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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
A velha história da raposa que não tendo conseguido chegar às uvas diz para os que observaram as suas tentativas que não prestam estão verdes. É o procedimento da a direita, face aos indicadores, diz que são uma narrativa e não uma realidade e, com a saída do rating do lixo, argumenta que continuamos sujos, esquecendo-se da sujidade que lançou no país e nas pessoas durante o seu mandato.
Os comentadores e os jornalistas de opinião liberais, ditos de direita e fiéis incondicionais das políticas do antigo governo, tais como José Miguel Tavares, são muito preconceituosos no que à esquerda diz respeito, seja qualquer das esquerdas, mesmo as do centro esquerda. Nos artigos que escrevem fazem uma espécie de acrobacias na construção argumentativa, com alguma arte, diga-se. São exímios em lavagens cerebrais para muitos que os leem apanhados desprevenidos fazendo um discurso de quem procura conquistar apoios através da manipulação das emoções em detrimento do uso de argumentos lógicos ou racionais.
Tal aconteceu com o artigo de opinião no jornal Público. Auele douto da política nacional tece uma espécie de argumentação do tipo retrospetiva e evocação do futuro. Vamos então a detalhes sobre o que José Miguel Tavares escreveu a certa altura do seu texto:
1 – “… foi aí que António Costa ganhou o jogo e conquistou a esquerda: ofereceu-lhe um discurso de “novas políticas” que elas puderam apresentar aos seus eleitores como uma grande vitória.”
A primeira é que considera implicitamente a esquerda que aceitou sem mais as “novas políticas” como se essa esquerda fosse mentecapta e não tivesse opinião deixando-se aldrabar.
2 – “É certo que dez euros a mais no ordenado são dez euros a menos na bomba de gasolina, mas como a maior parte do país está cheio de vontade de acreditar em tempos melhores, a escolha parece ter valido a pena, como bem demonstram as sondagens”.
Aqui entra a demagogia: agarra nos aspetos emocionais que potencialmente possam o aumento da gasolina (que ora sobe, ora baixa) para os relacionar com os dez euros a mais nos ordenados para que pensem e digam, “pois é, afinal o aumento não chegou porque tudo está pior!”. Para Miguel Tavares todos (nós) somos mentecaptos porque somos levados a acreditar que tudo será melhor, e é por isso que as sondagens sobem. Não é por mais nada. É apenas por isto que elas sobem! Força caro Miguel, é assim mesmo.
3 – “A isto chama-se habilidade política, coisa que António Costa tem para dar e vender. Com Pedro Passos Coelho estaríamos provavelmente a crescer mais e com um défice mais baixo, mas o povo estaria menos feliz e a esquerda teria tomado conta da rua”.
E, para além, disto não há mais nada, apenas habilidade política, o resto surgiu do nada, como por milagre, milagre que Passos Coelho tanto ansiava, mas que não apareceu apesar de prometer na altura das eleições que iria continuar a mesmo política, talvez esperando um milagre que estaria para chegar, e lá está, a seguir vem o oráculo retrospetivo porque a José Miguel Tavares parece não lhe ter agradado termos saído do “lixo” e diz premtóriamente que apesar de tal facto o certo é que para ele continuamos sujos, e di-lo sem qualquer pudor no seguinte parágrafo:
4 – “… desfasamento entre a realidade e a narrativa sobre essa realidade, que conduz a uma série de avaliações demagógicas sobre aquilo que nos tem acontecido. Sim, as previsões da direita falharam naquilo que ao diabo diz respeito. Só que as previsões da esquerda também falharam quanto à receita para sair da crise. Portugal está a crescer e a baixar o défice em condições que a própria esquerda garantiu que nunca cresceria: com o investimento público mais baixo da História e sem qualquer reestruturação da dívida”.
Qual será então a realidade para Miguel Tavares? Só pode ser a mesma que a direita oposicionista e desorientada. As realidades e os factos são demagógicos e pretende fazer-nos acreditar a todo o custo argumentativo que a realidade é a mesma que a receita da direita nos aplicou.
Com grande desplanto diz agora que não se fez qualquer reestruturação da dívida. Pois não. Mas não era a direita que nem sequer queria ouvir falar nisso quando esteve no poder? Ah, já sei não era oportuno, mas agora já é! O costume! O mesmo se pode dizer do investimento público que o governo que apoiava congelou agora dão a isso uma prioridade.
5 – “Com Pedro Passos Coelho estaríamos provavelmente a crescer mais e com um défice mais baixo, mas o povo estaria menos feliz e a esquerda teria tomado conta da rua.”
Pois, meus caros leitores, é isso mesmo, Passo Coelho se estivesse no governo estaríamos a crescer muito mais, apesar de nos tornar um povo acabrunhado, dividido funcionalmente e profissionalmente, quiçá, empobrecendo mais, com outros cortes inimagináveis, reposições de rendimentos à vista sine die, mas o país estava a crescer mais, as pessoas não interessavam. Era um governo que fazia crescer o país para alguns. Estaríamos todos no nosso galho bem quietinhos e pequeninos à boa maneira da política do grande salvador da nação e da pátria do princípio do século passado. A esquerda seria um problema porque viria para a rua (mais um oráculo) em vez de aceitar pacatamente tudo o que fosse a bem da nação, pela nação e nada contra a nação no governo de Passos Coelho.
Aqui está ele de novo, José Miguel Tavares, que diz ser um liberal e de direita, dependendo dos dias. Não sei se ser liberal ou ser de direita é necessariamente a mesma coisa. Tenho que aprofundar isso, tenho muitas dúvidas, tantas quanto o seu parceiro de direita Paulo Núncio.
Quem ler o artigo de João Miguel Tavares e não for liberal nem de direita (?) (a minha dúvida persiste), fica absolutamente pasmado, mas, ao mesmo tempo agradado, com grande parte do que defende, parece até um liberal socialista a falar (esta é outra dúvida que tenho. Não sei se este conceito existe). Até não concorda com os seus amigos de direita que dizem achar que há muito populismo e demagogia nesta coisa dos offshores.
Vai ainda mais longe parecendo um “esquerdalho”, desculpem-me esta terminologia que não pretende ser ofensiva, mas que, para facilidade de expressão, resolvi utilizar para designar todos os que não pertencem ao grupo dos eleitos das verdades absolutas do capitalismo quando falam entre si, (já agora mais um parêntesis para que fique claro que não sou anticapitalista, nem contra a iniciativa privada).
José Miguel Tavares fala sobre offshores dizendo em abstrato ser contra, contudo sem referência clara ao caso concreto que está na ordem do dia e se passou quando os neoliberais estiveram no poder e, talvez por isso, seja contra, em abstrato.
Acha provável que haja fugas ao fisco nas 14484 transferências e infere que “pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade”, cita um socialista para defender a sua tese e até aponta as razões de António Costa neste caso. Tavares manifesta-se contra os muito ricos que, segundo a bíblia neoliberal, que é a dele, é necessário que sejam ainda mais ricos para que os pobres o sejam menos, (desculpem-se mais este parêntesis, mas não tenho nada contra os ricos tenho é contra a patranhada desta teoria para confundir quem os ouve). Quem acompanhe o que tem escrito defendendo quase incondicionalmente a causa dos liberais fica agora pasmado porque, ao ler o seu artigo, só um insensível não estará de acordo com ele e, por isso, nada me impede de colocar em dúvida a sua sinceridade. Vejamos então o que João Tavares escreve:
“Ainda que não tenham existido fugas ao fisco ou falcatruas nas tais 14.484 transferências – o que parece altamente improvável, a avaliar pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade –, o simples não-tratamento de 10 mil milhões de euros é uma vergonha exactamente pelas razões apontadas por António Costa: a única forma de manter a moralidade do regime em tempos de vacas magras é ter, pelo menos, a mesma exigência com fortes e fracos. E a única forma de manter a salubridade do capitalismo é não permitir as desigualdades chocantes que as offshores promovem. Acho muito bem que, consoante o talento e os méritos de cada um, haja quem seja mais rico e menos rico. Só que as offshores promovem uma desigualdade inaceitável – são um privilégio só ao alcance de milionários. Como dizia António Lobo Xavier, com alguma graça, não há guichês para offshores. Não há um sítio onde a gente possa ir bater à porta e colocar 1000 euros nas ilhas Caimão, só para experimentar. Ora, se apenas os muito ricos podem pagar menos impostos, isso só pode ser classificado de uma forma: absolutamente escandaloso. E a quem parecer que isto é simples demagogia e populismo, só tenho uma coisa a dizer: quero mais.”
Com ele todo o grupinho de comentadores transforma-se, neste caso, em grande oposicionista aos offshores e avança com pedidos de investigação a fundo sobre o caso; viram-se contra Paulo Núncio quando, na semana anterior, o defendiam. Veja-se o caso de Assunção Cristas ao corrigir o tiro de enaltecimento a Paulo Núncio ao dizer que o país lhe deve muito, pede agora para se investigar tudo sobre o caso. Marques Mendes o político tarólogo de direita de serviço na SIC, vem dizer que há mais dúvidas do que certezas no caso dos offshores e que pode haver matéria criminal. Segundo o jornal i, “acho que pode ser um caso de polícia", afirmou hoje Luís Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. E, pasme-se, no seu álbum fotográfico o PSD e o CDS estão mal na fotografia! Quem diria! Desconfiando que isto possa dar para o torto, ratos, ratinhos e ratões afastam-se e correm para a rua mostrando que não são os primeiros a fugir quando o barco de está a fundar, refugiam-se publicamente no investigue-se e esclareça-se tudo a fundo.
É que, na voragem iniludível de agarrar novamente o poder, a direita quer fazer esquecer o que fez e disse no passado.
Lavador é uma palavra pouco utilizada em política. As investigações judiciárias utilizam uma palavra cuja raiz é a mesma mas aplicada quando se trata de lavagem de dinheiro.
Aqui prefiro utilizar o termo lavador quando se trata do comentário e da atualidade política. O significado de lavador é dado como aquele ou aquilo que lava. É, portando, o adequado para me fazer compreender.
Sempre que algo corre mal para a direita, (também pode ser para a esquerda), surgem os lavadores da imagem política. A direita tem andado verde de raiva, agora parece ter passado a vermelho de vergonha.
A direita sempre que pode gosta de fazer de dama virgem e ofendida. Refiro-me à intervenção
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