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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Foi noticiado um acordo com a APIFARMA e o Infarmed para a distribuição pelos idosos (repito: pelos idosos) medicamentos que estejam a seis meses do fim da validade. A medida parece-me positiva, mas como já vamos estando habituados às mais diversas “manobras” destes senhores que nos governam ficamos logo em alerta.
Como se está a verificar uma quebra na procura dos medicamentos por falta de recursos financeiros de quem necessita de os comprar, normalmente os pensionistas e reformados idosos, aqui está mais uma medida, esta aparentemente positiva, daquele senhor que está no Ministério da Segurança Social que hoje propõe uma coisa e amanhã o seu contrário.
O objetivo suposto é que as empresas farmacêuticas distribuam medicamentos que estão no fim de prazo de validade por falta de venda. Dizem ser uma doação, mas, resta saber, quem vai assumir os custos a distribuição se são a APIFARMA e o Infarmed.
Claro que, quem vai apanhar com os medicamentos em final de prazo são mais uma vez os idosos que são os mais vulneráveis economicamente e menos informados, podem não perceber qual o verdadeiro alcance da medida, devido à falta de informação e de esclarecimento sobre a “bondade da oferta”.
O pode acontecer se, por exemplo, um medicamento com uma embalagem de 20 comprimidos estiver a uma semana do final do prazo, continua a ser válido tomar esse medicamento sabendo que após alguns dias ficará fora de prazo? E se, em conformidade com a posologia indicada, esse medicamento não for consumido nessa semana? Haverá ou não, o risco de esse medicamento continuar a ser utilizado pelo doente após ter caducado a validade?
Há ainda outro problema que é o de saber se os medicamentos a distribuir são, de facto, aqueles que são os mais utilizados pelos idosos face à prescrição médica e também se serão os se encontram em armazém perto do final da validade. Combater o desperdício sim, mas não à custa das pessoas. É que, quem toma medidas, deve saber que está a lidar com pessoas e não com números.
Poderemos sempre especular sobre uma possível teoria da conspiração contra os idosos. Se em condições normais aqueles medicamentos não estariam autorizados a ser comercializados e a entrarem no mercado farmacêutico, porquê agora a descoberta desta grande medida social?
Conforme o previso no Programa de Emergência Social, a distribuição dos medicamentos é feita em «locais próprios e credenciados nas instituições sociais, com salvaguarda das regras legais de segurança». Vão controlar isto? Então não vão…? E os custos do controle não contam? Poupam na farinha e gastam no farelo. Resta ainda saber se aquelas instituições farmacêuticas não receberão quaisquer compensações do Estado, por poucas que seja, com esta benesse aos idosos.
Após ano e meio qualquer cidadão como eu está no direito de desconfiar de quaisquer medidas que venham desta governação porque elas trouxeram sempre “água no bico”. Quer dizer com isto que dizem uma coisa e aplicam outra, prometem uma medidas e executam outra.
Tendo em conta a notícia publicada em http://www.publico.pt/Sociedade/ministerio-autorizado-a-cortar-em-tratamentos-mais-caros-para-cancro-1564780 veremos que pouco a pouco iremos cair, embora com outros contornos, numa espécie de solução final, mas muito mais requintada, neste caso para os doentes mais débeis, que tiverem o atrevimento de adoecer. Por enquanto não tem ainda em vista questões raciais, mas sociais. Doentes mais débeis de classes sociais, também elas, financeiramente mais mais débeis deverão morrer. Isto é, quem é rico viverá mesmo que seja mais dois meses, quem o não for deverá morrer porque não tem opção para escolher a cura por impossibilidade financeira.
Estes senhores estão sempre a salvo, o cidadão comum, se doente, elimina-se. Depois chamam-lhe racionalizar. Sem meios de diagnóstico como saber se alguma doença estará ou não a declarar-se. Quando se diagnosticar já não há remédio. Depois é menos u que fica.
Eis a ideologia ultra deste senhores.
Francamente, para onde estamos a caminhar. Cortar e matar sempre que possível. Isto são prenúncios ainda que ténues de ideologias pro-nazis.
Num relatório recente do Observatório Português dos Sistemas de Saúde apresentado no dia 14 de junho veio confirmar aquilo que grande parte da população utente do SNS vem confirmando mas não tem coragem para dizer, (aqui voltamos à questão do medo que já apresentei em “post” anterior), ou não diz, por a sua voz não ter eco.
Os indicadores apresentados confirmam o tal sentimento generalizado Eis alguns que são sintetizados por Marta Reis no Jornal i:
Acesso aos cuidados de saúde |
|
Piorou |
58% |
Piorou muito |
16% |
Dificuldade em pagar as taxas e os transportes para o SNS |
43% |
Dificuldades frequentes em aviar a medicação devido ao custo |
46% |
Aumento dos casos de depressão |
64% |
Manifestações de insatisfação dos utentes traduzidas em protestos e ameaças |
|
Não comprar todos os medicamentos receitados |
20% |
Por ter medicamentos em casa |
40% |
Por dificuldades económicas |
25% |
Inquéritos efetuados
741 Médicos
878 Profissionais de Unidades de Saúde Familiar
Nas farmácias (41 e dados de 375 doentes)
Estes e muitos outros elementos demonstram que tem vindo a aumentar a degradação do SNS e, consequentemente, o aumento do sofrimento dos portugueses.
Num comentário naquele mesmo dia de apresentação do relatório o deputado Guilherme Silva, num frente a frente da SIC Notícias, deitando mais uma vez poeira para os olhos dos portugueses, baseia-se num pequeno parágrafo em que diz haver uma contradição, para desvalorizar todas as conclusões do relatório. Tomar a parte pelo todo, à falta de melhores argumento, tudo serve.
O antigo primeiro-ministro, José Sócrates, tinha avisado que os liberais do PSD iriam desmantelar o SNS para que a privatização entrasse em força na saúde e nisso tinha toda a razão. Mas verdade é que foi no governo dele que se deu o seu início e que mais medidas idênticas iriam ser tomadas naquele sentido.
Como é mais do que sabido, todos os que tomam as decisões têm os seus amigos médicos e hospitais privados para eles e respetivas famílias, as medidas vão apenas atingir outros, portanto, para a frente é que é o caminho.
Ao fim de tantos anos fazem agora tudo à pressa, sem avaliarem os impactos das medidas tomadas e sem tentarem arranjar soluções alternativas que os minimizem. Mas isto é muito difícil para estes novos governantes (ou governantes novos), a menos que gastem milhões e mais milhões de euros em estudos, encomendados a quem lhes interessa e, sobre os quais, não se conhecem quaisquer conclusões. E cá estamos nós a pagar e a cair no buraco que escavam cada vez mais fundo.
Para a maior parte desta geração de políticos que nos governa, salvaguardando algumas honrosas exceções, é tudo incontornável, o que sempre serve para justificar incompetências, falta de valores e sentido humanístico que não lhes foram dados nas escolas e universidades públicas e privadas pós 25 de abril onde, muitas vezes, se reivindicaram passagens administrativas.
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