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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
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Montagem de MR
As televisões que não sobrevivem com dinheiros públicos, necessitam de "shares" para captar publicidade. Desta forma, arquitetam e produzem programações e conteúdos destinados a conquistar audiências. Estes programas vão desde os telejornais aos de entretenimento, passando por debates por vezes com cariz de pertença atualidade política.
A televisão tornou-se, desde há alguns anos, o espaço privilegiado da luta política, quer em momentos excecionais, como por exemplo em tempo de eleições, quer no dia-a-dia da política, tendo contribuindo para o fenómeno da política espetáculo.
A política adequou-se necessariamente à linguagem de comunicação televisiva. Para que os seus objetivos se realizem absorveu a lógica da produção do espetáculo em detrimento da lógica exclusivamente política. Isto é, numa perspetiva de produção de espetáculo, a política torna-se ela mesmo espetáculo, passando a obedecer a padrões daquele tipo de produção televisiva.
A adequação a esta nova forma de existência da política implicou uma mudança de dinâmicas que conduziram à chegada de técnicos especialistas em comunicação, publicidade, analistas de sondagens e de outro tipo de especialistas e, os não raramente pseudo-especialistas em economia, finanças, contabilistas, fiscalistas, politólogos, outros ainda integradores de todas estas áreas que de tudo falam e sobre tudo comentam do alto das cátedras construídas para público comprar. Entre estes últimos salientam-se os facciosos da política, os propagandistas e doutrinadores situacionistas, militantes partidários disfarçados de comentadores isentos, alguns aterradores que apenas falam de números como se as pessoas e as suas vidas, a sociedade, fossem exclusivamente elementos numéricos sujeitos apenas às leis da aritmética e dos modelos macroeconómicos.
Há dois exemplos da política espetáculo feita em estúdio: o programa da TVI24 "Olhos nos olhos", não a novela que a TVI iniciou em julho de 2013, mas outro tipo de novela. Outro é o programa de comentário político de Marcelo Rebelo de Sousa aos domingos na TVI.
No primeiro, para além da jornalista moderadora cujo brilho se esbate no meio do estrelato dos outros atores em cena, encontra-se o fiscalista Medina Carreira, ator feito à pressa a fazer carreira televisiva não sabemos se pro bono.
Refiro apenas o primeiro caso como exemplo. O programa "Olhos nos olhos", para atrair audiências, fabricou um personagem controverso, dizem. É um ator com uma frontalidade mistificada, politicamente escandalosa que debita o texto do guião e defende, com modos teatrais, as suas tomadas de posição, tecendo argumentos sobre os quais não tem contraditório. Este ator da política espetáculo, cujo carisma se tem vindo a perder devido às doses repetitivas, e já cansativas, dos seus argumentos e gráficos sempre baseados na mesma informação que transforma a seu bel prazer mudando apenas a cor e a estrutura.
Este tipo de política espetáculo quando não é bem moderado tem um poder enganador para o público, qual novela de ficção ao confundir-se com a realidade. Nas atuais condições de desigualdade, por falta de um contraditório, beneficiam os situacionistas mais privilegiados que passam à margem da austeridade devastadora que se abate sobre parte da sociedade.
O referido programa potencializa a aparição semanal dum espetáculo de política mediatizada cuja marca provoca indignação pela apresentação de aritmética pura e de argumentos sem contraditório o que pode ter um maior impacto popular e indutor de interpretações erróneas.
Aqui, a moderadora também se evidencia como atriz marcando contracena neste palco televisivo. Isto é, finge que dialoga ou questiona enquanto os outros atores em presença debitam as suas deixas sem interrupção. Como não se documenta previamente com informação fidedigna, tem corrido o risco, e várias vezes aconteceu, de se deixar manipular pelas deixas dos restantes.
Estes atores da política espetáculo são matreiros pelo que, quem contracena com eles, como é o caso da jornalista do programa, a maior parte das vezes não tem na sua posse as deixas que desarmem o protagonista confrontando-o com eventuais falhas ou contradições, como foi o caso do programa do dia 4 de novembro. É isto que tornaria o espetáculo com interesse, e não um monólogo ou diálogo entre pares, quando os há, cujo discurso é o mesmo, variando apenas a entoação e as palavras. Esta encenação torna a ação monocórdica, repetitiva, semana após semana, em que o ator principal apresenta ad nauseiam os mesmos e falsos argumentos mascarados com dados em bruto e sem contexto. Este tipo de atores valoriza a ação em desfavor do conteúdo.
No último programa sobre a apresentação de números e gráficos produzidos a partir de estatísticas do Banco de Portugal ou de quaisquer outras fontes, como habitualmente sem qualquer enquadramento e aprofundamento, não foi dada uma explicação cabal sobre o funcionamento financeiro do sistema da instituição que rege e paga as pensões, ( Instituto de Gestão dos Fundos de Capitalização da Segurança Social do Fundo de Estabilização Financeira da Segurança Social), que até este governo entrar em funções, 2011, era sustentável. Apenas como esclarecimento, em 2011, após fecho de resultados auditados pelo Tribunal de Contas, o sistema de previdência teve de quotizações 13757 milhões de euros, pagou de pensões 10829 milhões de euros e 1566 milhões de euros de outros subsídios. O saldo? É só fazer a conta!
Os argumentos apresentados por aqueles comediantes da política fazem-me lembrar trabalhos de maus alunos do primeiro ano da faculdade, como me apreciam alguns, que se limitam a fazer uma apresentação a partir de dados recolhidos sem dar a conhecer o seu fundamento e a forma de apuramento. Primavam pelo impacto visual da apresentação em detrimento da análise do rigor. O objetivo da representação destes atores é criar o pânico entre os espectadores da peça televisiva para captar audiências, qual filme de terror que esteja na moda.
Este é apenas um dos vários exemplos do espetáculo televisivo da política que utiliza uma das estratégias de manipulação do público desprevenido que obedece ao seguinte preceito: dirija-se ao espectador como se fosse uma criança menor de 12 anos ou um débil mental.
Imagem de: http://marx21.com/category/economia-e-politica-no-brasil/page/2/
Já lhe chamaram o profeta da desgraça. Sem quaisquer propósitos ofensivos para o Dr. Medina Carreira, sempre que o vejo às segundas-feiras na TVI24, não sei porquê, lembra-me antes aquele tipo de cientista louco das obras de ficção que, nos seu laboratório secreto (no caso dele deve ser o escritório), procura transformar a realidade através de manipulações mirabolantes, quer preparando cadinhos de poções mágicas, quer fazendo operações macabras para dar vida ao que é inanimado. Tal como um Dr. Jekyll/Dr Hyde, de Louis Stevenson, que escreveu a história do médico Jekyll, honesto e virtuoso que se transforma em Mr. Hyde de natureza má, ou um Dr. Frankestein, de Mary Shelley, que pretendia criar vida a partir de corpos inanimados.
Ora no caso do Dr. Medina Carreira as suas experiências partem da elaboração de gráficos que prepara de acordo com a sua sabedoria e tempera de modo a criar polémica e entretenimento televisivo. Outras vezes, menos polémico, trás a acalmia às hostes dos seus opositores. Os ingredientes básicos, neste caso os números, com que ele prepara os gráfico, podem estar e estão com certeza certos, apenas lhes faltam outros ingredientes necessários para se fazerem análises macroeconómicas com rigor.
Traçar gráficos de linhas de evolução de variáveis ou de barras comparativas é fácil. Qualquer aluno do primeiro ano da universidade quando apresenta os seus primeiros trabalhos é assim que faz. Para que se seja rigoroso o importante é, a partir do histórico determinar as causa, fazer o diagnóstico e, posteriormente, projeções. Não basta lançar gráficos do histórico é também necessário correlacionar as varáveis e indicadores sociais e macroeconómicos, comparar com outros países do mesmo grupo, fazer projeções e arranjar alternativas inovadoras, tudo o resto é mais ou menos tendencioso e não passa de um programa televisivo para subir audiências.
Na passada segunda-feira, ao falar das pensões de reforma e de eventuais cortes, foram lançados para a mesa números sobre pensões pagas a partir dos três mil euros, ao que o Dr. Medina Carreira respondeu prontamente que isso de cortar naquelas pensões não adiantava nada, o corte tinha que ser feito nas pensões mais baixas. Claro que, em termos globais, havendo menos pensionistas a receber valores mais elevados a verba será pouco significativa. Mas o espantoso é a forma como rapidamente tentou escusar cortes naquelas pensões. Estando ele reformado, como se pensa, e auferindo possivelmente pensão superior a três mil euros percebe-se.
Não acham genial?
Os ainda poucos leitores deste blog perguntar-se-ão quais as tendências e os seus objetivos. No primeiro "post" fiz uma breve apresentação no que respeia aos conteúdos. Esclareço agora algumas dúvidas que eventualmente se poderão ter levantado.
Não é um blog nem de esquerda, nem do centro, nem da direita.Muito menos não o é das extremas esquerda e direita.
Com uma escrita simples, por vezes com falhas, mais ou menos popular pretende-se levantar polémica e alertar consciências. Para que todos percebam afastamo-nos de uma prosa que, se muito bem construída e erudita, não seria de fácil compreensão para a maior parte dos leitores a que se dirige.
As mensagens a passar não são polissémicas mas irónicas e metafóricas!É a linguagem comum que nós, "o povaréu", compreendemos, como disse há tempos o Dr. Medina Carreira num progama televisivo da TVI e passo a citar: "o povaréu não compreende" nada do que se passa.
É às pessoas comuns que o blog se dirige e, como tal, pretendeu-se não um estilo de escrita nem jornalística nem de opinião, apesar de o ser de facto.
Criticamos e ironizamos tudo o que, no nosso entender,vai contra os interesses de todos nós sem pressupostos coletivistas ou liberais.
Se nos acusarem de apenas falar do que está mal e não do que está bem respondemos que o público se interessa mais por saber o que está mal, porque, o que se faz ou fez bem deve ser inerente aos cargos desempenhados pelos governantes. A tendência deveria ser sempre para a excelência, mesmo que utópica, e para a correcção do que está mal, tendo em vista todos os portugueses sem exceção e não o contrário.
O zoom social abre-se a todas as opiniõs e notícias más e boas, mesmo que estas últimas sejam as menos procuradas, e assim continuará.
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