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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
15/03/2018
Entidade liderada por Teodora Cardoso estima défice de 0,7% este ano e excedente em 2020, mas avisa para os "riscos políticos" perante as facilidades.
Provedora da UE sugere que a Comissão decrete uma proibição formal de contatos com Barroso por um período de tempo alargado. Antigo presidente contesta o conteúdo das 17 páginas de recomendações.
Começo com uma frase do artigo de opinião de Teresa de Sousa no jornal Público. Diz a jornalista em determinado ponto do seu artigo: “deixámo-nos cair no debate público pendurado numa sucessão de palavras que, sabe-se lá por quê, todos repetimos e que vão mudando quase todos os dias. Passámos da Raríssimas, que não permitiu derrubar um ministro, ao pernil de porco, do pernil de porco ao financiamento dos partidos, do financiamento dos partidos para qualquer outra coisa que chegue amanhã de manhã. E já me esquecia da “reinvenção” do país que Marcelo nos recomendou como mote do ano que agora começa e que já toda a gente parece disposta a adoptar. Temos o dever de acompanhar a realidade, mas não precisamos de fazer de cada pequeno episódio uma guerra total, todos os dias.”.
Esta frase foi o mote para abordar as formas como a comunicação social, as redes sociais e os blogs, como este onde escrevo e que por aí proliferam utilizam a informação. A crítica que se pode fazer, e que é legítima, é dizer que os autores, mais ou menos espontâneos (eu incluído) escrevem sobre o que desconhecem. Isto é um facto. Mas, daí dizer que escrevemos sobre o que se desconhece ou pensa conhecer com uma atitude de estar no centro dos acontecimentos políticos sobre o qual se escreve já é falso.
No centro dos acontecimentos e dos meandros do conhecimento do facto político apenas se movem políticos e jornalistas. Estes furam aqui e ali para obterem informações, muitas das vezes recebendo-as de fontes “secretas”. Os jornalistas que se encontram nos meandros da política ouvem, perguntam, entrevistam e utilizam tais fontes “secretas” que podem ser pessoas quer de direita, quer de esquerda, que têm funções em instituições e organismos públicos. Aquelas fontes divulgam ao seu jornal ou jornalista preferido, por vezes deturpando a informação, se acharem conveniente para os objetivos em vista, que passam por denegrir personalidades que exercem determinados cargos ou desempenham determinadas funções focadas como potenciais elementos a abater. Enfim fazendo julgamentos formulados em opiniões ou raciocínios baseados em hipóteses ou suposições não confirmadas e muitas vezes com sentido pejorativo, isto é, fazendo juízos apriorísticos.
Não tenho acesso a fontes “não identificadas, privilegiadas e próximas de”, nem consigo entrevistas, nem tenho conhecimentos e amigos nas redações de jornais nem nos canais de televisão, nem entrevisto pessoas, nem ando atrás de personalidades da política para as entrevistar para poder conhecer com profundidade os assuntos sobre os quais escrevo.
As minhas fontes são a imprensa escrita, os jornais televisivos, os artigos de opinião, os debates televisivos, os comentários, a literatura disponível sobre os temas sobre os quais escrevo. É a partir destas fontes, a que todos também podem ter acesso, que me abalanço a escrever sobre alguns assuntos emitindo apenas a minha opinião e a minha visão perspetivada sobre o que se diz, vê ou escreve. Quando me engano é porque as minhas fontes também se enganaram. Privilegio sobretudo a honestidade nas opiniões ou críticas que formulo apesar de algumas vezes contundentes. Quantas vezes comentadores profissionais da política, que supostamente estarão dentro dos assuntos, divulgam publicamente informações dando-as como certas, anunciando que tiveram origem em fontes fidedignas ou do seu meio de conhecimentos e contactos, mas que, posteriormente, não são confirmadas.
O que escrevo não são “fake news”, são interpretações pessoais de notícias e de opiniões que, como é óbvio, podem ser concordantes ou discordantes dos seus autores.
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Alguns dos profissionais da comunicação social, felizmente não todos, por vezes cumprem a sua função para agradar a quem lhes paga o ordenado, como uma espécie de “vozes do dono”, para manterem o emprego já que isto, para os lados do jornalismo, anda mal por todo o lado.
A maior parte da comunicação social, ao invés de dar as notícias faz manchetes preparadas para induzir à oposição política, por vezes até, hostil, a certos governos ou pessoas que exerçam funções públicas que não são seu agrado, político ou ideológico, diga-se. Essas manchetes como se sabe são suscetíveis de produzir respostas emotivas resultando em sentimentos emocionais provocados e desfavoráveis para quem as lê ou ouve, mas cujo desenvolvimento do conteúdo não acompanha a conotação do título.
Vejamos este exemplo real que foi publicado ontem dia 10 do corrente.
O jornal Expresso escreve em manchete: “Mal-estar: Marcelo espera explicações de Costa sobre Marques Vidal”
O lead da notícia é o seguinte:
«Oficialmente, “o Presidente da República não comenta entrevistas da ministra da Justiça”, mas o mal-estar é indisfarçável.»
No desenvolvimento da notícia acrescenta-se que “Uma fonte próxima de Marcelo, não identificada, disse ao Expresso que este caso "é uma afronta ao Presidente" e que as declarações da ministra da Justiça e do primeiro-ministro “causaram mal-estar em Belém”. (Cá está nesta notícia uma das fontes próximas e não identificadas a que os jornalistas recorrem e que anteriormente referi).
O mesmo jornal Expresso, e no mesmo dia, a notícia refere que: “Para Marcelo Rebelo de Sousa, a questão que envolve a eventual não recondução de Joana Marques Vidal como Procuradora-Geral da República “não existe”, pelo menos “até ao momento em que tiver de exercer o meu poder constitucional”.
De acordo com a nota que ontem o Presidente fez publicar no site da Presidência é que “só se pronuncia sobre a nomeação de titulares de órgãos do Estado sob proposta do Governo, no momento da designação”.
Os jornalistas que redigem as notícias, digo notícias e não opiniões, afirmam, deduzem, especulam sobre as mesmas levantando dúvidas e suspeitas. Colocam partes de frases, tiram ilações e até, por vezes, fazem juízos de intenção e de valor quando redigem algumas notícias. Quais serão os objetivos?
Quando são apresentadas notícias na comunicação social sobre algo que acontece hoje é dado como de facto fosse consequência do hoje. Explicando-me melhor. Muito do que acontece hoje em alguns setores, nomeadamente a saúde, é dado como de facto fosse consequência da governação atual, independentemente das correções que sustentadamente se tenham vindo a fazer.
Essas notícias que são lançadas agora, não apenas no setor da saúde, são dadas como sendo consequência do presente, e não a consequência do passado recente que foi o da Ex governação neoliberal de Passos Coelho. O que se desmantelou durante quatro anos e meio de Governo neoliberal não de reconstrói num ano, nem em dois, nem sabemos se em quatro, devido às restrições orçamentais.
A comunicação social quer fazer-nos acreditar que, o que se passa agora, é consequência do hoje, da governação atual. Não nos podemos admirar visto que a agenda mediática é ditada pela trupe neoliberal que cerrou fileiras em torno de Passos Coelho e que o mantem no poder do partido, senão, o que seria deles!
No tempo de Passos Coelho qualquer mínimo favorável nas estatísticas ou acontecimento positivo que foram muito poucos, diga-se, eram empolados e repetidos exaustivamente nos noticiários. Agora o que vinga é a procura do mau, sendo o bom divulgado com displicência. Depois há as redes sociais que replicam até à exaustão factos, notícias e acontecimentos falsos.
Veja-se sobre as redes sociais nos EUA o que escreve o New York Magazine:
“All throughout the election, these fake stories, sometimes papered over with flimsy “parody site” disclosures somewhere in small type, circulated throughout Facebook: The Pope endorses Trump. Hillary Clinton bought $137 million in illegal arms.”
Que, traduzindo, diz que durante toda a eleição, essas histórias falsas, às vezes dadas como inofensivas "paródias site", divulgadas em vários lugares, em letra de pequeno tipo, iam circulando pelo Facebook: O Papa apoia Trump. E, Hillary Clinton comprou US $ 137 milhões em armas ilegais.
E nós, aqui em Portugal, que as frequentamos, se não tivermos o devido cuidado de as confirmar pelos meios ao nosso dispor, corremos o risco de divulgar e replicar o que é falso, às vezes até ingenuamente.
Eu próprio já algumas vezes caí nessas armadilhas, mas creio que foram as primeiras e as últimas. As redes sociais são o media ideal para a informação e contra informação e também para uns, poucos, influenciarem pela desonestidade política e partidária, muitos outros. Opinião a que todos devemos ter direito é uma coisa, outra, é a mentira e a desonestidade utilizadas como arma política para influenciar, comportamentos e atitudes. Não foi por isso que Trump obteve a Casa Branca, mas ficou um aviso para a opinião pública americana.
Há uma incessante preocupação da comunicação social pela procura de polémicas e mexericos jornalísticos que lhes cheguam por vias travessas posteriormente divulgados como sendo notícias importantes e essenciais para a informação do público
Talvez eu esteja a fazer uma leitura enviesada dos jornais, mas a sensação que tenho é de que há uma tendência para a procura do que é mau (as más notícias é que vendem é certo) secundada pelo superavit de comentadores que se esmeram no ataque a tudo quanto descubram que possa servir para atacar tudo do que a direita denomina de “geringonça”.
Tendencialmente, a direita começou a ganhar cada vez mais espaço em alguns jornais diários onde, não raras vezes, se intercalam opiniões do jornalista vindas, a maior parte delas, através da correia de transmissão dos quadrantes da direita. O jornal Público com a nova direção de David Diniz melhorou substancialmente. Se, por um lado passou a ser um pouco mais pluralista e independente, por outro, em termos de opinião, tornou-se tendenciosamente propagandista das opiniões de direita.
É raro o dia da semana que não pegue naquele jornal diário e, na última página, não me depare com os títulos de João Miguel Tavares, cujos artigos ocupam metade e que me obrigo a ler. Apenas escapa a segunda feira onde, na mesma página, um escaço espaço está reservado à opinião de Rui Tavares.
Longe vão os tempos da malfadados da censura prévia. Hoje em dia não há censura, mas há interesses, favoritismo, pressões das mais variadas origens que conduzem a oportunos reajustamentos. Num regime democrático tem que haver pluralidade de opiniões desde que, sejam válidas, credíveis, construtivas, formativas, justas e não panfletárias, sejam de direita ou de esquerda. A comunicação social não se pode transformar numa espécie de blogue analógico da direita, ou da esquerda se fosse esse o caso. Não pode ser como um blogue virtual que sirva uma qualquer tendência de aplicação de práticas política e onde se pode escrever tudo e se exprimem as mais diversas emoções com calor expositivo liberto de qualquer censura, o que é diferente de dar notícias, fazer comentários, dar opiniões, colocar ideias, pontos de vista, traçar orientações que sirvam todas as tendências. No caso atual não é quem ganhou a eleições que deve ter a primazia de ter mais tempo e espaço na comunicação social, mas quem tem maioria efetiva de representatividade. Mas com isso a direita não consegue conviver.
O que se passou na imprensa que hoje li foi isto:
- João Miguel Tavares escreve em título “É difícil ser de direita em Portugal”. De que se queixa se pode escrever quase diariamente o que lhe apetece na sua meia página do jornal Público. Fala de desigualdade de oportunidades na governação. Voltou outra vez a dezembro de 2015? Diz que há cortes com outro nome. Insinua que antigamente se chamava cortes nas pensões e nos salários de agora se chamam cativações. Cortes? Agora? Será mentira ou verdade? O que diz são falsidades para que conste, e baralhar a opinião pública. O que o irrita é que os sindicatos estejam agora calados quando tudo está tão mal (como a direita pretende fazer crer). E, espante-se quem for de esquerda moderada ou radical. O senhor Tavares reclama para a direita a igualdade de oportunidades que não existe na política portuguesa. Qual? Simplesmente esta: a esquerda e os sindicatos agora não protestam como protestavam quando a direita de João Miguel estava no poder. Por outro lado, acha que por a direita por estar em baixo a igualdade de oportunidades deve ser reivindicada. É caso para lhe perguntar se a direita deu alguma oportunidade ao governo que derrubou em 2011, com o qual tinha assinado um compromisso tácito para aprovação do Plano de Estabilidade e Crescimento.
- Lançar intrigazinhas entre os partidos da maioria parlamentar passou a ser o prato principal da comunicação social e dos partidos da oposição. O Diário de Notícias, onde o seu diretor Paulo Baldaia, chama a tudo trapalhadas, esquecendo-se também ele, das que houve no tempo de Passos Coelho. As intrigazitas estão lançadas na marcação das suas diferenças entre eles sobre pensões e reformas em vez de marcarem as diferenças com o Governo anterior. Como? Com o Governo anterior???
Vejam esta achazinha: “numa geringonça em que o instinto de sobrevivência obriga cada um a puxar para o seu lado, mas revela apenas um grau de cansaço que é sempre superior a quem tem de negociar, de forma permanente, agendas que buscam a popularidade.”
E mais esta: “É por isso que os tiros nos pés virão sempre com mais frequência dos membros do governo, sujeitos a uma agenda parlamentar que é preciso driblar. Na CGD, por exemplo, alguém consegue perceber qual foi a participação do Bloco e do PCP nesta história? Zero ou pouco mais do que isso! Não vejas, não ouças, não fales e nada de mal que aconteça é tua responsabilidade. Há coisas que se governam em segredo, para bem da coligação e para mal de quem decide.”
- Já cá nos faltava novamente o abutre e azedo, como diz Ferreira Fernandes, Wolfgang Shcäuble a elogiar o que se tinha feito com o anterior Governo e criticar o atual. Preconceito pura e simplesmente ideológico de uma visão de direita radical que ele quer impor e que ofende os portugueses, cujos seus líderes são eleitos democraticamente por sufrágio universal. Ficou a falar sozinho, é o que merece.
- Tenho azar, também com o Diário de Notícias que, às quintas feiras, apresenta as desvairadas e radicais opiniões de César das Neves que monopolizam mais de meia página. Expectante de potencias instabilidades políticas faz espécie de intrigazinha dizendo que “…comprar a paz social é fácil. Afinal, comprar a paz social é fácil. Veremos por quanto tempo.”
Trabalha e interpreta os números do orçamento para 2017 de forma conveniente e de acordo com os seus interesses ideológicos. Sempre fiel à Opus Dei e á U. Católica.
- A tónica da direita para a oposição enquanto vem e não vem o debate final sobre o Orçamento de Estado é fabricar inventividades sobre austeridades, milhões e mais milhões escondidos sobre os cortes na despesa dos ministérios (escreve uma tal Paula Sá), dramatização sobre missivas de Bruxelas que, afinal, sobre as quais Moscovici disse em Bruxelas que era procedimento normal e que, em princípio, tudo estava bem com o orçamento. Se bem me lembro, como dizia Vitorino Nemésio nas suas palestras, também se ouvia falar no tempo do Governo de Passos que era necessário cortar na despesa dos ministérios. Mas também se ouvia falar no corte de salários, reformas e pensões, etc., etc... No mesmo alinhamento está Maria Luís Albuquerque que pergunta em nome do PSD de Passos Coelho, em que serviços públicos o Governo vai cortar. É descaramento demais fazer esta pergunta que merece uma outra. Onde estava Maria Luís quando era Ministra das Finanças? Desfaçatez não lhe falta.
A intrigazinha do PSD lá vai falando do silêncio cúmplice da CGTP e da Fenprof. A já conhecida estratégia da direita, lançar achas e intrigas para desestabilizar a maioria parlamentar. Será que poderão esperar sentados? Penso que sim.
- A Ordem dos Advogados daqui a algumas semanas vai eleger o seu bastonário que agora é Elina Fraga. Escavaram, escavaram e alguns lá descobriram um certo plágio numa das suas intervenções. Recordemos que Elina Fraga contestou muitas das medidas de Paula Teixeira da Cruz quando era ministra da justiça, nomeadamente a dita chamada reforma da justiça que na altura foi catastrófica.
Por último, a televisão que alinha com a direita, e segue uma trajetória de consumir tempo dos noticiários à volta da CGD, com cartas de Bruxelas sobre o orçamento, declarações de Shcäuble sobre o antes e o depois de Passos que nada mais serve senão para distrair dos problemas da banca da Alemanha. Estes alinhamentos apenas têm o objetivo de influenciar a opinião pública sobre com aspetos negativos artificialmente criados, à falta doutros argumentos para fazer oposição, que a direita não tem.
Duma maneira geral a comunicação social é vista como um dos fatores mais responsáveis pela criação de instabilidade social e de desconfianças sobre as práticas políticas dos diversos atores em presença. Não inventa as notícias, elas existem, mas molda-as, adequa-as para terem mais impacto, alterando ou acrescentando sentidos. Os objetivos para tal podem ser vários e dependem das linhas editoriais, da necessidade de amplificação do impacto que o acontecimento ou a notícia possam ter para atrair o interesse do público para a compra e, no caso da televisão, para o aumentar as audiências.
Sem que seja caso único é um bom exemplo o que tem alimentado nos últimos dias, debates, notícias, informações e contrainformações sobre o caso dum potencial imposto sobre o património acumulado desnecessariamente causado por Marina Mortágua do BE.
A liberdade de imprensa que temos (impressa e televisiva) é um bem que deve ser preservado, contudo, corre sempre o risco de estar a ser limitada, condicionada, mesmo não existindo trâmites censórios próprios dos regimes ditatoriais, como era no tempo de Salazar e Caetano.
A pergunta que podemos colocar é a de saber se em democracia existe ou não uma tendência para o controle da comunicação social por grupos económicos através de "correias de transmissão" ligadas a ideologias e partidos políticos, mais ou menos dissimuladas.
A análise dos jornais, noticiários e comentários televisivos mostra-nos algumas tendências que se manifestam mais a favor, ou mais contra, consoante o ponto de vista ideológico de quem está no poder.
Não deve ser noticiado apenas o que é bom e agradável mas estamos exaustos de ver e ouvir todos os dias notícias negativistas, o fatalismo como sendo as únicas notícias. Noticia-se o que é superficial e fútil e não o relevante. Sabe-se, eles sabem, os da comunicação, que isso é que "vende" e, por isso, insistem. A competição comercial entre canais a isso obriga, deixando a ética como se fosse um objeto sem valor. Espetacularização e sensacionalismo são a chave do negócio.
O alinhamento noticioso dos canais de televisão começou a adotar o modelo de outros canais como o CMTV onde, diariamente, se gasta tempo demais com são oferecidos crimes, marginalidade, corrupção, dinheiro sujo, estúpidos concursos, factos privados enfatizados ad nauseam, gira-se à volta de quem tem dinheiro e declarações de má política, mas compacta-se ao máximo no espaço e no tempo uma qualquer ideia, reflexão construtiva ou qualquer contributo positivo.
O que vemos nos canais noticiosos será de facto o retrato do país onde tudo o que acontece é mau? Desde que não esteja em linha com o que ideologicamente eles, os senhores dos comentários, pensam e que acham deveria ser e porque se quer estar do lado dos opositores que perfilham é tudo mau. Foi assim no passado recente, mas ao contrário.
Não se pode ser otimista irrefletido mas, o que se vê na "fotografia" dos media é um pessimismo paralisante e um fatalismo permanente. Comentar é também criticar com imparcialidade, com isenção, não apenas atacar por mera fação e questão ideológica de que, afinal, acusam outros. Ou, então, criticam porque sim.
Penso que já referi várias vezes neste blog a impressão negativa que tenho sobre alguns comentadores da televisão e sobre artigos de opinião escritos, independentemente de estar ou não de acordo com eles, venham da direita ou da esquerda. Nem tudo o que uns gostam de ouvir ou ler agradará a outros. Uma coisa é o debate de ideias e de pontos de vista em democracia, outra é o "arranjo" argumentativo falacioso propositadamente construído com deturbação e interpretação abusiva de opiniões, acontecimentos ou factos ainda não comprovados. Outro caso ainda é dizer-se que uma coisa é preta quando é evidente a perceção comprovada de que é branca. Isto é, nega-se uma realidade, lança-se-lhe umas pinceladas de frases mais ou menos demagógicas e populistas para se poder a continuar a dizer que aquela coisa é preta.
Neste segundo semestre aconteceu haver uma agitada dança de cadeiras a nível das direções em jornais e rádio, o que para o cidadão comum não é novidade. As justificações são sempre as mesmas, reorganizações, ajustamentos, rentabilizações, etc. e, por vezes, estas mudanças estão também ligadas a mudanças de orientação editorial. Desta vez estas mudanças verificam-se ocasionalmente num ano em que um Governo é apoiado por uma maioria parlamentar de esquerda.
Na direção do Diário de Notícias encontra-se desde setembro Pedro Baldaia que era diretor da TSF; David Dinis que saiu do jornal Sol, fundou com outros o jornal online Observador e foi para diretor da TSF donde sairá para passar a dirigir, a partir de 3 de outubro, o jornal Público. Também, José Miguel Tavares, passou a ter direito naquele jornal a mais um diazinho por semana para divulgar as suas facciosas opiniões. A direção do jornal i que mudou várias vezes (em pouco mais de seis anos de vida, o jornal já teve quatro proprietários e sete direções), cabe desde 15 de dezembro de 2015 a Mário Ramires que também é presidente do conselho de administração da proprietária do jornal, a NEWSPLEX, SA., e também do semanário Sol. O jornal i e o Sol anteriormente pertenciam à Newshold, empresa angolana liderada por Álvaro Sobrinho que tinha investido na entrada do capital da Cofina, (dona do "CM" - Correio da Manhã) e da Impresa (dona do Expresso).
A crise que há na imprensa escrita vai alastrando e por ela a liberdade de expressão dos jornalistas pode ser condicionada face a uma potencial perda de emprego à vista. As razões apresentadas são várias, normalmente de natureza financeira e económica que levam ao despedimento e a rescisões por mútuo acordo de jornalistas. A razão para que este ano exista tal azáfama leva-me a pensar. Mas isto de momento não nos interessa.
Há uma interpretação possível para a vitória do Syriza, é que os gregos preferem, apesar de tudo, que um resgate e a austeridade sejam aplicados por uma esquerda do que a sua execução por uma direita. Isto pode se relevante.
O que se passa de relevante em países que fazem parte duma União Europeia a que pertencemos pode vir a ter a prazo maior ou menor influência no nosso. Hoje foi uma prova de como funcionam as redações de alguns jornais em Portugal. Em jornais europeus o mesmo. As eleições na Grécia foram varridas das primeiras páginas dos jornais diários impressos e, quando não o foram, apenas tiveram direito a uma pequena referência na capa. Em Portugal apenas o Jornal Público e o jornal i deram destaque à notícia em primeira página.
As eleições gregas não interessam porque quem ganhou foi um partido que não interessa que seja notícia e muito menos agora. Há que fazer esquecer a vitória. E se fosse o contrário? Se fosse a direita da Nova Democracia que ganhasse? Pois sabemos bem o que aconteceria, páginas e páginas com a notícia de letras gordas e bem nutridas.
Pois assim vai alguma da nossa imprensa.
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