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por Manuel_AR, em 04.02.13

Caso passe a haver uma nova liderança no PS que caminhe num sentido de negociações, mesmo que pontuais, com os partidos do Governo, que os leve a facilitar os seus desígnios, podemos ter a certeza de que, nas próximas eleições legislativas, o PS sairá bastante enfraquecido e o poder não lhe vai com certeza cair no colo como pensa que será e, a “deadline” aproxima-se.



Porquê e com que interesses se levanta, nesta altura da política portuguesa, uma crise no Partido Socialista? Os comentadores, para confusão de todos divagam sobre a crise do PS com as mais diversas opiniões, contraditórias por vezes, enquanto os mais altos responsáveis do partido alimentam uma crise com palavras dúbias e tecendo secretismos à volta do tema.

O líder do Partido Socialista, António José Seguro, não ata nem desata com um projeto alternativo e sem capacidade para fazer uma oposição efetiva e de confronto político com o atual Governo, refugiando-se na repetição de afirmações já mais do que gastas para a opinião pública. Parece existir um complexo de culpa por parte do líder do PS porque, o partido então no Governo assinou, ao tempo de José Sócrates, o tal memorando com as entidades internacionais, vulgo troika.

Seguro parece não estar ciente que, a partir do momento em que Passos Coelho afirmou ao país que “tínhamos que ir para além da troika”, o pacto com o PSD terminaria ali. Por outro lado, parece ter um complexo em relação ao passado que lhe tolhe os “movimentos” devido à assinatura do tal memorando. Não se pretende com isto dizer que o PS não se deva cumprir os compromissos assumidos rasgando o acordo à semelhança do que o PCP e o BE fazem passar para a opinião pública. Contudo acredito que, em situação de governação, viessem a cumprir o que dizem porque, uma coisa é dizê-lo, outra é fazê-lo.

O PS, sem assumir o passado e, ao mesmo tempo, fazer uma rutura com ele, não há oposição que seja possível fazer ao atual Governo. Reparemos que, desde a data da assinatura daquele memorando, muitas coisas aconteceram quer a nível nacional, quer a nível europeu que levam a que as condições iniciais já não sejam exatamente as mesmas, com exceção do défice que continua elevado e das previsões erradas do Ministro das Finanças Jorge Gaspar que se prevê continue a errar, de acordo com previsões de entidades oficiais.

Não se percebe o que é que José Seguro quer dizer com “fazer uma oposição responsável e construtiva”. Ninguém está contra a responsabilidade e a construção de soluções mas a oposição faz-se com alternativas substantivas e credíveis e não através de um jogo do tipo toca e foge com os partidos do Governo apenas porque se encontra agarrado ao memorando da troika. Fazer oposição não é apenas ser responsável e ser construtivo, é mostrar que é (não poder vir a ser) alternativa a este Governo de coligação, criticando e propondo novas ideias que alterem a situação tal como está a ser conduzida por esta maioria.

Não creio que qualquer dos oponentes a Seguro que eventualmente pretendam uma nova liderança para o partido tenham de facto algo a propor de novo, excetuando se for uma nova forma de fazer oposição que seja mais assertiva e mais contundente, pondo de lado o receio de conotações com o passado recente, porque essa contrição já foi feita.

O perigo à vista de os partidos da coligação perderem as próximas eleições a favor do Partido Socialista começa a tomar forma através dos prognósticos políticos de Marcelo Rebelo de Sousa na TVI. Não por acaso que idealiza possíveis e potenciais coligações/associações do PS com o PSD num futuro governo, fazendo ressuscitar o que ele designa por bloco central caso o PS ganhe as eleições sem maioria absoluta.

Caso passe a haver uma nova liderança no PS que, ainda durante o mandato deste Governo, caminhe num sentido de negociações, mesmo que pontuais, com os partidos do Governo que os leve a facilitar os seus desígnios, podemos ter a certeza que, nas próximas eleições legislativas, o PS sairá bastante enfraquecido e o poder não lhe vai com certeza cair no colo como pensa que será, e a “deadline” aproxima-se.


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publicado às 19:21

A artimanha

por Manuel_AR, em 27.11.12

A palavra artimanha vem, em alguns dicionários, como um palavra composta por arte e manha que significa artifício, estratagema, astúcia, fraude, ardil. Pois foi a uma artimanha a que o ministro das finanças recorreu, acolitado por Passo Coelho, quando decidiram diluir pelos doze meses do ano um ou os dois subsídios de férias e de natal.

Esta decisão, com que alguns concordarão, pode aparentemente ser boa, mas não o é para quem vive apenas do seu salário. Para as empresas é vantajoso porque, financeiramente, não as sobrecarrega com o pagamento de dois meses de salário nos meses em que devem ser pagos.

A verdadeira razão da decisão não é olhar para as empresas mas uma artimanha para diminuir o enorme impacto dos impostos que vão incidir sobre o salário mensal de quem trabalha e recebe por conta de outrem. Tratando-nos como imbecis o governo pensa enganar, com o valor mensal que os trabalhadores vão receber devido ao acréscimo do duodécimo dos subsídios, criar a ilusão de que, afinal, não irão ficar assim tão prejudicados.

Há, contudo, outra razão subjacente que é a de minimizar o efeito sobre a quebra de consumo que está prevista ao longo de 2013. Assim, a distribuição por doze meses dos subsídios poderá vir a compensar a quebra de poder de compra, evitando, assim, um maior agravamento da recessão devido à redução do consumo interno, caso fosse recebido apenas o salário mensal líquido que baixa muito com resultado do agravamento dos impostos. Há ainda outra vantagem, não para quem trabalha, mas para o fisco, porque, estando os subsídios também sujeitos a imposto este passa a ser também cobrado mensal e antecipadamente e não apenas como seria aquando do seu recebimento integral.

Se após os anos de 2013 ou 2014 esta modalidade continuar podemos todos dizer adeus aos subsídios enquanto verba recebida na totalidade visto que passarão a ficar integrados no salário mensal e que, por isso, poderão vir a ficar também congelados durante vários anos.

Com este ardil o governo fica na expectativa ilusória de que o valor dos subsídios, recebidos mensalmente, irá compensar a perda do salário líquido recebido causado pelo agravamento dos impostos. A grande surpresa surgirá quando, chegados ao mês de férias e de natal e nada houver a receber para cobrir eventuais encargos assumidos tais como seguros, revisões de carro, amortizar uma ou outra dívida contraída e a falta de dinheiro para passar férias que poderá ter já sido gasto entretanto com o entusiasmo do consumo. Claro que, a melhor ou pior gestão das finanças familiares depende das opções de cada um, pelo que, neste campo, fazer generalizações é sempre perigoso.

Contudo, o artifício do governo não é em benefício das famílias nem das empresas, mas tentar que os indicadores económicos não caiam ainda mais do que aqueles que estão previstos em relação ao consumo interno, à recessão e ao desemprego e mais défice. Mas desiludam-se, hoje mesmo a OCDE prevê para Portugal uma contração da economia de 1,8% em 2013, o dobro das previsões do governo, e 17% de desemprego mais do que o previsto.  Esperemos pelos resultados, mas, por favor, não façam dos portugueses parvos porque eles não aceitam mais patranhas.



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publicado às 15:20


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