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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
“Ó gente da minha terra” é um fado que foi escrito por Amália Rodrigues que é interpretado por Mariza. Contrariamente ao que consta por aí não foi ela que o escreveu. O seu mérito deve-se à excecional interpretação. Completando a quadra:
Ó gente da minha terra
Agora é que eu percebi,
Esta tristeza que trago
Foi de vós que recebi.
Eu, que não aprecio fado, por que é que inicio este “post” com esta quadra? Recordei-me de autores como Eça de Queiroz e Guerra Junqueiro e de outros tantos escritores e políticos que, nas suas obras, cada um à sua maneira, traçaram perfis dos portugueses.
Para mim o povo português é muito acolhedor, sociável e hospitaleiro e recebe bem tudo quanto é estrangeiro e nos visita. Mostra, a seu modo, a sua subserviência disfarçada. Por princípio é um povo que ajuda o seu próximo quando necessário, é solidário quando se trata de defesa dos interesses da sua comunidade em que se integra. Falsamente pacífico, introvertido apesar de alegre, preocupa-se mais com a vida dos outros do que em expor a sua. Há várias citações sobre os portugueses, algumas delas antagónicas.
Os gregos no domingo passado deram uma lição de inconformismo apesar de todas as vicissitudes, sacrifícios, ansiedades, dúvidas, fecho dos bancos e a impossibilidade de poderem levantar mais do que 60 euros, como se a grande maioria tivesse a necessidade ou a possibilidade de levantar diariamente aquele valor (1800 euros mês!).
Nós, portugueses, somos na Europa um povo muito estranho nas suas atitudes e comportamento sociopolítico enquanto somatório dos comportamentos individuais que afetam o modo como pensa, talvez fruto dum regime que, apesar de ter caído no 25 de abril de 1974, ainda se mantem como uma espécie de componente do seu gene social.
Quando sujeitos a situações de carências várias esses comportamentos são manifestos na forma como aceitam com resignação e submissão a que o obrigam.
Foi assim que Deus quis! O que havemos de fazer? Manifestam.
Há outros piores do que nós!
Então o que é que havemos de fazer, é assim!
Outras formas de pensamento manifestos apenas nos seus círculos familiares ou de amigos revelam uma resignação e aceitação a tudo dizendo:
Olha, ficamos com menos, mas ainda nos dá para ir vivendo! Cortam-lhe tudo a que devia ter direito sem reclamar e diz, vamos vivendo com o que ainda temos.
Cortam-lhe no salário e… vá lá que ainda tenho trabalho… cá vamos vivendo.
Aceita trabalhos com salários que os leva ou mantêm ao nível da pobreza e dizem-lhe: vale mais teres este trabalho do que não teres nenhum.
Cortam-lhe ainda mais em tudo até ao limite e dizem: ainda bem que tenho as cantinas sociais.
Ficam sem a casa e dizem: paciência a minhas família vai ter que ajudar.
Tem que tomar um medicamento três vezes ao dia para manutenção da sua saúde mas não tem como pagar e diz: paciência, passo a tomar apenas uma vez ao dia. Não tem dinheiro para pagar a energia que foi cortada e logo pensa: que hei de fazer, tenho ali umas velas, como é verão os dias são mais longos.
No inverno diz para quem está perto de si: tenho ali uma mantinha que me deram lá na paróquia, sempre serve bem para aquecer.
Isto até à exaustão.
Que vida é esta? Que povo é este?
Formas de pensar que o conduzem a uma espécie de suicídio lento.
Todos falamos de barriga cheia, especialmente aqueles que por aí andam a contribuir para defender e ajudar à manutenção daquele tipo de atitudes conformistas. Veja-se como todos eles criticam o inconformismo do povo grego.
Mesmo nas eleições autárquicas votar na manutenção desta gente, esquecendo-nos do engodo em caímos aquando das últimas eleições legislativas é sermos duplamente parvos. A democracia fez-se para que haja mudanças, não que se espere que a situação melhor a curto prazo, mas para que, em conjunto, quem governa e é governado partilhem dos mesmos objetivos geradores de uma unidade de facto de emergência nacional e não de uma qualquer união nacional que apenas garante os interesses de quem está neste momento no poder. |
Ainda desligado dos comentários políticos e dos aparecimento constante e propagandístico do primeiro-ministro nos canais de televisão, contemplo o mar sereno a partir de uma varanda num lugar do algarve fora do reboliço do mês de agosto, preferencial da maioria dos portugueses, não resisti, mesmo assim, de refletir sobre atitudes e comportamentos politiqueiros de quem dirige o governo deste país de quem a a maioria que o elegeu já está farta.
O apego ao poder do primeiro-ministro Passos Coelho, a sua inexperiência política e a falta de competências governativas é uma mistura explosiva quando se trata de governar um país em crise. Teria sido mais sensato se os portugueses tivessem na altura optado por uma solução de, quem provocou a crise que a gerisse e nos fizesse sair dela porque tinha pleno conhecimento das suas causas e consequências. Mas o engodo foi lançado e aqui estamos nós. É bem de ver que a atual liderança do PSD foi impulsionada pela amálgama da direita mais radical do partido e por uma geração de alguns retornados na ânsia de reconquistar poder e dinheiro através do estado.
O Estado para esta gente é demasiado grande e gastador, há que reduzi-lo à sua infíma espécie que apenas sirva os interesses dos políticos e de quem gravita à volta deles. Um estado que sirva apenas os que governam e os que já se alinham para governar.
Querer governar a todo o custo acima das instituições democráticas e das leis fundamentais nunca foi uma boa política para acordos com outros partidos sejam eles da direita ou da esquerda. O mais grave é que o primeiro-ministro para pagamento de favores, porque chegar a uma liderança tem custos, rodeou-se de assessores e conselheiros (?) jovens radicais inexperientes na governação que acumulam incompetências perigosas e com desconhecimento da cultura e sentir da maior parte das populações do país. A prova está nos desaires e desastres políticos e económicos que foram manifestos nestes dois últimos anos, apesar de casos pontuais de algumas poucas medidas positivas.
O que tem valido a Passos Coelho é o CDS/PP, também este agarrado ao poder, com os desaires oportunamente provocados e convenientes, mas que, à custa do partido que apoia se vai enterrando cada vez mais. Por mais que custe a Paulo Portas o CDS sairá mais ferido e enfraquecido do que quando entrou. O PSD dos jovens radicais neoliberais, se não forem neutralizados, se encarregarão disso.
Passos Coelho e a sua trupe de “advisers” parecem desconhecer que governar um país e uma nação não é apenas propaganda partidária concertando saídas e eventos para aparecer à hora nobre nos canais de televisão dizendo as vagas patacoadas do costume. Em vez de unir desune, ora elogiando o que o governo tem feito, mas não fez, ora atacando a oposição por não ir de encontro aos seus caprichos governativos. Como é óbvio o papel da oposição em democracia, é fazer oposição não é participar nos desmandos de quem governa.
Apesar da importância do contacto com o país é no gabinete que se estudam e preparam com tempo e consciência os dossiers para a tomada de decisões e resolução dos problemas para bem coordenar os conselhos de ministros, coisa que Passos Coelho parece desconhecer.
Mesmo nas eleições autárquicas votar na manutenção desta gente, esquecendo-nos do engodo em caímos aquando das últimas eleições legislativas é sermos duplamente parvos. A democracia fez-se para que haja mudanças, não que se espere que a situação melhor a curto prazo, mas para que, em conjunto, quem governa e é governado partilhem dos mesmos objetivos geradores de uma unidade, de facto, de emergência nacional e não uma qualquer união nacional que apenas garante os interesses de quem está neste momento no poder.
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