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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
São decerto boas notícias as que apontam para um ligeiríssimo crescimento do PIB, 1,1%, no 2º trimestre do corrente ano, um ligeiro decréscimo do desemprego no trimestre de 17,7% para 16,4%, as exportações cresceram embora menos do que o previsto com exceção, nomeadamente, da indústria metalúrgica e metalo-mecânica que se destacam para melhor.
Será que, de facto, estamos a mudar de rumo em direção ao crescimento? A análise objetiva destes indicadores leva-nos a pensar que são apenas um pequeno sinal que, como dizem prudentemente alguns economistas, não nos devem levar a ser demasiado otimistas nem a embandeirar em arco?
Eu, escriba deste blog, pessimista como sou, arrisco a afirmar que isto não é mais do que uma euforia passageira. As populações não viram alterações nos seu rumo de vida antes pelo contrário, cada vez têm menos poder de compra. Provavelmente preocuparam-se em poupar um pouco menos gastando no consumo, pensando erradamente que tudo está a melhorar. Aproximando-se o período de verão consumiram um pouco mais e, em alguns casos até, endividando-se com cartões de crédito.
Mas, se todos os indicadores continuarem a melhorar durante o terceiro trimestre e o quarto trimestre, o que é provável, nada nos garante que este o ciclo continue em 2014. Poderemos considerar que a melhoria dos indicadores poderá ter sido obra de intervenção divina, nomeadamente de Nossa Senhora de Fátima. Já o Presidente Cavaco, noutras circunstâncias, invocou esta intervenção há poucos meses atrás. Recordam-se?
Se a política do governo em nada se alterou, se a UE está praticamente estagnada, se a austeridade promete ser ainda mais agravada, a explicação deste fenómeno só pode estar no domínio do sobrenatural.
Se estes números fossem conhecidos ou previstos antes da crise política provocada por Gaspar e Portas, prolongada por Cavaco Silva, a remodelação do executivo e a tomada de posse do novo governo em 27 de julho, com os problemas que trouxe a seguir não teriam acontecido.
Podemos estar face a algo que não se compreende: ou o anterior governo fez tudo bem e então a carta de demissão do ministro Gaspar não teve qualquer fundamento, ou houve marosca milagreira.
Os indicadores positivos estão a servir como seria de esperar para propaganda do governo. Passos Coelho afirma que estão no bom caminho. Disse-o por outras palavras, no comício do Pontal. Mas como para o primeiro-ministro o bom caminho são os cortes, os impostos e a continuação da austeridade, não sabemos qual o bom caminho. Serão apenas os tais indicadores. Mais disse ainda que, dito com palavras simples, a Constituição é um empecilho à governação e que Tribunal Constitucional é um atraso para o país.
Será que Passo Coelho não se enxerga e não repara que a grande maioria dos portugueses independentemente da sua cor partidária, exceto os ultraliberais e radicais de direita infiltrados no PSD, estão fartos dele?
Em pré-campanha eleitoral recente Merkel disse aos alemães, referindo-se ao seu opositor do SPD: “…posso dizer-vos que ao fim dos oito anos em que fui chanceler estamos melhor do que estávamos.”. O mesmo não poderá dizer Passos Coelho porque ao fim de dois anos e uns meses de governo estamos muito pior do que estávamos. E, se tudo assim continuar estaremos ainda pior.
O ministro da economia Pires de Lima disse que “Começam a surgir sinais consistentes […] no sentido de confirmar a ideia de que provavelmente estamos num momento de viragem económica”. Leiam bem provavelmente. Se tudo se confirmar isso apenas quer disser que os antecessores deste “novo” governo fizeram um bom trabalho.
Se esta maioria ainda continua onde está, e este primeiro-ministro no poder, ao CDS o deve. Estes favores pagam-se caros e com juros. O futuro o confirmará, ou não.
Não vou fazer comentários sobre uma parte do editorial do Jornal i deste último sábado, escrito pelo seu diretor, sobre um dos últimos despachos de Vítor Gaspar antes de fugir do descalabro económico e financeiro que ele próprio criou e confirmou. Passo apenas a citar a negrito para evidenciar a gravidade da situação, o que foi também validado pelo suplemento de economia do Jornal Expresso que também cito abaixo.
Vítor Gaspar, o exterminador de reformados (Jornal i 13 de julho)
O último despacho de Vítor Gaspar é de uma gravidade enorme. Confortado certamente pelo facto de a sua futura pensãozinha estar dependente do fundo do banco de Portugal, a criatura deu ordens para a segurança social comprar em massa dívida pública, através de um simples despacho. A medida põe em grave perigo o pagamento de prestações sociais, nomeadamente pensões, reformas e subsídios de desemprego, se houver um novo resgate. Foi um acto deliberado e feito praticamente às escondidas, que pode destruir a vida de milhões de portugueses. Gravíssimo! Só por ter-lhe ocorrido uma ideia semelhante, José Sócrates foi quase crucificado.
Quem está na Segurança Social quem é? Mota Soares do CDS/PP)
Não foi apenas o Jornal i a comentar esta decisão, no caderno de economia do Jornal Expresso, sob o título O Último ato de Gaspar” também dizia Nicolau Santos (o negrito é meu):
“No dia em que se demitiu das Finanças, Vítor Gaspar assinou um despacho que força o fundo de reserva da Segurança Social a comprar até €4,5 mil milhões de dívida pública nacional nos próximos dois anos e meio. O FEFSS é a reserva de dinheiro que serve para pagar pensões e outras prestações sociais caso o sistema entre em colapso. Neste momento, terá autonomia para pagar apenas oito meses, quando a lei de bases da Segurança dois anos. E a sua carteira corresponde atualmente a 55% de investimento em dívida pública portuguesa, 25% em dívida de outros Estados e 1% em ações de empresas estrangeiras.
Ora Gaspar obriga o fundo a subir muito o risco das suas aplicações, ao concentrá-las em 90% na dívida pública portuguesa. É tudo o que qualquer gestor de fundos medíocres sabe que não se deve fazer. A não ser que Gaspar estivesse, num derradeiro esforço, a maquilhar o descalabro do resultado das suas políticas e a mostrar mais uma vez o seu desprezo por desempregados, reformados e pensionistas.”
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