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Iniciativa Liberal e Aladino.png

A disparatada afirmação do deputado do IL, João Cotrim de Figueiredo, não merecia sequer tantas linhas e espaço no jornal, nem o trabalho da jornalista, nem, tão pouco, os “posts” nos comentários.

Ler alguns comentários sobre artigos de opinião nos jornais online, salvo raríssimas exceções, é o mesmo que ler colunas escritas em jornais humorísticos. Ler esses comentários é, por vezes, um passatempo. Exemplos do jornal Público, é o que hoje apresento, sabendo-se de antemão que também poderiam ser de outros jornais.

Antes de avançar com esse caso concreto devo informar que podem também incluir nesse rol o presente texto. Sobre ele haverá, com certeza, alguns leitores, ou melhor, muitos, que também o acharão digno de gozo e que o considerem um chorrilho de disparates. Se assim for ainda bem, é porque foi lido.

A democracia é assim mesmo porque dá lugar a poder haver várias opiniões, contrastantes, idiotas, disparatadas, sem nexo, imbuídas de fação, recalcitrantes, ocas, sectárias, incompreensíveis, desajustadas, reativas, reacionárias, de propensão totalitarista, racista, etc., etc. e a maior parte delas são provocadas por emoções à flor da pele. Algumas são manipulações intencionais impulsionadas por facciosismo. Outras há que tentam mostrar erudição na matéria lançam-se em explicações e apontam formas de se fazer, algumas sem fundamento e exequibilidade prática para o caso em questão.

Sim, podem incluir também este mesmo texto numa dessas categorias.

Caberá a cada um a seleção e a avaliação. Mas a prática da Internet que muitos creem ser o paraíso da liberdade de expressão, sofre de fragilidade democrática identificada através de muitos dos conteúdos publicados que propagam informação falsa e intencionalmente deturpada, incitam à violência e fomentam a radicalização cujos publicadores consideram ser a liberdade de expressão, porque, para esses, a é a oportunidade de se fazerem ouvir e a ter acesso a todos os conteúdos, incluindo os falsos. Para alguns a sua verdade é a única, é a verdade e a razão absolutas.  

Continuando. Vem tudo isto propósito das mentecaptas palavras pronunciadas na intervenção no Parlamento por esse estreante e debutante deputado do Partido Iniciativa Liberal (será PIL ou apenas IL?) ao dizer que “O PS sabe que mantendo um país amorfo e resignado tem um grupo de pobres, desesperados e dependentes do Estado que lhe irão dar o voto. A pobreza de muitos é o que segura o PS ao poder.” E de seguida que o PS só “existe para estar no poder, nunca irá resolver o problema da pobreza”, pois são os pobres que permitem ao PS “manter-se lá”.

Antes de mais gostaríamos de saber qual é para o deputado e para o IL o conceito de pobre e qual a demonstração da afirmação que fez. Para um raciocínio ser correto as premissas devem ser verdadeiras e devem ser primeiras, ou seja, não têm necessidade de serem demonstradas, é o silogismo científico.

O conceito de pobre reduz-de, para o senhor deputado, apenas aos que ele diz votam no PS?

Se formos pela lógica e fazendo humor poderemos construir silogismos deste tipo:

Eu votei no PS, 

Segundo o IL os que votaram no PS são pobres e desesperados,

Logo eu sou pobre e desesperado.

Mais um:

A pobreza de muitos segura o PS ao poder,

Eu sou pobre,

Logo seguro o PS ao poder.

 

Senhor deputado do PIL, por favor, não goze com o povo!

Ora, dizendo-se o IL liberal a cem por cento, e diz apoiar a meritocracia e o acesso de todos ao empreendedorismo e supostamente à riqueza acessível a todos pela redução do peso do Estado, dos impostos, etc.., estamos a ver que, quando e se o PIL for governo, os pobres, os votantes no PS passarão a ser ricos, deixarão de ser desesperados e passarão a ser votantes no PIL.

Quem ler o programa do IL, pleno de demagogia, pode encontrar um conjunto de intenções e desejos. Tal como no conto de Aladino e a Lâmpada Mágica das “Mil e uma Noites” que, ao esfregar a lâmpada, são satisfeitos assim também o PIL (Partido Iniciativa Liberal) fará tudo acontecer. Isto é, tudo quanto lá se escreve vai no sentido de reduzir ou até eliminar a pobreza e dar a possibilidade a todos sermos todos ricos através da iniciativa e da meritocracia. O que não diz é como tencionam acabar com os pobres que, segundo eles, votam todos no PS.

É sobre este último ponto que a conceituada e experiente jornalista do jornal Público Bárbara Reis escreveu um artigo de opinião sobre as afirmações antes citadas de João Cotrim de Figueiredo, líder e único parlamentar do PIL que podem ler aqui. Na minha opinião a disparatada afirmação do dito deputado, não merecia sequer tantas linhas e espaço do jornal nem o trabalho da jornalista.

Foram escritos vários comentários críticos ao artigo de opinião de Bárbara Reis, poucos elogiando, outros atacando. Para quem tiver tempo e paciência para ler transcrevo-os a seguir na íntegra, sem qualquer alteração, mesmo a ortográfica, apenas os nomes dos que os publicaram foram omitidos.

  • 11.2019 00:53

As contas que foram feitas no final são completamente ridiculas e com o objectivo de atirar areia para os olhos dos leitores. O que interessaria saber seria como cada categoria profissional vota (e isto assumindo assim de repente que há categorias profissionais com mais pobres vs ricos). Interessava sim saber da categoria do operariado qual a percentagem que votou PS vs a percentagem que votou PS na categoria de empresários. Nem sequer sabemos a percentagem global de cada categoria no total da população, como podemos sequer fazer as contas de que percentagem votou no partido..enfim..isto é só para enganar quem quer ser enganado..

  • 11.2019 04:21

Não defendendo em circunstância nenhuma a retórica da IL, devo dizer que o que também não cola é a forma falaciosa como a autora tenta desmontar este discurso. Se o deputado da IL falou em "pobres" a autora não pode decidir comparar este termo com o esquema de classes de Daniel Oesch que não se refere a pobres, nem ricos, mas a categorias profissionais. Sabia que um arquitecto, professor, enfermeiro, e tantas outras profissões incluídas tradicionalmente no universo dos "não-pobres" chega a ganhar menos à hora que uma empregada doméstica ou um operário? Posto isto é lamentável que a autora tenha falhado redondamente a linha de raciocínio, sem confrontar quaisquer factos pertinentes, contribuindo apenas para mais desinformação.

  • 11.2019 21:17

Tanto trabalho a ler relatórios para fugir a uma evidência. Basta ver como e a quem são distribuídas as benesses em épocas eleitorais para saber onde estão os votantes que pesa

  • 11.2019 21:13

Tanto trabalho a ler relatórios para fugir a uma evidência. Basta ver como e onde são distribuídas as benesses em épocas eleitorais para ver que votos têm peso nos resultados eleitorais

  • 11.2019 19:34

Provavelmente o que Cotrim quis dizer a Costa foi semelhante ao que Palme disse a Otelo, quando este lhe disse que o 25 abril tinha sido feito para acabar com os ricos. Olof Palme respondeu que na Suécia estavam mais preocupados em acabar com a pobreza e os pobres. Se Costa fosse o alvo da pergunta de Palme, provavelmente responderia que Portugal cresce acima da média europeia. Ao que o culto e desconfiado Palme, depois de consultar uns números, perguntaria talvez porque razão o nosso país cai nos últimos 4 anos no rendimento per capita, descendo uma posição todos os anos e estando já em antepenúltimo lugar... não sei que resposta daria Costa/Otelo a Cotrim/Palme... A chatice são os números :-/

  • 11.2019 20:39

parece-me sensato iniciar-mos uma sessão conjunta de telepatia para apurarmos com precisão o que vai na tola sizuda do Cotrim....hemmm!??

  • 11.2019 19:34

Provavelmente o que Cotrim quis dizer a Costa foi semelhante ao que Palme disse a Otelo, quando este lhe disse que o 25 abril tinha sido feito para acabar com os ricos. Olof Palme respondeu que na Suécia estavam mais preocupados em acabar com a pobreza e os pobres. Se Costa fosse o alvo da pergunta de Palme, provavelmente responderia que Portugal cresce acima da média europeia. Ao que o culto e desconfiado Palme, depois de consultar uns números, perguntaria talvez porque razão o nosso país cai nos últimos 4 anos no rendimento per capita, descendo uma posição todos os anos e estando já em antepenúltimo lugar... não sei que resposta daria Costa/Otelo a Cotrim/Palme... A chatice são os números :-/

  • 11.2019 18:47

Senhora jornalista Bárbara Reis, como se atreve a escrever dois artigos a malhar no IL! Muito grato lhe ficaria, a auscultação dos tais cientistas, relativamente à caracterização dos pobres deste país. Pense nisto: temos pobres em Portugal, que só o são, porque vivem neste país socialista. É inadmissível que uma pessoa que trabalha oito e mais horas diárias, viva pobremente.

  • 11.2019 17:06

Esses Pobres são Incultos se soubessem Votar levavam o Cartão Vermelho

  • 11.2019 20:09

são os chamados pobres de espirito. desde que elegeram o illuminati Socrates que acredito no infindável bom senso do povo. outros portentos tb foram escolhidos, como Cavaco. mas é o povo quem mais ordena...isto é...45 % do povo porque os restantes 55% gostam tanto do actual sistema q nem sequer votam.

  • 11.2019 16:26

O Sr Figueiredo prestou homenagem à imbecilidade. Não é coisa pouca.

  • 11.2019 16:14

...o populismo combate-se com factos e argumentos sustentados neles...BR, como sempre muito lúcida, é um gosto lê-la.

  • 11.2019 16:10

Muito bem, Bárbara. Apenas gostaria que o sr. João Cotrim, nos falasse do milagre liberal no Chile, como exemplo de criação de uma sociedade sem pobres.

  • 11.2019 20:31

a Michele Bachelet é uma perigosa neo-liberal. é tão nice saltar uma geração ou duas.

  • 11.2019 20:56

O Chile foi transformado num "paraíso" neoliberal durante a ditadura de Pinochet. Foi tudo privatizado: educação, saúde, segurança social, tendo os trabalhadores perdido ficado sem quaisquer proteções laborais. Michele Bachelet não mudou nada. Foi totalmente conivente com o sistema instalado. Os chilenos estão fartos do seu "paraíso".

  • 11.2019 21:17

olhe que não, olhe que não!! quando o preço de cobre aumentou nos por volta de 2008, Michellet investiu os fundos dai resultantes de forma muito sensata: primeiro, criou um fundo almofada que permitiu ao Chile escapar á crise financeira global de 2008 e, além disso, investiu fortemente em pensões para os idosos, programas de assistencia social e um pacote de medidas para estimular o crescimento econóomico. ela reduziu o desemprego e a pobreza e melhorou dramaticamente a educação infantil. é por estas e outras razões que foi fenomenalmente popular... não diga mentiras. vários esquerdistas europeus elogiaram-na.

  • 11.2019 15:54

Vê-se que a Iniciativa Liberal já incomoda o PSV (Pinho, Sócrates e Vara) bem como a CS que os apoia, patrocina e catapulta.

  • 11.2019 15:49

Tenho a dizer que foi graças a alguns artigos da Bárbara Reis que votei IL. De facto, pode -se escolher algo com dois raciocínios: “se uma pessoa daquelas gosta , deve ser bom”. Ou: “se uma pessoa daquelas detesta, deve ser bom”. Percebida a minha situação, imagino que esta sua persistência já tenha arregimentando mais uns quantos potenciais votantes. Continue o bom trabalho.

  • 11.2019 15:38

De facto o PS não é o partido dos pobres, é o partido dos penduras. Pendura, em ciência politica, é aquele que, pobre ou rico, viva à custa dos outros.

  • 11.2019 17:28 Para a mentira ser segura ... tem que ter qualquer coisa de verdade

Nem mais.

  • 11.2019 15:22

Pobres? O socialismo nao acabou com a pobreza em Portugal? Ou quer é acabar com a riqueza?

  • 11.2019 14:56

Na politica não interessa a verdade mas sim o que se diz e o momento.O novel deputado da IL já aprendeu, depressa, a cartilha. O importante é dizer qualquer coisa para as TVs...

  • 11.2019 13:59

O PS não é o partido dos pobres, de facto. É principalmente o partido dos funcionários públicos e daqueles (em número muito maior) cujos rendimentos vêm directa ou indirectamente do Estado. Isto é um problema para a democracia, porque o PS é dominante na máquina do Estado, que deve supostamente ser imparcial. Quando o PS consegue dominar também a banca e a imprensa, como nos anos Sócrates, adquire um poder sinistro e praticamente sem controlo. [Escrevi este comentário há quatro horas, seria o segundo do dia por acaso, mas ainda não apareceu aqui, embora apareça no meu perfil. Um mistério.]

  • 11.2019 14:55

Fake News

  • 11.2019 12:27

Obrigada senhora jornalista por repor a verdade. Uns apresentam factos, outros frases bombásticas que no incêndio que agora se vive nos média e redes sociais até colam. Aliás a Iniciativa Lacoste deve grande parte da sua votação a esse tipo de frases feitas e em cartazes de puro marketing.

  • 11.2019 14:11

Aplaudo o escrutínio mas receio detentores da verdade.

  • 11.2019 11:31

Tenho um amigo que baralha qualquer análise sobre a propensão do voto. É Monárquico e leva um modo de vida aristocrático, veste-se a rigor para as refeições servidas em baixela de porcelana e copos de cristal por uma empregada e depois vota no Partido Comunista. Também conheço alguns pobres, Investigadores com grande capital social porque são Doutorados e estão no desemprego ou na precariedade e esses não votaram PS.

  • 11.2019 13:21

Não há ciência do particular...

  • 11.2019 11:15

Pessoalmente, acho que os pobres em Portugal não existem como suporte de qualquer dos partidos que têm estado no governo (PS e PSD). São, antes, uma consequência natural do tipo de governação imposta a esses governos por força da adesão à UE. Quando se sabe que a economia é mantida praticamente em "crescimento zero" propositadamente, com todas as consequências que daí derivam, então a pobreza em Portugal é um claro efeito secundário das políticas implementadas. Agora, se esse efeito secundário (pobreza) é aproveitado para beneficiar alguém, julgo que esse alguém poderia ser mais facilmente um qualquer partido de esquerda, mais defensor dos pobres.

  • 11.2019 11:08

Obrigado Barbara Reis, eu como votante na IL, venho agradecer-lhe a escalpelização - em sentido positivo - que em dois artigos dedicou á IL. A minha opção de voto na IL, identifica-se com os principios da valorização competitiva - quem organiza e controla eficientemente a sua actividade economica, perspetivando o lucro (não conheço empresas privadas que sobrevivam com prejuízos), adoptando uma politica de valorização dos seus colaboradores e remunerando em função da riqueza criada, pois hoje só sobrevivem empresas que tenham estes principios. Foi este tipo de exigencia que encontro no discurso da IL, o seu programa não sendo um primor nas referencias á organização da sociedade, tem bons principios e concerteza será melhorado pois reonheço-lhes capacidades para corrigir o que promova injust

  • 11.2019 15:20

Não conhece empresas privadas que sobrevivam com prejuízos?!... Ah, ah, ah! Boa piada! Basta olhar para as empresas que controlam os meios de comunicação social. E sabe, não sabe, porque não fecham mesmo a acumular prejuízos?... E também deve saber que a situação estaria ainda pior se não houvesse umas "empresas amigas" que lhes compram publicidade inútil. Tanta "ingenuidade"...

  • 11.2019 10:50

Não cola? Vamos então ao que este jornal publicou em 7 Outubro 2019: "Quem vota em quem? Breve análise ao perfil dos concelhos onde os partidos se destacam" 1. PS mais forte nos concelhos com menor poder de compra Os concelhos onde o PS obteve resultados mais altos registam um poder de compra inferior à média nacional, com um ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem de 950 euros (inferior ao valor médio registado no país, de 1108,56 euros). Têm também mais trabalhadores da administração local do que a média (por cada 1000 habitantes há 13,21 funcionários das câmaras ou juntas de freguesia, enquanto a média nacional é de 11,62 funcionários por cada 1000 habitantes). E ainda um número mais elevado de escolas, embora a escolaridade esteja abaixo da média." A realidade é esta

  • 11.2019 14:18

Mas hoje estava com vontade de mandar palminhas ao PS

  • 11.2019 10:46

E o argumento de que o Bloco central se alimenta da máquina do estado ?? Acho que isso já cola melhor !!

  • 11.2019 10:45

Então somos um país de eleitores filantropos! Obrigado pela revelação

  • 11.2019 10:39

O enviesamento do artigo demonstra-se na falaciosa pretensa aposta nos ricos para haver mais pobres quando a ideia é transformar os pobres em ricos, como dizia Lucas Pires e como demonstram os factos nos países que os emigrantes económicos pobres preferem como destino, sinal inequívoco do que realmente cola. Talvez estes últimos, pelo muito que sofreram nas suas controladas terras de origem, sejam mais listos a compreender os mecanismos da perpetuação da pobreza (dependência do estado e não do indivíduo) do que muitos jornalistas e investigadores.

  • 11.2019 10:22

Sendo benevolente, os "iluminados" da Iniciativa Liberal vivem num mundo completamente imaginado por eles, uma espécie de bolha de gente que nunca teve algum contacto de facto com a realidade em toda a sua extensão. Sendo mais realista, os "iluminados" da Iniciativa Liberal sabem que mantendo o país extremamente desigual, cultivando uma pequena minoria de bolsos cheios, enquanto o resto chafurda na miséria, irão ter o apoio dessa minoria. E aqui apoio não siginifica apenas votos, mas antes de mais lum lugar na teia de relações onde essa minoria se apoia.

  • 11.2019 09:46

Muito bem. Excelente trabalho jornalístico num espaço de opinião, que mostra que é possível sustentar opiniões com factos, sem achismos, “parece que” e pré-conceitos. Receio é que com a qualidade dos novos partidos que entraram no parlamento o Publico tenha de contratar uma equipa só para verificar as tolices que dali virão...

01.11.2019 10:50

  1. PS mais forte nos concelhos com menor poder de compra Os concelhos onde o PS obteve resultados mais altos registam um poder de compra inferior à média nacional, com um ganho médio mensal dos trabalhadores por conta de outrem de 950 euros (inferior ao valor médio registado no país, de 1108,56 euros). Têm também mais trabalhadores da administração local do que a média (por cada 1000 habitantes há 13,21 funcionários das câmaras ou juntas de freguesia, enquanto a média nacional é de 11,62 funcionários por cada 1000 habitantes). E ainda um número mais elevado de escolas, embora a escolaridade esteja abaixo da média. Jornal Público, 7 Outubro 2019

 

  • 11.2019 09:28

Excelente, Barbara. O jornalismo faz-se com fontes e conteúdos.

 

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publicado às 19:05

O aquecimento global não é só climatérico é também político

A necessidade de protagonismo é uma praga que, cada vez mais, atinge e se estende a vários grupos so

por Manuel_AR, em 05.11.19

Aquecimento político.png

A necessidade de protagonismo é uma praga que, cada vez mais, atinge e se estende a vários grupos sociais e a pessoas da política e fora dela. Utilizam todos os meios convencionais que têm ao dispor para alcançar esse objetivo e, falhado esses, são as redes sociais o seu meio preferencial.

A política não tem sido parca a esse fenómeno, nomeadamente os populistas de extrema-direita e também, em menor escala, a extrema-esquerda, cada um à sua maneira, que têm começado a ter cada vez mais protagonismo. Será este um dos males trazido pela exigência com que os mentores da mais e melhor democracia nos têm invadido como se a que temos já não chegasse? Os resultados, mascarados com a mais democracia, começam a ser visíveis na Europa e no resto do mundo.

 A temperatura das manifestações sociais espontâneas ou manipuladas por vários grupos extremistas tem subido em vários locais do mundo prevendo-se temperaturas muito mais extremas provindas de fenómenos políticos atípicos.

Justificadas por várias causas, quer remotas, quer próximas, com diferentes virulências e motivações específicas, estão a verificar-se conturbações e crispações sociais em várias nações. No Líbano, no Iraque, em Hong Kong, em Paris, Londres Barcelona entre outras. A estas vieram acrescentar-se recentemente e agora com mais vigor as lutas em prol do ambiente.

Todos parecem estar empenhados, negros, brancos, várias etnias e religiões, árabes, asiáticos, homens, mulheres ou crianças. Nesses países as palavras de ordem são semelhantes. Seja em castelhano, inglês, árabe ou qualquer outra língua, é surpreendente a semelhança dos cartazes e das palavras de ordem.

Nenhum dos protestos pode ser reduzido a uma só questão nomeadamente a económica. Muitos dos protestos desencadeados por indivíduos ou grupos que se distinguem pela violência e pelo alimentar do medo nas populações a forma de serem ouvidos e colocados nas primeiras páginas do jornais e aberturas da informação televisiva. E os noticiários televisivos dão-lhes cobertura e relevância porque o medo e a violência compram audiências.

As consequências destes movimentos inorgânicos ou organizados, alguns pouco democráticos demonstrado pelas suas atuações violentas, são a satisfação das exigências e a cedências às suas reivindicações feitas pelos governos. Mas, mesmo com a satisfação das exigências esses movimentos continuam com os protestos.

O que aparentemente desencadeia as manifestações com consequente violência desenfreada nas ruas é normalmente a pretexto de alguma coisa de concreto, como por exemplo a lei da extradição num território (p.e. Hong Kong), o aumento de preços dos combustíveis num lado, o custo de vida no outro, as prisões ditas políticas aqui, as desigualdades ali. São algo de concreto, mas são motivos que apenas servem para disfarçar outras realidades ainda ocultas, disseminadas, mas em estado mais do que embrionário prontas a emergir em qualquer momento. Os geradores destes embriões, os que os alimentam, não se conhecem exatamente quem são, mas andam por aí dispersos.

Todas estas manifestações já são mais do que isso, são insurreições, são o caldo de cultura virulenta que pode conduzir aos populismos e totalitarismos, soluções que muitos acham que poderão resolver o objeto do descontentamento.      

Coincidência, ou não, o crescendo da turbulência que já tinha sido semeada agravou-se com a política de desorientação, desvario e confusão resultante da eleição de Donald Trump nos EUA.

 A direita, e sobretudo a extrema-direita, mais do que a esquerda, têm nas redes sociais uma rede de gente cuja missão é a desinformação, a difusão de propaganda e notícias falsas de forma a descredibilizarem, as instituições democráticas e os políticos. Utilizam as liberdades democráticas para promover a erosão da confiança nas autoridades, encorajar a militância que nutra a raiva contra o sistema político através de publicações sobre assuntos como a raça, imigração, género, convocações de manifestações inorgânicas, etc. São uma espécie de departamentos idênticos aos que engendravam desinformação e conspirações no tempo do estalinismo soviético e do nazismo, mas que utilizam agora as redes sociais e a Internet como veículos de difusão. 

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publicado às 19:17

Os voláteis

por Manuel_AR, em 05.10.19

Eleitores voláteis.png

Não são apenas os indecisos que podem determinar uma campanha eleitoral. A volatilidade é outro fenómeno eleitoral que se deve ter em conta para se ganharem eleições. Mas quem são os eleitores que se encontram nesta margem?

O fenómeno da volatilidade acontece quando um indivíduo muda de opinião entre duas eleições denominada volatilidade inter-eleitoral, ou ainda, quando parte dos eleitor oscilam as suas preferências ao longo duma campanha eleitoral, também denominados flutuantes.

O ponto de vista psicossociológico assenta a volatilidade nos indivíduos com baixo nível de educação, com apatia, falta de identificação partidária e ideológica como determinantes. Há, contudo, uma outra perspetivas que identifica a instabilidade eleitoral pelo acesso esses eleitores têm no que se refere ao acesso a mais recursos informativos que incentivam a flutuação, tendo assim uma maior sofisticação política e apresentando um nível de conhecimento superior ao eleitor médio.  

Há estudos que apontam para que os eleitores voláteis apresentam um nível de educação mais elevado e pertencem a faixas etárias mais novas e demonstram uma maior instabilidade nos alinhamentos de preferências político-partidárias.

Outra perspetiva que pode estar associada à volatilidade relaciona-se com o papel dos meios de comunicação. Sobre esta questão há pontos de vista contraditórios. Verificou-se que os eleitores voláteis situavam-se num nível baixo de exposição aos meios de comunicação, mas noutros casos justificaram estas conclusões pelo facto de os meios tradicionais se focarem sobre questões conjunturais associadas a fatores de curto prazo, como os temas da campanha à transitoriedades, como escândalos, ou sondagens. Também foi verificado noutros estudo que a quantidade dos meios de comunicação utilizados durante as campanhas não tem efeito sobre a volatilidade dos eleitores.

Os eleitores flutuantes dependem mais do nível de conhecimento do que das características sociodemográficas ou de interesse pela política. A avaliação do desempenho do governo reflete uma componente conjuntural e de protesto que leva os eleitores a mudar o sentido do voto entre eleições sucessivas. Isto é, quanto mais positiva é a avaliação do desempenho do governo, maior a tendência para manter o sentido de voto, e reciprocamente.

Os que decidem na proximidade do dia das eleições são também os mais propensos a oscilar nas suas escolhas eleitorais. Ao nível das atitudes os voláteis estão associados com uma identificação partidária mais fraca e um menor interesse pela política.

As escolhas eleitorais baseiam-se num processo cognitivo que parte das predisposições políticas, as quais são atualizadas com novas informações que emergem durante a campanha eleitoral ou durante a legislatura.

O chamado efeito líder não é de somenos importante na escolha para a decisão de votar. É frequente a imagem dos líderes ter uma grande visibilidade e ter espaço privilegiado na opinião pública e nos media durante as campanhas eleitorais e no período inter-eleitoral.

O marketing político tem feito por evidenciar a importância da “personalização” da política dos candidatos para avaliação pelos eleitores que passaram a ser considerados como consumidores de imagem. Ainda há quem vote pela imagem dos candidatos e não pela eficácia governativa durante os mandatos.

A individualização, ou melhor, a fulanização da política e o aumento da mediatização sobre ela pode levar a que o efeito líder possa ser um fator conjuntural importante isto porque os líderes representam a face humana dos partidos. Não é por acaso que as características pessoais são informações fáceis de recolher e de utilizar pelos órgãos de comunicação para construir ou destruir avaliações positivas ou negativas sobre posições dos candidatos e dos partidos em função das preferências e orientações ideológicas daqueles órgãos.

 

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publicado às 18:56

A União Europeia pode estar em perigo - I

por Manuel_AR, em 16.04.19

Extrema direita_lideres.png

O que se passa na Europa: o regresso às ameaças do passado?

Falta aproximadamente mês e meio para as eleições europeias e, segundo as sondagens, parece haver na U.E. uma tendência de subida de partidos extremistas de direita, populistas e nacionalistas.

Segundo um estudo que analisou quase 48 milhões de mensagens publicadas entre 15 de dezembro de 2018 e 20 de janeiro de 2019, realizado pela Alto Analytics, Big Data and Artificial Intelligence os partidos mais mencionados na Europa em debates públicos online são os eurocéticos, nacionalistas, extremistas de direita e anti-imigração.

Antes de continuar convém clarificar o que, baseado em vários investigadores, se entende por populismo no contexto deste artigo. Populismo pode ser encarado sob três conceitos principais: como ideologia, como um estilo de discurso e de narrativa e como uma forma de mobilização e estratégia política. Como ideologia é um conjunto de ideias inter-relacionadas sobre a natureza da política e da sociedade. Como estilo e característica de discurso e de narrativa tende a ser uma forma de fazer afirmações sobre política para captar através do sentimento e emoção a atenção do público a que se dirige. Como forma de mobilização e estratégia política uma forma de mobilização e organização.

Todos eles, sendo enquadrados em vários contextos sociais e políticos o discurso e as narrativas têm características populares de significado “altamente emocional e simplista” e dirigido aos "sentimentos viscerais" das populações. Guiam-se por uma política oportunista com o objetivo de, rapidamente, agradar às pessoas, potenciais eleitores. Assim, podemos considerar o populismo ainda como uma ideologia que considera a sociedade separada em dois grupos homogéneos e antagónicos, "o povo puro" versus "a elite política corrupta”.

Extrema direita_Hungria.png

A intensificação e o crescimento dos votos em partidos da extrema-direita populista em vários países da U.E. começam a ser preocupantes e as vozes extremistas que aparecem nas redes sociais são também uma prova disso. Para poderem justificar as alarvidades que pronunciam aquele tipo de partidos utiliza a argumentações de que, nas atuais democracias, não há liberdade de expressão. Quem sempre restringiu a liberdade, tirando a extrema-esquerda que hoje deixou de ter influência significativa, foi a extrema-direita quando esteve ou quando está no poder (censura na imprensa como na Hungria hoje em dia).

Extrema-direita e o mimetismo da democracia

Os partidos da extrema-direita, mal-aceites no passado por outros partidos mesmo os considerados de direita, apresentam-se agora nos parlamentos da maioria dos países da Europa Ocidental e participam no governo em vários deles tendo, portanto, a capacidade para influenciar a formulação de políticas nesses países, nomeadamente no impacto que possam ter nas políticas públicas.

A presença das ideias políticas de extrema-direita deve ser um desafio ético-político fundamental aos que recusam o irracionalismo, os discursos populistas e as práticas racistas, étnicas, xenófobas, sexistas e opressoras apelando a nacionalismos radicais e autoisolacionistas.

No plano político, conservadores, e os politicamente reacionários a tudo o que advenha dum sistema democrático ou até mesmo do centro-direita pertencem em parte ao campo ideológico da direita extrema, resistindo a mudanças estruturais que sejam favoráveis às classes trabalhadoras e que levem a perdas de poder económico e político. No outro lado encontram-se os reformistas, socialistas e comunistas que se têm constituído, cada um por seu lado, em frentes comuns de defesa da democracia política. Cada um reivindica para si a defesa da democracia atacando-se mutuamente de serem causadores da sua perda em favor da extrema-direita, ou reivindicam eventuais vitórias como o que se tem verificado em Portugal onde existe um acordo parlamentar entre partidos de esquerda e de centro-esquerda.

(Continua...)

 

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publicado às 21:36

Esquerda_direita.png

A direita e a esquerda são duas atitudes ideológicas de estar na política e de a praticar quer na forma quer nos procedimentos. No que se refere ao Estado Social, à economia e às finanças a direita e a esquerda posicionam-se em campos diferentes. Entre direita e esquerda a visão sobre alguns destes campos é diferente, noutros são idênticos nos objetivos, mas seguem cada um pelo seu caminho.

Antes de avançar que convém esclarecer a evidência de que, quer na direita, quer na esquerda situam-se espetros diferentes, uns com ideologias mais radicais, outros ainda com vias mais moderadas que muitos incluem no domínio dos centros: centro-esquerda ou centro-direita.

Nunca houve uma única esquerda nem uma única direita, mas várias. Os extremismos de direita e de esquerda são os filhos irreverentes, ou melhor, os filhos rebeldes, os que não são bem aceites em cada uma das duas famílias.

Para os radicais de esquerda o capitalismo é um mau sistema, para a esquerda moderada é uma forma de organização económica compatível com o Estado Social. O socialismo democrático e parlamentar e a “verdadeira” social-democracia aceitam o capitalismo e a democracia parlamentar, mas exigem que os recursos sejam distribuídos com mais equidade olhando também para os setores mais desfavorecidos.

A direita reclama o direito de ter sido a inventora da liberdade no seu sentido restrito da organização económica e afirma a sua incompatibilidade com o Estado Social que se deve situar apenas no assistencial. Certa direita entende por liberdade o direito a enriquecer. Entre a esquerda e a direita há por vezes uma confusão para o conceito de liberdade. Mário Soares defendeu logo após o 25 de abril a democracia e socialismo em liberdade para estabelecer uma linha divisória inultrapassável entre o socialismo democrático e parlamentar e o comunismo do PCP ditado pela ditadura da classe operária e de outras forças da extrema-esquerda e assim continua.

Com o neoliberalismo dos anos oitenta nos EUA com Thatcher e no Reino Unido com Reagan foi institucionalizada a guerra à assistência e, conforme tem sido demonstrado por vários economistas como Stiglitz (O Preço da Desigualdade) e Piketty (O Capital do século XXI), os americanos e os ingleses das classes médias ficaram mais pobres e os ricos ainda mais ricos.

O papel central das esquerdas, (cada uma  por vias diferentes), é o de incluir nos seus programas o papel central a redução das desigualdades sociais. Contudo, durante os últimos quarenta anos, a esquerda democrática foi perdendo a capacidade de criticar a direita, não se percebendo bem porquê, dando-lhe a primazia do controle ideológico.

A direita quando está no poder apenas acredita no mercado e afirma que os pobres apenas existem porque não querem trabalhar. Lembram-se da frase, “se vires um homem com fome não lhe dês um peixe, ensina-o a pescar?”. É o pensamento de alguma direita. Os governantes que exaltam a ganância como valor supremo estão a minar a coesão das sociedades.

No âmbito da direita são cada vez mais os que denunciam o Estado Social argumentando que este serve mais os funcionários nele integrados (os preguiçosos dos funcionários públicos) do que os utentes, e têm como objetivo deixar a cargo da caridade privada tudo o que seja de apoio social para onde, a prazo, alguma classe média seria também lançada.

A esquerda traça o retrato da direita como sectária, preconceituosa, inculta e atrasada movida pela ambição do lucro, insensível e relegando para segundo plano as preocupações o social.  

A direita, por seu lado, faz o retrato da esquerda como sendo clientelar em sentido lato, despesista, inepta a governar, isto é, acha-se única e com competência para governar. Como se a direita não fosse também clientelar.

Para a direita a esquerda é o pior dos mundos porque parasita o Estado para a partir dele distribuir lugares, subsídios à conta dos contribuintes. Ora o que temos visto ao longo dos anos de democracia são os escândalos da direita que, quando descobertos, são abafados, omitidos, esquecidos ou pouco divulgados pela comunicação social.

Para ambas, estes pontos de vista são extremados e ultrapassam o racional situando-se no campo emocional.

Devido aos atentados terroristas a esquerda, nos países com problemas, teve que tomar medidas de controle e vigilâncias devido à ameaça real aos valores da democracia que normalmente são do âmbito da direita e que apelidava de fascizantes.

A direita quando critica a esquerda apaga do seu rol as crises financeiras e económicas que possibilitou e até facilitou. Refiro-me à direita global que fez abalar a confiança no sistema liberal e neoliberal e na sua capacidade de autorregulação dos chamados mercados e falhas de supervisão, não sabemos se voluntárias ou por incompetência. A direita esquece os sucessivos escândalos financeiros que têm provado que, num sistema liberal ou neoliberal, o capitalismo sem controle não tem nada de virtuoso. Nem todos os chamados capitalistas se enquadram no perfil de virtuosidade que muitos ideólogos dizem por aí.

A esquerda democrática, ou socialismo democrático, é favorável à convivência entre o Estado e o mercados/empresas e empresários e é defensor da UE e da moeda única. A chamada centro-esquerda e o centro-direita têm vindo a diluir-se cada vez mais, como se verificou por exemplo em Portugal pela deriva da social-democracia para o neoliberalismo verificado na última década deixando o papel que era atribuído para os socialistas.

A direita fala do seu pragmatismo, coisa que as esquerdas, as da extrema, pretenderam sempre contrariar, mas assumem hoje em dia que já não são como no passado uma alternativa ao sistema passando a querer integrá-lo. O mesmo se passa com a direita e as suas extremas com a nuance de que estas querem de facto passar a tomar conta do poder vendo para tal entreabertas as portas através nas eleições, graças ao populismo, como se tem vindo a verificar por essa Europa.

A bandeira das novas extremas-esquerdas deixou de ser a revolução para a tomada do poder, mas a defesa intransigente do Estado Social e a “luta”, dos direitos dos trabalhadores e contra o neoliberalismo.

Os defensores da direita agarram-se ao argumento baseado em que, antes da crise, havia desigualdade entre rico e pobres, mas havia salários aceitáveis(?) e empregos certos. Argumento este falacioso para a manutenção dum status quo que lhes interessa: a política da manutenção de salários baixos e uma mão de obra obediente que aceite qualquer trabalho passando uma mensagem na ótica do medo do desemprego, isto é, mais vale ganhar mal e ter trabalho certo do que não o ter.

Curiosamente, o modelo da esquerda radical, inspirado pelo maio de 68, a esquerda dos intelectuais foi o que permitiu a reconstrução da Europa no pós-guerra. Era os tempos do Chanceler Adenauer na Alemanha e do tempo do trinta anos gloriosos em França,   período de crescimento forte e contínuo que deu ao país o seu lugar como grande potência industrial e, à época, quase de pleno emprego, foi o da criação do Estado Social. Na Inglaterra surgia o Relatório Beveridge, o “Report on Social  Insurance and Allied Services” conhecido como Plano Beveridge (em1942), cujo mérito foi o de ser o precursor de um plano político concreto, com propostas de reformas sociais abrangentes e universalistas (Welfare State). Assim, foi capaz de implantar um avançado regime de proteção social obtendo ampla aceitação com repercussão na aplicação prática.

O modelo económico da esquerda radical, na altura e naqueles países, era baseado no consumo e no investimento privado, na segurança no emprego, no Estado Social e numa democracia representativa.

A direita, para obtenção, de votos tende a recorrer a formas de populismo inconsequentes que se aproximam das da extrema-direita, esta, por seu lado, através das suas promessas, capta à direita moderada eleitores insatisfeitos com o sistema.

Face ao cenário do que se tem passado na Europa, não será de depreciar que, a direita liberal, para manter a sua sobrevivência, evitar a sua queda lenta, mas contínua, e subir nas sondagens nas intenções de voto, ceda à pressão e à tentação dos extremos procurando cobrir áreas mais radicais do tipo popularucho e nos domínios casuísticos que sabem explorando os domínios emocionais das populações.

A radicalização dos discursos à direita ou à esquerda ou às esquerdas radicais terá sempre efeitos perturbadores que apenas as descredibiliza e mina a confiança de todos os cidadãos.

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publicado às 18:18

Um regresso ao passado através de Salazar

por Manuel_AR, em 18.09.17

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Acabei de ler o este livro que foi o resultado de uma tese de doutoramento de Moisés de Lemos Martins em 1990. Esta é uma 2ª edição lançada em dezembro de 2016.

Escrita por um sociólogo que não se poupou a linguagens técnicas do discurso filosófico e sociológico torna-se, especialmente na primeira parte do livro, de leitura difícil para o comum dos cidadãos que não possua uma formação académica numa daquelas áreas.

O livro é uma análise de conteúdo do ponto de vista semiológica e interpretativo da política salazarista através dos seus discursos que o autor várias vezes cita. Os discursos de Salazar desde 1928 foram construídos para uma política redutora da sociedade portuguesa que necessitava duma regenerescência concretizada através duma construção minimalista da nação pelo somatório das células familiares que ele considerava ser essencial para o controle e manutenção da ordem social, mas que era redutor no seu conjunto e apenas como corpo da nação.

Os sistemas partidários destroem as nações são os fabricantes da mentira comparado com verdade do regime. A ordem militar prevenia a desordem civil. A nação era um corpo cujos órgãos necessitavam de regeneração e consequente de normalização.

Dizia Salazar num dos seus discursos “O lar desagrega este, separa os membros da família, torna-os um pouco estranhos uns dos outros”.  E noutro ainda “A União Nacional vincula os indivíduos a uma disciplina que previne os efeitos da divisão irracional do espaço nacional, da exploração das paixões dos indivíduos, da sua concentração doentia (espirito de grupo, de partidos, etc.)”.

Para o autor era a tecnologia da obediência, para Salazar a disciplina ética que prevenia a fragmentação nacional instaurada pela violência dos partidos. Ora, os órgãos da nação doente necessitavam de uma reordenação disciplinar através dum conjunto de táticas que combatessem a fragmentação e a irracionalidade da pátria. Mais adiante o discurso salazarista afirma implicitamente que pretende prevenir a revolução social, a luta de classes, a associação revolucionária, quer dizer, «a força ao serviço da desordem», a disciplina ética impõe o «espírito corporativo» a todos os interesses materiais e morais da nação.

Uma leitura acrítica da mensagem salazarista pode levar alguns a saudosismos ideológicos da filosofia política de Salazar que ainda andam por aí.

Enfim um livro difícil, mas interessante.

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publicado às 13:26

A orquestração

por Manuel_AR, em 11.07.17

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Há uma orquestração que tem vindo a ser muito bem dirigida, mas que é duma baixeza e oportunismo partidário a todos os níveis que só direita poderá estar a dirigir com beneplácito dos canais televisivos que, juntamente com comentadores, pouco isentos e partidariamente coniventes, se encarregam de divulgar e amplificar os casos cuja informação prestada ao público por vezes mais parece ser orquestrada à boa maneira da antiga união soviética, já para não dizer da Coreia do Norte. Quem vê televisão tem o sentimento de estar a receber informação imbuída de monolitismo ideológico de direita, com uma ou outra pincelada, aqui e ali, de contraditório que, no meio da pintura, nem nos apercebemos.

Todas os casos sucessivos que têm vindo a lume nos últimos tempos não me parecem coincidências. Surge-me por isso no espírito uma suspeita de orquestração proveniente da direita, (da esquerda não será com certeza), e com a afabilidade dos canais de televisão. O grave é que instituições, como é o caso da PGR, que deveriam ser isentas, estejam a reboque duma agenda partidária que chega às raias do subversivo. Parece que num repente se abriram as caixinhas onde estava tudo no recato á espera de favorecer a oportunidade partidária da direita. Isto parece-me ser subversão das instituições para benefício partidário.

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publicado às 20:38

Uma vitória difícil e amarga

por Manuel_AR, em 16.03.17

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Na Holanda concorrem às eleições 29 partidos, (ainda há quem proteste porque em Portugal há demasiados partidos). Não houve um partido vencedor e em eleições anteriores também não. Na Holanda costuma ser regra fazerem-se coligações entre duas ou mais forças com ideias diferentes. E tem sucedido não ser o partido vencedor, não tendo maioria parlamentar que venha a formar governo. Já houve alturas cujas circunstâncias levaram à formação de geringonças que funcionaram.

O partido mais votado foi o VVD, Popular para a Liberdade e Democracia da direita cujo resultado foi muito inferior a 2012 quando obteve 26,5% contra 21,3% em 2017. A extrema direita (PVV), do populista Geert Wilders consegue ficar em segundo lugar e foi um dos vencedores tendo conseguido mais 3% dos votos do que em 2102 com mais cinco deputados.  Mas olhando para o mapa eleitoral da Holanda podemos verificar que a extrema-direita ficou confinada a pequenos redutos como se pode verificar no mapa anexo.  

O Partido Trabalhista PvdA, de Jeroen Dijsselbloem, e ministro das Finanças e presidente do Eurogrupo, perdeu 29 deputados, ficando em sétimo lugar. Este desastre eleitoral terá sido devido ao PvdA, partido trabalhista holandês equivalente ao Partido Socialista português, ter feito uma coligação com a direita no poder tendo, por isso, sido penalizado. O mesmo poderá acontecer ao PS se alguma vez se aliar à direita do PSD para formar governo. Sobre este assunto já me pronunciei no tempo em que, após as eleições o PSD pretendia aliciar o PS para algo que a que chamavam entendimento e sobre o qual vinham insistindo desde o tempo de António José Seguro.

Na Holanda a semente da extrema-direita foi lançada os partidos democráticos terão que arranjar soluções para que o vírus vá por si mesmo sendo exterminado. Enquanto tal não acontecer a Europa não se pode congratular com as pequenas vitórias dos partidos europeístas.

 

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publicado às 22:44

A fila

por Manuel_AR, em 23.11.15

 

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Resolvi reler alguma da imprensa da passada semana e rever algumas das notícias dos canais de televisão sobre as audições pelo Presidente da República Cavaco Silva fez a personalidades, instituições, formações, sindicatos, economistas, eu sei lá, um corrupio sem fim para tomar uma posterior decisão sobre quem irá indigitar para formar um governo para o país.

Os "especialistas" em economia e finanças que acorreram ao Palácio de Belém eram senhores do pensamento único que Cavaco Silva queria ouvir.

Até um antigo ministro de José Sócrates decidiu ouvir. Um deles que, enquanto se manteve no Governo daquele ex-primeiro-ministro, não previu antecipadamente o que veio depois a acontecer e deixou que tudo chegasse até às últimas consequências, desculpando-se já no final com a resistência do então primeiro-ministro. Manteve-se no lugar até às consequências que ele poderia prever vindo depois a desculpabilizar-se e a tentar distanciar-se da insolvência que também ajudou a construir. Se tudo estava, há muito, a ser mal conduzido na política financeira com que não concordava então porque não pediu ele a demissão e abandou o cargo em devido tempo.

Mas, voltando ao Presidente da República, à parte os partidos e os Secretários Gerais das centrais sindicais, de todos os outros que foram ouvidos Cavaco Silva sabia que lhe dariam as respostas que ele queria ouvir. É a tal visão de pensamento único a que, em "posts" anteriores, me tenho referido. Foi uma fila de personalidades, únicos detentores da verdade e circunscritos ao pensamento cavaquista, isto é, a uma espécie de "união nacional" e defensor dum "nacional-neoliberalismo" no falso pressuposto de que não há alternativa. Sou pela iniciativa privada que é o motor fundamental da economia mas sem os fundamentalismos do neoliberalismo que se quer impor a todo o custo e à custa de alguns.

Resta perguntar porque será que Cavaco Silva não convocou o Conselho de Estado onde poderia ouvir várias sensibilidades.

***

Apenas uma nota final para recordar a quem esteja esquecido que neoliberalismo é um sistema económico e ideológico que defende uma intervenção mínima do estado na economia, limitação do protecionismo, privatização de empresas estatais. apenas os ativos, ficando a maior parte das vezes os passivos na posse do Estado. O mercado autorregula-se com total liberdade. Argumentam a favor de quanto menor a participação do Estado na economia melhor para todos na via de um Bem-Estar Social para todos (?) ao mesmo tempo que elimina subsídios. Esse tipo de pensamento pode ser representado pela privatização de tudo, deixando à revelia o mercado num sistema do salve-se quem puder. Tivemos a experiência neoliberal de Thatcher nos anos 80 e, mais recentemente com George W. Bush nos EUA que abriu caminho para a crise financeira internacional com a falência do  Lehman Brothers. Dizia ele então: "Eu acredito muito na livre iniciativa, por isso o meu instinto natural é se opor a intervenção do governo. Eu acredito que as empresas que tomam más decisões devem sair do mercado. Em circunstâncias normais, eu teria seguido esse curso. Mas estas não são circunstâncias normais" e confessava: O mercado não está funcionando corretamente. Houve uma perda generalizada de confiança, e grandes setores do sistema financeiro da América estão em risco."

O discurso tinha por objetivo de explicar aos americanos o porquê de o governo enterrar 700 mil milhões de dólares numa semana para socorrer bancos à beira da falência. Será que não podemos tirar ilações? 

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publicado às 16:28

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Quantos dias vão demorar esta fantochada e a instabilidade política e interregno governativo, provocados pelo Presidente da República que, ao demitir-se das suas funções, ao lançar para os partidos a procura de alternativas para governo estável, quando as eleições foram bastantes claras? Só tinha que ouvir os partidos e indigitar quem ganhou as eleições. Os acordos parlamentares viriam depois com a capacidade negociadora já comprovada de António Costa.

O discurso do medo, da catástrofe, da instabilidade política, da estabilidade governativa, do que pode acontecer se…, funcionou no tempo da ditadura e enraizou-se de tal forma na cultura dos portugueses que hoje em dia ainda persiste, pelo menos nos que votaram conservador. A direita da coligação PSD-CDS sabia disso, utilizou a estratégia durante a campanha eleitoral para ganhar e continua a utilizá-la agora, reforçado pelo Presidente da República que, para não se comprometer, lançou no país a confusão total.

Quando Salazar tomou o poder falava em pacto de consenso de governo nacional afirmando que não defendia nenhum sistema político e, menos ainda, a democracia, pelo efeito nefasto porque tinha o jogo de interesses privados e ideologias rígidas que orientavam os partidos políticos, pelo que atalhou caminho para um governo estável da nação proibindo estes e ainda a liberdade de imprensa, em nome do que considerava ser a paz social.

 Ao ocupar o poder num tempo de instabilidade política Salazar conseguiu impor as suas ideias ajudado pela reputação que granjeou ao resolver a crise financeira, criando um pacto de consenso de governo nacional.

Ao escrever chega-me à memória a parecença com intervenções de Cavaco Silva que disse um dia não ser político mas que, na atualidade, tem ideias muito parecidas.

Os grupos de palavras sublinhados são os que foram utilizados pela coligação PSD-CDS durante a campanha eleitoral e sempre recordados pelo Presidente da República que disse em tempo não ser um político, mas nunca assumiu que a sua pureza política esteve associada a nomes menos claros criados pelo cavaquismo. "No seu tempo o BPN era legal e Dias Loureiro e Oliveira Costa eram "pessoas honradas" segundo o Banco de Portugal e foi preciso que rebentasse a crise financeira mundial para que o escândalo viesse a público no meio de tantas fraudes e logros financeiros. Coincidência?"

O discurso do medo, da insegurança, do que poderá acontecer, se nada for feito de acordo com a direita, tem levado uma parte da população a assumir-se como pessoas a que lhes podem retirar tudo o que têm, incluindo direitos sociais, desde que haja estabilidade política. Salazar assim gravou nas suas mentes.

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publicado às 16:47


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