo dos incêndios no tempo do governo que apoiavam, "comendo" o que de lá vinha, sem pestanejarem. Veja-se por exemplo o caso do incêndio na Serra do Caramulo em agosto de 2013.

Aí estão eles, os da direita com uma fácies triste e a mostrar condolência quando os seus adeptos, mostrando a sua fúria desmedida e mal contida espalham comentários através dos jornais online atribuindo culpas a quem está mais a jeito. Na sua fúria insana procurando fragilidades que lhe lhes garanta ganhos que têm vindo a perder. É a fúria dos adeptos duma direita extremista, irresponsável e irracionalmente furiosa.

Judite de Sousa parece ser, no meio da terra queimada e de cinzas, vestida de preto a condizer para mostrar o seu enlutar (fica-lhe bem no avermelhado da paisagem, assim como o cabelo a que parece pertencer), um dos abutres da comunicação, eventualmente feliz por dentro, por a desgraça alheia lhe ter trazido algo para debicar e beliscar numa política que parece não lhe agradar e puder ter audiências durante semanas. Quando há notícia que deem visibilidade pela-se por aparecer.

Deixando de lado o seu valor como investigadora, Raquel Varela é outra, noutro estilo, não perde a mínima oportunidade para ter audiências, aproveita tudo para uma contestação, a tudo e por nada, deixando qualquer leitor ou espetador alguma vezes perplexo  sem saber onde ela se situa. É contra tudo e todos. Apenas porque sim!

Neste momento canais de televisão ávidos da especulação para traduzirem más notícias em emoções para os espectadores iniciaram já a preparação de reportagens pondo frente às câmaras voyeuristas pessoas e famílias enlutadas, agora empobrecidas física e psicologicamente pela tragédia, colocando-as em primeiro plano numa tentativa de exploração política e emocional de situações de tristeza e de luto com o objetivo de atrair publicidade não olhando a meios. Esta tragédia servirá, durante mais alguns dias, ou semanas, para os “abutres” da comunicação televisiva fazerem uma espécie de marketing para captar audiências, mais do que para dar apenas informação.

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publicado às 16:59

Fado.pngNão sou, nem fui no passado, apreciador da chamada canção nacional. Se bem me lembro al longo da vida devo ter ido, em circunstância excecional, uma ou duas vezes a uma casa de fados.

Correndo o risco de receber protestos, Amália Rodrigues, para mim nunca me disse nada. Foi uma cantora que levou um género de canção para fora de portas, assim como tantos outros cantores de outros países que também levaram para fora as suas canções. Não sou dos que diziam, em tempo, que Amália era a embaixadora do fascismo português no estrangeiro, e viam-na como propagandista do antigo regime. Também não é pelo facto de o Fado ter ficado na lista do Património Imaterial da UNESCO que vou passar a gostar.

Há quem queira, agora, ver o Fado como canção de mensagem e de brado da indignação, pleno de conteúdo social, contra a exploração capitalista opressora. O Fado sempre for social, pois é representativo do imaginário e do estado de espírito, em sentido restrito, do sentir do dia a dia do povo.

O que me trouxe até aqui foi um “post” publicado por Raquel Varela onde tece elogios aos fados de Ana Moura particularmente ao “Dia de Folga”.  Raquel intelectualiza e carrega de conteúdo ideológico os fados daquela cantadora da canção nacional. 

Onde está a admiração de Raquel Varela? A letra do fado que abaixo reproduzo é o relato do dia a dia da vivência das pessoas nos vários bairros populares e sociais. Quantas letras de fado contêm implícita ou explicitamente uma natureza social, basta ir ao portal do fado e procurar letras em que poderemos fazer leituras com caráter social e mais ou menos metafóricas.

Que dirá de Ana Moura, quando, algum dia, por questões comerciais e de público alvo, as letras de Ana Moura passarem a falar de touros, toureiros, touradas, pegas e pegadores dos ditos (espetáculo, triste, que eu também não aprecio)?

Se Raquel do cantar de Ana Moura e das letra dos seus fados está no seu direito. Não será por não apreciar fado que passarei a criticar ou a elogiar quanto venha desse género musical apenas porque tem, ou não, caráter filosófico e social implícito ou explícito.

Diz Raquel que “Há filosofia e política, dialética, dinâmica, estrutura e conjuntura, economia e sociedade, cultura e modo de vida nas letras dos fados da Ana Moura”, e mais, tem “amor e psicanálise”. Não vamos, cara Raquel, caracterizar o fado como marxista e não marxista consoante o ponto vista ideológico de cada um. Tudo na vida pode ter, e tem, uma base política, mas não exageremos.

Discordo muitas vezes das perspetivas e das análises de Raquel Varela, enquanto comentadora. Não será por isso que deixarei de gostar mais ou menos dela como historiadora e investigadora das questões sociais

Reproduzo de seguida a letra do fado cantado por Ana Moura.

 

 Manhã na minha ruela, sol pela janela

O senhor jeitoso dá tréguas ao berbequim

O galo descansa, ri-se a criança

Hoje não há birras, a tudo diz que sim

O casal em guerra do segundo andar

Fez as pazes, está lá fora a namorar

Cada dia é um bico d’obra

Uma carga de trabalhos faz-nos falta renovar

Baterias, há razões de sobra

Para celebrarmos hoje com um fado que se empolga

É dia de folga!

Sem pressa de ar invencível, saia, saltos, rímel

Vou descer à rua, pode o trânsito parar

O guarda desfruta, a fiscal não multa

Passo e o turista, faz por não atrapalhar

Dona laura hoje vai ler o jornal

Na cozinha está o esposo de avental

Cada dia é um bico d’obra

Uma carga de trabalhos, faz-nos falta renovar

Baterias, há razões de sobra

Para celebrarmos hoje com um fado que se empolga

É dia de folga!

Folga de ser-se quem se é

E de fazer tudo porque tem que ser

Folga para ao menos uma vez

A vida ser como nos apetecer

Cada dia é um bico d’obra

Uma carga de trabalhos, faz-nos falta renovar

Baterias, há razões de sobra

Para a tristeza ir de volta e o fado celebrar

Cada dia é um bico d’obra

Uma carga de trabalhos, faz-nos falta renovar

Baterias, há razões de sobra

Para celebrarmos hoje com um fado que se empolga

É dia de folga

Este é o fado que se empolga

No dia de folga!

No dia de folga!

 

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publicado às 18:30

Quem és tu Raquel

por Manuel_AR, em 26.11.16

Raquel Varela.png

Raquel Varela_2.png

Gosto muito da Raquel Varela. Acho que para além de fotogénica é uma mulher atraente, cativante, com ar sedutor. Para mim, claro, porque isso de gostos, sejam eles do que for, tem o seu quê de subjetivo.  Mas este é o ponto que menos interessa referir. Interesso-me mais pelos seus pontos de vista sociais e políticos.

Desconheço o seu posicionamento partidário, mas quanto ao ideológico vejo-a como uma marxista ortodoxa que segue os ideais clássicos daquela corrente económica com se fossem uma espécie de ensinamentos catalogados.

Raquel é historiadora, investigadora, comentadora e outras coisas mais. Podem muitos não gostar dela, nem concordar com os seus pontos de vista, mas o seu valor intelectual é inegável. Apesar de todos estes atributos a minha aceitação por tudo quanto diz não é de modo nenhum incondicional.

Provocadora por inclinação podemos ouvi-la contra a direita, contra o centro, contra a esquerda. Vejo-a como alguém com necessidade extrema de protagonismo que consegue através da controvérsia política.

Apoia quaisquer greves vejam elas donde vierem, sejam elas que objetivo tiverem. Faz parte da sua ortodoxia marxista. À luz da sua visão dependente dum certo e indefinido esquerdismo critica, a seu modo, a esquerda moderada e democrática, acompanhando as críticas feitas pela direita. O dilema que Raquel Varela me coloca é, por um lado, eu ter necessidade de encontrar um centro político-ideológico que me leve a compreender o essencial do seu pensamento e posicionamento e, por outro, o de saber qual a sua lógica dominante.

Como historiadora está atenta a tudo e a todos os que saiam fora dos factos históricos deturpando-os a seu bel-prazer ideológico, como o tem feito esse dito historiador Rui Ramos. Neste ponto estou de acordo com ela, porque para mim a história que Rui Ramos divulga não entra no campo da investigação em história, são escritos de opinião sobre história vista à maneira dele.

 Mas voltando à Raquel, talvez ainda se recordem do apoio que deu à greve dos estivadores em 2015 chegando a ir a um plenário daquele grupo de trabalhadores incentivando as suas mulheres, como mães e donas de cas a juntarem-se à luta tendo daqui surgido um blogue de apoio.

 Do meu ponto de vista Raquel Varela é uma convicta radical de esquerda e defende intensamente a luta da classe operária, se é que ainda existe essa classe enquanto conceito do século XIX. É contra quaisquer ideologias dominantes ligadas ao bloco do poder que é um obstáculo ao pensamento e à sua produção científica em ciências sociais que não consegue separar da ideologia.

Fala sobre a banca dizendo que deveria ser toda nacionalizada porque está a enriquecer e a empobrecer o país. O Estado deveria deixar falir a banca, é o seu lema que várias vezes defendeu em algumas das suas intervenções em programas de opinião. Não percebe porque a Caixa deve ser capitalizada, mas a banca deveria ser nacionalizada e a Caixa Geral dos Depósitos não é, de todo, um banco público é privado com dinheiros públicos e não serve os interesses do povo, perceberam? Não? Eu também não.

Esta posição aproxima-se em alguns pontos às da direita que pretende travar a recuperação da Caixa. Raquel Varela navega por todos os mares e cavalga todas as ondas, é preciso é ser contra o poder seja ele qual for. É por isso que não a identifico com uma esquerda que pretenda agir segundo um conceito ideológico que se mostre através dum programa político claramente definido. Ela é contra um qualquer poder e uma purista do marxismo. Talvez, até seja uma narcisista intelectual que gosta de ser original pelos pontos de vista que vai lançando para o ar tornando-se polémica e, evidenciando-se, dessa forma, por uma pretensa diferença.

Não concordando com ela em muitos pontos, continuo a gostar da Raquel e leio quase tudo o que ela publica. Acredito, no que respeita à investigação, na sua credibilidade e fiabilidade científica. As ciências sociais como por exemplo a sociologia, a ciência política e a economia não sendo ciências exatas são permeáveis a ideologias e às suas tendências. O caso da economia é evidente no que respeita ao cálculo e à interpretação de indicadores. Daqui as várias teorias decorrentes.  Assim, a prática científica pode estar ligada a uma prática ideológica determinada considerando a produção científica em ciências sociais dum ponto de vista materialistas. É por este caminho que Raquel Varela segue sem perda de rigor. O mesmo já não posso dizer quando aborda certos aspetos da política que acabam por apoiar teses duma direita neoliberal que por aí se vai arrastando, sendo ela, como parece demonstrar, uma coletivista.

Não subscrevo a tese, como alguns dizem, de que Raquel Varela é uma pseudointelectual de Portugal. Posso questionar e responder de seguida, com margem de erro: Raquel Varela é de esquerda e faz o jogo da direita quando lhe convém? Sim. É contra o poder do Estado apenas em alguns casos? É. Defende um Estado que imponha a igualdade pelo coletivismo? Talvez.

Para mim é um enigma político onde se adivinham alguma demagogia populista. Talvez seja um protótipo duma esquerda caviar, sem ofensa para o caviar e para a Raquel.

Ainda no tempo do programa Barca do Inferno da RTP3 (fevereiro de 2015?), programa cujas opiniões não podiam ser levadas a sério Raquel Varela disse em determinado momento: “Não pagamos a dívida e usamos o dinheiro para empregar mais pessoas. Os restaurantes, por exemplo, se tiverem mais empregados, têm mais clientes e ganham mais”. Por tanto querer ser polémica por vezes sai disparate. Defesa intransigente dos trabalhadores sem critério.

É assim que os meus olhos vêm Raquel Varela.

A direita detesta-a e a esquerda tolera-a. Como a direita que anda por aí não gosta de ser contrariada e coloca-se na posição de ser a única detentora da verdade e da tese do não há alternativa que, ultimamente, tem estado a ser contrariada não gosta dela e, como tem vindo a ser o seu atributo, passa às ofensas pessoais como argumento.

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publicado às 20:31

Stiglitz, prémio Nobel da Economia em 2001 assume posições que colidem com as prescrições de política económica e reformas estruturais do FMI (Fundo monetário Internacional) caracteriza como equívocos, as condicionalidades que o FMI impõe às economias em crise financeira (e também cambial o que não é o caso de Portugal e da Grécia), em troca de ajuda financeira.

Vai ainda mais longe, critica as pressões do FMI para que os países que pedem ajuda promovam a liberalização de seus mercados financeiros e de suas contas de capital que produz instabilidade económica e financeira e impactos distributivos perversos, mais do que crescimento económico e eficiência locativa que é o mais alto nível de bem-estar social dada uma determinada oferta e procura.

Joseph Stiglitz autor do livro chama também a atenção que, não foram os gregos os grandes beneficiários dos resgates efetuados à Grécia. A maior parte do dinheiro emprestado à Grécia foi para lá mas para os credores do setor privado, bancos alemães e franceses.

O custo da dívida grega, per capita, (em euros) nos países mais expostos, em caso de perdão total da dívida.

Dívida grega_1.jpg

 

Fontes: Open Europe, Banco Mundial

 

Países da zona euro mais expostos à dívida grega

Dívida grega_2.jpg

Fontes: Open Europe, IESEG, Euronews 2015

Critica fortemente a zona euro firma que os representantes da zona euro estão a tentar forçar um Governo democraticamente eleito a ir contra os desejos dos seis eleitores.

A zona euro é para Stiglitz a “antítese da democracia” que acredita pode fazer cair o Governo do Syriza “ao intimidá-lo a aceitar um acordo que contraria o seu mandato”. Ainda para Stiglitz só há uma opção viável: os gregos devem colocar a democracia em primeiro lugar, rejeitando as condições da Troika. Ainda que o resultado continue a ser incerto, um voto a favor do “não” que permitiria à Grécia, “com a sua forte tradição democrática, deixar o seu destino nas suas próprias mãos”.

Para finalizar por agora devo dizer que não sou da área do Syriza, nem tão pouco pretendo entrar em sua defesa, mas tento distanciar-me nas análises que faço referindo-me agora aos noticiários televisivos onde a repetição e enfase com que foi por demais anunciada a falsa questão e o grande problema de os gregos poderem levantar apenas 60 euros por dia. Leia-se o que Raquel Varela diz sobre o assunto:

"Agora a comunicação social portuguesa tem tido uma cobertura superficial e histérica. Veja-se o caso dos famosos 60 euros. Uma desgraça porque os gregos só podem levantar 60 euros por dia. Alguém me diz quantos gregos têm 60 euros por dia para levantar?

1800 Euros por mês?

Porque não foi anunciado com o mesmo espanto e repetição a quantidade de gregos que por continuar a pagar a dívida «pública» há muito deixou de ter 60 euros por dia, educação, acesso à saúde?"

Será que alguém discorda? Se sim, diga-o com argumentos lógicos e fundamentados ou então cale-se. Provocação!

 

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publicado às 20:16

Incerteza.png

 

Voltam a andar por aí alguns dos especialistas da nossa praça a meter a colherada na demografia fazendo análises enviesadas e alarmistas sobre demografia e sustentabilidade da segurança social no sentido exclusivo dos interesses privados, provavelmente movidos e inspirados pelas últimas novidades das leituras que efetuaram de documentos produzidos sem rigor e critério científico apenas conducentes para o efeito pretendido.

 

Um bom exemplo da manipulação da opinião pública por interesses privados conduzida pela atratividade dos milhões que entram na segurança social, resumiu-se numa entrevista dada na passada semana pelo senhor Seixas Vale, presidente da Associação Portuguesa de Seguradoras. Percebemos bem porquê. Veja-se apenas um exemplo da linha de pensamento de Seixas Vale que ataca nesta matéria o Estado como concorrente desleal do privado: "No que se refere aos PPR lamenta a concorrência desleal do Estado que com produtos idênticos (Certificados de aforo, certificados do tesouro e certificados de reforma) não está sujeito às mesmas regras de controlo e supervisão.". Claro que faz esta afirmação aceitando como provável que o Estado possa falir como qualquer empresa. Compara o incomparável.

 

Pretendem mostrar preocupação pelo fraco crescimento demográfico, pelo envelhecimento da população e pelo aumento da esperança de vida, como se isso fosse uma peste a combater. Afirmam que é um grave problema, e é-o de facto se não se utilizarem políticas sociais e de trabalho que estimulem a reposição de efetivos. Dito de outra forma quer dizer que, se a população não crescer a um ritmo superior ao atual e se a legislação laboral não contribuir com a sua parte o problema poderá agravar-se no espaço de uma a duas décadas.

 

Como é do senso comum o crescimento demográfico decorre da natalidade, em ciência demográfica depende também de outras variáveis. Variações, por mais pequenas que sejam, no número de filhos que uns e outros decidem ou não ter podem provocar efeitos consideráveis em toda uma sociedade. Escolhas de natalidade, isto é, a pretensão de ter filhos, são imprevisíveis porque dependem de considerações culturais, económicas, conciliação entre a vida familiar e a vida profissional e psicológicas relacionadas com os objetivos de vida que os sujeitos escolhem à partida, entre outras variáveis. Tão importantes são também os fluxos migratórios e as condições materiais que os governos dos países decidem ou não criar para conciliar a vida familiar e profissional como escolas, creches, igualdade entre os sexos. São estas as questões que devem ter lugar nos debates e nas políticas públicas sobre demografia no século XXI e não debates restritivos que pretendem prepara a opinião pública para a captação de capitais para o privado e desviar dinheiros públicos provenientes dos descontos (de empresas e de trabalhadores) para outras finalidades.

Sistemas mistos como existem em alguns países, embora testados, podem ser impraticáveis noutros, pois dependem de fatores culturais e de sistemas de controlo.

 

Como já referi o que está subjacente no discurso destes especialistas alarmistas é a possível captação de verbas alternativas aos descontos para a segurança social para consócios privados, bancos e seguradoras, cujas poupanças prometem rentabilizar para as futuras reformas mas que, ao fim de 30 e tal anos de poupança, se entretanto não entrarem em insolvência premeditada ou não, o resultado traduzir-se-á em três ou quatro centenas de euros se for ainda esta a nossa moeda. E caso venha a acontecer, como exemplo os recentes caso do BES e outros anteriores como o BPP e BNP, como ficariam as poupanças para essa tais reformas no fim da vida ativa? Não me venham falar de fundos de reserva ou outros mecanismos de salvaguarda porque, como se tem comprovado, nada é certo, e o que é hoje poderá já não ser amanhã.

    

Lançar a discussão sobre este tema é necessário e obrigatório no sentido de se poder, em relação ao futuro, tomar medidas com antecipação suficiente e não à pressa e em cima do joelho por sujeitos que poderíamos considerar abrangidos pelo "Princípio de Peter". No que reporta a debate sobre o tema penso, estamos todos de acordo. Mas não há uma varinha mágica para fazer crescer a população. O estímulo à natalidade não é suficiente, há que incentivar o investimento, sobretudo o privado e a criação de emprego porque não basta a população crescer enquanto o investimento e as ofertas de trabalho forem apenas pontuais ou residuais, daí a necessidade de políticas a médio prazo.

 

Há uma hipócrita tentativa de preocupação com as gerações futuras. Não esqueçamos que os agora são velhos também já foram, no passado, a chamada geração futura.  

O que se pretende de facto com análises falaciosas é a de fazer divergir a discussão sobre a essência da questão demográfica para uma outra: a de fazer incidir sobre a população empregada com mais de 45 anos e sobre a envelhecida já fora do ativo a causa de todos os males como o despesismo orçamental, o aumento de impostos, a dívida, o défice, o ajustamento, o desemprego dos jovens, a consolidação orçamental, a não reforma do Estado como tem sido várias vezes afirmado. Todos são culpados menos a inépcia deste Governo.

É àqueles que se pretende cobrar a despesa do Estado penalizando-os e fazendo-os abandonar os seus postos de trabalho para darem lugar aos mais jovens que ocuparão os seus lugares a título precário ao mesmo tempo que a outros se reduzem pensões e reformas de forma substancial e se acusa o Tribunal Constitucional de tal impedimento e de causar a insustentabilidade do sistema. Sobre este tema será aconselhável a leitura "A Segurança Social é Sustentável, Trabalho, Estado e Segurança Social em Portugal" de Raquel Varela.

 

Os pregadores do Governo passam o tempo a impingir a ideia de que devemos salvaguardar e pensar nas gerações futuras (conceito abstrato) e que, por isso, devemos sacrificar-nos por elas e as atuais que se "lixem". Isto é simplesmente absurdo e revela pequenez de espírito.

Este discurso foi estreado por esta direita que tomou o poder em Portugal com objetivos divisionistas entre gerações.

 

As gerações futuras, as tais que hão de vir, irão ouvir dizer o mesmo em nome das que, por sua vez, serão as próximas futuras gerações. É como se alguém, vivendo na incerteza do presente, resolvesse casar sem ainda ter a certeza se arranjava parceiro(a) e decidisse, sem criar as condições para tal, hipotecar-se no presente a comprar uma casa grande, roupas e carrinho para bebé, reservar lugar numa creche e posteriormente numa escola. Sacrificava o seu presente a um futuro incerto e do qual desconhecia a evolução tendo em conta unicamente a probabilidade de um dia acontecer imutavelmente tudo na sua vida conforme o momento presente, como se nada se pudesse modificar até lá.

 

Pensar a prazo neste âmbito é estudar desde já a criação de condições que garantam o sistema prevendo e antecipando cenários de sustentabilidade passíveis de entrar em vigor no prazo duma década possibilitando a todos quanto deixem de ficar no ativo nessa altura a possibilidade de saber com o que podem contar.

 

Ironizando, pode admitir-se a hipótese absurda de pedir aos descendentes dos pensionistas que faleceram nos últimos dez anos ou mais a reposição de parte do valor das reformas que os seus ascendentes receberam até ao momento da sua morte para salvaguardar a sustentabilidade do sistema sempre a pensar nos seus futuros descendentes.

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publicado às 16:58

Sustentabilidade da Segurança Social

por Manuel_AR, em 07.05.14

 

Quem deseja conhecer o que de facto se passa com a segurança social em Portugal tem neste livro a possibilidade de consultar diversos artigos que desmontam as falácias prpositadamente geradas pelo governo para justificar os cortes e a sustentabilidade que diz não existir. 

Livro de coordenação de Raquel Varela, escrito numa linguagem científica mas acessível, é de leitura ou de consulta obrigatória.

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publicado às 16:05

Os mesmos de sempre

por Manuel_AR, em 03.02.13
Pergunta-se o que é que se está a passar neste país em que se aceita tudo! Desculpem o vernáculo, mas há um ditado muito antigo que diz que “quanto mais te baixas mais o rabo se te vê!”. É isto que está a acontecer. Todos se encolhem, todos têm medo de falar de se opor. Não tenhamos ilusões, por este andar a cada um chegará a sua vez, porque ela chegará. Mas quando derem por isso já será tarde de mais.

 

 

Com certeza já reparam que sistematicamente, nós, os portugueses, somos culpabilizados pelo governo e pelos seus comentadores oficiosos por tudo o que nos está a acontecer, aumentos de impostos, diminuição e cortes de salários, redução, cortes nas reformas, sem falar da eliminação de apoios sociais, cortes na saúde, educação, etc.. Somos gastadores, devedores inveterados, comíamos bifes todos os dias, ainda temos que suportar mais austeridade, porque os sem-abrigo também sobrevivem, etc., etc.., como afirmou o tal senhor do BPI. Que teve lucros à custa da dívida portuguesa e com o dinheiro dos contribuintes. O Estado Social que se foi construindo ao longo de décadas está em risco de ser destruído em meses.

Este Governo que ocupou, embora legitimamente, o poder pratica o terrorismo social apenas comparável à administração de Reagan e de Thatcher (1980-1988) que levaram a cabo uma extensa política de ataque às classes trabalhadores e às mais desfavorecidas. Assim, entre outras medidas, os salários reais baixaram, corte na duração de assistências aos desempregados, cedências feitas pelos trabalhadores banalizaram-se, os valores dos impostos às empresas baixaram ao mesmo tempo que os salários eram desvalorizados, o número de pessoas sujeitas cada vez a salários mais baixos cresce todos os dias, etc.. Então quer nos EUA, quer na Grã-Bretanha, embora as despesas sociais sofressem cortes os défices orçamentais continuaram a crescer. Contudo quem ler a imprensa da época depara-se com afirmações como “aliviar a carga dos impostos” (Varela, 2012:p.121)[i] sobre uma população sobrecarregada. Hoje, em Portugal, já começámos a ouvir isto justificando para proceder cortes na educação, saúde, etc..

Basta estarmos atentos ao que se passa neste momento no nosso país para vermos se há ou não semelhanças. Se isto não é ser ultraliberal então o que lhe devemos chamar?

 O que agora está a acontecer em Portugal com as políticas ultraliberais do atual Governo, muito diferentes das do original PSD, agora muito mais próximo do Tea Party, partido da direita radical dos EUA, é conduzir Portugal para uma posição idêntica àquela em que nos encontrávamos em 1974 e aproximarmo-nos dos países da cauda da Europa.

Justifica-se tudo com o défice, a reforma do estado, a reestruturação da economia, cedências nos contratos de trabalho.  Mas será que Estado Social pôs alguma vez em causa o desenvolvimento económico. Antes do 25 de abril não havia um Estado Social, não havia gastos excessivos nem despesismos, na prática, não tínhamos défice mas, apesar disso, grassava a pobreza, o analfabetismo, a mortalidade infantil excessiva, a falta de cuidados de saúde éramos um país subdesenvolvido.

Após a queda do antigo regime de Salazar e de Marcelo Caetano, durante a preparação para a entrada de Portugal no grupo dos países desenvolvidos da europa, a então denominada CEE, era condição necessária que nos aproximássemos dos índices de desenvolvimento do grupo de países de que iríamos fazer parte. Assim nos fomos aproximando com dificuldade daqueles países ficando, em muitos dos índices, muito abaixo das médias.

Alguns que viveram aqueles tempos já começam a dizer que a classe média que o salazarismo apoiava vivia na altura melhor do que está atualmente a viver.

Após a queda do muro de Berlim outros país, que estavam então sobre o domínio da ex-União Soviética, vieram, posteriormente, a pedir a sua entrada para o grupo europeu. Estes países, que passaram a fazer parte da EU, conforme pode ser comprovado pelas estatísticas do Eurostat, encontram-se na chamada cauda da Europa.

A justificação do Governo é o défice, a competitividade e a atratividade para o investimento, mas estes os argumentos são os que servem para vender à população acompanhados com ameaças sobre o pagamento de salários e pensões. Mas as medidas tomadas têm também um cariz ideológico no sentido em que se podemos considerar que se trata de uma desforra da geração originária dos retornados, dos quais muitos ocupam agora pastas no Governo, que nunca perdoaram a descolonização tal e qual foi feita por terem perdido privilégios que agora querem recuperar de outra forma.  Não é por acaso que Angola passou a estar na ordem do dia. É um parceiro para tudo.

À ala radical do PPD/PSD juntou-se o CDS/PP que, tendo uma matriz social cristã, é movido pela caridade e pelo assistencialismo e em nada se afasta do seu amigo de coligação. Tudo o que se possa dizer sobre a crise da coligação é apenas manobra de diversão. O CDS/PP está agarrado ao poder, mesmo que a política seguida vá contra as sua matriz ideológica fundamental. A criação de lugares para os seus militantes tem mais força do que o país, embora clame aos quatro ventos que se mantém na coligação porque os interesses de Portugal estão primeiro.

Com a mascarada da remodelação do Governo tomaram posse novos Secretários de Estado, deputado do CDS/PP que tem apenas um senão, é precisamente um daqueles deputados que se insurgiu contra o Orçamento de Estado para 2013. Outros do PSD, era vice-presidente da UGT, estamos a ver porquê. Mais grave ainda é ter sido dado posse a outro Secretário de Estado administrador da SLN holding proprietária do BPN e que, de forma passiva, teve um papel no escândalo daquele banco. Pior é que foi omitida esta parte no currículo daquele senhor agora conduzido para o Governo e ao qual o Presidente da República deu posse. Será que terá tido a ver com as ações daquele banco que ele adquiriu?

Até quando estamos despostos a tolerar tudo isto enquanto o Governo, continua impávido e sereno, com a certeza de que está a governar para totós que somos, desligados do que se passa à nossa volta, que se desligam e assobiam para o lado pensando que, enquanto respirarem está-se bem. Mas, quando formos todos agarrados já nem força teremos para nos insurgirmos.



[i] Varela, Raquel (Coord.). 2012, Quem Paga o Estado Social em Portugal?, Lisboa, Betrand Editora

 

 

 

 

 

 

 

 

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publicado às 19:17


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