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Onde estavam entre 2011 e 2015?

por Manuel_AR, em 25.06.19

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Os artigos de opinião podem servir como panfletos para orientar determinada campanha eleitoral. Basta pegar em determinados incidentes como por exemplo na saúde, nas repartições públicas, nos incêndios, etc., e apresentá-los misturados com a corrupção, com o trânsito, com os transportes, como provas culpabilizadoras de má governação. Esta narrativa é repetida vezes suficientes por vários atores dos órgãos de informação até ganhar os contornos de uma verdade subjacente à sociedade.

Grupos de cidadãos, organizações independentes, ou ditas como tal, associações ideológicas, profissionais e outras fazem campanhas e organizam-se contra ou a favor de algo.

Em época de aproximação de eleições surgem outras campanhas provenientes dos mais diversos setores e organizações e seus representantes que procuram exercer o seu direito de expressão de pensamento prestando declarações, dando entrevistas, fazendo comentários, escrevendo opiniões, entrando em debates que os órgãos e comunicação se encarregam de organizar e divulgar.

Muitos dos intervenientes são líderes de partidos, bastonários de ordens profissionais, dirigentes sindicais, deputados, comentadores, “opinion makers”, jornalistas, economistas, enfim, uma parafernália de ditos especialistas.

Em época de aproximação de eleições nos jornais televisivos, por exemplo, verifica-se alguma tendência para os alinhamentos e as edições das peças serem inseridos elementos, por vezes descontextualizados, indutores da formação de opiniões que eventualmente poderão favorecer forças políticas e partidárias opositoras ao Governo.

Um jornalista muito conhecido, infelizmente já falecido, terminava as suas entrevistas na televisão com uma pergunta, para ele sacramental: “Onde é que estavas no 25 de Abril?”.

Gostaria de fazer uma pergunta idêntica a muitos jornalistas, comentadores e escritores de opinião, alguns deles, na minha opinião, jornalistas e comentadores de fação que criticam tudo quanto venha dos últimos quatro anos de governação do Partido Socialista com o apoio parlamentar do PCP e do BE. Onde é que estavam entre 2011 e 2015?

Poderão perguntar-me: então já não se pode ter opinião própria mesmo contrária ao regime e expressá-la livremente? Claro que pode e deve, assim como estou a exercer neste mesmo momento o direito de opinião. Outra coisa é tentar transformar um facto verídico e positivo numa espécie de falsidade distorcendo a verdade, através de palavras e frases para tal escolhidas, por conveniência partidária ou ideológica.

Há ainda a estratégia muito aplicada em alguns espaços noticiosos das televisões e nas reportagens chamadas jornalismos de investigação em que é sistemática a repetição consecutiva de factos negativos ocorridos no passado, chamados ao presente através de repetições exaustivas. A estratégia de muitos partidos políticos, com incidência nos de direita, é a repetição constante de certas palavras que recordem às audiências factos desagradáveis, alguns até sem grande relevo, denunciado certos factos como sendo verdadeiros, mas afinal se verifica serem mentiras criadas com propósito bem determinado.

A direita recorre a todas as estratégia que passam pela difamação, ofensa e incentivação de ódios primários para atingir os seus objetivos, até mesmo dentro dos seus próprios partidos criam divisões, por vezes insanáveis, como está a acontecer com o ataque a Rui Rio dentro do PSD. Em entrevista ao Correio da Manhã, a antiga ministra da Justiça no governo de Pedro Passos Coelho, Paula Teixeira da Cruz, acusou no passado domingo o líder do PSD, Rui Rio, de exigir “uma cega e leal obediência à direção“ de se comportar como um ditador. “Não me inscrevi num partido estalinista, não tenho feitio para isso”.

Tenho reparado que a tendência da campanha eleitoral da direita com a eventual ajuda dos órgãos de comunicação será sob a forma de notícias e da atualidade no sentido de abandonar a notícia de casos e a centrar-se em casos mais amplos que possam sugestionar eleitores a colocarem-se contra o partido do governo com o objetivo de impossibilitar uma maioria absoluta e a redução da sua margem de potenciais votos, minimizando possíveis estragos nos partidos da direita.

Diariamente são apresentadas durante os jornais televisivos as mais diversas opiniões intervenções sem torno de problemas que dizem afetar indesejavelmente os portugueses e referindo-se à saúde, aos transportes públicos em geral, à educação, funcionamento dos serviços públicos, etc..

Depois há a Fenprof, os trabalhadores das misericórdias, as instituições de solidariedade social que, de forma oportunista, pretendem a devolução do tempo de serviço congelado e melhores salários, os opositores ao Governo já não contestam e até aprovam (será porque estão fora do poder?) e não contestam. Estamos a ver porquê. É tudo uma questão de votos.

Sobre todos aqueles temas atrás referidos escrevem-se opiniões de indignação, de fúria, de alerta e apelo às emoções. Uma senhora que não sei se é jornalista ou não, poderá já o terá sido e que também escreve livros de poesia alguns já editados (será a mesma? Se não for as minhas desculpas) agora também escreve artigos de opinião no jornal mensário DIA 15. Na última edição daquele jornal

 

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publicado às 19:06

Comentando comentários de Bagão Félix

por Manuel_AR, em 18.06.19

Bagão Felix_jornal dia 15.png

Li no jornal DIA 15 do mês de junho uma entrevista com António Bagão Félix que foi Ministro da Segurança Social e do Trabalho no XV Governo Constitucional chefiado por Durão Barroso e depois Ministro das Finança XVI Governo Constitucional no tempo em que Santana Lopes foi primeiro-ministro. Embora sem filiação partidária sabe-se da sua simpatia pelo CDS/PP.

Nessa entrevista o Dr. Bagão Félix faz várias afirmações que me parece padecem de uma visão clara e coerente no que se refere a alguns aspetos, mas falha noutros mais básicos.

Bagão Félix poderá ser um humanista que aceita uma visão do neoliberalismo, do meu ponto de vista, enviesado com “rosto humano”. Menos Estado, melhor Estado, é o lema em que a procura de lucros sem limites, responsável pela destruição humana e ambiental, se compatibiliza com a assistência social feita pela caridade cristã.

Quando se está no topo de um pensamento teoricamente elaborado sobre os temas que são colocados numa entrevista e se abdica da perceção e da compreensão do pensamento popular sobre os mesmo temas, o pensamento do nosso interlocutor pode falhar na objetivação de ideias que deveriam e poderiam ser concretizadas na prática. Ideias e pensamento profundos que, apesar de verbalizados por um discurso coerente, mas demasiado especializado e teórico, não chegam “ao céu”, isto é, os cá debaixo, por não ser influenciador.

Vejamos alguns casos simples sobre os quais Bagão Félix reflete com saber e convicção:

  1. Segundo o entrevistado “A redução do IVA na restauração foi um dos maiores erros cometidos por este Governo em termos orçamentais. Porque a restauração é um bem opcional, ao contrário da eletricidade, da saúde ou da habitação”.

Quem pode não concordar com esta afirmação? Claro que, de uma forma genérica, temos de concordar. Primeiro porque a redução do IVA veio inibir receitas aos Estado que poderiam ser canalizadas para outras áreas mais necessárias. Segundo porque a redução do IVA não veio trazer uma baixa dos preços de venda ao consumidor na restauração, como seria de prever. Em terceiro lugar também podemos concordar quando afirma que “a restauração é um bem opcional” que o é de facto. Aqui Bagão Félix esquece-se do povo trabalhador que é um ponto essencial. Devia saber que grande parte dos trabalhadores se deslocam, por vezes, a grandes distâncias para irem trabalhar longe das suas residências por isso almoçar fora é quase obrigatório porque nem todos as empresas têm refeitórios ou cantinas. Por outro lado, há algumas empresas que oferecem subsídios de refeição por isso mesmo.

Compreendo que o dr. Bagão Félix fique incomodado quando quer entrar num restaurante e encontra sempre tudo cheio nos restaurantes que frequenta, mas isso é outro caso! Se estão cheios ainda bem porque foram criados postos de trabalho à custa da procura.

Será que o dr. Bagão Félix gostaria que se voltasse ao tempo de Passo Coelho quando muitos trabalhadores foram obrigados a levar para os empregos marmitas com o almoço o que ainda acontece hoje para certo tipo de trabalhadores?

  1. Ao falar da regionalização o entrevistado refere que tal é um disparate e que há uma “grande confusão entre regionalização, descentralização…”.

Estou em plena sintonia com ele. A regionalização tem um caráter decisório-político e pressupõe órgão políticos regionais tais como parlamentos regionais e governos regionais. Num país unitário como o nosso em termos linguísticos e culturais entre outros serve apenas criar “tachos” e aumentar ainda mais a despesa do Estado.

  1. Bagão Félix critica o Estado tal e qual ele se encontra e necessita de reformas e ainda o sistema de impostos sem contrapartidas positivas para os cidadãos. Todavia deixo aqui uma pergunta. Quando o dr. Bagão Félix foi Ministro da Segurança Social e do Trabalho e Ministro das Finança em dois Governos porque não avançou com medidas para minimizar ou até reformar aspetos que agora critica? Já sei a resposta: na altura não houve tempo devido às curtas legislaturas de então. Pois então porque não dar tempo a um Governo que possa fazer reformas. Isto numa perspetiva otimista, claro! …
  2. “O Estado está organizado em função daqueles a quem presta serviço, mas daqueles que prestam serviço. Na educação não está organizado em função dos alunos, mas dos professores. Na saúde não está organizado em função dos doentes, mas dos vários funcionários que lá prestam serviço…”.   

Esqueceu-se o dr. Bagão Félix de falar dos sindicatos. Estamos em democracia e existem sindicatos. Sim, existem pressões e reivindicações sindicais orientadas por esquerdas e direitas e até ordens profissionais que condicionam a reorganização dos setores. Ele sabe bem que, quando algo se pretende alterar ou melhorar, os sindicatos dão saltos e aqui vai greve…

Ou se enfrentam os sindicatos de facto como o fez António Costa ou por mais críticas mesmo construtivas e bem-intencionadas como as do dr. Bagão Félix não há nada a fazer.

Muito haveria para comentar, mas vou finalizar porque já se faz tarde…

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publicado às 18:27


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