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Agora somos todos contra

por Manuel_AR, em 06.03.17

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Aqui está ele de novo, José Miguel Tavares, que diz ser um liberal e de direita, dependendo dos dias. Não sei se ser liberal ou ser de direita é necessariamente a mesma coisa. Tenho que aprofundar isso, tenho muitas dúvidas, tantas quanto o seu parceiro de direita Paulo Núncio.

Quem ler o artigo de João Miguel Tavares e não for liberal nem de direita (?) (a minha dúvida persiste), fica absolutamente pasmado, mas, ao mesmo tempo agradado, com grande parte do que defende, parece até um liberal socialista a falar (esta é outra dúvida que tenho. Não sei se este conceito existe). Até não concorda com os seus amigos de direita que dizem achar que há muito populismo e demagogia nesta coisa dos offshores.

Vai ainda mais longe parecendo um “esquerdalho”, desculpem-me esta terminologia que não pretende ser ofensiva, mas que, para facilidade de expressão, resolvi utilizar para designar todos os que não pertencem ao grupo dos eleitos das verdades absolutas do capitalismo quando falam entre si, (já agora mais um parêntesis para que fique claro que não sou anticapitalista, nem contra a iniciativa privada).

José Miguel Tavares fala sobre offshores dizendo em abstrato ser contra, contudo sem referência clara ao caso concreto que está na ordem do dia e se passou quando os neoliberais estiveram no poder e, talvez por isso, seja contra, em abstrato.

Acha provável que haja fugas ao fisco nas 14484 transferências e infere que “pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade”, cita um socialista para defender a sua tese e até aponta as razões de António Costa neste caso. Tavares manifesta-se contra os muito ricos que, segundo a bíblia neoliberal, que é a dele, é necessário que sejam ainda mais ricos para que os pobres o sejam menos, (desculpem-se mais este parêntesis, mas não tenho nada contra os ricos tenho é contra a patranhada desta teoria para confundir quem os ouve). Quem acompanhe o que tem escrito defendendo quase incondicionalmente a causa dos liberais fica agora pasmado porque, ao ler o seu artigo, só um insensível não estará de acordo com ele e, por isso, nada me impede de colocar em dúvida a sua sinceridade.  Vejamos então o que João Tavares escreve:

Ainda que não tenham existido fugas ao fisco ou falcatruas nas tais 14.484 transferências – o que parece altamente improvável, a avaliar pelas coincidências estatísticas apresentadas por Rocha Andrade –, o simples não-tratamento de 10 mil milhões de euros é uma vergonha exactamente pelas razões apontadas por António Costa: a única forma de manter a moralidade do regime em tempos de vacas magras é ter, pelo menos, a mesma exigência com fortes e fracos. E a única forma de manter a salubridade do capitalismo é não permitir as desigualdades chocantes que as offshores promovem. Acho muito bem que, consoante o talento e os méritos de cada um, haja quem seja mais rico e menos rico. Só que as offshores promovem uma desigualdade inaceitável – são um privilégio só ao alcance de milionários. Como dizia António Lobo Xavier, com alguma graça, não há guichês para offshores. Não há um sítio onde a gente possa ir bater à porta e colocar 1000 euros nas ilhas Caimão, só para experimentar. Ora, se apenas os muito ricos podem pagar menos impostos, isso só pode ser classificado de uma forma: absolutamente escandaloso. E a quem parecer que isto é simples demagogia e populismo, só tenho uma coisa a dizer: quero mais.

Com ele todo o grupinho de comentadores transforma-se, neste caso, em grande oposicionista aos offshores e avança com pedidos de investigação a fundo sobre o caso; viram-se contra Paulo Núncio quando, na semana anterior, o defendiam. Veja-se o caso de Assunção Cristas ao corrigir o tiro de enaltecimento a Paulo Núncio ao dizer que o país lhe deve muito, pede agora para se investigar tudo sobre o caso. Marques Mendes o político tarólogo de direita de serviço na SIC, vem dizer que há mais dúvidas do que certezas no caso dos offshores e que pode haver matéria criminal.  Segundo o jornal i, “acho que pode ser um caso de polícia", afirmou hoje Luís Marques Mendes no seu comentário semanal na SIC. E, pasme-se, no seu álbum fotográfico o PSD e o CDS estão mal na fotografia! Quem diria! Desconfiando que isto possa dar para o torto, ratos, ratinhos e ratões afastam-se e correm para a rua mostrando que não são os primeiros a fugir quando o barco de está a fundar, refugiam-se publicamente no investigue-se e esclareça-se tudo a fundo.

É que, na voragem iniludível de agarrar novamente o poder, a direita quer fazer esquecer o que fez e disse no passado.

 

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publicado às 16:06

A artimanha

por Manuel_AR, em 27.11.12

A palavra artimanha vem, em alguns dicionários, como um palavra composta por arte e manha que significa artifício, estratagema, astúcia, fraude, ardil. Pois foi a uma artimanha a que o ministro das finanças recorreu, acolitado por Passo Coelho, quando decidiram diluir pelos doze meses do ano um ou os dois subsídios de férias e de natal.

Esta decisão, com que alguns concordarão, pode aparentemente ser boa, mas não o é para quem vive apenas do seu salário. Para as empresas é vantajoso porque, financeiramente, não as sobrecarrega com o pagamento de dois meses de salário nos meses em que devem ser pagos.

A verdadeira razão da decisão não é olhar para as empresas mas uma artimanha para diminuir o enorme impacto dos impostos que vão incidir sobre o salário mensal de quem trabalha e recebe por conta de outrem. Tratando-nos como imbecis o governo pensa enganar, com o valor mensal que os trabalhadores vão receber devido ao acréscimo do duodécimo dos subsídios, criar a ilusão de que, afinal, não irão ficar assim tão prejudicados.

Há, contudo, outra razão subjacente que é a de minimizar o efeito sobre a quebra de consumo que está prevista ao longo de 2013. Assim, a distribuição por doze meses dos subsídios poderá vir a compensar a quebra de poder de compra, evitando, assim, um maior agravamento da recessão devido à redução do consumo interno, caso fosse recebido apenas o salário mensal líquido que baixa muito com resultado do agravamento dos impostos. Há ainda outra vantagem, não para quem trabalha, mas para o fisco, porque, estando os subsídios também sujeitos a imposto este passa a ser também cobrado mensal e antecipadamente e não apenas como seria aquando do seu recebimento integral.

Se após os anos de 2013 ou 2014 esta modalidade continuar podemos todos dizer adeus aos subsídios enquanto verba recebida na totalidade visto que passarão a ficar integrados no salário mensal e que, por isso, poderão vir a ficar também congelados durante vários anos.

Com este ardil o governo fica na expectativa ilusória de que o valor dos subsídios, recebidos mensalmente, irá compensar a perda do salário líquido recebido causado pelo agravamento dos impostos. A grande surpresa surgirá quando, chegados ao mês de férias e de natal e nada houver a receber para cobrir eventuais encargos assumidos tais como seguros, revisões de carro, amortizar uma ou outra dívida contraída e a falta de dinheiro para passar férias que poderá ter já sido gasto entretanto com o entusiasmo do consumo. Claro que, a melhor ou pior gestão das finanças familiares depende das opções de cada um, pelo que, neste campo, fazer generalizações é sempre perigoso.

Contudo, o artifício do governo não é em benefício das famílias nem das empresas, mas tentar que os indicadores económicos não caiam ainda mais do que aqueles que estão previstos em relação ao consumo interno, à recessão e ao desemprego e mais défice. Mas desiludam-se, hoje mesmo a OCDE prevê para Portugal uma contração da economia de 1,8% em 2013, o dobro das previsões do governo, e 17% de desemprego mais do que o previsto.  Esperemos pelos resultados, mas, por favor, não façam dos portugueses parvos porque eles não aceitam mais patranhas.



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publicado às 15:20


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