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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Quem não está na política ativa pode alvitrar ou propor seja o que for, sobre o que se deve ou se pode ou não fazer. Para quem está na politica e exerce o poder não é o mesmo. Antes duma decisão deve tomar em consideração a conjuntura e analisar muito bem as causas e as consequências das suas decisões. Se não tem certezas é para isso que existem os assessores e conselheiros embora estes errem ou enviesem as questões quando.
Vejamos o contexto externo. A União Europeia está envolta numa pré-crise do euro, com crises das bancas, dos refugiados, das dívidas, das políticas externas e outras que desconhecemos. A Itália debate-se com uma dívida enorme, com problemas da banca gravíssimos, com o aparecimento dum partido de esquerda populista, o Cinco Estrela que, segundo as sondagens, tem vindo a subir nas intenções de voto. Renzi do Partido Democrático, constituído a partir de outros do centro-esquerda, propôs um referendo à constituição com umas variantes que poderíamos considerar despropositadas para esta altura que a UE atravessa.
Lá por Itália, de acordo com um artigo publicado pelas Rádio Renascença há poucos dias atrás, surgiram várias vozes que avançaram argumentos pelo “Não”, puramente ligados à Constituição, para apelar a um voto negativo na consulta popular ontem realizada. Os argumentos de Renzi centravam-se na agilização na aprovação de leis e lançava a cenoura que era de poder reduzi o número de lugares no Senado de 315 para 100. Convenhamos que até há um exagero neste tipo de organização em Itália mas foi, para o momento, populismo.
Quem se opunha à reforma da Constituição propostas por Renzi argumentava que os poderes das regiões foram adotados depois da Segunda Guerra Mundial, precisamente para evitar a repetição de um cenário como o que permitiu a ascensão do ditador Benito Mussolini, temendo que uma aprovação da reforma enfraqueça as bases democráticas do país. Terão razão se tivermos presente o momento da União Europeia em que as extremas-direita estão a progredir no terreno aproveitando as aberturas que as democracias lhes possibilitam.
Este referendo também iria permitir alterações à lei eleitoral impossibilitando alguns partidos de chegarem ao poder. Não mês esqueci que, em Portugal, Passos Coelho antes do seu mandato também propunha uma revisão da nossa Constituição.
Identicamente ao que se passou no Reino Unido com o Brexit o referendo proposto pelo primeiro-ministro Cameron, um político experiente, que se terá arrependido. Renzi em Itália abriu a Caixa de Pandora e cometeu erro idêntico. Meteu água, e da grossa. Arrisca-se a que o poder seja entregue de mão beijada a populistas.
E agora Renzi? A sua demissão demonstra coerência, mas vai criar problemas que poderiam ser evitados. Pelos menos ainda não disse que a culpa não era sua, mas dos outros meninos.
Oxalá me engane, porque em democracia há sempre alternativas, só na cabeça dos senhores da direita é que não as há, desde que seja para o seu interesse imediato ou mediato. Apenas, e quando, é do seu interesse é que as há.
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