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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Aqui está ele de novo, José Miguel Tavares, que diz ser um liberal e de direita, dependendo dos dias. Não sei se ser liberal ou ser de direita é necessariamente a mesma coisa. Tenho que aprofundar isso, tenho muitas dúvidas, tantas quanto o seu parceiro de direita Paulo Núncio.
Quem ler o artigo de João Miguel Tavares e não for liberal nem de direita (?) (a minha dúvida persiste), fica absolutamente pasmado, mas, ao mesmo tempo agradado, com grande parte do que defende, parece até um liberal socialista a falar (esta é outra dúvida que tenho. Não sei se este conceito existe). Até não concorda com os seus amigos de direita que dizem achar que há muito populismo e demagogia nesta coisa dos offshores.
Vai ainda mais longe parecendo um “esquerdalho”, desculpem-me esta terminologia que não pretende ser ofensiva, mas que, para facilidade de expressão, resolvi utilizar para designar todos os que não pertencem ao grupo dos eleitos das verdades absolutas do capitalismo quando falam entre si, (já agora mais um parêntesis para que fique claro que não sou anticapitalista, nem contra a iniciativa privada).
José Miguel Tavares fala sobre offshores dizendo em abstrato ser contra, contudo sem referência clara ao caso concreto que está na ordem do dia e se passou quando os neoliberais estiveram no poder e, talvez por isso, seja contra, em abstrato.
Acha provável que haja fugas ao fisco nas 14484 transferências e infere que “pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade”, cita um socialista para defender a sua tese e até aponta as razões de António Costa neste caso. Tavares manifesta-se contra os muito ricos que, segundo a bíblia neoliberal, que é a dele, é necessário que sejam ainda mais ricos para que os pobres o sejam menos, (desculpem-se mais este parêntesis, mas não tenho nada contra os ricos tenho é contra a patranhada desta teoria para confundir quem os ouve). Quem acompanhe o que tem escrito defendendo quase incondicionalmente a causa dos liberais fica agora pasmado porque, ao ler o seu artigo, só um insensível não estará de acordo com ele e, por isso, nada me impede de colocar em dúvida a sua sinceridade. Vejamos então o que João Tavares escreve:
“Ainda que não tenham existido fugas ao fisco ou falcatruas nas tais 14.484 transferências – o que parece altamente improvável, a avaliar pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade –, o simples não-tratamento de 10 mil milhões de euros é uma vergonha exactamente pelas razões apontadas por António Costa: a única forma de manter a moralidade do regime em tempos de vacas magras é ter, pelo menos, a mesma exigência com fortes e fracos. E a única forma de manter a salubridade do capitalismo é não permitir as desigualdades chocantes que as offshores promovem. Acho muito bem que, consoante o talento e os méritos de cada um, haja quem seja mais rico e menos rico. Só que as offshores promovem uma desigualdade inaceitável – são um privilégio só ao alcance de milionários. Como dizia António Lobo Xavier, com alguma graça, não há guichês para offshores. Não há um sítio onde a gente possa ir bater à porta e colocar 1000 euros nas ilhas Caimão, só para experimentar. Ora, se apenas os muito ricos podem pagar menos impostos, isso só pode ser classificado de uma forma: absolutamente escandaloso. E a quem parecer que isto é simples demagogia e populismo, só tenho uma coisa a dizer: quero mais.”
Com ele todo o grupinho de comentadores transforma-se, neste caso, em grande oposicionista aos offshores e avança com pedidos de investigação a fundo sobre o caso; viram-se contra Paulo Núncio quando, na semana anterior, o defendiam. Veja-se o caso de Assunção Cristas ao corrigir o tiro de enaltecimento a Paulo Núncio ao dizer que o país lhe deve muito, pede agora para se investigar tudo sobre o caso. Marques Mendes o político tarólogo de direita de serviço na SIC, vem dizer que há mais dúvidas do que certezas no caso dos offshores e que pode haver matéria criminal. Segundo o jornal i, “acho que pode ser um caso de polícia", afirmou hoje Luís Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. E, pasme-se, no seu álbum fotográfico o PSD e o CDS estão mal na fotografia! Quem diria! Desconfiando que isto possa dar para o torto, ratos, ratinhos e ratões afastam-se e correm para a rua mostrando que não são os primeiros a fugir quando o barco de está a fundar, refugiam-se publicamente no investigue-se e esclareça-se tudo a fundo.
É que, na voragem iniludível de agarrar novamente o poder, a direita quer fazer esquecer o que fez e disse no passado.
Lavador é uma palavra pouco utilizada em política. As investigações judiciárias utilizam uma palavra cuja raiz é a mesma mas aplicada quando se trata de lavagem de dinheiro.
Aqui prefiro utilizar o termo lavador quando se trata do comentário e da atualidade política. O significado de lavador é dado como aquele ou aquilo que lava. É, portando, o adequado para me fazer compreender.
Sempre que algo corre mal para a direita, (também pode ser para a esquerda), surgem os lavadores da imagem política. A direita tem andado verde de raiva, agora parece ter passado a vermelho de vergonha.
A direita sempre que pode gosta de fazer de dama virgem e ofendida. Refiro-me à intervenção
Os que estiveram à frente da governação num passado, ainda não muito longínquo, fizeram as suas trapalhadas mas nunca ninguém se demitiu nem foi demitido. Caso das listas VIP, por como exemplo, quando Paulo Núncio era secretário de estados do tesouro no ministério de Maria Luís Albuquerque. Paulo Núncio teve uma tirada teatral no caso dos 10 mil milhões que se esgueiraram para os offshore entre 2012 e 2015 o que, diga-se, parece ser muito mais preocupante do que os SMS’s trocados entre de telemóveis de quem quer que seja, com quem quer que já foi, o que ainda deve dar muita satisfação que se saiba a Lobo Xavier.
O golpe de teatro de Paulo Núncio, dando-se ares de tomar uma atitude ético-moralista, que não teve no caso das listas VIP, vem tentar mostrar-nos agora uma integridade política que na altura não teve quando responsável do tesouro.
Isto de assumir responsabilidades governamentais “póstumas” pedindo a sua demissão dum qualquer cargo partidário, neste caso no CDS, já nada nos diz, e nada muda. Isso é lá com ele e com o partido a que pertence, para nós, portugueses não interessa nada. O que nos interessa, isso sim, é o que se passou, o porquê e o como. Claro que o PSD, oportunisticamente, e mais uma vez querendo mostrar-se isento e de princípios éticos corre pressuroso a reclamar uma comissão de inquérito. Tudo bem. Mas não passa duma tentativa para salvar a sua alma porque o caso deu-se quando o PSD e Passos Coelho estiveram no governo e Maria Luís Albuquerque era a sua ministra das finanças.
Eu, cá por mim ficarei com a dúvida que é a de saber se foi apenas um mero esquecimento ou falha administrativa, ou se, de facto, não terá havido a intenção de favorecer quem quer que fosse. Isso de pedir a tal comissão parlamentar de inquérito ainda me levanta a suspeita de ser uma espécie de manobra para enganar o Zé Povinho que ainda acredita num PSD que se quer manter a todo o custo numa oposição que já não é credível. E assim será até que o atual líder se mantiver porque, quando ele sair, os galos que cantam também vão deixar de cantar e eles não querem.
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