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Walking Deads da política

por Manuel_AR, em 04.02.18

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1. Depois dos discursos de revelações apocalípticas provindas do azedume duma perda, o PSD, ou melhor o seu quase eis líder Passo Coelho, lança-se numa nova cruzada que ainda faz eco em muitos dos que o apoiam e faz diatribes casuísticas de oposição ao Governo numa espécie de personagem do “Walking Death”. A última foi num encontro com autarcas na Guarda onde considerou ser "inquietante", numa alusão à falta de esclarecimentos do Governo sobre o caso de "irregularidades graves que ocorreram no âmbito da adoção de menores", referência a "casos de corrupção ao mais alto nível da sociedade" relacionado com adoções ilegais de crianças, (presumivelmente praticados por elementos da IURD), lamentando que o Estado "se refugie no andamento da Justiça”. Ora, a afirmação do quase eis líder do PSD vem de encontro às suspeições que publiquei num post, que podem ver aqui, sobre uma manifestação efetuada por um dito movimento cívico autodenominado Movimento Verdade, com senhoras vestida de preto, à moda dos óscares de Hollywood,  para "exigir respostas" sobre os casos de adoções ilegais que envolveram elementos da Igreja Universal do Reino de Deus (IURD) que está em investigação e que, como tal, não deverá haver lugar à intromissão do Estado como Passos defende. É legítimo fazer a ligação entre o dito movimento com as senhoras vestidas de preto sobre as quais afirmei na altura ser promovido pela direita aproveitando mais um caso para dar uma ajuda à oposição, ou à falta dela, através de populismo demagógico.

2. Os jovens de direita filiados na JSP em busca duma carreira política após as eleições no seu partido já se encontram muito ativos e estão a preparar programas à sua medida para não perderem o comboio com a eleição de Rui Rio. Defendem uma agenda focada na gestão dos fundos comunitários e no conhecimento como forma de reforçar a coesão territorial. Os jovens neoliberais também já falam na valorização do conhecimento. Terá sido inspirado no programa do PS?

Mas há uma palavra, essa sim, plagiada discurso de ano novo do Presidente da República Marcelo Rebelo de Sousa, reinventar. Dizem estes jovens que “Portugal precisa de se reinventar, garantindo a sustentabilidade dos territórios e das novas gerações. É aqui, na resolução dos problemas concretos que o PSD se deve apresentar com uma agenda capaz, um discurso claro e uma vontade férrea”. Palavras lindas, mas vazias de conteúdo para uma praxis “férrea”.

Falam também da “necessidade de reforçar a coesão territorial, um conceito que a JSD diz ainda estar em construção”. Pois é isso de estar em construção pode ser por tempo indeterminado, também já ouvimos isso do seu quase eis líder ao longo que quatro anos sobre cortes e tudo mais que não me apraz repetir. Mais uma tirada com referência ao “relatório europeu mais recente sobre a coesão que é citado onde reconhecem que "as disparidades regionais no PIB per capita permanecem pronunciadas, o que reflete a intensa concentração de crescimento em áreas metropolitanas." Que grande novidade! Esta foi mesmo reinventada. O tema das disparidades territoriais já estudava na faculdade em planeamento regional e local. Até hoje quantas vezes é que o PSD esteve no governo e alguma vez teve a vontade política para tratar este tema. Mas agora sim, é que vai ser.

Outro ponto parece ser também quase plagiado do programa do PS mudando as palavras quando abordam o tema mais uma vez, a área do conhecimento e da digitalização, fazem uma “agenda para a valorização económica destas matérias e a definição de planos de desenvolvimento regional que passem por aplicar estratégias da especialização inteligente”. Que frase bonita para apresentarem. É caso para se perguntar se foi apenas agora que descobriram esta necessidade do país depois de tantos anos. Caros “jotasdeanos”, disso já o PS falava no tempo de Sócrates, lembram-se?

3. Entretanto os apoiantes de Rui Rio começam a preparar-se para o congresso de fevereiro que irá confirmá-lo como presidente social-democrata e onde irão apresentar uma revisão estatutária para ir a votos apresentando uma proposta "séria, que pusesse o partido a olhar para si", dizem. Da proposta fazem parte medidas como a adoção do voto eletrónico, a obrigatoriedade de referendar coligações pós-eleitorais e a necessidade de o candidato a presidente do partido ir a votos com os nomes que pretende que façam parte da sua Comissão Política Nacional. A maior mudança pode mesmo vir a ser a das eleições diretas. O grupo sugere que aconteçam em simultâneo com o congresso, devolvendo ao PSD a mística dos grandes congressos.

Tudo isto parece ser promissor o que Rui Rio não pode esquecer é da oposição que os neoliberais do partido criados à volta de Passos Coelho estão preparados para uma oposição férrea após Santana ter perdido as eleições internas. Os fiéis seguidores da linha de Passos como Luís Montenegro autoexclui-se da futura direção de Rui Rio e assume divergências sobre a estratégia política. Outro da ala direita mais radical, membro da equipa de Santana Lopes, Carlos Carreiras, quer construir uma “proposta radicalmente alternativa ao socialismo”. Muitos outros estão a postos numa atitude conservadora e de oposição à inovação do partido e ao seu regresso a uma espécie de social democracia.

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publicado às 19:44

O preto

por Manuel_AR, em 18.01.18

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A grande atriz Ivone Silva numa das séries de humor que passou nos anos oitenta na televisão onde protagonizava a rábula Olívia Patroa e Olívia Costureira dizia "Com um simples vestido preto eu nunca me comprometo!"

O tema do assédio sexual, sem que tal conceito seja devidamente esclarecido, quer na sua veemência, quer nas circunstâncias, tem estado na ordem do dia da comunicação social. O assédio sexual, é uma violência sobre as mulheres seja a que classe social pertençam. Sobre este ponto de vista sobrescrevo as palavras de João Miguel Tavares no jornal Público apesar de, politicamente, termos pontos de vista opostos:

“A importância do movimento #MeToo é indiscutível, e desta vez não estamos a falar de picuinhices identitárias, nem dos insuportáveis trigger warnings que ameaçam a liberdade de expressão em todo o lado. O assédio sexual é um problema gravíssimo e transversal às várias classes sociais. É impressionante como nós ouvimos as maiores estrelas de Hollywood contarem histórias de assédio que poderiam ser relatos de agressões sexuais sofridas por uma qualquer trabalhadora a ganhar o salário mínimo numa fábrica do Vale do Ave. Denunciar o assédio sexual é urgente, é necessário e é absolutamente justo.

Tal como é necessário e justo criticar aquilo que se quer fazer passar por assédio sexual quando, de facto, não o é”.

O vexame a que uma mulher é sujeita para poder arranjar trabalho passa todas as marcas e não apenas a da decência. Desde que veio para a opinião pública a primeira denúncia de uma vítima de assédio sexual proliferam na comunicação social denúncias, em Portugal inclusive. Ainda hoje o jornal Público traz hoje mais uma notícia sobre um deste casos.

Como protesto, na entrega dos Óscares em Hollywood, as estrelas decidiram vestir-se de preto. Portugal nestas coisas faz questão de imitar seja a propósito ou a despropósito, e se não há motivo para a imitação inventa-se um. Pega-se, por exemplo no caso da rede de adoções ilegais de crianças da IURD em Portugal que a TVI denominou por «O Segredo dos Deuses» que revela uma rede de adoções ilegais de crianças da IURD em Portugal para imitar a “moda” do preto.

Se igrejas como a IURD que exploram a crença de cidadãos indefesos através de burlas fazendo-lhes autênticas lavagens cerebrais, e se servem da sua organização para proceder a outras ilegalidades, tanto pior e há que denunciar.

Outra coisa é a partir daqui umas “senhoritas” que à moda de Hollywood resolvem vestir-se de preto e criam um movimento e fazem uma campanha publicitada pela TVI destinado a emocionar a opinião pública exigindo comissões independentes para investigar as ditas adoções ilegais e exigir que o Governo intervenha sem que ainda se tenham quaisquer provas provenientes das investigações judiciais leva-me a desconfiar da seriedade da coisa e do que verdadeiramente estará por detrás deste pretenso movimento.

Resta a inspiração imitadora pelo dito movimento que também se veste de preto. O vestuário preto ficou agora mais na ordem do dia desde a última edição da entrega dos Óscares em Hollywood para quem quiser fazer movimentos do que é preto.

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publicado às 17:37


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