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Quantos dias vão demorar esta fantochada e a instabilidade política e interregno governativo, provocados pelo Presidente da República que, ao demitir-se das suas funções, ao lançar para os partidos a procura de alternativas para governo estável, quando as eleições foram bastantes claras? Só tinha que ouvir os partidos e indigitar quem ganhou as eleições. Os acordos parlamentares viriam depois com a capacidade negociadora já comprovada de António Costa.

O discurso do medo, da catástrofe, da instabilidade política, da estabilidade governativa, do que pode acontecer se…, funcionou no tempo da ditadura e enraizou-se de tal forma na cultura dos portugueses que hoje em dia ainda persiste, pelo menos nos que votaram conservador. A direita da coligação PSD-CDS sabia disso, utilizou a estratégia durante a campanha eleitoral para ganhar e continua a utilizá-la agora, reforçado pelo Presidente da República que, para não se comprometer, lançou no país a confusão total.

Quando Salazar tomou o poder falava em pacto de consenso de governo nacional afirmando que não defendia nenhum sistema político e, menos ainda, a democracia, pelo efeito nefasto porque tinha o jogo de interesses privados e ideologias rígidas que orientavam os partidos políticos, pelo que atalhou caminho para um governo estável da nação proibindo estes e ainda a liberdade de imprensa, em nome do que considerava ser a paz social.

 Ao ocupar o poder num tempo de instabilidade política Salazar conseguiu impor as suas ideias ajudado pela reputação que granjeou ao resolver a crise financeira, criando um pacto de consenso de governo nacional.

Ao escrever chega-me à memória a parecença com intervenções de Cavaco Silva que disse um dia não ser político mas que, na atualidade, tem ideias muito parecidas.

Os grupos de palavras sublinhados são os que foram utilizados pela coligação PSD-CDS durante a campanha eleitoral e sempre recordados pelo Presidente da República que disse em tempo não ser um político, mas nunca assumiu que a sua pureza política esteve associada a nomes menos claros criados pelo cavaquismo. "No seu tempo o BPN era legal e Dias Loureiro e Oliveira Costa eram "pessoas honradas" segundo o Banco de Portugal e foi preciso que rebentasse a crise financeira mundial para que o escândalo viesse a público no meio de tantas fraudes e logros financeiros. Coincidência?"

O discurso do medo, da insegurança, do que poderá acontecer, se nada for feito de acordo com a direita, tem levado uma parte da população a assumir-se como pessoas a que lhes podem retirar tudo o que têm, incluindo direitos sociais, desde que haja estabilidade política. Salazar assim gravou nas suas mentes.

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publicado às 16:47

Instabilidade política e zona de conforto

por Manuel_AR, em 10.01.13

 Imagem de: http://depoisfalamos.blogspot.pt/

 

Os portugueses receiam a instabilidade política mesmo que seja momentânea e com o objetivo de, a muito curto prazo, poder contribuir para uma nova vida pessoal e social. Não gostam de sair da sua zona de conforto, termo, este, já utilizado por Passos Coelho.

Esta atitude pode ser demonstrada pelos comentários que se ouvem por aí na rua, nos cafés e outros locais públicos, como, por exemplo, vale mais isto do que nada, temos esta reforma mas é melhor do que a retirarem toda, os outros (os políticos) que vierem fazem o mesmo que estes, nós sempre vivemos assim e nada vai melhorar para nós, mudar para quê eles estão a fazer o que podem, temos que dar graças a Deus porque temos emprego apesar do ordenado baixo e outro grande número frases que seria exaustivo numerar. Estas são frases que agradam ao governo porque é para isto mesmo que vem "treinando" a equipa chamada povo português, qual treinador de futebol que mentaliza a equipa do seu clube.

O pior de tudo é que, quem nos governa sabe disso e, por isso, sabe que pode tomar, sem grande cautela, até impunemente, medidas com as mais toscas justificações que vão contra os interesses dos governados que os colocaram no poder.

Poderia dizer-se que estaríamos a chamar estúpidos aos portugueses. Bem longe disso, são é comodistas e preferem manter-se na tal zona de conforto porque, apesar de sentirem que estão a ser enganados e prejudicados têm receios, o que prova que a pedagogia do medo que é lançada para a opinião pública tem funcionado e bem. Decerto modo é compreensível porque a situação que se criou é tal que tudo até a perda do posto e trabalho se tem em conta quando as pessoas se pretendem manifestar quer através de comentário, quer de qualquer outra forma. Não é por acaso que nos serviços de diversos departamentos dos ministérios as pessoas têm um certo cuidado em falar de certos assuntos com receio de que alguém possa escutar as conversas, mesmo as efetuadas ao telefone.

A instabilidade política é o “chavão” do medo, acenado pelos que nos governam e por quem os apoia, agora, com a justificação da intervenção da “troika” para, conhecendo as características do povo português, se servirem disso para eles próprios se poderem manter nas suas zonas de conforto enquanto detentores do poder que lhes foi dado através de eleições.

Só nos governos não democráticos é que a estabilidade política é imposta, em democracia a instabilidade política é sempre possível existir. Veja-se o caso atual da Itália onde sem grande perturbação social são convocadas eleições antes do final do mandato. Dirão alguns que nós estamos intervencionados e não podemos assustar os mercados e a ”troika” que nos emprestam dinheiro. Direi eu, a “troika” está-se borrifando para que haja ou não eleições antecipadas, o que quer é que o programa que nos impõe, aceite de mão beijada e sem negociação por este governo, seja cumprido para garantir o dinheiro e os juros do empréstimo.

Se continuarmos a prendermo-nos ao problema da instabilidade política o melhor é, durante a próxima década, não termos eleições porque, nessa altura, ainda estaremos a cumprir os nossos compromissos e, por isso, não podemos assustar os mercados.

Instabilidade política não é uma revolução, é apenas uma prática que deve conduzir à possibilidade  de mudança devido à falta de compromissos assumidos pelos que elegemos para nos governarem. Para além disto, tudo o que se disser será ceder à tal pedagogia do medo que apenas serve para a manutenção de uma situação conveniente que dure quanto mais tempo melhor. Em democracia só há uma forma de sair de crises políticas, são as eleições que servem para criar estabilidade e não para criar instabilidade.

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publicado às 16:49


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