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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Desloco-me muitas vezes a pé pela cidade de Lisboa seguindo percursos mentalmente delineados, muitos deles de várias horas parando por vezes em um ou outro local mais marcante ou aprazível. No último percurso que efetuei, e também o mais recente, demorei mais de duas horas, observando ruas e bairros populares por onde passei pisando calçada portuguesa, algumas delas em evolução para comodidade dos peões, casas, monumentos, pessoas e outros elementos marcantes da nossa capital.
Lembrei-me que estamos em cima das eleições autárquicas e os candidatos esfalfam-se para “caçar” votos nas suas “coutadas” de influência quer seja em lugares, aldeias, vilas, cidades ou capitais de distrito. As promessas do que irão fazer multiplicam-se e emparelham com o que dizem já terem feito.
Se viajarmos por este nosso país podemos observar, sem grande esforço, que algumas coisas do que já fizeram foi apenas para encher a vista das populações algumas de utilidade prática duvidosa. Fazem-no para competir com os seus vizinhos e camaradas autarcas do mesmo ou de outros partidos, e até com os ditos independentes, numa espécie de lógica parecida com: “não podemos ficar atrás deles”.
Esta é, portanto, uma boa altura para fazermos a leitura das cidades através do modo como as olhamos e sentimos, do que representam para nós, e da perceção e imagem que cada citadino faz a sua leitura. Pensando nisto recuperei e atualizei um texto que escrevi em tempo que mostra como as diferentes perceções que temos de uma cidade onde vivemos nos dá o panorama da sua imagem e que pode consultar aqui ou ainda aqui.
Avenida Guerra Junqueiro, antes e depois
Imagem do jornal Público de 9/05/2015
A avenida Guerra Junqueiro foi despojada das copas das suas árvores frondosas que despertaram com a primavera.
Apresentando a poda radical das ramificações foi decisão do presidente da Junta de Freguesia do Areeiro, o autarca do PSD Fernando Braamcamp, que foi tomada porque as árvores perigavam a segurança das pessoas que circulavam e das viaturas estacionadas.
É verdade que os freixos ali existentes necessitavam de uma poda, como é costume, antes do início da primavera, mas o corte das árvores tem um técnica especial que, no caso, apenas se justificava aparar ramos que poderiam de facto causar perigo, aliviando a carga dos ramos que se aproximavam das janelas. Todavia, parece que de acordo com o jornal Público "se foi um bocado longe de mais", admitiu o autarca do PSD.
O PSD quer no Governo quer nas autarquias tem uma obsessão pelos cortes excessivos quer no que se refere à vida das pessoas, quer no que ser refere à gestão urbana de freguesias da cidade de Lisboa.
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Ao ler o editorial do Jornal i escrito por Luís Rosa na parte em que comenta o aumento das receitas provenientes de multas, inscritas no orçamento da câmara de Lisboa, que caracteriza como "caça à multa", fica-se com a sensação de que é a favor da ilegalidade e dos desmandos gerados pelo não cumprimento da lei.
Podemos ser levados a pensar que Luís Rosa é a favor da anarquia terceiro-mundista como sejam estacionamentos anárquicos e em locais de proibição; estacionamentos em segunda linha impedindo cidadãos, com carros bem estacionados, de utilizar as suas viaturas; estacionamento em cima das passagens de piões obrigando estes a desviarem-se a metros de distância para atravessarem uma rua ou avenida; obstrução de passeios por viaturas; utilização de telemóveis ao volante; passagens de sinais vermelhos; conduzir sobre o efeito de álcool; etc., etc.. Isto apenas no que se refere ao trânsito porque há inúmeros casos noutras áreas. Tudo isto é treta, para quê as multas, deixe-mo-nos disso porque servem apenas para arranjar receitas.
Para ele o incumprimento da lei não deve ser penalizado, nem multado, nem nada. Típico comportamento do português. Era bom que, se já foi a Espanha ou a França, por exemplo, ver como é respeitado nessas cidades o estacionamento e onde a polícia intervém de imediato em caso de transgressão.
Para Luís Rosa o resultado do não cumprimento da lei deveria ser fechar olhos. Falta de postura de cidadão. É devido a esta forma de pensar que crimes de colarinho branco andam por ai à solta.
Tornou-se evidente que para se fazer oposição agora tudo serve. Até o orçamento da câmara de Lisboa a que não davam muita importância passou agora a servir como "fonte de receitas" e arma de arremesso para a campanha eleitoral. Porque será?
O título deste "post" nada tem a ver com o livro de Pacheco Pereira,"Os dias do lixo", mas sim com a greve injustificada dos trabalhadores da limpeza urbana da Câmara de Lisboa.
A não ser o facto de ter afetado o sentido da visão e do olfato da cidade esta greve não teve, do meu ponto de vista, o incómodo e o prejuízo de outras como, por exemplo, as dos transportes que impedem os trabalhadores de chegar atempadamente aos seus postos de trabalho.
A chamada greve do lixo foi devida a uma deturpação dos motivos reais para que a mesma fosse justificada. Quando os sindicatos a convocaram foi no pressuposto, assumidamente errado, de que os trabalhadores da recolha de resíduos sólidos da cidade de Lisboa iriam passar para a competência das freguesias. Ora, o que estava em discussão era a descentralização para as juntas de freguesia da limpeza sim, mas das ruas, passeios e jardins, o que faz algum sentido. Neste caso cada junta seria responsável pela respetiva limpeza.
O que esteve em causa nesta greve não foi mais do que lutar contra a reorganização administrativa de Lisboa que prevê a transparência de competências da autarquia para as freguesias a gestão de equipamentos sociais e desportivos, pavimentos pedonais, mercados e feiras, para além de outras.
Embora muitas das vezes possa estar de acordo com algumas posições tomadas pela CGTP desta vez estou em completo desacordo. Não me colo com um seguidismo cego a qualquer posição de direita ou de esquerda, venha ele donde vier. Talvez, por isso, tenha deixado a militância em partidos políticos desde há muitos anos a esta parte. Para mim a disciplina partidária e a ideologia política têm limites.
Se porventura tivesse dotes literários "A Cidade de Ulisses" seria o livro que eu gostaria de ter escrito tal e qual Teolinda Gersão tão excelentemente fez. O mito de Ulisses é o mote para falar de amores e desamores tendo como cenário Lisboa.
Teolinda oferece-nos uma histartesória de amor em que Lisboa também é protagonista. Não o li apenas como um romance mas também como uma digressão vivida através de múltiplos percursos que passam pela arte pictórica e pelas realidades urbana e histórica.
As metáforas e as transposições para o presente que o leitor pode, a bel-prazer, ver aplicadas ao nosso país e ao mundo são, na minha perspetiva, cinema em prosa tais as imagens nos passam na corrente de consciência. "A cidade de Ulisses" é um universo pleno de segredos, de destruições corruptas, de fachadas políticas onde o mais forte impera porque “a lei é do mais forte e de quem tem melhores armas, é, poder, dinheiro, bons conhecimentos e bons advogados disponíveis, cada um sua medida”.
A narrativa, traçada com uma clareza ímpar, flui como uma cascata em que o leitor, ao atravessá-la, retém o folego até descortinar do outro lado vivências que brotam e se entretecem com oportunas descrições de fragmentos históricos e geográficos de Lisboa, acompanhados por factos sociais e políticos de relevante importância que nos potenciam recuperações de memórias passadas e presentes.
Na literatura, como no cinema, os personagens são a vida da ação, por elas sentimos interesse, curiosidade, fascínio, carinho, desagrado, admiração, condenação, antipatia ou simpatia que, através de um processo psicológico de projeção-identificação, tornam-se parte da forma como nós nos percebemos e de como somos. É o mesmo que se sente ao ler "A cidade de Ulisses".
“Criar era, naturalmente, um exercício de poder. Sim, eu não abdicava desse ponto. Queria exercer poder sobre o espectador. Fasciná-lo, subjugá-lo, convencê-lo, assustá-lo, enervá-lo, provocá-lo, deleitá-lo – criar-lhe emoções e reações” expressão do pensamento do personagem, artista plástico. São também poderes os que a boa literatura exerce sobre os leitores como se comprova em "A Cidade de Ulisses" em que a autora exerce ainda um outro poder: o de nos cativar para a leitura.
A geografia social e urbana foi a minha primeira paixão que, apesar de a ter atraiçoado com as Ciências da Educação, nunca esqueci, mesmo durante o deleite com esta mais recente. Sendo ambas sedutoras não resisti ao encanto da primeira porque esteve presente na unidade curricular de práticas pedagógicas da história e da geografia de Portugal que, entre outras, fui chamado a lecionar em cursos superiores de educação.
Na cidade de Ulisses a geografia e a história recentes lá estão, basta descobri-las. Para além da ficção Teolinda dá-nos apontamentos reais de roteiros lisboetas que a vida agitada do dia-a-dia não nos deixa descortinar. É no entrosamento entre o romance, a geografia urbana e a história passada e recente que se move a ação deste seu livro. Numa aula de interdisciplinaridade entre literatura e geografia este romance é um dos poucos que poderia ser utilizado. Conceitos de geografia urbana descritiva como rua, vila, avenida, talvegue entre outros são utilizados com propriedade ao descrever percursos lisboetas. Arquiteturas, mobiliário urbano, descrição da paisagem urbana fizeram-me recordar a “Leitura da Cidade” de Kevin Lynch que nos fornece importantes elementos marcantes que possibilitam a leitura da paisagem urbana e a orientação de percursos. Diz Lynch logo no primeiro capítulo que "Todo o cidadão possui numerosas relações com algumas partes da sua cidade e a sua imagem está impregnada de memórias e significações.".
Paulo Vaz, protagonista do romance, descreve que em Lisboa “…era fácil embrulhar-se no traçado irregular das ruas, que se interrompiam, cruzavam, mudavam de direção inesperadamente, ou não iam ter a lugar nenhum, acabavam num impasse”. “A única certeza, na cidade velha, era que, descendo sempre, se acabaria por chegar à Baixa e ao rio, quaisquer que fossem os acidentes de percurso.”. Lisboa não é assim nada comparável com a estrutura urbana, quase toda ortogonal, de uma cidade como Nova Iorque onde tantas são as avenidas imensas que se entrecruzam perpendicularmente com monotonia e os edifícios nos esmagam, não fosse o pulsar das gentes e do trânsito insuportável num constante corrupio.
"Portugal – O Mediterrâneo e o Atlântico" de Orlando Ribeiro, livro de geografia descritivo da paisagem física e humana de Portugal, publicado pela primeira vez em 1945, desatualizado no que à geografia humana diz respeito, mas pleno de atualidade na descrição da paisagem física, surgiram imediatamente no meu pensamento quando, já nas últimas páginas de "A Cidade de Ulisses", li que “Lisboa é uma cidade atlântica, mas de configuração mediterrânica: numa enseada que lhe oferece um abrigo natural e junto a uma colina, como em Atenas a acrópole.”.
Outra passagem recordou-me as férias passadas na Rinchoa com os seus pinhais, hoje destruídos e ocupados por blocos de cimento de habitações dormitório, quando nos finais dos anos quarenta princípios de cinquenta do século passado se gozavam nos arredores de Lisboa. Sempre que por ali passo recordo-me dos pastéis de massa tenra que a minha tia fazia e que eu devorava uns após outros seguindo de corrida para um baloiço improvisado no pinhal das traseiras da casa alugada à época.
O caminho traçado pela prosa de Teolinda em "A Cidade de Ulisses" contemplou-me com uma digressão rica em recordações, vivências e reflexões políticas e sociais que virão sempre à memória.
As fotografias que tirei no dia 4 de dezembro de 2013 pelas 16 horas no decurso das minhas deambulações por Lisboa mostram um rosto do verdadeiro Portugal que contrasta com a exibição de luxo.
É possível repousar em Portugal tendo como abrigo as montras da luxuosa marca PRADA sem nada pagar. O espaço PRADA abriu em Lisboa em junho de 2010 e tem as suas instalações na Av. da Liberdade 206-210. É umadas mais caras e luxosas loja de moda a quem apenas alguns, muito poucos, têm acesso. É, dizem outros, um orgulho para a capital ter lojas de luxo como esta entre outras que proliferam naquela avenida.
Angolanos, chineses e outros estrangeiros, mas também alguns portugueses endinheirados, são os clientes mais frequentes. Entre os portugueses haverá, por acaso, alguns que se endividam para mostrar aos amigos e amigas as suas compras na PRADA.
Num país como Portugal, onde a pobreza tem proliferado há os que aproveitam para repousar por debaixo do nome PRADA o que não é para todos, mas "O Diabo Veste PRADA".
Nestes dias de festejos dos santos populares a política e a crise são relegadas para segundo plano e o povo centra-se nas sardinhadas, nos bailaricos e nas marchas populares de Lisboa, cada uma representando o seu bairro. Desfilam pela Avenida da Liberdade mostrando os seus dotes de marchantes, colorindo o cinzento de uma crise que nos impuseram, com os seus figurinos, cenografia, coreografia, letra e musicalidade compostas especialmente para a ocasião.
O Presidente da Câmara de Lisboa e a sua comitiva não poderiam faltar na tribuna como manda a tradição, cujo preço foi vinte beijinhos e vinte abraços das madrinhas e dos padrinhos das marchas.
Alfama foi a ganhadora deste ano. No jardim da Praça Paiva Couceiro as réstias do bailarico ficavam-se pela desilusão da perda de um lugar cimeiro para a marcha do Alto do Pina.
Manhã cedo no dia de Santo António, feriado municipal com as ruas ainda pouco movimentadas alguns dos bairros populares expõem à vista o rescaldo de uma noite de folia. Comentários soltos de passantes verbalizam para os vizinhos ou companheiro de passeio pela calçada desgastada pelo tempo o acontecimento do dia anterior. Ao telemóvel ouve-se alguém dizer:
- Nós estávamos mesmo à frente e não a vimos na marcha!… Só se estava lá mais para trás… mas claro que devia lá estar!
As marchas tinham sido o tema da noite anterior e continuavam a ser o tema do dia.
Mais adiante, já na Avenida General Roçadas, uma senhora pequenota parada à frente de um lugar de frutas e hortaliças segurava três minúsculos cães presos por uma trela comum e abespinhava-se com um deles:
- Tá quieta Maria!
Tudo está em mudança! Os cães passaram a ter nome de gente e a gente passou a ter nome de cão. Tudo em nome da evolução.
No Largo da Graça, um quiosque ambulante, àquela hora fechado, e um balcão improvisado disfarçado a toda a volta com caniços, eram os únicos vestígios do arraial da noite anterior. Gente acomodada nos poucos bancos de jardim, gastos pelo sentar da velhice, recordava a mocidade em que ainda pulavam e bebiam até de madrugada festejando o santo padroeiro.
Na Rua da Verónica, lá se encontra ainda residente o velho Liceu Gil Vicente, agora Escola Secundária requalificada. Termo pomposo que atribuíram às obras que aprimoraram o rosto e curaram as entranhas.
Quase frente ao Liceu, lá estava ainda o prédio que albergou, em tempo, os Emissores Associados de Lisboa, Rádio Graça, Clube Radiofónico de Portugal, Rádio Peninsular e Rádio Voz de Lisboa, que a Revolução dos Cravos calou para sempre.
Ao longo da suave descida copos de plástico deitados pelo chão eram os vestígios das cervejas e vinho consumidos na noite anterior. Um trabalhador camarário da limpeza varria pausadamente aqueles e outros vestígios. Não teve feriado. A limpeza dos bairros assim o impunha. Contentores de resíduos domésticos transbordando ali estavam, para mostrar que os carros de recolha não tinham passado, pois os festejos a isso obrigaram.
A noite de Santo António é para todos, pois então! Se a noite foi para todos o mesmo não se pode dizer do feriado. O aprimorar da cidade não pode esperar e alguns carros de recolha do lixo saíram para as ruas, embora tardiamente, com os seus trabalhadores de apoio limpando e carregando a mixórdia nauseabunda.
Assadores de sardinhas ainda mornos jaziam na beira dos passeios, onde algumas mesas e cadeiras de esplanada, posicionadas em locais pouco comuns, começam novamente a alinhar-se para clientes que viessem. Nestas alturas a vigilância camarária fecha os olhos.
Ao desembocar no Campo das Flores, local de realização da Feira da Ladra, são raros os indícios. O único restaurante ali existente encontra-se fechado e cansado da noite anterior.
Ao fundo da Rua Voz do Operário, no início da Calçada de São Vicente, fazem-se os preparativos para as próximas sardinhadas com balcões e mesas improvisados na rua que se encontra engalanada com festões próprios dos festejos populares.
A subida da Rua Voz do Operário não é fácil mas nem a inclinação da rua impediu a realização de bailaricos de rua onde se encontra um coreto improvisado, a que deram o nome de “Beco de Lisboa”, encarrapitado em quatro estacas cuja parte inferior possibilitava o acesso a um portão que dava para um beco. Mais acima, mesmo frente à porta da escola da Associação Voz do Operário, um pequeno carro elétrico antigo da Carreira 28 foi ali colocado e transformado em bar.
Esta calçada também pejada de copos de plástico, acumulados nas bermas dos passeios, fez supor o que terá sido a noite do arraial. Com estes ou outros pensamentos, o que restava da subida daquela calçada, novamente até ao Largo da Graça foi menos penoso. Os ensimesmados que se encontravam sentados nos escassos bancos eram os mesmos da primeira incursão.
Pela Rua da Graça um grupo trocava impressões sobre alguém que teria participado nas marchas da noite anterior: “Via-se nitidamente na televisão”, dizia um. Um outro perguntava: “Viste como ele se abanava todo desconchavado?”. “Pois, estava muito bem!.”.
Chega-se à Rua Maria Andrade que nesta altura se encontra toda esventrada por escavadoras que lhe retiram as décadas de piso de paralelepípedos graníticos que rodeiam os railes dos elétricos da extensa carreira 28. É época de eleições autárquicas, há que fazer e mostrar obra mesmo em tempo de crise e de contenção. Apenas para alguns.
piso de paralelepípedos graníticos que rodeiam os railes dos elétricos da extensa carreira 28. É época de eleições autárquicas, há que fazer e mostrar obra mesmo em tempo de crise e de contenção. Apenas para alguns.Vivi a minha juventude na geração dos anos 60 e 70, uma geração que contribuiu para mudar alguma coisa no mundo. Em Portugal vivia-se sob uma ditadura que não nos deixava respirar, mas, mesmo assim lutávamos e manifestámo-nos pelo direito à liberdade de expressão com o risco de sermos levados para as prisões da PIDE/DGS. Época de grande criatividade musical e onde proliferavam as bandas que hoje em dia são apreciadas pela atual
geração de jovens. Bandas que ainda hoje são inspiração para as novas bandas da música rock.
Vem isto tudo a propósitos das manifestações de jovens e estudantes contra o pagamento das propinas, direito a bolsas, instalações, mais verbas e mais direitos. Perfilho e apoio, em parte, as suas reivindicações enquanto sustentáculo de uma marcação de posição, que é justa face a uma crise que se instalou e que estará para se prolongar mais do que se espera. Oxalá que não!
Voltando à questão, estas reivindicações, sobretudo a das propinas, penso que são excessivas. A minha perplexidade face a isto leva-me a um pequeno exercício comparativo que poderá ajudar a explicitar melhor o meu ponto de vista. Se pensarmos quanto custa mensalmente uma propina no ensino superior público, verificamos que em média não ultrapassa os 1000€/ano, o que equivale a 100€ mensais, se o pagamento do ano letivo for correspondente a 10 meses. Valor que, para algumas famílias, custará a suportar se a isto acrescentarmos os custos das inscrições, matrículas e todo o material necessário como livros, transportes, fotocópias, refeições, mesmo na cantina escolar,entre outros.
Quanto gastam os jovens durante um ano para frequentarem concertos, por vezes caríssimos, e que mesmo assim se esgotams com frequência? Para assistir a estes concertos, no caso de serem fora do local de residência há que acrescentar transportes ou gasolina, e alimentação, entre outros, para não falar de estadia mesmo que em parques de campismo. Mas há outros custos indiretos acrescidos no caso de bandas estrangeiras que vêm atuar em Portugal, pagas a preços do ouro, (que atualmente não está barato). São imensas as divisas que saem do país, isto é, funcionam como as importações. Se tivermos ainda em conta a ida dos jovens para as discotecas e restaurantes aos fins de semana, o que pode ser confirmado dando uma volta pelos locais mais frequentados nas grandes cidades, sobretudo Lisboa e Porto quanto é que não gastarão anualmente? A esta despesa há que acrescentar, por inerência, outras como sejam transportes, bebidas e, eventualmente, uma ou outra “guloseima”. Quanto não custa? Certamente quase o valor de um mês ou mais de propinas. O aumento das propinas não tem comparação percentual com o aumento que o preço dos bilhetes dos concertos tem vindo a sofrer que, mesmo assim, na maior parte dos casos como já referi se esgotam.
É desta perspetiva que as pessoas comuns se colocam quando assistem a reivindicações e a manifestações contra o pagamento das propinas e outros... Os jovens necessitam do apoio de todos e é sabido que, para se ter apoio nas pretensões, terão também de fazer alguns sacrifícios, dando o exemplo ao abdicar de algumas coisas, só assim captarão a população para o seu lado.
Claro que os jovens precisam e têm que se divertir e conviver, é imprescindível. Contudo têm que compreender também que as famílias poderão estar a fazer sacrifícios e com problemas financeiros provocados por governos geridos por pessoas que apenas vêm os seus interesses e os daqueles que representam, não cuidando dos interesses gerais da população à qual aumentam impostos, retiram e cortam salários injustamente. É contra esses que nos devemos manifestar e podem fazê-lo de outras formas que não e apenas através de reivindicações sobre o pagamento de propinas porque essas já não convencem ninguém.
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