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Ao publicar no blogue o artigo de opinião, da autoria de Clara Ferreira Alves, publicado na Revista do jornal Expresso, não significa que esteja de acordo com tudo os que ela escreve. O artigo merece aqui espaço pela acutilância da sua escrita sobre o que se passa na atual política nacional e internacional e numa altura em que os populistas radicais de direita andam a colocar em perigo as democracias.

Aqui fica o artigo de opinião.

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 20/11/2020) e (no blogue Estátua de Sal)

“A política é um capítulo da moral e por isso estamos aqui” Sophia de Mello Breyner (Sessão de apoio ao Solidariedade da Polónia, promovida por Mário Soares nos anos 80)

Apontando a “urubuzada de prato cheio”, Jair Bolsonaro atesta que é tempo de o Brasil deixar de ser um “país de maricas” e de ter medo da covid. “Toda a gente tem de morrer” diz o másculo profeta que compara os jornalistas a um bando de abutres ou urubus. Quase 170 mil mortos mais tarde, aqui chegámos no país irmão. Pode ser que haja um cidadão a achar graça a Bolsonaro, gabando-lhe o estilo solto e incorreto que cai muito bem nas redes e nas seitas. Pode ser que haja um cidadão que veja neste chefe de caserna um labrego moralmente responsável por milhares de mortos no país. E não vamos falar da destruição das florestas da chuva da Amazónia. Nenhuma das duas definições apaga a principal característica de Bolsonaro, a ignorância aureolada de estupidez. Sim, Bolsonaro é um estúpido, ou boçal, ou bestial (de besta), ou entupido, ou grosseiro, ou falho de inteligência e delicadeza, segundo a velha definição do dicionário. Bolsonaro é idiota, imbecil, estólido, estulto. É um asno na definição popular que compara o estúpido a um animal inocente como o burro, que de estúpido nada tem. Disse Einstein que só havia duas coisas verdadeiramente infinitas, o universo e a estupidez humana. E sobre a infinitude do universo, não estava certo. A estupidez está descrita clinicamente, e tem leis que a regem descritas por Carlos Cipolla. É uma verdade científica a sua existência, embora possa ser empiricamente apreciada com facilidade. E é subestimada, ao subestimar-se o número de indivíduos estúpidos em circulação. Cipolla, historiador da economia e medievalista, preocupou-se em distinguir o estúpido do ingénuo, com o qual pode ser confundido com benevolência. No exemplo de Bolsonaro, a ingenuidade não entra. Neste mandarim detetamos a luz bruxuleante dos parcos atributos escoados numa política assassina. Bolsonaro é um estúpido clássico promovido muito acima da sua competência num país com uma subclasse sem instrução e uma classe superior instruída na corrupção, no oportunismo e na manipulação que autorizem a manutenção da subclasse num estado supersticioso, iletrado e miserável. Uma perfeita sociedade pós-colonial que se julga moderna e civilizada. Um chefe de uma democracia europeia ocidental não pode nem deve ignorar isto. E não pode nem deve aliar-se a isto, sob pena de trair tudo o que postulam a constituição, o Estado de direito e a liberdade de expressão. Sob pena de trair a democracia ocidental tal qual a conhecemos e construímos, desde Atenas. No dia 8 de agosto deste ano, lemos a notícia de que André Ventura foi recebido na residência de Duarte de Bragança, na companhia de Diogo Pacheco de Amorim, vice-presidente do Chega. Na reunião, os dois foram pedir a interceção do duque de Bragança para chegarem a Bolsonaro, que admiram. O candidato à Presidência da República de Portugal admira também o nacionalismo de uma dinastia defunta, a de Orleães e Bragança, que no Brasil apoia Bolsonaro. O candidato a presidente admira as monarquias, e parece que queria ainda “estabelecer contacto com a monarquia de Marrocos e as casas reais europeias”. A desenhar a ponte brasileira, estava o deputado italiano Roberto Lorenzato, descendente de aristocratas, íntimo de Matteo Salvini, o líder fascista italiano, e de Bolsonaro, tendo apresentado os dois. Podemos concluir que esta gente é política e afetivamente próxima. Salvini é não um idiota clássico, é um fascista clássico, sem a cultura do Mussolini que lia livros e ouvia ópera. Descontando as contradições entre monarquia e república, e a vassalagem a monarcas destituídos, o que se retém deste estranho encontro é o tráfico de influências e a vassalagem a Bolsonaro, a que Ventura e afins reconhecem atributos. Isto, por si só, deveria ter feito acender todas as luzes vermelhas e campainhas de alarme de Rui Rio, um chefe de um partido que dá pelo nome de social-democrata. Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és, diz o povo. É com os estúpidos que Rui Rio resolveu aliar-se, comprometendo o programa do partido fundado por Francisco Sá Carneiro e traindo os eleitores, todos os que não se reveem na aliança de António Costa com as esquerdas e que são de centro-direita ou de direita clássica, a direita democrática e historicamente pró-europeia, a direita liberal secular ou cristã que não aprecia as ditaduras e que fundou a democracia em Portugal. A direita que acredita na liberdade, na prosperidade e na paz social, e que detesta a demagogia, a revolução e o extremismo. Nenhuma das escusas da praxe desculpam este PSD. António Costa teve uma oportunidade de, a bem do interesse nacional, ter chamado o PSD de Rui Rio como parceiro para um acordo de regime. A situação trágica do país assim o exigia. Num assomo de estupidez que pagaremos caro, Costa resolveu que era outra vez de esquerda e podia dispensar o PSD. E o PSD, posto fora da mesa, aproveitou a oportunidade para, numa estupidez orgástica, aliar-se nos Açores a um partido como o Chega, que não passa de uma cortina de fumo democrático num movimento sustentado pela iliteracia, a pobreza e o populismo autocrático. Costa e Rio traíram as expectativas dos eleitores e traíram o país quando, na história da democracia portuguesa, o país mais precisava que se entendessem. Não subestimem a gravidade da crise económica que vem aí e a gravidade da crise política que se sobreporá. Não subestimem a raiva que fervilha por aí, o desespero, o cansaço, a depressão. E com este país doente, Costa e Rio resolveram tornar-se em inimigos e cavar trincheiras. O Chega não é nem será um partido de matriz democrática, é um partido que alinha com Salvinis e Bolsonaros. E que, instalado no coração da democracia, tudo fará para a destruir ou falsificar. Podemos exemplificar com vigor no caso de Trump e das eleições americanas. E do golpe populista contra a democracia. Quando Trump foi eleito, fui urubu. E fui das raras pessoas que avisaram que um dia isto iria acontecer. Participei em debates e programas onde me foi dito que era necessário dar uma oportunidade a Trump e que ele seria presidenciável assim que assentasse o traseiro na Sala Oval da Casa Branca. Estes são os ingénuos, que não devem ser confundidos com os estúpidos, mas facilitam a vida dos estúpidos. Rui Rio não pode alegar ingenuidade. Nem, noutro assomo de estupidez à Chamberlain, esperar que o Chega fique “mais moderado”. Rio aqueceu o ovo da serpente. Ou o PSD se vê livre de Rio, ou Rio tentará ver-se livre do histórico PSD e erguerá um partido à sua imagem e semelhança, um partido instrumental e sem princípios, um partido antidemocrático e caudilhista. Para começo de festa, Rio e Bolsonaro estarão de acordo numa coisa, ambos detestam a urubuzada.

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publicado às 17:15

Resistência à mudança no PSD

por Manuel_AR, em 26.02.18

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Verifica-se no interior do PSD uma tendência para opiniões mais ou menos radicalizadas quanto a orientações de política partidária, mas que deveriam ser mais de reflexão ideológica interna. A exaustão neoliberal de partidários da linha seguida por Passos Coelho não abandonou o aquartelamento derivados da síndrome da perda do poder. Isto agrava-se pelo facto da tendência para resistir à mudança de opinião derivada das mudanças de opinião sobre o que ser o partido deve ser no futuro, mas há várias camarilhas, isto é, grupos colocados em lugares de influência que os utilizaram, ou não, em seu benefício e no dos seus protegidos lesando interesses mais gerais criados durante os longos anos de governação neoliberal do PSD de Passos Coelho.

No interior do PSD está formalmente estabelecida a resistência ao novo líder do partido, cometida pela direita neoliberal infiltrada durante o mandato de Passos Coelho, contra o restabelecimento ideológico dos princípios da social democracia.

Ouvem-se por aí militantes de destaque do PSD em debates a tentarem depreciar os aspetos ideológicos do partido que, por inerência, estão presentes em todos os partidos consignados nos seus programas que são, ou deveriam ser, uma orientação para os seus eleitores. Não se percebe, portanto, porque aqueles senhores afirmam que as questões ideológicas do partido não estão presentes. Esta tomada de posição serve os intentos das alas mais neoliberais do partido para nos fazerem crer que são um partido pragmático onde a ideologia não está presente.

Com Passos Coelho o partido virou radicalmente à direita, agora, Rui Rio pretende virar-se contra a ortodoxia da oposição interna deixada pelo anterior líder e centrar o partido, isto é, colocá-lo no centro direita. O caso da bancada parlamentar do PSD é a outra parte oposicionista da oposição interna a Rui Rio conforme foi demonstrado pela a eleição atribulada dos votos em Fernando Negrão para líder da bancada.

Com Rui Rio as pressões internas irão manifestar-se ainda mais e no segredo dos corredores do partido para não se assumir o posicionamento ideológico da social-democracia que há muito perdeu, não havendo a certeza se alguma vez o tenha sido. Rio está a tentar retirar o partido do acantonamento neoliberal onde o colocaram a reboque da troica, ou melhor, aproveitando-a para os seus objetivos governativos cujos projetos e promessas pré-eleitorais vieram posteriormente a abandonar sempre a pretexto da intervenção externa. Os comentadores afetos ao PSD, quando atualmente pretendem referir-se ao governo da aliança PSD-CDS enquanto tal, em vez da utilização do nome do partido preferem mencionar apenas governo do tempo da troica. É o mesmo que ocultar o sol com a peneira.

Face à tentativa de Rui Rio pretender recentrar o partido para o retirar do seu acantonamento neoliberal o CDS reivindica agora que as ideias de Rui Rio são as mesmas do CDS chegando Assunção Cristas a afirmar que as prioridades de Rui Rio “já fazem parte do ADN do CDS”. O CDS quer mostrar uma viragem à esquerda e, ao mesmo tempo, mostrar que é de direita. No congresso que se vai realizar-se em março quer apresentar-se por um lado como um partido com preocupações sociais e, por outro, que é um partido de direita reformista para tentar captar os votos dos adeptos mais à direita e adeptos das políticas de Passos Coelho. O CDS,  depois de ter apoiando o discurso neoliberal e anti geracional de Passos, e de ter ultrapassado todas as linhas vermelhas quando esteve em coligação com o PSD, tem o descaramento de denominar o texto a apresentar ao congresso “Portugal: compromisso de gerações” e que pode ler no jornal Expresso. Segundo indica a moção, é livrar o CDS de “preconceitos” para se apresentar como um partido não de “quadros” e “ricos”, mas de todos, e até como a escolha mais fresca, “irreverente”.

Ao CDS pelo menos atrevimento e descaramento não lhe faltam. Para eles o que é hoje pode já não o ser amanhã.

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publicado às 21:11

Cartaz do PSD e de Sousa Tavares.png

1. Após as eleições internas do PSD as táticas começaram já a delinear-se tendo em vista as próximas legislativas em finais de 2019 iniciando a pintura de “cartazes” jornalísticos. No PSD começam a medir-se as correlações de forças das duas tendências antagónicas que existem embora queiram passar para a opinião pública que tudo está pacífico. Não está, o que revelam as afirmações de influentes da corrente neoliberal de Passos Coelho que começam a vir a lume, mas que em nada irá servir o partido, antes pelo contrário.

Sousa Tavares, no semanário Expresso no seu artigo de opinião semanal, vai mais longe ao escrever que “Prisioneiro daquilo a que chamam o respeito devido ao "sacrifício" de Passos Coelho, o PSD tem vivido amarrado à nostalgia de um passado recente, de que o partido se louva, mas de que o país não tem quaisquer saudades. Ao ponto de passar a mensagem de que, perante um governo cujo desempenho económico (que é aquilo em que as pessoas votam) tem superado as melhores expectativas, apenas tem para oferecer como alternativa o regresso aos tempos da austeridade, do desemprego, das falências, das emigrações.”

No CDS, através do mais ou menos folclore palavroso de Cristas, tenta recolher alguns dividendos da crise no PSD para subir nas sondagens aproveitando o descontentamento do eleitorado mais à direita do PSD, fiel às políticas de Passos Coelho. Apesar do esforço, nas sondagens mais recentes, o CDS fica abaixo do PCP segundo a Aximage. Em 9 de janeiro de 2018 eram as seguintes as intenções de voto: PS 41,3%; PSD 26,9%; CDS 6,4%; CDU 7,0%; BE 9,5%,

À Esquerda o BE e o PCP querem demarcar-se do PS, na tentativa numa espécie de autodefesa tendo em vista as próximas eleições, fazendo acreditar às pessoas que não votem pelo passado, mas pelo futuro que não votem para compreender e agradecer o que perderam, mas o que recuperaram. E, nesse sentido, o PSD não se tem afirmado como oposição. Afinal, o que tem o PSD para oferecer, não apenas ao país, mas às pessoas (no passado dizia que país estava melhor)?  

Para terminar no mesmo artigo Sousa Tavares continua a mostrar os seus ódios de estimação para com os funcionários públicos e pensionistas quando diz que o Estado deve canalizar para aí o grosso dos recursos financeiros disponíveis do Estado para a economia, “em lugar de os alocar à satisfação dos interesses particulares dos seus votantes funcionários públicos, pensionistas, etc.”. Tem razão no que se refere às causas crónicas dos nossos problemas estruturais, mas perde-a ao canalizar os problemas apenas para aqueles estratos sociais. Como se os votantes funcionários públicos e pensionistas votassem todos em massa no partido no Governo.

2. Neste último contexto aproveito para fazer uma observação à postura jornalística de Sousa Tavares. Sousa Tavares sofre de uma síndrome que é o de assistir a um espetáculo de multimédia onde o seu EU (capacidade de olhar-se a si próprio) é o espetador que assiste ao espetáculo interior da sua subjetividade. Recordo-me que, em várias intervenções no passado, tomou posições onde o seu EU está presente num egoísmo subjacente. Aponto apenas três casos: quando saíram leis sobre a proibição de fumar em estabelecimentos fechados, insurgiu-se porque ele queria fumar quando e onde lhe apetecesse, (os outros não interessavam, mas apenas ele); quando se insurgiu contra os restaurantes onde deixam entrar crianças que causam ruídos, para ele incomodativos, não o deixando contemplar o seu prazer gastronómico do paladar; é agora sobre a possível limitação da velocidade a 30 Km/h nas cidades e, daí, fazer apelo a uma manifestação dos automobilistas para engarrafamentos do trânsito caso essa medida tenha seguimento. Não lhe interessa os acidentes nas cidades, os excessos de velocidade, a passagem dos semáforos vermelhos nem os atropelamentos nas passadeiras de peões devido a excessos de velocidade. Não, nada disso lhe interessa porque o espetáculo interior do EU está em permanência no cartaz.

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publicado às 19:07

A mania da importância que nunca teve

por Manuel_AR, em 02.03.17

Cavaco Silva_7.jpg

Vale a bem apena divulgar transcrever este texto de Miguel Sousa Tavares publicado no jornal Expresso no passado sábado.  Apesar e não apreciar muito os artigos de opinião dele, talvez porque não me agrade a forma como ele brande argumentos contra tudo e contra todos, mas no meio de tudo alguns com alguma razão.

Há quem goste apenas de ler o que esteja de acordo com o que pensa e que lhe agrade. Quando não lhes agrada o que leem ou que esteja em desacordo com o seu pensamento e alinhamento politico ou partidário reagem mal e, não sabendo como argumentar, muitos há que estropiam a linguagem corrente com impropérios desajustados aos autores dos comentários. É o que mais se vê por aí no mundo das redes sociais.

Todavia não é este o caso de Miguel Sousa Tavares quando comenta sobre o livro dessa personagem sinistra que é, e foi, Cavaco Silva. Não utiliza impropérios, vai ao cerne da questão sobre o que ele sabe e nós não sobre Cavaco Silva. Assim, vale a pena ler o que Sousa Tavares diz sobre a adulteração feita por Cavaco. Apesar de já ter circulando por várias redes sociais e blogs vale pena a repetição.

«(...) Bem pode Cavaco Silva desfilar o rol de grandes do mundo que conheceu em vinte anos no topo da política portuguesa: nenhum desses grandes o recordará nem que seja num pé de página de memórias e a nossa história não guardará dele mais do que o registo de uma grandiloquente decepção.

Nos seus dez anos como primeiro-ministro, Cavaco Silva teve o que nunca ninguém tinha tido antes dele e não voltou nem voltará a ter depois dele: uma maioria, tempo, paz social, esperança e dinheiro sem fim, vindo da Europa. Fosse ele, porventura, um homem dotado de visão e de coragem e conhecedor da nossa história e dos nossos males ancestrais, teria aproveitado as circunstâncias para inverter de vez o funesto paradigma em que vivemos há décadas ou séculos. Em lugar disso, aproveitou o dinheiro e os ventos favoráveis para engrossar o Estado, fazer demasiadas obras públicas inúteis e cimentar a clientela empresarial que sempre viveu da obra ou do favor público. Ele lançou as raízes do défice e da dívida pública, que, depois, tal como as obras (de Sócrates), passou a execrar. Cinco anos volvidos, regressaria para outros dez de Presidência. Por razões que já nem adianta esmiuçar, acabaria por sair de Belém com uma taxa de rejeição recorde e com 80% dos portugueses fartos dele e do seu pequeno mundo. Muita da popularidade de Marcelo deve-se ao facto de os portugueses o verem em tudo como o oposto de Cavaco Silva.

Tive um breve mas arrepiante flashback deste pequeno mundo quando, na semana passada, Cavaco Silva lançou o seu livro de ajuste de contas. Pelas citações e declarações que li e ouvi, parece-me que a única coisa boa do livro é o título — (mas até esse li que não era original). No restante, Cavaco entretém-se a contar os seus “factos rigorosos” para“ informação dos portugueses”, e registados com base num método que diz ter inventado quando era estudante e que se presume não ser o do gravador oculto. A finalidade da história das suas quintas-feiras é atacar um homem já debaixo de todos os fogos — o que confirma a lendária coragem intelectual de Cavaco, tal como no seu discurso de vitória quando foi reeleito, atacando com uma raiva e um despeito indignos de um Presidente da República os seus adversários que já não se podiam defender. Parece que agora, com um absoluto desplante e tomando-nos a todos por idiotas, Cavaco Silva ensaia uma indecorosa falsificação dos tais “factos rigorosos”: a história de como ele e a filha ganharam 150% em dois anos com acções do BPN que não estavam cotadas em bolsa (jamais desmentida e bem documentada), não passou, afinal, de uma “calúnia”, vinda da candidatura de Manuel Alegre; e a célebre “conspiração das escutas” de Sócrates a Belém, engendrada entre o assessor de imprensa de Cavaco e um jornalista do “Público”, foi, pasme-se, ao contrário: foi o Governo que montou uma operação para fazer crer… que o Governo escutava Belém!

Ele (Cavaco Silva) que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá

Mas não foi isso o que verdadeiramente me arrepiou nas notícias e imagens do lançamento do livro do Professor. Outra coisa eu não esperava dele nem do seu livro. O que me impressionou e arrepiou foi uma visão que diz tudo sobre quem foi e quem é este homem. Após mais de vinte anos na vida política e nos mais altos postos dela, tendo fatalmente conhecido não só vários grandes do mundo mas também toda uma geração de portugueses da política, da cultura, do empresariado, das universidades, etc., quem é que Cavaco Silva tinha a escutá-lo no seu lançamento? A sua corte de sempre, tirando os que estão a contas com a Justiça. Os mesmos de sempre — Leonor Beleza e o que resta da sua facção fiel no PSD. Mais ninguém. Nem um socialista, nem um comunista, nem um escritor, um actor, um arquitecto, um músico reconhecido. Nada poderia ilustrar melhor o que foi e é o pequeno mundo de Cavaco Silva. Ele que continue a escrever a sua história: a História jamais o absolverá.»

Miguel Sousa Tavares: "Sem sombra de grandeza". Texto publicado no Expresso de 25 de fevereiro de 2017.

 P.S.: Miguel Sousa Tavares não utiliza o atual acordo ortográfico pelo que mantive o texto original.

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publicado às 09:08

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O ano de 2016 que hoje entrou vai ser favorável para Marcelo Rebelos de Sousa e para toda a direita, graças aos votos que os portugueses cegamente lhe tencionam dar nas eleições presidenciais em 24 de janeiro. Uma espécie de lotaria em que eles pode acertar ou não, mas em que o não será o mais provável.

O candidato Marcelo Rebelo de Sousa está na ordem do dia ao darem-lhe a vitória com 52,5% de acordo com a Eurosondagem para o Expresso e SIC em 23/12 quando, em 20/11, tinha 48%.

Os portugueses estão a querer dar a vitória a um candidato lançado pela televisão, ou seja, o candidato da televisão que lhe proporcionou a redução dos custos da campanha, e faz disso anúncio, estando, na prática, a admitir que existe uma desvantagem para os restantes candidatos.

A entrevista da passada quarta-feira na TVI, conduzida por Judite de Sousa, foi mais do mesmo em que as respostas foram evasivas contrastando com alguns dos seus opositores mais diretos. Marcelo não acrescentou nada de novo, nem precisava, porque é o candidato sentado na cadeira da televisão, e quanto menos disser só lhe trás vantagem. Segundo o próprio Marcelo a sua campanha irá ter custos baixos. Qualquer campanha como a dele, feita a partir da televisão, facilitou-lhe a redução de custos, não necessita de cartazes, nem de nada, a sua presença na televisão ao longo dos anos foi suficiente.

Os sujeitos construíram representações da expressão e da interpretação do discurso político televisionado transformando-o no que se pode traduzir em opiniões ou em votos criados pela imagem.

A candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa é uma prova evidente da influência da televisão, uma espécie de onde sobre a qual faz surf, que funcionou como uma espécie de efeito de contágio sobre as preferências dos eleitores que poderão traduzir-se em votos resultantes dum processo da formação de opinião que foi construída através duma construção de representações nos telespectadores.

Televisão, presença, imagem, discurso, mensagem, foram e são os ingredientes deste cozinhado que serviu para lançar Marcelo Rebelo de Sousa. Poderá vir agora justificar os seus muitos anos de percurso político que todos conhecem e de que não foi a televisão o agente da sua popularidade. Ele sabe que não é assim, e, ao dizê-lo, sabe que não passa de mais uma mensagem persuasiva como todo conjunto de opiniões concebidas relativamente a certos assuntos (todo e qualquer assunto!) que são aceites pela maioria das pessoas seja qual for o quadrante político partidário. Naturalmente porque ele sabe como dar uma no cravo, outra na ferradura.

Em gíria popular, em conversas informais sobre qualquer assunto, ouve-se dizer "a mim ninguém me engana…", "eu não vou em cantigas…", "a mim ninguém me convence…" Quando alguém fala assim está a esquecer-se de que, ao nível subconsciente, pode num futuro pode vir a contradizer-se quando sujeito a receber repetidamente mensagens mediáticas de alguém, com grande probabilidade de estar a ser condicionado quanto mais tempo durar a essa exposição que vai atuar pela mudança de atitudes e comportamentos políticos e eleitorais persuasão.

Existe alguma dificuldade em provar que a televisão altere o ponto de vista político das pessoas a não ser através da chamada vox populi e de conversas informais de rua, mas há uma tendência para que contribua para tal. Os protagonistas políticos, "ao entrarem nas nossas casas" constante e regularmente via imagem televisiva produzem uma espécie de presença definida como uma sensação de "estarem presentes, uma sensação de realidade, de envolvimento, e, mais geralmente, uma ilusão de incluir sentimentos de empatia através de um meio, realismo e sensações de pertença e compartilha com o protagonista quando este tem capacidade comunicativa como Marcelo.

Podemos, assim, partir do pressuposto de que os efeitos sociais da televisão, neste caso, terão causado uma espécie de grau de presença social permitido aos seus utilizadores. A presença social, nesta situação é pode ser a importância da outra pessoa numa comunicação televisiva, isto é, uma espécie da consciência da presença do outro aquém do ecrã televisivo. Rebelo de Sousa teve ao longo de anos o privilégio de ter frequentemente uma telepresença que contribuiu para o seu sucesso não porque aja de facto uma consciência política por parte de todos os eleitores que eventualmente lhe derem uma maioria. Provavelmente, por entre a fraqueza da maior parte dos candidatos que, apesar de não terem tido as mesmas oportunidades, mas lutam contra um "monstro" mediático, venha o diabo e escolha.

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publicado às 21:51

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Ainda estou para decidir se deva ou não chamar loucura a todo o erro de espírito desta panóplia de vedetas mediáticas oportunistas do propagandeio, comentadores ditos isentos que proliferam nas televisões.

 

A comunicação social há tempo que andava sôfrega por lançar para o universo da confusão política a questão das eleições presidenciais, antes até da constituição do novo governo, Marcelo Rebelo de Sousa deu-lhes agora uma ajudinha oportuna.

As candidaturas para a Presidência da República foram transformadas numa espécie de corrida louca dada a enfase com que a comunicação social a começou a "trabalhar" e a lançar para o mercado jornalístico.

Quando se falou na potencial candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Presidente da República coloquei um "post", neste mesmo blog, onde ironizei com a possibilidade duma candidatura de Luís Goucha ou de Cristina Ferreira, também eles figuras públicas, mediáticas e comunicadores de sucesso.

Jornalistas e comentadores sorriem em estado de grande contentamento e tecem nas televisões discursos laudatórios à apresentação da candidatura de Rebelo de Sousa que foi o início da sua pré-campanha eleitoral e o primeiro passo para dar voz perfil para candidato, revendo-se como sendo um político com as condições mais do que suficientes para exercer o cargo de Presidente justificando assim as sondagens, prova indubitável da sua vitória logo à primeira volta.

Passos Coelho, em janeiro de 2014 no Congresso do PSD, traçava o perfil do que deveria ser o futuro Presidente da República: "protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político". Nem "deve buscar a popularidade fácil". Nestes dois pontos e apenas por uma questão de forma concordo com Passos Coelho,

Houve controvérsia sobre esta descrição, uns dizendo que se referiam a Marcelo Rebelo de Sousa e outros a dizer que nada tinha a ver com ele e que podia referir-se a qualquer um. A versão dos primeiros parecia ser mais verosímil

Coloquemos a seguinte hipótese: o candidato A. não é conhecido e não tem currículo político relevante e, por isso, não tem perfil para o cargo; o candidato B. não tem apoio de nenhum partido sendo quase nula a possibilidade de ser obter vantagens nas intenções de voto; por sua vez o candidato C. é muito conhecido pela visibilidade como comentador de televisão e pode vir a ter apoios alargados. O candidato C. é, de imediato, personificado por Marcelo Rebelo de Sousa porque todos o conhecem, não por ter funções políticas ativas mas porque tem uma visibilidade mediática permanente na televisão e faz comentários políticos semanais há anos e anos. Como poderia não ser conhecido? Quantos não haverá que, não sendo conhecidos nem tendo visibilidade mediática, podem ter perfil para Presidente da República.   

Rebelo de Sousa ao longo dos anos passou a ser um profissional da comunicação, um oráculo semanal da política. Não necessita de grande esforço para fazer uma campanha, mesmo sem falar muito. Despe a pele de comentador, vestindo a de candidato a Presidente comentador.

O segredo de Marcelo é ter-se "dedicando à comunicação social em jornais, na rádio e na televisão contactando milhões de leitores, ouvintes e telespetadores" como ele próprio afirmou no discurso de apresentação da candidatura que o jornal Expresso divulgou na íntegra.

Comunica como se estivesse perante o seu público da televisão, milhões de telespectadores, como afirma. Para salvaguarda do caso de alguns apenas o conhecerem apenas como comentador da televisão e como o professor encarregou-se de tecer a sua biografia profissional, diria antes um curriculum vitae, escusando assim que lha escrevam por ele. Diz-se "católico, influenciado pelo Vaticano II, concílio bem presente hoje no magistério do Papa Francisco" frase muito conveniente e convincente para captar votos de todos os devotos deste Portugal.

Para além de benemérito ao "devolver ao país tudo aquilo que Portugal lhe deu" segura também o discurso da estabilidade governativa que justifica através de argumentos de peso que apelam à fácil emoção quando revelou que para ele a "estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maio na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social." Palavras do agrado do governo e do ainda Presidente da República que serviram de mote à campanha da coligação PSD-CDS para gerar em parte da população um estado de temor.

Acrescenta ainda frases bem conhecidas e já pronunciadas pela direita e por Cavaco Silva quando diz "considero essencial que haja, como nas democracias mais avançadas, convergências alargadas sobre aspetos fundamentais de regime" de coloca ainda um toque de emoção: "a estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maio na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social.". "Considero ainda que não há desenvolvimento, nem justiça, nem mais igualdade com governos a durarem seis meses ou um ano, com ingovernabilidade crónica e sem um horizonte que permita aos governados perceberem aquilo com que podem contar no quadro da composição parlamentar resultante daquilo que votam.". Pensamentos déjà vu.

É consensual que ninguém quer instabilidade, mas as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa são as mesmas da direita e de Cavaco Silva, divergindo apenas na forma e no tom que o traquejo de longos anos de comunicação televisiva lhe ofereceu.  

Com uma frente neoliberal, que diz ser agora social-democrata, a governar o país, Rebelo de Sousa, se for eleito Presidente da República, teremos novamente o lema "uma maioria, um governo e um presidente". Cabe perguntar o que fará diferente de Cavaco Silva nestas circunstâncias.

As posições defendidas à volta da candidatura de Marcelo por jornalistas e comentadores, conduziram-me à sátira "Elogio da Loucura" escrita em 1509 por Erasmo de Rotterdam.

Para finalizar transcrevo partes do texto de Erasmo com uma adaptação à atualidade política, livre e satírica, tendo, para tal, modificado e acrescentado umas poucas palavras.

 

Sei muito bem quanto o meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e desusada alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante deste numerosíssimo auditório. De facto, erguestes logo a fronte, satisfeitos, e com tão prazenteiro e amável sorriso me aplaudistes, que na verdade todos os que distingo ao meu redor me parecem outros tantos deuses de Homero, embriagados pelo néctar do vinho embriagante.

Se, agora, fazeis questão de saber por que motivo me agrada aparecer diante de vós com uma nova roupa, eu vo-lo direi em seguida, se tiverdes a gentileza de me prestar atenção; não a atenção que me costumáveis prestar enquanto comentador que era a dos charlatães, e pantomineiros.

De facto, que mais poderia convir a Loucura do que ser o arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores? Quem poderá pintar-me com mais fidelidade do que eu mesmo? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesmo não reconheço? De resto, esta minha conduta parece-me muito mais modesta do que a que costuma ter a major parte dos grandes e dos sábios do mundo.

No entanto, esses insignificantes faladores a que atrás me refiro envaidecem-se com a sua vazia erudição e experimentam tanto prazer em ocupar-se dia e noite com essas suavíssimas nénias que nem tempo lhes sobra para ler ao menos uma vez programas e opiniões de outros. E o mais bonito é que, enquanto assim cacarejam nas suas escolas, imaginam-se os defensores do povo, que cairia na certa, se cessassem um momento de sustentá-la com a força dos seus silogismos, exatamente como Atlante, segundo os poetas, sustenta o céu com as costas.
Contam ainda os nossos discutidores com outro grande motivo de felicidade. A política e a governação são, nas suas mãos, como um pedaço de cera, pois costumam dar-lhes a forma e o significado que mais correspondam ao seu génio. Pretendem que as suas decisões uma vez aceitas por alguns outros devam ser mais respeitadas do que as leis de Sólon. Erigem-se em censores dos outros e, se alguém se afasta um pouquinho das suas conclusões, diretas ou indiretas, sentenciam oráculos: Essa proposição é escandalosa, esta aqui é temerária, aquela cheira a esquerdismo, aquela outra soa mal.

Para uma campanha eleitoral há que ter coragem, vamos! Dissimular, enganar, fingir, e apontar os defeitos dos adversário mas fechar os olhos aos defeitos dos amigos, ao ponto de apreciar e admirar grandes vícios como grandes virtudes, não será, acaso, avizinhar-se da loucura? Beijar, numa feira ou numa rua uma velhinha, sentir com prazer o fedor do seu nariz e, num mercado beijar peixeiras com cheiro a peixe e prometer atender um pai que o filho está desempregado não será isso uma verdadeira loucura?

Ainda estou para decidir se deva ou não chamar loucura a todo o erro de espírito desta panóplia de vedetas mediáticas oportunistas do propagandeio, comentadores ditos isentos que proliferam nas televisões.

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publicado às 16:49

A única verdade é a que a direita deseja

por Manuel_AR, em 06.07.15

Pereira Coutinho.pngO comentador maestro da direita neoliberal

mais radical de Portugal

É extraordinário como os comentadores e jornalistas dedicados a argumentos dedicados em defesa da direita enganam, omitem, distorcem, deturpam para confundir, com os seus comentários, os que, menos atentos, podem deixar-se confundir mesmo que os factos desmintam os que defendem as causas que lhes pode trazer a prazo vantagens para sua tabanca.

Quando uma votação coincide com o que eles esperam é sempre uma votação de responsabilidade, na estabilidade, na competência e de clareza no caminho desejado, caso contrário é a votação na irresponsabilidade, na insegurança, etc., etc.. Ao longo dos anos é sempre o mesmo.   

Dou apenas dois exemplos de colunista de jornais e de comentadores de televisão cujas opiniões e a credibilidade, mais do que uma vez já foram contraditadas pelos factos. São um tal de Pereira Coutinho, do Correio da Manhã e da CMTV e Henrique Monteiro colunista do jornal Expresso que, quando bem calha, e por interesse de opinião, surge nos canais de televisão da SIC que pertencem ao mesmo grupo do Expresso.

Eduardo Monteiro está sempre com um meio sorriso (será de escárnio?) que mais parece estar sempre a "gozar" com tudo o que comenta e outras vezes parece estar zangado com a vida. Pois este dito jornalista que, pensa ele, ser isento nos comentários que verbaliza diz coisas tão atabalhoadas que ninguém percebe.

Ontem, no canal SIC Notícias, ao comentar o referendo na Grécia onde ganhou por larga maioria o NÃO disse no momento em que no ecrã passavam imagens dos gregos a festejar a vitória que os gregos estão a festejar mas nem sabem o quê. Pois, para Monteiro, os gregos são uma cambada de estúpidos que não sabem em que votaram nem para quê. Ao falar-se do número de votantes da fraca abstenção e da percentagem conseguida pelo NÃO lança outra, dizendo que ali até os mortos estão a votar.

Como é possível que dum sujeito, enquanto jornalista, se esperava seriedade, lança para o ar estas "bacoradas". Será isto um contributo para a credibilidade dos comentadores que andam por aí a enxamear e a encher a cabeça dos cidadãos que os escutam, contribuindo para o descrédito da comunicação social.

Temos outro espécime requintado, esse, declaradamente da direita extremista que pretende enganar quem o ouve utilizando a técnica do medo que é um tal Pereira Coutinho. Este, lança para o ar a ideia de que o não pagamento de salários e pensões na Grécia pode também acontecer em Portugal, como se o Governo que ele pretende apoiar não o tivesse já feito.

Mas confunde e deturpa a realidade quando associa, sem qualquer prova do que diz o problema da Grécia ao aumento de impostos, cortes de salários e de pensões que Portugal poderá ou poderia sofrer por causa dos gregos terem optado pelo NÃO.

A direita pretende passar a mensagem de que os problemas da Grécia foram devido ao atual governo democraticamente eleito, o que é falso. Não foi o Syrisa, no poder há cerca de seis meses apenas, que levou os gregos à situação em que se encontram, foram as coligações de direita que o precederam.

A causa final para o Syrisa estar no poder foi ao estado a que a direita conduziu a Grécia. É evidente que a austeridade excessiva, a difusão da pobreza, a perda de poder compra, os cortes nos rendimentos, o desespero, os impostos que as grandes empresas não pagam por culpa da direita que esteve no poder resultou numa viragem para o extremo, por mais que a direita diga o contrário.

Os gregos no domingo passado deram uma lição de inconformismo apesar de todas as vicissitudes, sacrifícios, ansiedades, dúvidas, não recebimento total de reformas, fecho dos bancos e a impossibilidade de poderem levantar mais do que 60 euros, como se a grande maioria tivesse a necessidade ou a possibilidade de levantar diariamente aquele valor (1800 euros mês!). 

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publicado às 20:02

Profissionais da falsidade na política

por Manuel_AR, em 18.05.15

Catroga_3.jpg

 

 

 

Votar na coligação é o mesmo que jogar na roleta apostando no 36 vermelho e o croupier anunciar que saiu o 13 preto. Resta depois hipotecar tudo o que se tem e não tem para pagar ao dono do casino por mais quatro anos.

MR

Há uma desilusão e um descrédito na sociedade relativamente aos políticos, daí a desmobilização das pessoas em relação ao voto no qual a abstenção é um dos indicadores mais relevantes.

Somos um país premeditadamente desinformado sobre a atuação política do Governo. O canal Parlamento é onde podemos seguir com mais pormenor o que se vai passando. O que vamos sabendo é apenas pela voz dos que defendem em causa própria a aplicação das políticas de quem nos governa. Como já escrevi em textos anteriores, entre eles estão também os comentadores afetos aos partidos do Governo que ocupam os canais de televisão generalistas sem que haja, ao mesmo nível de horário, a possibilidade de contraditório.

Ouvimos a maior parte das vezes os mesmos pontos de vista defendidos até à exaustão que as audiências absorvem como verdades porque não possuem a informação suficiente para a validarem.

Os argumentos que utilizam são muitas vezes baseados em informação com incorreções, falsidades e distorção da verdade para iludir quem os escuta. Com exceção de alguns mais interessados ou informados a maioria não tem a possibilidade de confirmação.

Um dos que está nesse alinhamento é Eduardo Catroga que foi premiado por serviços prestados quando da negociação do memorando com a troika e pela venda da EDP à empresa estatal chinesa, China Three Gorges Corporation. Ocupou de imediato o cargo de Presidente da EDP em representação daquela empresa com remuneração milionária.

Catroga, bem instalado na vida com remunerações escandalosas para um país empobrecido como é Portugal, é compreensível que seja um dos carros de combate do atual PSD. É um digno representante do pensamento político e ideológico, ainda mais radical do que o próprio Governo que apoiará para que a coligação continue a governar.

Disse Eduardo Catroga que o Governo se atrasou no processo de redução da despesa pública e que, em vez do colossal aumento de imposto, deveria ter feito uma enorme redução na despesa. Lança isto mentindo descaradamente, aliás seguindo as pesadas do líder do seu partido.

Vamos ver os verdadeiros números para podermos aferir se deveremos ou não votar nesta coligação que nos engana sustentada por uma vanguarda que nos pretende continuar a enganar.

 

Consolidação orçamental:

  • Diminuição da despesa primária de 7,4 mil milhões de euros. (Despesa efetiva excluindo a rubrica de juros e outros encargos)
  • Aumento da receita de 4,5 mil milhões de euros.
  • Redução da despesa de 2/3 da consolidação.
  • Aumento da receita 1/3 da consolidação.
  • Ao contrário do que Eduardo Catroga diz o enorme aumento de impostos foi inferior ao enorme corte na despesa.                     

Os dois momentos do ajustamento foram:

Primeiro momento

  • Corte brusco na despesa que reduziu mais de 10 mil milhões de euros.
  • Quebra na receita de 2,7 mil milhões de euros.
  • Decisão do Tribunal Constitucional: eliminados 3 mil milhões de euros de corte na despesa. Se não fosse esta decisão a economia estaria ainda neste momento com uma recuperação ainda mais débil.

Segundo momento

  • O tal aumento enorme de impostos com a subida de receita de 6,2 mil milhões de euros.

Como o corte na despesa foi anterior ao enorme aumento dos impostos apenas este ficou registado na memória das pessoas devido ao matraquear constante dos comentadores e da comunicação social produzindo na opinião pública uma falsa perceção dos factos propositadamente criada.

Catroga como muitos outros radicais que apoiam estes neoliberais do Governo acreditam numa austeridade expansionista que apenas existe no país da Alice. Desculpam-se com o interesse do país (julgando-se as únicas pessoas que o habitam) mas olham apenas para o seu umbigo que, em qualquer circunstância, sabem que fica sempre preservado de todas as contingências.

Quando o dr. Eduardo Catroga e outros que tais dizem que se deveria ter cortado ainda mais na despesa, estão fixados no ataque sistemático aos salários e às pensões, quadro donde de encontram a salvo, já que tudo quanto possam ainda dizer sobre corte na despesa é um logro.

A economia não se recupera com esperança num futuro risonho que não chega, nem apenas com cortes nos rendimentos das famílias. Em qualquer sistema capitalista e de economia de mercado a economia vive à base do "pilim" se este se corta ou limita às empresas e às famílias o fundo está à vista.

Acreditar e manter a esperança nesta gente que, mais uma vez, nos pretende iludir é o mesmo que jogar na roleta apostando no 36 vermelho e o croupier anunciar que saiu o 13 preto. Resta depois hipotecar tudo o que se tem e não tem para pagar ao dono do casino por mais quatro anos.

  

Diz Pedro Adão Silva no Expresso:

Se o tema são os pedidos de desculpa, a maioria devia, então, começar por pedir desculpa às famílias

dos 400 mil portugueses que emigraram

aos 400 mil que viram os seus empregos destruídos;

às 65 mil crianças que deixaram de ter inglês no 1º ciclo;

aos milhões de idosos que tiveram as suas pensões cortadas.

 É que, em importante medida, tudo isto foi consequência de uma estratégia de “ir além da troika”, assente na crença mágica de que um corte abrupto na despesa teria um efeito salvífico

 

Fontes: jornal Expresso; Governar com a Troika - Políticas Públicas em Tempo de Austeridade, Almedina

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publicado às 19:41

Bons ou maus intentos

por Manuel_AR, em 11.05.15

Se dúvidas houvesse sobre as intenções do Presidente da República para o prolongamento estratégico da manutenção do Governo com mais três meses de bónus dissiparam-se. O jornal Expresso avança a ideia que corre na Presidência da República é que confia que será inevitável um Governo baseado em acordos se não houver maioria absoluta.

Pretende impor um modelo forçado idêntico ao de alguns países europeus nomeadamente a Alemanha e outros países do norte. À troca negociações de pastas e de lugares os partidos seriam obrigados a governar de acordo com o modelo que o Presidente pretende impor aos portugueses. Impõe a sua vontade quando afirma que "O próximo Governo, seja qual for a sua composição, não pode deixar de ter o apoio maioritário da Assembleia mas, além disso, tem de assegurar uma solução governativa coerente e consistente pressupostamente para ele de direita e que tenha a garantia da "governabilidade e da estabilidade política", e justifica que é "algo decisivo para o país".

Torna-se evidente que estas declarações são para condicionar o voto livre dos portugueses nos partidos que pretende governem o país através do fantasma insegurança e do medo dos mercados. Uma forma de pressão sustentada no discurso da governabilidade e estabilidade política e nos "superiores interesse do país", e nos dele, digo eu.

Uma solução governativa "consistente" entre partidos diferentes pretende. Mas se a partir dos resultados das próximas eleições não houver condições para o que ele pretende? Não dá posse ao Governo e, ao modo de muitos ditadores, toma ele conta do recado? Estará a pensar numa espécie de golpe de Estado nos corredores de Belém? Ou será uma espécie de governo de iniciativa presidencial que transformará depois numa espécie de União Nacional do século XXI? E, tudo isto, três meses antes do término dum infeliz e inepto mandato?

Somos levados a pensar que pretende substituir o debate e o confronto político, a que chama lutas partidárias, por um Governo e um Parlamento uníssonos e onde exista uma oposição decorativa e sem voz.  

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publicado às 14:23

Descreditar Portugal.png

 

Os bons amigos

Os bons amigos.png

A desfaçatez de Passos Coelho ao elogiar publicamente o seu "amigo" Dias Loureiro na inauguração duma queijaria em Aguiar da Beira ultrapassou os limites toleráveis da decência política que deveria estar em conformidade com o que é considerado respeitável e moral pela grande maioria dos cidadãos comuns. É o descomedimento total para não dizer pior. A amizade não tem que acabar mesmo que tenha havido um delito por parte de algum deles mas, no caso, estamos a falar dum responsável de um Governo em funções  que falou publicamente.

Disse ele, referindo-se a Dias Loureiro, "conheceu mundo, é um empresário bem-sucedido, viu muitas coisas por este mundo fora e sabe, como algumas pessoas em Portugal sabem também, que se nós queremos vencer na vida, se queremos ter uma economia desenvolvida, pujante, temos de ser exigentes, metódicos".

Será isto o início do branqueamento e o elogio público da falta de seriedade, integridade e honradez de atores políticos com carência de ética e, ao mesmo tempo, troçar descaradamente dos portugueses?

À falta de melhor parece que o primeiro-ministro anda agora preocupado em inaugurar queijarias, salsicharias e outros negócios afins e perdeu todo o decoro político e comedimento que se esperam do responsável máximo do Governo do país.

Ainda está muito presente o caso BPB/SLN onde Oliveira e Costa, conjuntamente com Dias Loureiro, ex-conselheiro de Estado que em julho de 2009 foi constituído arguido devido à sua ligação ao chamado negócio de Porto Rico, o qual terá provocado um prejuízo de 40 milhões de euros ao BPN na altura relativo a crimes de burla e falsificação de documentos.

Os jornais da época noticiam que em Porto Rico, a SLN acabou por comprar a empresa Biometrics que, alegadamente, produziria uma nova máquina concorrente com as atuais ATM. A Biometrics foi, entretanto, vendida ao Excellence Assets Fund, controlado pelo BPN, que acabou por a vender a uma empresa offshore, La Granjuilla, do próprio El-Assir.

Nas contas do fundo, esta venda apareceu contabilizada por "um dólar". E há mesmo um documento assinado por Dias Loureiro que subscreve este valor. Ou seja, há suspeitas de que cerca de 40 milhões de euros desapareceram do circuito do negócio.

Segundo o Diário de Notícias da altura o próprio Dias Loureiro confirmou que foi confrontando com documentos novos.

Em janeiro de 2013 Dias Loureiro era uma das faces visadas na mega fraude do BPN - via SLN - escândalo que já custou aos portugueses a módica quantia de 3405 milhões de euros (custo estimado até ao final de 2102), custo para os contribuintes que pode atingir 6509 milhões de euros, mais juros e contingências.

Foi a altura em que o ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares, Miguel Relvas, foi passar os últimos dias do ano de 2012 ao Rio de Janeiro, Brasil, e esteve num dos mais luxuosos hotéis, o Copacabana Palace onde juntamente com ele estavam Dias Loureiro, ex-administrador da SLN, holding detentora de 100% do capital do BPN-Banco Português de Negócios, e também José Luís Arnaut, ex-ministro das Cidades, Administração Local, Habitação e Desenvolvimento Regional, todos eles do PSD.

Mas não ficamos por aqui, em 2011, o Estado vendeu o BPN ao banco de capitais luso-angolanos BIC Português, por 40 milhões de euros. No relatório final da segunda comissão parlamentar de inquérito ao BPN, aprovado a 16 de Novembro do ano passado, lê-se que o custo total da nacionalização para os cofres estatais é de, no mínimo, em números redondos, 3,4 mil milhões de euros e, no máximo, de 6,5 mil milhões de euros.

Grave foi também ter mentido à comissão de inquérito parlamentar ao dizer, segundo o jornal Expresso, que "nem sequer sabia que existia o Excellence Assets Fund - um veículo fundamental para uma compra ruinosa (prejuízo 38 milhões de dólares) de duas empresas tecnológicas em Porto Rico" apesar de ter assinado dois contratos onde esse fundo é parte mas disse que não se lembra.

É por demais conhecido que Dias Loureiro tem ligações familiares com Cavaco Silva, cuja filha casou com o filho de Loureiro. Com amigos assim não há quem lhe ponha a mão.

Quem ler isto poderá pensar que é má vontade contra o PSD. Será mesmo? Talvez fosse melhor parar para pensar.

A corrupção em Portugal anda em roda livre e passa ilesa apenas para alguns.

 

 

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publicado às 19:14


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