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Interação social aliada do coronavírus

por Manuel_AR, em 07.05.20

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O aparecimento do novo coronavírus SARS-CoV-2, responsável pela doença Covid-19 trouxe para a linguagem corrente a utilização de novos conceitos como confinamento, distanciamento social, distância social que não se devem confundir com isolamento social.

Em situação dita normal a interação social é uma necessidade e uma obrigação. A maior parte das nossas vidas são ocupadas por interações de vários tipos. Todos falamos em interação social, mas o que a define em termos sociológicos é o encontro social entre indivíduos. Isto é, são situações formais e informais nas quais as pessoas travam conhecimento umas com as outras. Por exemplo uma sala de aula constitui uma boa imagem de uma situação formal de interação social. O encontro de duas pessoas numa festa ou numa rua é um exemplo de interação informal.

A interação social tem formas mais complexas: a interação desfocalizada quando se desenrola entre duas pessoas presentes num determinado espaço, mas que não estão envolvidas numa situação de comunicação direta face a face, é também a consciência mútua que indivíduos têm uns dos outros em grandes concentrações de pessoas quando não estão diretamente a conversar; a interação focalizada passa-se entre indivíduos envolvidos numa atividade comum ou numa conversa direta uns com os outros. Esta é a situação mais comum quando nos referimos ao distanciamento social. Os episódios de interação nesta situação ocorrem quando dois ou mais indivíduos estão diretamente com atenção ao que os outros estão a dizer ou a fazer.

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Este distanciamento social que nos impõem e noutros casos autoimposto como obrigação para nos protegermos e aos outros da contaminação pela Covid-19  vai contra a nossa compulsão de proximidade devido à necessidade que sentimos de nos encontrarmos com outros em situação presencial  e face a face que fornece informação muito mais rica acerca de como as outras pessoas pensam e sentem.

Os seres humanos devido a esta imposição passarão a valorizar mais o contacto direto, talvez ainda mais do que antes, apesar das comunicações via eletrónica a que se têm sujeitado ao longo das últimas décadas.

Ao que agora chamamos distanciamento social, a respeitar como segurança que evite ou reduza a transmissão do vírus, está relacionado com o que em sociologia se denomina como espaço social. A maior parte das vezes as pessoas, nas culturas ocidentais, mantêm uma distância pelo menos de um pelo menos um metro quando as pessoas se envolvem numa interação com outros. Já no médio oriente as pessoas geralmente permanecem mais próximas do que é aceitável no ocidente como é o caso em Portugal.   

Edward Hall estudou sobre o tema das comunicações não verbais e distinguiu quatro zonas de espaço privado. A distância íntima até cerca de meio metro, reservada a muitos poucos contactos sociais. A distância pessoal cerca de meio metro até metro e meio, distância normal em encontros com amigos e conhecidos relativamente chegados.  A distância social de cerca de um metro e meio até três metros e meio que é a zona normalmente estipulada para contextos formais de interação. A distância pública mais de três metros e meio preservada entre os que atuam perante uma assistência.

As zonas mais sensíveis são as das distâncias íntima e pessoal. Quando estas zonas são invadidas as pessoas tentam readquirir o seu espaço e distanciam-se. É o que se deve praticar em contextos epidémicos como aquele que estamos a atravessar.

Quando há necessidade de uma proximidade maior do que a considerada desejável estabelece-se uma espécie de fronteira física o que se passa a verificar por exemplo em supermercados em que entre a caixa e o cliente passaram a existir separadores acrílicos.

Já nos transportes públicos a lei do distanciamento não é praticável pelo que há necessidade de tentar proteger os espaços pessoais através de mecanismos de distanciamentos de segurança. 

Ao contrário do que se passa nas sociedades tradicionais, nas sociedades modernas interagimos constantemente com outras pessoas que nunca vimos ou conhecemos. Praticamente todos os nossos encontros quotidianos como compras nos supermercados, idas aos bancos ou idas a outros locais fazem-nos entrar em contacto indireto com pessoas que poderá viver em locais afastados do nosso. Contudo a internet e o comércio online proporcionam cada vez mais interações indiretas e estão a tornar-se “afónicas” com o aumento das potencialidades da tecnologia que têm evoluído para que som e a imagem passem a fazer parte do quotidiano das interações.

Com as restrições aos encontros de proximidade e isolamento social cresceu uma espécie de compulsão de proximidade que é a necessidade de as pessoas interagirem presencialmente com outros seja em casa, no trabalho, nos transportes, nos eventos religiosos, culturais, etc., muito para além da comunicação via internet ou outro meio eletrónico.

Os jovens são quem as restrições aos convívio social e o confinamento terão mais efeito pois ficaram privados de interagir com os seus pares nas creches, nas escolas, nas universidades e nos espaços públicos quando se juntam nos bares, nas discotecas ou nos concertos frequentados por grandes multidões, são eles que sentirão mais a compulsão de proximidade. Os idosos são outro grupo que sentirão a compulsão para estarem próximos dos seus familiares e amigos mais próximos.

Os idosos que hoje constituem uma grande parte da população que tem sentido ao longo dos tempos uma discriminação etária nos países desenvolvidos como agora também se tem confirmado com a epidemia da Covid-19. A comunicação social tem a sua quota parte por haver alturas em que incidia a gravidade da epidemia nas idades avançadas fazendo passar no início erradamente a mensagem de que a doença atacava os mais velhos, o que é não é verdade apesar da taxa de letalidade ser maior nesses grupos por motivos de várias fragilidades independentes do vírus atacante. 

Por norma a pessoa doente não é pessoalmente responsável por estar doente. A doença é vista como o resultado de causas físicas que estão para além do controlo do indivíduo, isto é, o desencadear da doença não está relacionado com as ações ou o comportamento do indivíduo. Sê-lo-á em situações normais, mas, no caso de doenças epidémicas que são transmitidas de indivíduo para indivíduo, não o é. É o caso da Covid-19 cujo desencadear da doença está relacionado com o comportamento de cada indivíduo determinado pelas suas interações sociais.

Há ainda considerações com o estigma que certas doenças podem desencadear nos grupos sociais distinguindo-os da maioria da população.  O que faz com que indivíduo ou grupos sejam tratados com suspeição especialmente quando a doença é vista como especialmente infeciosa as pessoas podem ser rejeitadas pela população saudável. Os estigmas baseiam-se, embora raramente, em conceções válidas que nascem de perceções falsas.  

 

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publicado às 17:26

Os virulentos

por Manuel_AR, em 08.04.20

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A TVI24 lançou para o ar no dia 6 do corrente no noticiário das 14 horas uma peça com laivos de falso humor com um cheiro a denegrir partidos, Governo e Presidência da República. Numa altura em que todos devemos estar unidos, apesar de não unanimistas, e confiar nas instituições nacionais a peça da autoria de um tal Victor Moura Pinto tenta denegrir a imagem de tudo o que são instituições democráticas.

A peça cujo autor deve achar-se muito engraçadinho, mas que eu considero ser um falso humorista, achincalha, neste momento de aflição, aqueles em quem, pelo menos por agora, devemos confiar, mesmo que com algumas falhas ou enganos, para que possamos lutar juntos contra esta peste do século XXI que nos destrói e à economia. Duvido que o momento escolhido para a ida para o ar fosse o mais conveniente.

Não devemos ficar sorumbáticos, mas um pouco de contenção às motivações políticas e talvez até ideológicas do seu autor não pecaria por excesso. A peça tem, para além de comentários pouco convenientes para o momento, um fundo musical e a letra de um grupo qualquer que assenta sobre mentira e que, no contexto da peça, insinua e impulsiona ao descrédito pelas pessoas e pelas instituições.

A peça não só pela sua extensão, mas também pela seleção de muitas das imagens que foram rebuscadas de reportagens sobre outros temas não são representativas do atual momento e que, do meu ponto de vista, é detestável para não utilizar um vocábulo mais forte.

O Sr. Victor Moura Pinto até pode ser um grande jornalista e um grande professor, mas na tentativa de fazer humor com a descredibilização das instituições, não me parece nada pedagógico para o momento que se atravessa.

E, para terminar, não é nas televisões que estes engraçadinhos, proliferam também pelas redes sociais os mentirosos de gema, produtores de notícias, mas também os engraçadinhos virulentos.  

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publicado às 18:49

Botão da sabedoria

por Manuel_AR, em 02.04.20

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Oscar Wilde escreveu que um cínico é um homem que sabe o preço de tudo, mas o valor de nada. Um cínico segundo os dicionários é alguém que age com sarcasmo. A ideologia trocou-se pelo cinismo e a desconfiança que alastraram especialmente sobre a política e os que na política se aproveitam de tudo, para si próprios. Veja-se o nível da corrupção que grassa em todo o mundo onde uns poucos aproveitam a política para “comer” à vontade o que quiserem. Há outros que anseiam por protagonismo e que, quando deixam de o ter por que já não têm a visibilidade num partido político, tendo-o feito talvez por motivos estratégicos, conseguem um “tacho” num qualquer canal de televisão que lhes dá a visibilidade e o protagonismo de que tanto necessitam para estimular o seu ego e também como estratégia para mais altas  e futuras  possíveis acometidas no mundo da política.

A propósito de cinismo recordei-me neste momento dos comentários do antigo líder do CDS, Paulo Portas, que arranjou um lugar cativo no jornal da 8 da TVI onde comenta tudo e mais alguma coisa, é uma espécie de homem

do Renascimento, qual Leonardo da Vinci, que tudo sabia e tudo conhecia. O Paulo Portas é tudo, é matemático, epidemiologista, especialista em saúde pública, estatístico, economista, cientista…, enfim, é um sábio homem que tudo sabe, tudo conhece e tudo crítica sempre com os olhos virados para o umbigo da sua visão ideológica. 

Mas, o que mais me impressiona é forma e a frequência com que olha para a câmara com aquele olhar e sorriso que nos faz percebê-lo como um trocista cínico como que a dizer que estou a rir-me para ti, mas estou a tramar-te. Ó dr. Paulo Portas, desculpe lá, mas é isto o que me parece. Apesar de não pertencer à sua banda ideológica nem partidária eu apreciava mais as anáforas que utilizava nos debates quando o senhor estava no Parlamento, mais do que aprecio ouvi-lo comentar todo o universo do saber na comunicação social.

Há ainda os tais das opiniões publicadas como a de João Miguel Tavares que exigem uma data ao fundo do túnel como se os governantes tivessem uma bola de cristal e antecipassem uma data para o fim da epidemia, mesmo que estimada. Uma data estimada, qualquer que fosse, teria duas consequências: uma, seria a possibilidade de a luz não se vislumbrar e adiar novamente a data do regresso dessa luz; quando novamente se vislumbrasse voltar a dizer nova data e assim sucessivamente. Se essa data fosse fixada e a pandemia não abrandasse iria decerto haver um agravamento e então a luz seria extinta, sabe-se lá até quando. Mas claro, isto de ser contra ou a favor das datas para se verem as luzes é uma forma de fazer oposição aos governos quando não pertençam à nossa área de preferência ideológica.

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publicado às 15:25

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Hoje pensando na desdramatização que Trump fez sobre a epidemia do coronavírus e as decisões tardias que tomou, ou melhor não tomou no seu país. Assim, inspirado num artigo de opinião de um escritor que escreve sobre questões políticas, culturais, religiosas e de segurança nacional nos EUA e autor do livro “A morte da política:como curar anossa república desgastada depois de Trump”, resolvi escrever um artigo sobre a forma como Ronald Trump tem encarado a pandemia viral do COVID-19.

Aqui no nosso retângulo para o mar virado, as medidas que se têm vindo a tomar têm sido também, de certo modo tardias, comparativamente a alguns congéneres europeus, aparentando um certo receio de tomar medidas drásticas, mas necessária,

Segundo o autor a presidência de Trump acabou e demorou muito mais do que deveria, mas os americanos já viram o vigarista por trás da cortina. Em 2016 escreveu no New York Times  num artigo com o título “Por que nunca vou votar em Donald Trump” que, apesar de ser um republicano ao longo da vida que trabalhou nas três administrações da presidência anteriores do Partido Republicano, nunca votaria em Donald Trump, embora considere que o seu governo alinhe muito mais com as opiniões políticas do autor do que se fosse uma presidência de Hillary Clinton, deixou os seus colegas de partido confusos.

Ele explica então que Trump é intelectualmente, moralmente, temperamentalmente e psicologicamente inadequado para o cargo. Essa é a consideração primordial na eleição de um presidente, em parte porque, em algum momento, é razoável esperar que um presidente enfrente uma crise inesperada e, nesse ponto, o julgamento e discernimento do presidente, o seu caráter e capacidade de liderança é o que realmente importa.

Trump mostra não estar familiarizado com a maioria dos problemas e, muito menos, dominá-los, o que ficou demostrado com o problema do coronavírus. Ele admitiu que não se prepara para debates ou estuda os dossiers informativos justificando que essas coisas atrapalham um bom desempenho. Nenhum candidato importante à presidência jamais foi tão desdenhoso quanto ao conhecimento, tão indiferente aos fatos, quanto imperturbável pela sua falta de visão.

Não queremos que isso aconteça aqui, no nosso quadrado.

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publicado às 17:00


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