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A década de 2010-2019 deu aos partidos populistas o ambiente de que precisavam para prosperar graças às consequências do colapso financeiro global de 2008 e da revolução digital. Embora o primeiro tenha contribuído para uma maior desigualdade e a rejeição dos principais partidos que a perpetuavam, o último resultou na "transformação da ... vida cotidiana". Ao crescerem as desigualdades económicas e os medos de perda de identidades nacionais cria-se o alimento para a vaga populista. É essa vaga populista que, usando os mecanismos democráticos, tende a provocar a erosão da democracia.

Quando me refiro a partidos populistas, quero dizer partidos políticos que se apresentam como alternativas e que têm uma posição política antissistema e de rutura com uma elite social, económica e política que exerce o controle sobre o conjunto da sociedade, mas que não refletem a vontade do povo. O populismo quer romper com o sistema, mas não oferece uma visão geral do que e como o deve substituir e dirige-se apenas a uma estreita parte da agenda política. É caso do partido Chega e do seu deputado André Ventura.

O Chega não é apenas populista, é também xenófobo, racista e segregacionista o que é mostrado pelas propostas que tem apresentado. Ao começar apenas por um grupo social, o dos ciganos, a sua mancha tenderá a alargar-se a outros grupos.

A grande questão do populismo pode ser colocada sobre a forma de várias perguntas: será uma ideologia? Deverá ser visto como uma espécie de discurso dirigido e produzido para o povo? Será uma estratégia? Ou será um estilo?

Os populistas de esquerda rejeitam o capitalismo. E os populistas que se dizem centristas concentram-se em coibir uma elite supostamente corrupta: eles têm uma tendência menos radical à ideologia de esquerda ou de direita, ou podem até rejeitar as duas por completo.

Do meu ponto de vista o populismo é mais uma espécie de discurso e uma estratégia que recorre a falsas evidências pela deturpação de factos com objetivos bem dirigidos para aliciar o povo. Muitas das vezes constroem fake-news (notícias falsas) ou adulteram notícias que lançam através de todos os meios ao seu dispor, nomeadamente as redes sociais. Uma demonstração caseira foi o episódio do delirante Nuno Melo ao dizer num Twitter que, deturpando o que realmente aconteceu, na telescola se está “destilando ideologia e transformando alunos em cobaias do socialismo” e que já foi arrasado. Isto porque foi passado um pequeno e curtíssimo episódio em que Rui Tavares se refere ao Estado Novo. Este comentário demonstra a adesão do CDS à fabricação de fake-news na tentativa de disputar com André Ventura do Chega o lugar do discurso radical e populista da extrema-direita. Francisco Rodrigues dos Santo, o líder do CDS ajuda, também ele em delírio, a tentar recuperar e disputar o lugar que outros partidos lhe retiraram nas eleições.

O populismo está a transformar-se e a assumir formas insidiosas e tomou como alvo as democracias liberais em todo o mundo. O final desta década trouxe-nos a eleição de Donald Trump nos Estados Unidos e o voto em favor do Brexit na Grã-Bretanha, testemunhou o surgimento da Alternativa para a Alemanha (AfD) o primeiro partido de extrema direita a entrar no parlamento nacional daquele país ao fim de décadas, e ainda a ascensão de partidos populistas em países como Áustria, Brasil, Itália, Polónia, Hungria.

Os que ocuparam o poder nos últimos anos forjam alianças, ainda que informais, mimetizando-se convergindo entre si nas suas declarações públicas com ideias semelhantes, como o fazem Bolsonaro, no Brasil, Jonhson no Reino Unido e Trump nos Estados Unidos da América.

Utilizando várias artimanhas assumem várias formas muitas vezes sobrepostas.  Alguns países experimentaram uma versão socioeconómica, colocando a classe trabalhadora contra as grandes empresas e as elites cosmopolitas consideradas beneficiadas pelo sistema capitalista internacional apontado lugares como a França e os Estados Unidos. Outros servem-se da via da cultura para atacar concentrando-se em questões de identidade nacional, imigração e raça caso na Alemanha e outros. Mas o que mais se tem expandido e o mais comum tem sido o populismo anti-sistema, que é contrário aos princípios sociais, políticos e económicos convencionais de uma sociedade salientando que não reflete a vontade do povo colocando-o contra as elites políticas e os principais partidos democráticos que o representam, mas ao mesmo tempo, infiltram-se via democrática nos sistemas democráticos.

Os populistas agarram tudo quanto lhes possa trazer apoios não importa o quem nem como. Negam as mudanças climáticas apanágio da extrema-direita e são também contra teses das mudanças climáticas. Contudo a negação das mudanças climáticas ao tornar-se um dos aspetos definidores de identidade da extrema direita, há especialistas em política que alertam para o facto de partidos de extrema-direita poderem tentar mudar a narrativa em torno da mudança climática para o seu lado quando a ação climática possa vir a tornar-se numa questão política mais importante em toda a Europa.

Em muitos países da Europa, populistas, eurocéticos, partidos da extrema esquerda, estes com menos representação e menos frequentes, e partidos da extrema direita comemoram o sucesso, juntamente com os partidos de direita, por exemplo, que também têm obtidos ganhos eleitorais significativos.

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publicado às 18:08

Liberdade de expressão.png

Há quem escreva artigos de opinião, mais ou menos polémicos, conceptuais e filosóficos que pretendem mostrar e evidenciar conhecimento pleno e absoluto das problemáticas que as redes sociais levantam. Divagam e divulgam numa escrita erudita dirigida aos da mesma tribo de intelectuais depois, outros, inserem no espaço online comentários mais ou menos elevados à categoria do incompreensível.

Fora do domínio da escrita que o rigor científico exige nos comentários prefiro utilizar uma linguagem acessível a maiorias de leitores de modo a ser compreendido mesmo por iletrados, e sem palavras de jornalista emproado e sabedor de tudo.

Quado se escreve um artigo de opinião há sempre quem concorde e quem discorde. Note-se, todavia, que, nem quem escreve nem quem comenta são donos da verdade, nem se pense que conseguem alguma vez converter-se mutuamente aos seus pontos de vista. Em janeiro de 2018 coloquei neste mesmo blog algo relacionado com este ponto de vista.

Sobre as redes sociais, tecnologia com que Pacheco Pereira, como muitos outros, parece não conviver bem, escreveu um artigo de opinião no jornal Público que merece ser lido e que, por isso, dada a liberdade de expressão também está sujeito a comentários. Foram vários os comentários ao artigo de opinião escritos com grandes tiradas, algumas até despropositadas para o tema, onde se brandem espadeiradas afastadas do objetivo do artigo. Alguns desses comentários, embora válidos, manifestam várias e possíveis interpretações, carecem de fundamentação e revelam mais emoção do que razão.

O dr. Pacheco Pereira, pessoa que admiro e considero enquanto intelectual e comentador, acha que as redes sociais são perversas e que são “formas de activismo simplista e grosseiro que o radicalismo “social” e político provoca nos nossos dias”.

A linguagem utilizada por quem frequenta as redes sociais é, a maior parte das vezes, exacerbada, não intelectualizada, não refletida; é sentida, irresponsável, espontânea. As redes sociais são frequentadas por um conjunto heterogéneo gente que vai desde a populaça ululante, tal qual uma manifestação de rua anti qualquer coisa onde os participantes apresentam cartazes insultuosos contra alguém ou alguma coisa, estes, felizmente uma minoria, até intelectuais bem-falantes, políticos, jornalistas, professores, comentadores, escritores, cientistas, pessoas não eruditas mas bem-intencionadas e muitos outros.

A linguagem dos que frequentam as redes sociais é, como diz Pacheco Pereira, primitiva onde surge uma “mão-cheia de “seguidores” que propagam e “amplificam todo o estilo de ataques, insultos e afirmações de má-fé que acabam por ter uma circulação em que o testemunho directo é substituído pelos comentários dos comentários dos comentários”.

Insurge-se Pacheco Pereira com o que se escreve nas redes sociais, e com alguma razão, mas a tecnologia das redes sociais e dos blogs apareceram muito depois do aparecimento da rede, vulgo internet, que possibilitou a qualquer cidadão ser também um potencial produtor de informação, (falsa ou não), para além de mero consumidor que lhe chegava unilateralmente apenas pelos clássicos órgãos de comunicação social imprensa, rádio, televisão. Pagando o aluguer de um espaço num qualquer servidor podia, desde logo, formatar uma página e colocar o lá que bem entendesse. Aceder à “fala” pública deixou de ser possível apenas a alguns “eleitos” para passar a ser aberta a todos.

O problema agravou-se com o surgir das redes sociais, com a sua miríade de interações, onde se angariam amigos, sejam eles quem forem, a maior parte das vezes aleatoriamente, e com o acesso a blogs, onde se publicam emoções e sentimentos sinceros ou inventados, opiniões e nuvens de perceções, manipulação de notícias e de factos forjados, e outros escritos não fundamentados. O livre acesso e direito a publicar na rede foi uma mágoa que se entranhou em muitos que consideram que tudo quanto se escreve nas redes sociais são heresias.

Quem frequenta as redes sociais deve estar informado sobre os seus conteúdos daí que tem de ser capaz de distinguir o trigo do joio, o que só se consegue com treino aturado ao longo do tempo. A leitura de comentários nas redes sociais e nos artigos de opinião exige treino para quem costuma ferver em pouca água.

Nesta amálgama de comentários que aparecem nas redes sociais, blogs e afins, alguns com uma linguagem de falsa neutralidade, acusa-se, condena-se, julga-se, injuria-se, ofende-se, destroem-se imagens, fazem-se autos de fé, e se manipula informação e deturpam factos, surgem também os inquisidores e os falsos moralistas que não aconselham, não sugerem, mas criticam, repreendem, ameaçam… Outros utilizam palavras acaloradas, menosprezo e desrespeito pela posição do outro, feito de forma muito fria e educada mas não menos ofensiva, com defesas e ataques de parte a parte conduzindo ao confronto de pontos de vista que, longe de permitir o enriquecimento de cada um ou de possibilitar uma posição de consenso, apenas redunda em desconforto, ou a ideias mais extremadas e repisadas pelo confronto.

Para mim o problema não está na linguagem utilizada por esses ululantes da escrita de comentários porque esse tipo de linguagem ouvimo-la ao virar da esquina duma qualquer rua ou café frequentados por jovens e adultos. O problema é, e Pacheco Pereira salienta-o, a repetição por ditos seguidores que propagam e repete até à exaustão “afirmações e opiniões grosseiras, falsidades, deturpações, que, não sendo verdadeiras, acabam por ganhar um estatuto competitivo com a verdade”. É neste ponto que reside o problema e o perigo que não se resolve nem evita com mediações ou verificações por uma espécie de “validadores” de comentários que podem vir a ser alcunhados de censores, ou como lhes queiramos chamar, que não validariam a veracidade ou a falsidade do que é escrito nem tão pouco as fontes, mas apenas e só a linguagem. Seria bom que estes inquisidores se limitassem apenas a questões de linguagem, mas vão mais fundo, pretendem silenciar o pensamento de outros. É aqui que para mim se deve centrar a discussão.

A linguagem não é neutra, ela está relacionada com fenómenos comunicativos e tem a capacidade que possuímos para expressar pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos, estimula comportamentos e atitudes e pode moldar convicções. Um dos problemas da linguagem é as palavras terem tantos significados - e tão diferentes.

A maior parte das vezes são as emoções e os sentimentos, contra ou a favor de algo, que geram uma linguagem utilizada por quem não tem argumentos e, por isso, os que escrevem e insistem em utilizar uma linguagem insidiosa, frases caracterizadas pelo exagero e tentam distorcer a realidade acabam sempre por ficar expostos à rejeição e ao voto ao desprezo pelos seus pares, e por outros. O reforço desta rejeição pode ser promovido pelo debate livre e aberto das ideias por argumentos e contra-argumentos refutando e pondo a descoberto o que for torpe. É nisto que se baseia a liberdade de imprensa que deve ser de liberdade absoluta para a linguagem. Todavia, como a liberdade de expressão de pensamento absoluta é uma utopia, para tal deveria ser universal, restrinjo a linguagem do calão grosseiro, sem conteúdo sustentável, utilizado apenas e para o ataque pessoal, político e religioso nem tão pouco manifestações racistas e xenófobas de extremistas de cabeças rapadas e ocas.

A manipulação de informação não existe apenas nas redes sociais ela também existe, embora de forma subtil, nos clássicos órgãos de comunicação social. Veja-se os títulos dos jornais que por vezes levam a falsas interpretações para quem não lê própria notícia.

Como anteriormente referi, há quem, mergulhado em preconceitos e conservadorismo do passado, advogue uma espécie de verificação prévia, nova fórmula light para censura, para o que se escreve nos comentários das redes sociais e noutros sítios, mas, neste caso, estou parcialmente de acordo com Pedro Norton quando escreveu na revista Visão que “se eu tivesse de escolher um mundo de censores sem insultos ou um mundo de insultos sem censores, eu não vacilaria um instante em preferir o último. Prefiro, sem sombra para qualquer dúvida, ser exposto a ideias e a palavras ofensivas e pre-conceituosas permanecendo livre para rebatê-las do que ser obrigado a prescindir da minha liberdade para ser defendido pelo poder sem freios de censores iluminados”.

A este ponto de vista que me parece ser mais ideológico do que realista acrescento que, apesar de tudo, não nos podemos esquecer de que a liberdade de expressão de pensamento não pode ser absoluta, sem regra nem lei, onde os insultos e puro calão asneirento são correntes, sobretudo quando em conflito com os invioláveis princípios e direitos relativos à imagem e ao bom nome. A publicação de matéria dita jornalística de opinião ou outra tem de respeitar a veracidade dos factos que relata não podendo extrair conclusões acerca da conduta das pessoas nela mencionadas ou incitações à violência e dignidade da pessoa humana tais como racismo, nazismo e outras formas de segregação e violência religiosa, política ou étnica.

Quando se fala em manipulação de informação e de difusão de notícias falsas (fake news) há vários exemplos que mostram que se generalizou e, até personalidades em altos cargos nos estados utilizam as redes sociais para fazer política através de mensagens frequentemente falsas, sendo o presidente dos EUA, Donald Trump, o exemplo mais paradigmático. Trump já fez nos seus tweets várias declarações falsas, mentiras por omissão, falsificações de verdades que funcionam para desvalorizar e ignorar a realidade de facto. Mas os que o apoiam não se importam e a outros parece não lhes interessar fazer desmentidos utilizando a própria verdade. À tribo que elegeu acriticamente Trump não lhe interessa a verdade e assimila sem intermediação o que ele lhes diz. Quando Trump afirma que o facto A não é verdade, sendo-o de facto, os seus apoiantes entram em coro a dizer que estão a conspirar contra ele e forjam e divulgam notícias falsas que possam comprovar o que ele disse. Trump percebe isso e usa o Twitter para comunicar “directamente” com a sua “base” sem intermediação. Como ninguém vai verificar a veracidade ou falsidade do que foi dito ou escrito, e é gratificante para os seus apoiantes, está lançada a replicação através da rede chegando até aos seus opositores que as aceitam sem se questionarem sobre a sua veracidade.

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publicado às 18:43


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