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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
A persistência da Memória (Salvador Dali - 1931)
Se as eleições europeias forem ganhas por uma maioria de direita neoliberal como a que ocupa este momento o Parlamento Europeu bem podemos esperar sentados pelo referido "pé de igualdade". Isso apenas se verificará se houver, de facto, uma alteração na composição parlamentar da U.E. que passe por uma votação em massa num sentido diferentes do atual, nomeadamente em Portugal. Recorde-se que a extrema-direita europeia está em força a tentar ocupar o maior número possível de lugares.
A comunicação de Passos Coelho que anunciou que Portugal vai sair do atual programa de resgate financeiro sem recorrer a qualquer programa cautelar não foi mais do que um discurso surreal e eleitoralista.Surreal tem o significado de algo estranho, absurdo, que não corresponde à realidade. Dizer que este acontecimento foi surreal significa que foge à realidade, que é bizarro ou absurdo.
O surrealismo foi uma consequência da psicanálise e da indefinição do contexto político do início do século XX, década de 20 mais propriamente, que fez emergir um movimento artístico e literário que questionava as crenças culturais da Europa da época, assim como a vulnerabilidade humana face a uma realidade difícil de compreender e de controlar. O surrealismo desliza "pelas águas mágicas da irrealidade, desprezando a realidade concreta" mergulhando na esfera da absoluta liberdade de expressão libertando-se dos cânones das conceções artísticas vigentes desde o Renascimento. A forma como Passo Coelho fala de um país em vias de prosperidade próxima e como é de facto navegar pelas águas mágicas da realidade.
Na comunicação ao país o primeiro-ministro continua a fazer dos portugueses mentecaptos e destituídos de memória recente. Sou de opinião de que em política, ao dizer-se que os portugueses têm memória curta, refere-se acontecimentos ou situações ou factos que perderam, através do tempo, os efeitos sociopolíticos que foram substituídos por outros mais recentes. Não é o caso. Todos temos bem presentes na memória tudo quanto foram estes três últimos anos de governação e que, por isso, não se esquecem facilmente. Não é possível esquecer as promessas feitas no passado antes da sua estratégia ansiosa para a tomada do poder.
O surrealismo do discurso leva-o a fazer comparações absurdas com o 25 de abril passando depois ao regresso ao passado com os argumentos do "dejá vu" do medo da bancarrota. Passos Coelho e os seus apoiantes do partido estimularam a vinda para Portugal das instâncias internacionais (troika) e até a elogiaram fazendo do memorando assinado o seu programa de governo mas levado ao mais alto grau neoliberal.
As estrofes vitoriosas que compõem a narrativa lírica da comunicação ao país são sorriais e cheias de contradições. Ter uma proteção dada pelas reservas financeiras para um ano é bom mas tem custos em juros que temos que pagar, embora mais baixos, para além do pagamento dos juros da restante dívida. A almofada do Estado custa 1,2 milhões por dia. Além disso, se tivermos que utilizar a tal almofada em caso de alarme esta vai-se num ápice e lá voltamos nós ao mesmo.
Claro que o regresso aos mercados em moletes é bom para o país, o problema é que, devido à instabilidade e especulação financeira que ainda se vive pode ter um volte-face e lá estaremos nós a braços com aumento dos juros da dívida e sem para-quedas.
Passos Coelho disse ainda que "Os sacrifícios feitos não foram um fim em si mesmo e pudemos alcançar os resultados que ambicionamos", não sabemos é quais, porque, ao mesmo tempo diz "estamos no caminho certo". Será que é continuando este caminho certo dos últimos três anos que vamos alcançar resultados? Resultados em quê e para quem?
Sublinha também que "A nossa escolha está alicerçada no apoio dos nossos parceiros europeus" e sublinha que, "Com a reconquista da nossa autonomia, Portugal poderá estar em pé de igualdade com os restantes Estados-membros".
Parece que, afinal, a escolha que se fez e que intitularam de "limpa" teria sempre o apoio dos nossos parceiros europeus porque, não sabendo o que poderá ainda acontecer, não se querem comprometer com nada, nomeadamente num eventual segundo resgate, que Passos e Portas dizem que não vai existir.
Coloca-se-me uma questão: a que pé de igualdade com os restantes Estados-membros se refere o primeiro-ministro? Irão os nossos parceiros na U.E. olhar-nos com outros olhos e deixarmos de ser um dos "PIIGS"?
Se as eleições europeias forem ganhas por uma maioria de direita neoliberal como a que ocupa este momento o Parlamento Europeu bem podemos esperar sentados pelo referido "pé de igualdade". Isso apenas se verificará se houver, de facto, uma alteração na composição parlamentar da U.E. que passe por uma votação em massa num sentido diferentes do atual, nomeadamente em Portugal. Recorde-se que a extrema-direita europeia está em força a tenter ocupar o maior número possível de lugares.
São evidentes os sinais e os piu-piu destes passarões que governam Portugal que, mascarados de passarinhos indefesos, não são mais do que aves de rapina. A entrevista atabalhoada do primeiro-ministro atestou que quis fazer-se passar por passarinho. Aliás, Gomes Ferreira fez os possíveis por não lhe colocar questões incómodas entre as quais algumas tão importantes como a da política estratégica que tem para Portugal e a sobre sustentabilidade da dívida com o regresso aos mercados e o confronto com os cálculos apresentados no prefácio escrito por Cavaco Silva nos Roteiros VIII.
Hoje mesmo o Presidente da República num evento em que participou classificou de injusta e intolerável a situação dos portugueses. É lastimável que Cavaco Silva venha agora dizer isto quando foi ele um dos responsáveis pela situação já que, face aos factos, nada fez, pelo contrário colaborando e até apoiando o Governo.
Agora que umas eleições se aproximam os neoliberais do governo e seus apoiantes, que pululam pela comunicação social, voltaram ao discurso social de falinhas mansas negando agora o que pensam vir a pôr em prática depois, temos disso a experiência, e tudo indica que irá continuar a ser assim. Até Durão Barroso vem a Portugal fazer descaradamente campanha pelos partidos do Governo e por ele próprio, antecipando uma eventual candidatura à Presidência da República, falar de situações insustentáveis dos portugueses para os quais há um limite, mostrando-se muito social. Na entrevista que deu, ou que pediu ao Jornal Expresso, foi nítido o apoio ao Governo tentando lavar a imagem dos elementos do PSD pelo se passou no BPN. Toda a gente sabe que o BPN era o banco do PSD, ponto final.
Miraculosamente, a baixa dos juros da dívida é todos os dias anunciada, com grande orgulho como se fosse mérito dos Governo, que não é, pois está a verificar-se para todos os países nomeadamente os que estão sujeitos a intervenção como a Grécia. Claro que esta baixa dos juros da dívida faz parte de uma estratégia pré-eleitoral para conseguirem pôr a mão por baixo dos partidos maioritários que ocupam atualmente o Parlamento Europeu. É por isso que o voto nas próximas eleições é importante para que seja alterada a correlação de forças.
A campanha pré-eleitoral para as europeias e a propaganda concertada com os meios de comunicação social estão em curso. Os tempos de antena convergem com os eventos e o discurso das posições do Governo e dos partidos que o sustentam. É evidente a convergência entre as organizações europeias e internacionais de direita no apoio ao governo. Comentários, conferências, discursos otimistas de recuperação económica, anúncio pelo Secretário de Estado Carlos Moedas de 400 reformas do Estado (todas elas fictícias, exceto duas) não são mais do que manobras propagandísticas desesperadas. E agora, face aos factos, insistentemente estende a mão ao Partido Socialista como se fosse uma boia de salvação.
Esta insistência não é por acaso. O Governo já sabia o que iria acontecer quando se iniciasse a décima primeira avaliação. E aqui está ela, mais do mesmo, sobre os mesmos, como em "posts" anteriores já tinhamlos antecipado. As pensões e as reformas vão novamente ser atacadas.
Vai ser necessário corta mas dois mil milhões de euros e lá vão mais uma vez as reformas e função pública, os bombos da festa, pagar a crise. Daqui a insistência do apelo ao PS para se comprometer com as medidas de austeridade que aí vêm.
As declarações do FMI foram uma chicotada no eufórico discurso do Governo que é deitado totalmente por terra. Basta ler as declarações do FMI. Desta vez também não poupa os trabalhadores do setor privado, embora incida sobre as questões das rendas da energia e outros custos de produção não deixa contudo de colocar em cima da mesa 'medidas para descentralizar as negociações salariais, promover a “flexibilidade salarial” e desincentivar os trabalhadores a contestar os despedimentos nos tribunais.
Do meu ponto de vista, em política não há coincidências. O entusiasmo do apoiantes do Governo com a baixa nos mercados dos juros da dívida, o que é´ótimo, não se deve à ação do Governo porque a descida também sucedeu com outros países.
As direitas organizam-se a nível europeu e a nível internacional mais vasto tendo em vista as eleições para o Parlamento Europeu. Há demasiadas coincidências.
Para aplicar as medidas de austeridade que Passos Coelho quer implementar necessita de uma moleta para trucidar ainda mais os portugueses após as eleições e precisa do aval do PS. Tenho afirmado mais do que uma vez que isto não é mais do que um ato de desespero do Governo PSD/CDS antevendo a perda das eleições. Passos precisa de um companheiro de derrota.
Tomou o poder, culpou o PS, tem maioria absoluta, o que pretende mais para bem governar. O PSD e o CDS que assumam em pleno a responsabilidade. No meu entender é preferível manter a austeridade mas com outro governo do que com esta canalhada que dizia resolver os problemas do país mas que os piorou colocando as pessoas na incerteza, na desesperança e na angústia.
Maria Luís Albuquerque diz que o governo está a fazer história. É um facto, já fez e continua a fazer história pela negativa. Houve muito políticos que também fizeram história como Estaline, Mao Tse Tung, Hitler, etc.
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