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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Os últimos acontecimentos têm sido dominados por atos de terrorismo assassino relegando para segundo plano, e temporariamente esquecidas, outras notícias, o que é compreensível.
Assim recordo que na passada semana não foi por acaso que alguns órgãos de comunicação social, nomeadamente televisões, voltaram na passada semana ao caso Sócrates.
Quem tem feito o frete de ler, mesmo que de passagem, os escritos que aqui coloco terá constatado que raramente abordei o tema Sócrates e a dita Operação Marquês. Não comentei nem emiti qualquer opinião a favor ou contra Sócrates pelo desconhecimento que tenho dos reais contornos do processo judicial e, o que é publicado pela comunicação social, posso apenas considerá-las como especulações oriundas de informações dum processo judicial inacabado. A isto acrescento que também não acredito em santidades tendo em conta o que, se tem visto por aí ao longo dos anos ao nível da corrupção.
Mas há uma coisa que sei, é que, em certos momentos estrategicamente escolhidos, seja por artes mágicas ou quaisquer outras formas de ilusionismo, são lançadas para a opinião públicas “novidades” travestidas de narrativas do género faz de conta.
Quem está a dirigir o processo mais parece um salta-pocinhas que vai saltitando de charco em charco de águas estagnadas para se refrescar. Fará algum sentido para o comum dos cidadãos como eu que, passado todo este tempo, se vão fazer buscas na PT e noutros locais para arranjarem matéria sabe-se lá de quê e porquê? Esperará por acaso quem está à frente da investigação que ao fim deste tempo todo, o material comprometedor estivesse à espera que chegassem buscas para o arranjo de novas provas? Isto mais parecem manobras de diversão dos chamados empata f…
Coincidentemente, ou não, o dia 15 de setembro foi anunciado há meses pelo diretor do Departamento Central de Investigação e Ação Penal, Amadeu Guerra, como prazo limite para a conclusão da investigação do processo "Operação Marquês" e a acusação contra o antigo primeiro-ministro José Sócrates. Mas, lá vamos nós, mais uma vez, em março de 2016 “admite, num despacho, que aquele prazo pode ser alterado por ‘razões excecionais, devidamente fundamentadas’". Aproximando-se o prazo, e já la vão quatro meses, vêm ao de cima novas investigações.
O labirinto é tão confuso que já nem eles (os da investigação) se entendem. Não me admiraria que viessem dizer que este processo tem contornos mundiais na China, Rússia, e de espionagem a favor da Coreia do Norte e que, por isso, é necessário mais tempo. Sarcasmo claro!
Ao fim de tanto tempo, mesmo que não queiramos, podemos começar a desconfiar de que algo não está a bater muito certo.
Marcelo Rebelo de Sousa é uma pessoa bem-disposta, bom comunicador, que atrai audiências com os seus comentários. Gostamos de o ouvir, é um ator espontâneo no mundo da política que pondera bem o que diz e como o diz e, por isso, tem a qualidade e o dom de dizer e desdizer colocando quem o escuta numa ilusão de isenção. Diz, não diz, conhece, desconhece, informa, desinforma, publicita livros, revela factos, olvida factos, vira à direita, vira à esquerda, fica no centro hoje, amanhã, se necessário, é PCP ou Bloco ou PS ou…
Fartos do Presidente da República Cavaco Silva, sorumbático e partidário, os portugueses estão a dar ao nível das sondagens maioria de intensões de voto a Marcelo Rebelo de Sousa. Pretendem alguém que os divirta, que faça da presidência da república um local menos cinzento, que fale para que o percebam que entretenha com intervenções de comentador político.
Os jornalistas convidados pelas televisões para comentar a política andam entusiasmadíssimos com Rebelo de Sousa. Ele é o melhor, tecem-lhe elogios, recorrem ao seu percurso político desde 1973, recordam que foi um dos fundadores do jornal Expresso, como se atualmente fosse garantia de alguma coisa. Esquecem-se, ou querem fazer esquecer que muita coisa mudou na política, especialmente desde 4 de outubro.
Esquecem que Marcelo Rebelo de Sousa andou em campanha eleitoral para as legislativas pelas ruas ao lado da coligação PàF do PSD e do CDS-PP. Marcelo é um político que, como a cortiça, está sempre à tona da água. Vira-se para todo o lado, quer "agradar a gregos e troianos". Ora diz que apoia este, ora pisca os olhos aos que lhe podem dar votos, ora mais à frente diz que tem apoiantes desde o PCP ao Bloco de Esquerda, como se isso fosse possível, a não ser que estejam todos de olhos fechados ou meio abertos.
Marcelo prepara há anos a sua carreira política e o comentário político nas televisões durante dez anos abriu-lhe a porta. A sua candidatura teve a ajuda da indecisão dos partidos a lançar, ou não lançar candidatos devido à proximidade entre as eleições legislativas e as presidenciais criadas pelo atual Presidente da República que prorrogou a data das legislativas até ao limite com o intuito de favorecer os partidos no Governo então em funções.
Marcelo, como Presidente da República, não hesitará em tomar decisões que possam dar vantagem ao seu partido e sempre que for oportuno. Não será Cavaco Silva, mas será um Cavaco Silva com o "savoir faire" que lhe é peculiar e em que é exímio.
É evidente que, em campanha eleitoral, qualquer candidato tem a tendência de dizer o que, quem lhe dá o votos, gosta de ouvir.
Rebelo de Sousa estrategicamente convida para sua mandatária Maria Pereira, uma jovem investigadora em biotecnologia que exerce a sua atividade em França. É uma forma de mostrar que, por um lado, a sua candidatura defende a educação e a ciência e, por outro, captar o eleitorado composto por jovens investigadores e académicos, competindo assim, nesta área, com Sampaio da Nóvoa que terá eventual apoio das universidades. Esta estratégia tem ainda a vantagem de chamar a atenção para o seu distanciamento em relação à política de Passos Coelho nesta área e, mostrar a intencionalidade de remediar a destruição que causou a investigadores e universidades e à educação em geral. Enquanto presidente não sabemos como o fará porque são competência do Governo, colocando-se assim como se fosse tivesse um programa de candidato a primeiro-ministro.
Ele próprio o confirma quando considera que Maria Pereira representa o futuro, a aposta na educação e na ciência defendida pela sua candidatura, e é também um exemplo dos jovens que nos últimos anos partiram para o estrangeiro e um elogio aos emigrantes portugueses. Esperteza e argúcia política não lhe faltam… Cuidado e olho ele…
Antes do comentário que irei fazer cumprem-me fazer uma declaração prévia. O futebol não faz parte de todo dos meus interesses pessoais e, como tal, não tenho por hábito discutir futebol com quem quer que seja e quando o faço é pura e simplesmente no sentido de gracejar com o tema.
A condecoração de Cristiano Ronaldo com o grau de Grande-Oficial da Ordem do Infante D. Henrique, por parte do Presidente da República, Cavaco Silva, do meu ponto de vista não foi essencialmente por causa do seu contributo na projeção internacional do país, mas uma questão de imagem pessoal do próprio presidente. A projeção internacional de Ronaldo como tal não nos livra das dificuldades financeiras, tão pouco nos da crise e da austeridade nem contribui para a recuperação económica.
Apesar de ter havido uma ligeira recuperação, 1,5%, da popularidade de Cavaco Silva ele precisava de uma ajudinha, e onde ir buscá-la, claro que na área onde sabe que as emoções vêm à flor da pele, o futebol e Cristiano Ronaldo.
Aqui o Presidente da República jogou uma dupla cartada que foi pensar nele mesmo, o que faz por norma, e no desvio das atenções dos problemas que se enfrentam. Um oportunismo político porque este espetáculo público sobretudo cai bem…
Mas assim como os portugueses têm memória curta na política, dizem, também a têm para estes factos efémeros que se esfumam quando, no quotidiano, se confrontam com as dificuldades e lutam para as ultrapassarem com grande esforço.
No seu discurso de entrega da condecoração o presidente instituiu o futebol como arte, disse ele, ao exaltar as qualidades de trabalho de Ronaldo como se fosse um exemplo a seguir pelos portugueses, tal como a "coragem de acreditar", não sabemos é em quê!
Como não há símbolos nacionais credíveis que mobilizem os portugueses Ronaldo é o que está à mão. As artes, as ciências, a investigação científica ficam ofuscadas por um
"Cesse tudo quanto a antiga musa canta,
Que outro valor mais alto se alevanta."
como Camões escreveu n' Os Lusíadas.
Mas que viva Ronaldo!
Ele é, e será, a salvação da Pátria porque dá alegria a milhões de portugueses.
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