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Há indivíduos que se dizem apartidários mas que, na eventualidade de um partido fascista de extrema-direita tomar o poder, estariam nas suas fileiras pagos pelo regime para trucidar quem fosse pela democracia ou fizesse oposição à ditadura que se instalasse.

São sempre os mesmo do costume. Os mesmos não, são outros, mas a porcaria é a mesma que aproveita o descontentamento de alguns. As palavras de ordem destes megalomaníacos da politiquice apartidária que afirmam não ter partido e agem por conta própria, mas que militam em partidos cujo objetivos já se conhecessem…

Há ambições para tudo e há que começar por algum lado e este a que me refiro é ambicioso e, confessa que  acha mesmo um "ultraje" a forma como os portugueses estão a ser tratados por este Governo e não esconde estar "profundamente indignado" com o que tem assistido (tem a ver com as medidas de emergência tomadas pelo Governo). Este possesso não vê o que se está a passar por toda a Europa devido à covid-19 metendo a cabeça na areia para depois a levantar para tecer uma verborreia sobre o caso em Portugal.

Objetivos: nenhuns, apenas protestar. Protesta e diz que quer manter os protestos fora da esfera partidária é uma questão estratégica. Diz ser contra os políticos, mas afirma ser militante do Chega. Como muitos outros que por aí andam diz que agiu sozinho e que as “sociedades estão fartas dos partidos”. Atente-se bem nesta frase. Não são as pessoas que estão fartas de partidos, são as sociedades. Abrangeu as sociedades no seu todo e generalizou.  Todas estão fartas de partidos. O que podemos inferir daqui?

Os partidos são parte integrante das democracias, não há democracias sem partidos, logo, ele, o dito jovem, defende ditaduras para as sociedades, logo, para Portugal também. Mas se o inflamado jovem militante de um partido diz estar farto de partidos e de políticos então o que está a fazer no partido onde milita? Será que apenas o partido dele é que tem validade e do qual não nos devemos fartar? Estranho pensamento este que garante que agiu sozinho e que "despiu a camisola" para avançar com esta causa. Qual causa? A dele ou a do partido dele?

São meninos como este que, para justificarem o seu desinteresse seguem este que por acaso, (só por caso), é do Chega e está solidário com os empresários e trabalhadores da restauração porque tem um primo que tem um hotel, e que “sozinho” "despiu a camisola" e organizou uma manifestação “apartidária”. São indivíduos como este, os do costume, os necrófagos das democracias. São indivíduos e jovens como este que, na eventualidade de um partido fascista ou de extrema-direita tomasse o poder estariam de imediato nas suas fileiras, pagos pelo regime, para trucidar quem fosse pela democracia ou fizesse oposição à ditadura que se instalasse.

E cá estou eu a fazer futurologia. Caso se concretizasse, o que ele, o jovem, tanto anseia, será deixar de haver partidos, e dar lugar à política que ele diz não querer e vai fazendo críticas aos media: "abaixo os jornalistas" e de seguida surgem os primeiros pedidos de demissão, que arrancam pela ministra da Saúde, logo a seguir vem a diretora geral e, no final é a vez de "Governo para a rua" e de "António Costa, demissão, demissão". Se os seus pedidos fossem concretizados que é que ele proporia para um governo, visto que as pessoas estão fartas de políticos e de partidos?

Segundo o Expresso “Há ainda uma confusão no ar sobre o objetivo do protesto e os jornalistas perguntam qual a relação desta manifestação com a que, mais abaixo no Rossio, reúne responsáveis da restauração, hotelaria, turismo e cultura. José Maria chega e vai direto ao assunto. "Não tenho nada a ver com a “restauração”. Tenho um primo que tem um hotel, mais nada", diz ao Expresso. "Estou aqui porque estou chocado com o que se está a passar".”

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publicado às 19:37

O aquecimento global não é só climatérico é também político

A necessidade de protagonismo é uma praga que, cada vez mais, atinge e se estende a vários grupos so

por Manuel_AR, em 05.11.19

Aquecimento político.png

A necessidade de protagonismo é uma praga que, cada vez mais, atinge e se estende a vários grupos sociais e a pessoas da política e fora dela. Utilizam todos os meios convencionais que têm ao dispor para alcançar esse objetivo e, falhado esses, são as redes sociais o seu meio preferencial.

A política não tem sido parca a esse fenómeno, nomeadamente os populistas de extrema-direita e também, em menor escala, a extrema-esquerda, cada um à sua maneira, que têm começado a ter cada vez mais protagonismo. Será este um dos males trazido pela exigência com que os mentores da mais e melhor democracia nos têm invadido como se a que temos já não chegasse? Os resultados, mascarados com a mais democracia, começam a ser visíveis na Europa e no resto do mundo.

 A temperatura das manifestações sociais espontâneas ou manipuladas por vários grupos extremistas tem subido em vários locais do mundo prevendo-se temperaturas muito mais extremas provindas de fenómenos políticos atípicos.

Justificadas por várias causas, quer remotas, quer próximas, com diferentes virulências e motivações específicas, estão a verificar-se conturbações e crispações sociais em várias nações. No Líbano, no Iraque, em Hong Kong, em Paris, Londres Barcelona entre outras. A estas vieram acrescentar-se recentemente e agora com mais vigor as lutas em prol do ambiente.

Todos parecem estar empenhados, negros, brancos, várias etnias e religiões, árabes, asiáticos, homens, mulheres ou crianças. Nesses países as palavras de ordem são semelhantes. Seja em castelhano, inglês, árabe ou qualquer outra língua, é surpreendente a semelhança dos cartazes e das palavras de ordem.

Nenhum dos protestos pode ser reduzido a uma só questão nomeadamente a económica. Muitos dos protestos desencadeados por indivíduos ou grupos que se distinguem pela violência e pelo alimentar do medo nas populações a forma de serem ouvidos e colocados nas primeiras páginas do jornais e aberturas da informação televisiva. E os noticiários televisivos dão-lhes cobertura e relevância porque o medo e a violência compram audiências.

As consequências destes movimentos inorgânicos ou organizados, alguns pouco democráticos demonstrado pelas suas atuações violentas, são a satisfação das exigências e a cedências às suas reivindicações feitas pelos governos. Mas, mesmo com a satisfação das exigências esses movimentos continuam com os protestos.

O que aparentemente desencadeia as manifestações com consequente violência desenfreada nas ruas é normalmente a pretexto de alguma coisa de concreto, como por exemplo a lei da extradição num território (p.e. Hong Kong), o aumento de preços dos combustíveis num lado, o custo de vida no outro, as prisões ditas políticas aqui, as desigualdades ali. São algo de concreto, mas são motivos que apenas servem para disfarçar outras realidades ainda ocultas, disseminadas, mas em estado mais do que embrionário prontas a emergir em qualquer momento. Os geradores destes embriões, os que os alimentam, não se conhecem exatamente quem são, mas andam por aí dispersos.

Todas estas manifestações já são mais do que isso, são insurreições, são o caldo de cultura virulenta que pode conduzir aos populismos e totalitarismos, soluções que muitos acham que poderão resolver o objeto do descontentamento.      

Coincidência, ou não, o crescendo da turbulência que já tinha sido semeada agravou-se com a política de desorientação, desvario e confusão resultante da eleição de Donald Trump nos EUA.

 A direita, e sobretudo a extrema-direita, mais do que a esquerda, têm nas redes sociais uma rede de gente cuja missão é a desinformação, a difusão de propaganda e notícias falsas de forma a descredibilizarem, as instituições democráticas e os políticos. Utilizam as liberdades democráticas para promover a erosão da confiança nas autoridades, encorajar a militância que nutra a raiva contra o sistema político através de publicações sobre assuntos como a raça, imigração, género, convocações de manifestações inorgânicas, etc. São uma espécie de departamentos idênticos aos que engendravam desinformação e conspirações no tempo do estalinismo soviético e do nazismo, mas que utilizam agora as redes sociais e a Internet como veículos de difusão. 

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publicado às 19:17

Coletes amarelos_2.png

Portugal sempre foi um país muito permeável ao que vem de fora e, claro, como imitador convicto em tudo não podia deixar de imitar o que se fez em França, país onde os problemas não são comparáveis, e em nada têm a ver com os nossos, até porque a direita neoliberal lá governa. Havendo falta de originalidade recorre-se à imitação com movimento organizado, manipulado e manipulador de opinião, onde estará envolvida organizações da extrema-direita como o partido PNR, mas não há a certeza.  

Isto leva-me a refletir sobre a relação da política exercida com este tipo de movimentos ditos espontâneos. No dia 25 de abril de 1974 durante o cerco do Quartel do Carmo, quando Salgueiro Maia consegue a rendição de Marcelo Caetano este faz uma exigência: só aceita entregar-se a um oficial de patente superior para que o "poder não caia na rua". António de Spínola foi o homem escolhido. Na altura não havia internet, nem redes sociais como o Twitter e o Facebook.

Hoje em dia o Poder pode, através das redes sociais, correr o risco de cair na rua e as decisões políticas serem pressionadas sem qualquer reflexão. Basta uma convocatória no Facebook por um qualquer grupo de indivíduos, ou “amigos facebookianos” que compartilham os mesmo objetivos para haver uma concentração na rua a reivindicar e a exigir, o quer que seja, sem ponderação sobre as consequências, a não ser as das exigências que satisfaçam os seus pontos de vista que dizem também ser os de todo o povo sem que haja representantes para uma intermediação. Falam em nome do povo, e o povo acolhe essa demagogia populista porque vai ao encontro do seu sentir como uma espécie de epifania. É a constatação do tentar fazer cair o Poder na rua como se verificou em França com os autodenominados coletes amarelos.

Políticos de vários quadrantes face ao mal-estar que se tem gerado relativamente à política e aos políticos, não raras vezes alimentado pela comunicação social, prometem em ocasiões eleitorais uma política de proximidade sem clarificarem o que entendem por isso, cada um tem a sua própria interpretação. Podemos pensar que todos eles se referem a uma aproximação da política às comunidades e às pessoas.

Por sua vez as televisões para captar audiência procuram através de peças ditas de jornalismo de investigação e outras, mais rebuscadas, dirigidas mais à emoção do que à racionalidade dos telespectadores, insinuando oposições aos governos que estão na altura no poder. Diga-se, mais a uns, quando são de esquerda, menos a outros, quando são de direita.  Organizações e grupos de interesses têm contribuído também para debilitar o poder quando este não vai de encontro aos seus interesses.

Veja-se o caso do presidente da Liga dos Bombeiros Portugueses, Jaime Marta Soares, que incita os bombeiros a manifestarem-se contra a proposta do Governo para a lei orgânica para a Autoridade Nacional de Proteção Civil (ANPC), na área da proteção civil que vai passar a chamar-se Autoridade Nacional de Emergências e Proteção Civil e que, segundo ele, não tem nenhuma das ideias apresentadas pela Liga dos Bombeiros Portugueses. A dúvida que se pode colocar é se este confronto com o Governo não será apenas por uma questão de perda de poder que terá sido retirado ao senhor Marta Soares.  

Outro tema que causa mal-estar para com os políticos é a fraude e a corrupção que faz gastar nas redes sociais, não rios de tinta, mas rios de tempo e de frases digitadas. Há dias, 5 de dezembro do corrente, saiu um aviso do Tribunal de Contas alertando para “risco de fraude fiscal com viagens de deputados”. O tema sobre as despesas fraudulentas de deputados não é novo e acontece o mesmo noutros países. Por exemplo, no Reino Unido, em 2009, David Cameron o líder dos conservadores na altura, num artigo publicado no The Guardian afirmava que “a fúria pública no escândalo das despesas dos deputados aponta para problemas profundos no sistema político britânico” e apelava para restaurar o controle local. Mais à frente acrescentava: “Portanto, acredito que o objetivo central da nova política de que precisamos deve ser uma redistribuição massiva, ampla e radical do poder: do Estado para os cidadãos; do governo ao parlamento;”.  “Por meio da descentralização, transparência e responsabilidade, devemos tomar o poder da elite e entregá-lo ao homem e à mulher na rua.”.

Aquelas afirmações parecem ter vindo de um qualquer extremista de esquerda, mas sabemos que era pura demagogia. Numa tentativa de transparência Cameron ao fazer um referendo de consulta ao povo sobre a saída ou permanência na União Europeia tramou-se, tramou o Reino Unido, e o povo tramou-se também ao votar SIM.

Vem isto a propósito da política de proximidade e vontade para que haja o menos possível de intermediação. As redes sociais passaram a ser a tecnologia da proximidade entre políticos e o povo muitas vezes inculto e iletrado, mas que maneja com à vontade as tecnologias dessas redes com as quais o poder tende agora a comunicar.

Julga-se que esta é uma nova onda democratizadora com base nas novas possibilidades comunicativas. Com mais acesso à informação as pessoas adquiriram mais capacidade de conhecimento antes apenas na posse de especialistas com autoridade indiscutível. Daí que a transparência e o acesso à informação imediata e ao conhecimento podem levar a que nas redes sociais se chame a atenção para um estado insuportável de coisas para as quais é necessária a mobilização popular, o que não basta.

Para que se cumpra a democracia em contextos como este também é necessária uma representação e o assumir de compromissos, isto numa base de democracia representativa construída entre povo e governantes para que funcione uma lógica de proximidade q.b. que obrigue os políticos a manter-se em contacto com os cidadãos. Em convocações de mobilização popular nas redes sociais sem representantes quem vai negociar? Quem vai assumir quaisquer compromissos? Quem diz ao que vai? Ninguém. Todos querem tudo, cada um à sua maneira e esquecendo o país como um todo e colocando na dianteiros interesses individuais e particulares dissimulados por falsas atitudes coletivas.

Em França Macron capitulou. Deu tudo. Não se sabe é onde vai buscar o dinheiro para tudo quanto prometeu aos “revoltantes” coletes amarelos. Será que não ficou fragilizado e outras reivindicações sem fim aparecerão?  A culpa do estado a que a França chegou com o governo neoliberal de Macron não terá sido dos mesmos que agora contestam as suas políticas e que o elegeram com 66% dos votos? O povo parece então não saber o quer quando vota ou, então, deixa enganar por lhe faltar literacia política que eu penso os franceses terão perdido. Se me perguntarem se estou do lado de Macron direi que não, mas também não estou do lado de movimentos inorgânicos sem liderança ou com lideranças ad hoc feitas ao momento. Contudo, é um facto que a maioria das conquistas sociais não foram antecipadas pelo poder político, mas sim o resultado de pressões sociais concretas o que apesar disso não podemos ficar deslumbrados com a espontaneidade popular ao ponto de se concluir que quem protesta tem sempre razão.

O editorial do jornal Le Monde de hoje sintetizava: “Confrontado com as teorias da conspiração que abundam nas redes sociais, é necessário incentivá-los a desenvolver o pensamento crítico, a fim de evitar que este fenómeno anda a minar o funcionamento da democracia.”. Ora é aqui que bate o ponto.

Para amplos setores da população a realidade representada pelos partidos deixou de ser atrativa ao mesmo tempo que a cultura virtual da rede lhes permite articular comodamente as suas disposições políticas fluídas, como o são as convocações de movimentos espontâneos sem liderança e intermitentes, e inclusive situar-se online em qualquer momento bombardeando o sistema político com exigências de todos os tipos. A falta de liderança é apenas aparente visto que por detrás deles se encontram certas ideologias das extremas políticas que os incentivam.

Estes movimentos querem ser antipolíticos fazendo política e puxam o povo para a rua em contrapartida aos atores políticos que apenas em tempo de eleições se desdobram numa atitude forçada para saírem dos seus gabinetes e aparecerem junto do povo como se isso fosse a prática que sempre tiveram, quando é por demais reconhecido que apenas o faziam em período de campanha eleitoral. Partidos políticos do arco da governação e da oposição dita tradicional, que fazem parte da esfera do poder querem passar a ideia de que estão em sintonia com o povo competindo freneticamente para ver quem faz melhor com slogans esgotados e/ou reagindo a ideias e propostas alheias, apresentando-as com novas roupagens como sendo suas, e tentando promover uma conduta imaculada.

Hoje a direita através da comissão do PSD para a Reforma do Sistema Político e Eleitoral desafia os militantes do partido a enviarem os seus contributos para “construir um PSD 4.0  Sem se referir a medidas concretas, Pedro Rodrigues defende a introdução de "uma urgente reforma da lei eleitoral, de forma a potenciar a aproximação entre os eleitos e os eleitores”.

Os políticos dos partidos quando se encontram na oposição, assim como jornalistas e comentadores, pretendem convencer os potenciais eleitores de que quem está no Governo deve fazer uma política de proximidade e ter a capacidade de ubiquidade. Isto é, a proximidade presume a obrigação de os governantes parecerem próximos e terem a arte e a qualidade de estar ou ir a todo o lado. Como exemplo cito Assunção Cristas que criticou António Costa por não ter ido a Borba no caso do acidente da pedreira ou o desagrado de alguns quando o Presidente da República Marcelo não pode estar quando o convidam por tudo e por nada.

A democracia representativa não é antagónica com os vínculos sociais e políticos da proximidade, escutando os cidadãos e as suas preocupações e expectativas superando os efeitos do fosso entre eleitos e eleitores, privilegiando uma aproximação concreta, precisa às realidades da diferente posição dominante das tarefas do Estado. Não fazendo essa tentativa surgem movimentos manipulados e manipuladores que obrigam os políticos a ouvi-los.

A distância entre os governantes e o povo foi encurtada com o acesso às redes sociais. Os governantes quando pretendem enviar mensagens ao momento não contam já com os órgãos de comunicação que tardam por horas ou dias a divulgar a informação. As redes sociais são mais rápidas e as mensagens podem ser acedidas em qualquer hora ou lugar através de um simples telemóvel no momento em que foi colocada. Não é por acaso que líderes de governos usam e abusam da sua utilização com as mais diversas finalidades. É o caso do Presidente Trump nos EUA que faz política através de curtos comunicados, por vezes com verdades distorcidas ou até meias verdades que induzem falsas conclusões.

As redes socais passaram a ser “territórios” de proximidade e de exibicionismos político como é o caso de Trump EUA que abusa do Twitter como uma espécie de ferramenta para fazer truques de ilusão da sua política. Através destes meios a opinião pública pode ser manipulada, mesmo sem ser através das “fake news”. Com a proximidade através das redes sociais há a possibilidade de encenação.

Com as redes sociais passou a existir uma ligação íntima entre conversas e publicações informais, próprios das comunidades reais e virtuais, e a capacidade de auto governação de grandes grupos sociais sem a necessidade de monarcas ou ditadores e que passaram a fazer parte da esfera pública isto é, o domínio da vida social onde se forma a opinião pública. Há ainda porções da esfera pública quando as pessoas se reúnem para falar e para tratar de diversas questões de interesse geral sem estarem sujeitos a constrangimentos por estar garantida a sua liberdade de reunião e expressão de ideias.

Mesmo sem a proximidade ilusória das redes socias a proximidade real é também artificial, tem muito de encenação, traduzindo-se numa impressão de proximidade produzida pelas estratégias dos partidos. Mais uma vez recorro ao exemplo da líder do CDS/PP, Assunção Cristas, que faz por aparecer em teatros de operações, nomeadamente de tragédia, fazendo confundir proximidade com notoriedade e visibilidade nos que os órgãos de comunicação ajudam a construir. Produz-se assim um efeito de proximidade que é uma encenação de falsa familiaridade sobretudo a partir do momento em que ela pode ser produzida através dos meios de comunicação.

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publicado às 23:59

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Nas duas últimas semanas nos órgãos de comunicação têm dado relevo a protestos reivindicativos vindo de vários quadrantes profissionais: são os da função pública, da Fenprof, da ASAE, da administração local, da PSP, enfermeiros, etc. Os enfermeiros ávidos por regalias e estatuto esperam para ver. Uns manobrados pelo PCP outros por fações sindicalistas afetos ao PSD.

A minha memória leva-me ao passado recente do governo PSD/CDS quando foram cortados a estas mesmas classes profissionais salários, direitos e regalias e, salvo uma ou outra agitação infrutífera incitada pela esquerda remetiam-se para seu cantinho sem resultados práticos a não ser o protesto com significado político.

Passos Coelho conseguia impor-se pela manipulação das emoções populares através da ameaça e do medo. Ao mesmo tempo demonstrava que a responsabilidade da austeridade era imposta pela troica, o que posteriormente se verificou não ser totalmente verdade. Os que agora vêm para as ruas calavam-se então. Estranho o facto dos movimentos reivindicativos estejam agora centrados neste Governo que tem vindo dentro do possível a cumprir o que prometeu do que o passado governo da direita.

Quer se queira, ou não, estas manifestações reivindicativas são aproveitadas para o protesto político, pese embora o facto da justeza, ou não, das exigências a que chamam direitos que em tempo lhes foram retirados.  

Jerónimo de Sousa, após as eleições autárquicas, deu a tender que as populações só tinham a perder ao desviarem o seu voto e que não tinham dado o devido valor à luta que o PCP tinha encetado pela reposição e recuperação de salários e direitos atribuindo culpas a tudo quanto foi a oposição contra a CDU.

O comunicado emitido pelo Comité Central do PCP é esclarecedor quando diz: “No resultado da CDU fica evidente que muitas das pessoas que durante este período nos dirigiram palavras de reconhecimento pelo papel decisivo do PCP na derrota do governo PSD/CDS ainda não ganharam a consciência da contribuição decisiva do PCP em muito do que foi alcançado na reposição e conquista de direitos e que reside no reforço do PCP e do PEV, e não no PS, a possibilidade de assegurar que esse caminho prossiga e se amplie.”

Posição estranha esta, já que o PCP, tendo um saber político de experiência feito ao longo de anos, tenha desvalorizado durante a disputa da campanha eleitoral por lugares de poder autárquico em que não há amigos e que, por isso, cada uma das forças em presença faz por ganhar. Todavia, terá razão quando afirma que a campanha foi muitas vezes baseada em argumentos falsos e muitas vezes ofensivos. Mas isto é o que se passa em todas as campanhas eleitorais.

Mais à frente, o mesmo comunicado critica a tese neoliberal de empobrecimento enaltecido por Passos Coelho no tempo do seu governo de direita e diz que “A evolução mais recente da economia nacional derrota a tese que identificava o crescimento económico com medidas de agravamento da exploração e de empobrecimento que foram impostas ao povo português ao longo de anos, e dá sustentabilidade à necessidade de aprofundar ainda mais o caminho de reposição de direitos, de aumento de salários, das reformas, pensões e apoios sociais, de resposta a problemas mais sentidos pelos trabalhadores e a população.” O PCP não tendo ainda abandonado a sua visão centralizadora e deslumbrado por economias estatais defende em qualquer contexto tudo quanto sejam reivindicações como se os recursos financeiros fossem infinitos e o orçamento de estado um poço sem fundo.

O PCP ao acionar a correia de transmissão dos sindicatos que controla faz também o jogo de partido populista ao explorar emoções das classes profissionais utilizando para tal o aumento de rendimentos, de regalias e de direitos, sabendo que cada uma delas olha para o seu próprio umbigo. Por seu lado a direita quando não está no poder acompanha e apoia sempre que pode, mas com discrição, os movimentos da esquerda e dos sindicatos onde tem insipiente influência.

Quando a economia cresce um pouquinho, nem deixam assentar. Logo que lhes cheira a dinheiro preparam-se para toda a espécie de reivindicações. Todos querem comer à mesa do orçamento.

Quando depois se dá um a passo maior do que a perna volta tudo ao mesmo. É sempre o mesmo, quando está no poder um governo socialista. Sempre foi assim. Admiram-se depois dos ciclos de austeridade. Mas, quando uma qualquer direita o substitui no poder tudo fica de mansinho e tímidas manifestações surgem que logo se esfumam.

As últimas eleições autárquicas parecem ter demonstrado que nem sempre os partidos que reclamam os louros da recuperação de rendimento, direitos e regalias sociais não são necessariamente os mais favorecidos. Daqui que se pode inferir que não existe uma correlação direta entre os dois factos. Existem outras variáveis que complexificam o modelo de análise.  

Em alturas em que as populações valorizam a estabilidade social nem sempre veem com bons olhos a existência de movimentos reivindicativos excessivos e extemporâneos (que, para os sindicatos são infindáveis) tendo um efeito perverso porque, quando há eleições foi esquecida a fonte do movimento.

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publicado às 20:20

Tenham tento por favor

por Manuel_AR, em 03.07.13

 

Não tenho razões suficientes para estar a favor ou contra as demissões de Vítor Gaspar e de Paulo Portas nada disso me deixa de momento nem mais nem menos feliz. Por isso, e até ver, não farei quaisquer comentários.

Por outro lado, tenho colocado vários “posts” neste blog, que podem ser consultados, em que Gaspar, Passos, Cavaco e Portas não foram poupados a críticas da minha parte. Todavia há algo que não aceito, é que se chegue à humilhação de pessoas porque não concordemos com as suas políticas que têm prejudicado a maioria dos setores da população, empresas incluídas.

Vem isto a propósito de notícias que vieram a público, ver Jornal i, sobre o enxovalho físico e psicológico feito a Vítor Gaspar e sua esposa. Podemos simpatizar e até apoiar manifestações pacíficas, como “grandoladas” que perturbam o andamento de acontecimentos e eventos, apupos populares inofensivos, cartazes humorísticos, cartazes com calões e nomes populares, gritos de protestos e outras manifestações de desagrado e de oposição às políticas praticadas, mas penso haver um limite.

Há locais e tempo próprio para protestos. Vítor Gaspar, quer gostemos ou não do que eles nos tem feito e das políticas por ele praticadas, e eu não gosto, é um cidadão como nós que está num momento da sua vida pessoal que nada tem a ver com a política. O silêncio e o ignorar , em certas circunstâncias, é mais eficaz na mostra de descontentamento.

Os ataques pessoais, e não ao político, e foi disso que se tratou, faz parte de uma vendeta popular na praça pública desnecessária porque ineficaz. E não me venham agora dizer que foi por isso que ele se demitiu!

Todos os portugueses, uns mais do que outros, talvez a maioria, têm sofrido com a incompetência de Passo Coelho e as teorizações e experimentações macroeconómicas de Gaspar. Mas podemos perguntar quem eram os que o enxovalharam. Não eram com certeza os mais prejudicados porque, esses, já nem podem ir aos supermercados, limitam-se ao assistencialismo como muitas famílias da classe média que este governo tencionou destruir. Quem lá estava ainda tinha poder de compra, caso contrário não teria dinheiro nem para a deslocação, quanto mais para consumir.

Com alguma certeza, muitos dos que tiveram este tipo de atitude e de comportamento, na altura em que poderia manifestar-se contribuindo para encher praças de protesto, estavam comodamente sentados em suas casas sentados a ver televisão e a beber umas “bejecas”, coisa que muitos já nem isso podem fazer.

Tenham tento por favor!

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publicado às 20:41

O sucesso ou o insucesso de uma greve

por Manuel_AR, em 23.06.13

Será que os exemplos das manifestações na Turquia e no Brasil que, até agora, não são movidos por razões de defesa de direitos e de aumentos salariais, poderão alguma vez nos dar coragem, a nós portugueses?


 

Há razões para que a greve geral do dia 27 de junho não tenha o sucesso que seria desejável para ser eficaz. Não porque os trabalhadores deixaram de ter o sentimento de ser uma greve para defesa dos seus interesses, mas porque o clima de amedrontamento montado pelo Governo na sociedade portuguesa, para cumprimento dos seus objetivos, facilita opiniões adversas à greve.

A primeira razão é o medo, a ansiedade de não saber o dia de amanhã, o desânimo e a divisão que este Governo instaurou a todos os níveis no país, acolitado pelo Presidente da República que, presumivelmente, para dar o exemplo, admite que se prendam cidadão que se manifestam verbalmente e se instaurem processos a comentadores políticos ela utilização de termos meramente de opinião e contextuais.

A greve poderá não ter o efeito pretendido porque, em primeiro lugar, é preciso não esquecer as notícias vindas a público sobre as orientações dadas a todos os diretores de serviços da função pública para que todos os seus responsáveis elaborem listas de dispensa de pessoal. Sobre isto, veio hoje a saber-se que, oportunisticamente, a nova lei da mobilidade retira militares a lista de dispensas da função pública. Consequentemente será normal que os trabalhadores, receando vir a ser incluídos nas listas se retraiam de fazer greve.

A segunda razão é ao nível do setor privado que, devido à insegurança relativamente aos contratos de trabalho, muitos deles precários, à perturbação causada pela incerteza e à procura da manutenção do posto de trabalho, associada à pressão da enorme oferta de mão-de-obra, podem servir de negação para a adesão à greve.  

Até porque os portugueses não têm a mesma coragem dos brasileiros por muito que se diga que têm limites para a complacência. Os portugueses estão divididos e acomodados com a sorte que lhes é imposta pelo medo, pela incerteza e pela insegurança.

Será que os exemplos das manifestações na Turquia e no Brasil que, até agora, não são movidos por razões de defesa de direitos e de aumentos salariais, poderão alguma vez nos dar coragem, a nós portugueses?


Imagem de: Diretório Central dos Estudantes da Universidade Tecnológica Federal do Paraná

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publicado às 20:15

 

Tenho profundo respeito por quem professa uma religião e tem fé, seja la com base cristã ou não, quando a mesma assenta numa base sincera da sua crença e contribua para a formação de valores espirituais e sociais do Homem. Nada tenho contra quem, de forma ativa e militante, a vive e a pratica.

 

 Em campo diferente mas de certo modo semelhante, situo os apoiantes e admiradores do desporto, nomeadamente do futebol, que, não fazendo parte do domínio da fé como a religião, é vivido pelos adeptos quando se mobilizam para apoiar os seus clubes sem que disso lhes advenha qualquer prejuízo ou vantagem a não ser o prazer de uma vitória ou o desgosto de uma derrota.

 

As multidões que se movimentam naqueles dois campos são imensas. Veja-se o caso de Fátima nas datas mais comemorativas das aparições para onde se deslocam, em peregrinação ou não, pessoas das mais diversas classe e estratos sociais procurando algo milagroso que cure os seus males espirituais e ou materiais. Numa atitude meramente de fé procuram algo que circunstâncias pessoais fizeram perder, ou a sociedade não lhes concedeu ou retirou, sem qualquer certeza de que, esse algo, venha a ser obtido ou concedido, julgando previamente que o que procuram não está nas mãos do Homem nem da sociedade, mas apenas numa crença que ultrapassa o domínio da razão.

 

Em contraponto, quando se trata da necessidade de adesão em massa para atos concretos que não sejam meramente de fé, cujo objetivo é reivindicar ou opor-se a algo que contribua para modificar uma realidade social vivida no domínio do concreto, mesmo que cada um se sinta prejudicado em particular, a capacidade de mobilização é menor. Num contexto social, a consciência político-partidária e grupal sobrepõe-se racionalmente, equacionando em cada um temores, incertezas, desconfianças, que condicionam uma participação que poderia contribuir, sem ser somente no domínio da fé, para modificar as suas vidas. A adesão a expressões públicas e coletivas de um sentimento, de um desagrado ou de uma opinião está muita aquém daquelas que são expressas no domínio da fé, do abstrato e do incerto.

 

 Porque será que, no domínio do real e o concreto, a fé de muitas pessoas na sua própria voz deixa de existir?

 

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publicado às 15:51


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