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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Por mais que se queira há coisas que não podemos nem devemos esquecer. Recordo agora a forma de comunicar ofensiva de quem governa este país e o desrespeito pelos cidadãos tornou-se uma constante.
Não sei se por influência do que o primeiro-ministro tem dito por aí, o senhor ministro da Saúde Paulo Macedo apanhou agora também o tique da omissão e do desdém pelos portugueses.
A propósito de um estudo do ISCTE, "O Sistema de Saúde português no tempo da troika: A experiência dos médicos", o secretário de Estado Adjunto do ministro da Saúde, Fernando Leal da Costa, que suponho deve ter propensão para tudo, menos para o que diga respeito ao exercício da medicina, vem mais uma vez mostrar o seu desdém, para não dizer troçar, como já o fez uma vez em relação a uma reportagem da TVI sobre os hospitais.
Disse ele sobre aquele estudo que "as opiniões estão na moda" e que "lamentavelmente, opina-se e não se discutem factos". Mas que factos? Os de não querer aceitar a realidade da tentativa destruidora e a insegurança que causaram aos utentes do Serviço Nacional de Saúde, ou a realidade do seu ministro Paulo Macedo que afirmou em tempo que "poderia ter sido muitíssimo pior"?
Como disse Carlos Cortes no Jornal de Notícias "… Este Ministério da Saúde não tem estado à altura das suas responsabilidades, mas "podia ser muitíssimo pior". Podia mesmo ???"
Bem podem o ministro da saúde, Paulo Macedo, chamar tolices aos estudos sobre a saúde em Portugal recentemente divulgados pelo INE, e Passos Coelho dizer que as estatísticas publicadas pelo mesmo instituto têm que ser justificadas, apenas porque os números não lhes agradam, que a realidade não se altera. Caiem no costumeiro ridículo de quererem que a realidade não seja a que pretendem.
A bola da tolice está do lado deles por julgarem que os portugueses são tolos. Foram-no sim, quando, levados ao engano, votaram numa gente sem escrúpulos sociais que se esconderam sobe a capa da “troika” para fazer mais do que o memorado previa.
Muitos dos que por aí peroram nos órgãos de comunicação social tentam salvaguardar a imagem de Paulo Macedo, louvando a sua competência e relevando o facto de ter feito um bom trabalho em governos anteriores ao reorganizar as finanças enquanto Diretor Geral dos Impostos entre 2004 e 2007. É a prova do ditado popular “cria fama e deita-te a dormir”.
Cá para mim nada de confusões. Paulo Macedo, com a sua voz calma, tenta convencer os “tolos” dos portugueses que o escutam, (julga ele que o são), lançando para o ar ideias falsas sobre melhoria, reorganização e eficiência do Serviço Nacional de Saúde (SNS) e dos hospitais. Para ele há mais camas nos hospitais, há consultas mas rápidas, há mais intervenções cirúrgicas, há mais de tudo…
Claro que Paulo Macedo e quem como ele fala não tem necessidade de recorrer ao Serviço Nacional de Saúde porque têm as suas medicinas privadas. Mas, mesmo que tivessem que recorrer a um hospital público de urgência, porque são figuras públicas teriam de imediato prioridade mesmo que tivessem que parar tudo o que houvesse em mãos.
Aqueles mesmos senhores quando se referem ao SNS falam como se alguma vez o tivessem utilizado. Seria bom que fizessem uma apreciação nos locais sem avisos e preparações prévias. O que vemos nas televisões sobre visitas do ministro ou dos secretários de estado a hospitais e centros clínicos não são mais do que fachada. Todos sabemos como isso funciona em termos de propaganda. O gabinete do senhor ministro ou do secretário de estado, ou seja lá de quem for, quando toma uma decisão dessas, o departamento de comunicação do ministério previne antecipadamente essa ou essas instituições ou unidades hospitalares da respetiva visita. O que acontece depois já é conhecido. É preparada uma encenação de pessoas e de ambientes, do género teatro para ministro ou secretário de estado ver e para televisões captarem imagens. Mas a realidade com que os utentes se confrontam diariamente é bem diferente.
A qualidade da assistência pública de saúde recuou cerca de vinte anos senão mais. A finalidade está bem clara, isto é, degradar o SNS para que utentes que, apesar de pagarem impostos elevados, mas não pertençam a outros subsistemas de saúde e não possam ter seguros de saúde, fiquem sujeitos a um serviço público de saúde sem condições que se vai progressivamente degradando, obrigando-os a pagamentos em serviços privados por vezes incomportáveis. A organização do SNS está a ser feita de forma a possibilitar a transferência de verbas do setor público para o setor privado da saúde.
O que está subjacente é que no acesso aos serviços de saúde haja um serviço público de saúde de primeira, para os que podem pagar, e outro, de segunda, com serviços públicos de saúde sem condições, a ser utilizados pelos mais carenciados e pelo grupo que referi anteriormente.
É bom recordar que o ministro Paulo Macedo entre 2003 e 2004, integrou a Comissão Diretiva da Seguros e Pensões e que entre 2001 e 2004 foi administrador da Médis, Companhia Portuguesa de Seguros de Saúde. Para bom entendedor meia palavra basta.
Durante a anterior campanha eleitoral para as legislativas de 2010 quando o então primeiro-ministro José Sócrates disputava as eleições com Passos Coelho alertava para o facto ao dizer que estava em curso a criação de “dois sistemas de saúde, um para pobres e outro para ricos”. A confirmação tem estado à vista.
Eu sei do que estou a falar.
Durante o fim de semana da Páscoa foi um alívio não ter que apanhar sistematicamente com o primeiro-ministro Passos Coelho a entrar em casa pela porta dos canais televisivos de informação dos noticiários dos canais generalistas. Se entrou foi discretamente porque não o vi e ainda bem.
Não tenho nada contra os canais de televisão que têm o dever de informar o que anda por aí a fazer o primeiro-ministro. Aliás ele vai fazendo todos os possíveis por aparecer na sua campanha eleitoral, digo, pré-eleitoral.
Passos, durante as suas digressões pelo país, vai parando aqui e ali para umas inauguraçõezitas e uma ou outra reunião com estes, ou com aqueles. Faz-me lembrar um mestre-escola, antiquado professor do ensino primário com as suas preleções dum magister dixit, do tipo que não admite discussão. Enfim, talvez consiga uns votitos a mais que lhe deem jeito.
Até a história de Portugal lhe serve para o efeito. Depois de ter eliminado o feriado do primeiro de dezembro, comemoração da restauração da independência e da nossa soberania em 1640 que nos manteve, durante quarenta anos, sob domínio espanhol, o primeiro-ministro Passos Coelho, numa intervenção na localidade de Fronteira, piscando o olho ao voto das forças armadas, recordou a Batalha de Atoleiros em 1384 em que o exército português, comandado por Nuno Ávares Pereira, venceu as forças castelhanas. Se isto não é para rir o que será então?
Fala sobre tudo e vende a "sua banha da cobra", panaceia para todas as graves maleitas que atormentam o país. Tece elogios ao melhor dos mundos possíveis que é Portugal que ele ajudou a destruir, mas diz ter criado e melhorado, ao fim de quatro anos com uma maioria atabalhoada que governa por navegação à vista, fazendo tudo em cima dos joelhos das sumidades políticas, sem quaisquer avaliações de impactos. Sai mal? Tudo bem. Depois corrige-se. Esquecem-se que governam para as PESSOAS.
Passos Coelho defende até à saciedade elementos do seu governo com responsabilidades políticas que têm cometido erros graves que, em qualquer outro país não do terciro mundo, causariam demissões. Por cá, demitem-se ou obriga-se secretamente a demitir quem não tem responsabilidades políticas e, no limite, coloca-se-lhe uma ação em tribunal ou um processo disciplinar. Para cúmulo da hipocrisia fingem ter determinados princípios, ideias, opiniões ou sentimentos mas passam a seguir diligentemente a regra da omissão da responsabilidade política que eles próprios criaram.
Mas não ficamos por aqui. Começaram a lançar mais uma regra: colocar em causa a credibilidade das estatísticas do INE -Instituto Nacional de Estatística quando não lhes agradam os valores divulgados.
Quem iniciou esse estigma foi o próprio Pedro Passos Coelho confrontado pela oposição com os números de desemprego. Ele e um dos seus acólitos deputado, em pleno Parlamento, levantaram dúvidas sobre a divulgada revisão em alta da taxa de desemprego. O tal deputado chegou mesmo a dizer que "é preciso que o INE explique de forma muito clara como é que chega aos resultados e por que é que as estimativas para a taxa de desemprego têm variações tão significativas.". O que entretanto já foi mais do que esclarecido. O desemprego está mesmo a subir.
Mas há mais. Na passada terça-feira foi a vez do ministro da saúde, Paulo Macedo, colocar em causa um estudo do INE publicado no Dia Mundial da Saúde publicado na passada segunda-feira, aponta entre outras situações, para a diminuição do número de camas de internamento nos hospitais públicos e o aumento do crescimento dos hospitais privados. Paulo Macedo reagiu considerando que é uma "tolice" a comparação. Basta lermos o estudo para questionarmos qual será a competência de Macedo em análise e tratamento de dados estatísticos para criticar a credibilidade do INE. Ele e o seu primeiro estão em consonância. Não lhe agradam os números? Temos pena!
Em caso de doença quem nos vale se o próprio Serviço Nacional de Saúde foi atacado por um vírus que lhe provocou uma doença física e moral que o conduzirá, certamente, à morte. Vejam-se as notícias que têm vindo a público pelos órgãos de comunicação social sobre os hospitais e as urgências.
O Ministro da Saúde e em alternância o seu Secretário de Estado Adjunto da Saúde, Fernando Leal da Costa, têm vindo às televisões, com o seu bla…, bla…, costumeiro, acalmar as gentes ansiosas sobre o que se passa nos hospitais onde, em vez de se procurar a cura passaram a ser locais de expectativas negativas sobre o que lhes poderá acontecer se o pior não for a morte.
Por mais confiança que queiram transmitir à população quem passa pelas urgências dos hospitais ou por uma hospitalização por questões de saúde não trará com certeza boas notícias e poderá nem sair curado da doença, antes pelo contrário, poderá vir até a morrer da cura, coisa que, a acontecer, nunca será provado.
Dizem então os responsáveis máximos pela saúde em Portugal, cada um à sua vez, para quem se sentir doente não recorrer às urgências dos hospitais e, acrescentam, a culpa da sobrelotação dos hospitais é dos utentes que, por tudo e por nada, recorrem às urgências hospitalares (dizem-no, é claro, por outras palavas). Como se as pessoas gostassem de andar por esses hospitais a passar tempo sem necessidade disso. Ficavam em casa e pronto! Ou, então, automedicavam-se com mezinhas e sempre poupavam uns dinheiritos ao Estado para o qual contribuem com os impostos, conduzindo ao agravamento do seu problema de saúde.
Face ao facto do que se passa nas urgência e para aliviar a sobrecarga das mesmas aconselham então os doentes a recorrerem ao atendimento nos centros de saúde que, dizem eles, passarão a estar abertos mais tempo.
Ou o ministro Paulo Macedo não sabe do que está a falar, ou o informam mal ou está deliberadamente a fazer de parvos os utentes destes centros. Além do mais é evidente que o senhor ministro não utiliza estes serviços pois tem recursos para ter a sua medicina privada. Gostaríamos de o ver a marcar uma urgência num daqueles centro de saúde levantando-se às cinco da manhã para estar à porta do centro às seis, onde já se encontra uma fila de gente à esperar que o centro abra às oito para, no final, correr o risco de as cinco ou oito consultas de urgência que o médico tem livres, já estejam preenchidas quando chegar a sua vez. Isto no inverno, com chuva e frio e com uma camada de febre em cima.
Se o senhor ministro e o seu secretário de estado adjunto tivessem que recorrer a estes serviços talvez pusessem em primeiro lugar as pessoas à frente das deias do seu partido e do Governo de que fazem parte.
Um ministro e um secretário de estado politicamente honestos que gerissem serviços como os da saúde, de importância vital para as populações, que não tivessem condições para o exercício das suas funções que colocassem acima dos interesses pessoais, partidários e de governo demitiam-se. Portanto, não venham alguns comentadores falar da competência do ministro da saúde lançando as culpas para outro ministério que lhes impõe essas medidas. Quando não se têm condições para exercer com competência uma função pública essencial para as pessoas não se exerce.
Na saúde (e também noutro serviço públicos) os interesses políticos e partidários, seja lá outros que forem, não podem sobrepor-se aos interesses das pessoas, salvo risco de se cair no ridículo ao dizer-se, como já o foi, embora noutro contexto que o Serviço Nacional de Saúde está melhor, as pessoas é que estão pior.
Imagens de: www.humortadela.com.br
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