Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Hoje festeja-se o 1º de maio, dia do trabalho e dos trabalhadores. Por todo o lado sindicatos e organizações de trabalhadores juntam-se e manifestam-se mostrando que podem ser uma força quando unidos. Mas, apesar de tudo, o trabalho não existe sem empresas, sejam elas privadas ou estatais, ambas só sobrevivem se tiverem viabilidade e derem lucro. O mesmo se passa no caso das empresas estatais. Quando estas últimas dão prejuízos será o Estado, através dos impostos pagos pelos trabalhadores, que os irão cobrir. Quando dão prejuízos sucessivas não há investimento e não crescem, entram num marasmo. É um círculo vicioso. No caso das empresas privadas, estas acabam por fechar e lançar trabalhadores no desemprego. Em ambos os casos não há almoços grátis.
Partidos como BE e PCP, que se afirmam como a verdadeira esquerda, não confiam em democracias liberais onde há livre iniciativa privada falam das empresas e dos patrões como sendo coisas dispensáveis e exploradores do trabalho.
De facto, a exploração da mão de obra barata continua infelizmente a ser, num mundo onde o objetivo é a obtenção do lucro máximo no mínimo tempo é a atitude de muitas empresas, sobretudo as pequenas e médias.
O objetivo de qualquer empresa privada, quando é criada, independentemente da atividade a que se vai dedicar, é a obtenção de lucro. Para tal, uma das reivindicações das associações patronais é a desregulamentação do mercado de trabalho, justificada com argumentos, muitas das vezes falaciosos, com a contrapartida da criação de postos de trabalho como foi durante no anterior governo de direita. Comparo este tipo de argumentos às de um sujeito insaciável que vai comendo até rebentar. Quero com isto dizer que, por mais desregulamentado que fosse o mercado de trabalho, empresas e patrões irão querer sempre mais. Os sindicatos com reivindicações salariais fazem o mesmo, mas em sentido inverso. Não raras vezes têm contribuído para a destruição de empresas para as quais não apresentam alternativas nunca mais voltando a laborar.
Quanto às empresas e aos patrões, felizmente a minoria, seria uma espécie de solução final que transformasse o trabalhador num ente sem proteção, numa mão de obra dócil que conduziria a uma pré escravatura. Isto é, trabalho com a remuneração mínima que fornecesse apenas as necessidades energéticas e outros bens essências para a sua subsistência para poder continuar a trabalhar. Uma Revolução Industrial atualizada e adaptada ao século XXI, como a do início do século XVIII na Inglaterra durante a qual “as cidades ofereciam condições deploráveis aos seus habitantes, transformando-se em locais propícios à difusão de doenças. As fábricas exploravam os trabalhadores, numa tentativa obsessiva de produzir a maior quantidade de produtos possível ao menor preço, recorrendo à mão-de-obra mais barata: mulheres e crianças. Estes seres, tentando equilibrar o orçamento familiar, sujeitavam-se, em conjunto com os homens, às longas horas de trabalho, à rotina, aos baixos salários, à falta de segurança e de condições de higiene. Efetivamente, os resultados humanos desta revolução foram catastróficos.”, como pode consultar aqui.
A exploração de mão de obra barata, próxima da verificada na Revolução Industrial inglesa, existe no nosso século, como por exemplo no Bangladesh onde existem condições precárias de trabalho e onde a indústria têxtil internacional beneficia dos custos de mão de obra mais baixos do mundo. Caminha-se para uma Revolução Industrial atualizada, melhorada e adaptada ao século XXI com outros ingredientes. Poderão dizer alguns que estas teses são de inspiração marxista. Não, não são, são históricas e factuais.
Todavia, a regulamentação do trabalho pode sempre travar aquele potencial caminho, mas não será hostilizando empresas e patrões o objetivo mais eficaz. As formas de pressão para a obtenção de melhorias das condições de trabalho são várias e estão nas mãos das organizações de trabalhadores através da negociação. Os interesses de classe que em terminologia marxista se denomina por luta de classes existem apesar de a direita o querer esconder o sol com a peneira. É tudo uma questão de semântica.
Já estamos muito longe das políticas dos socialismos radicais praticadas no início do século XIX e XX e não será previsível que a tal se volte. As ameaças hoje vêm da extrema direita aparentemente democrática, anti UE e de tendência fascizante que espreitam em muitos países. Um dos argumentos populistas por eles utilizados será o de estar em condições para rasgar as páginas escritas pelas esquerdas que, para eles, sempre foram a causa de todos os males que levaram à destruição das economias e das finanças das nações.
Os partidos que se afirmam como sendo da verdadeira esquerda, aliados a centrais sindicais de características revolucionárias, fazem prova de vida produzindo confrontos sistemáticos com empresas e patrões que, segundo eles, são instituições e classes exploradoras dos trabalhadores. Enfim, tudo quanto seja investimento privado está sujeito a ataque serrado subtilmente escondido por reivindicações por vezes despropositadas e extemporâneas.
Num regime de democracia liberal, e em liberdade, a iniciativa e a propriedade privada são necessários ao progresso das nações e dos países dos cidadãos e das suas famílias. No congresso Anual da CIP, António Saraiva, secretário geral daquela confederação, (para alguns o perigosíssimo patrão dos patrões), divulgou que, em 2017, 97% do aumento líquido do emprego por conta de outrem foi gerado nas empresas, criando postos de trabalho para mais de 169 mil trabalhadores. O que disse António Saraiva é demonstrado pela queda do desemprego que em março se situou abaixo dos 7,9% sendo as empresas privadas as que geraram mais emprego. É o aumento do emprego por ação da iniciativa privada.
Essencialmente, são as empresas que investem. Mais de “dois terços do investimento em Portugal é realizado pelas empresas. Em 2017, 58% do acréscimo do investimento veio das empresas e só 25% do investimento público e também em 2017, Portugal atingiu o maior nível de crescimento económico em 17 anos por mérito das empresas: são elas que produzem, inovam e exportam”.
Os partidos de esquerda BE e PCP prefeririam que o emprego gerado fosse na sua maior parte público e sabe-se porquê. O controle e a mobilização dos trabalhadores pelos sindicatos é mais eficaz no setor público e sabemos porquê. O número de trabalhadores das empresas privadas que são sindicalizados vão sendo cada vez menos. No que respeita à regulamentação dos contratos de trabalho no setor público é menos flexível e a segurança do emprego é maior daí a maior mobilização.
Sermos uma democracia liberal e com o estado social apropriado não significa, necessariamente, termos partidos neoliberais no poder como foi no passado recente porque anterior há sempre alternativas a estes. Mas dar passos maiores do que a perna com reivindicações excessivas e com sindicatos a reivindicar o que não é possível de momento conduzirá, a prazo, a uma rutura que elevará novamente a direita.
A direita tenta fazer-nos acreditar que foi, e é, a solução para os nossos males. Talvez conduzir-nos ao céu da felicidade plena. Todavia, conduz-nos diretamente para o inferno, sem, ao menos, fazer-nos passar pelo limbo que deveria ser a antecâmara para a entrada no céu.
Entre o céu e o inferno o PSD não opta pelo limbo, escolhe, sem hesitação, o inferno apenas e só para infernizar o Governo, para marcar posição, para mostrar dureza, mas mostrar que o líder agora é forte, mas na fraqueza, sem convicção.
Os neoliberais são agora antiliberais, são agora inimigos dos patrões. Optam por pontos de vista que não são os seus apenas, e só, para mostrarem que, se não forem eles, o Governo não pode contar com a extrema do lado de lá. Sensacionalismo para alterar sondagens, manobras partidárias, oposição pela oposição.
Estou no grupo dos que têm dúvidas sobre a redução da TSU em troca do aumento salarial porque poderá prejudicar a prazo a segurança social embora o valor não seja significativo poderá vir a ser compensado pelas novas contribuições provenientes do aumento dos salários e de novas entradas no mercado de trabalho. Esta medida, contudo, é apenas para as novas admissões.
Há quem não concorde com a medida encontrada para reduzir um pouco a TSU para as empresas como compensação do aumento do salário mínimo. Há quem, tendo trabalho, está contra o “patronato” que lhe dá emprego não concordando que seja reduzida a TSU. Estes últimos não têm argumentos. Dizem-lhes apenas que vão tirar dinheiro à segurança social para o dar aos patrões e levam-nos a pensar que a direita, o PSD, está do lado deles. É a demagogia ao serviço de quem os desinforma que a direita reforça. Mas, quando for preciso, irão colocá-los contra a mesma direita que agora os apoia dizendo que “patronato” está a roubar-lhe direitos, a reduzir e atrasar pagamento de salários e a provocar despedimentos. Quando for este o caso a culpa terá sido, de facto, da direita.
Para isto é que a direita encontrou alternativa apanhando o comboio da extrema-esquerda, e votará ao lado de quem sempre foi conhecido o seu posicionamento nesta matéria. O mesmo já não se pode dizer da direita PSD e da sua liderança para quem que dantes eram verdades são agora pós-verdades.
Votar em liberdade é também ser imparcial sobre tudo, menos contra as suas próprias convicções. Para aquela direita a partir de agora não vai haver escolhas passarás a ser sempre do contra, seja o que for que apareça. A isto chama-lhe oposição.
E se tudo acontecesse ao contrário? Isto é, se a direita estivesse a governar em minoria (com toda legitimidade por ter ganho as eleições)? Como reagiria se a oposição tomasse a mesma atitude?
A direita tenta fazer-nos acreditar que foi, e é, a solução para os nossos males. Talvez conduzir-nos ao céu da felicidade plena. Todavia, conduz-nos diretamente para o inferno sem, ao menos, nos fazer passar pelo limbo que deveria ser a antecâmara para a entrada no céu.
Dizem por aí alguns CEO´s de empresas que "Portugal não se pode dar ao luxo de ter instabilidade governamental". Não se pode deixar de concordar. Felizmente são poucos os defensores das teses da coligação PSD/CDS. O apelo é um pedido informal para votação na coligação que tem vindo a apregoar a estabilidade governativa, explorando receios e medos ancestrais ainda presentes em alguns portugueses, induzindo-os a votar neles e, deste modo, dar-lhes um cheque em branco para uma maioria absoluta.
Não deixa de ser curioso que a estabilidade governamental que pretendem seja para consumo próprio, a das elites que querem defender a todo o custo os seus lugares e privilégios, ficando os restantes obrigados a renderem-se e a ficarem sujeitos à instabilidade das suas vidas, no seu trabalho, na sua saúde, na sua educação, nas suas reformas, aos impostos agressivos, e por aí adiante. Estabilidade para uns e instabilidade para outros é o que, em síntese, os apoiantes da coligação PSD/CDS defendem, como se mudar de Governo fosse, em democracia, sinónimo de instabilidade. Salazar também a combatia através de todos os meios que criou dizendo ser para defesa da estabilidade e integridade nacional.
Passos Coelho e a sua tribo de corifeus alojados no PSD, alguns vindos da JSD, conseguiram dividir Portugal em dois com o objetivo bem definido de dividir para reinar sendo o seu percursor Miguel Relvas que vai sendo desenterrado aos poucos do silêncio a que estrategicamente se remeteu. Uma das partes em que dividiram Portugal e que o PSD/CDS propagandeiam, é a dum Portugal virtual. A outra parte é a do Portugal real que tentam esconder e lançar para o esquecimento.
O PSD e o CDS culpam o Partido Socialista, Sócrates e o FMI da troika, esquecendo-se que Passos Coelho, após ter ganho as eleições através de várias e já bem conhecidas promessas e mentiras, acarinhou a vinda do FMI requintando-se no agravamento do memorando assinado fazendo dele o seu próprio programa de Governo.
A coligação PSD/CDS apresenta para a próxima legislatura umas linhas indefinidas de programa, sem novidades nas propostas de governação. Nesta campanha surgem como uma espécie de mortos vivos que, de vez em quando, recorrem ao passado para justificarem a vampirização a que sujeitaram e pretendem continuar a sujeitar os portugueses durante mais quatro anos.
A campanha de Passos Coelho e de Paulo Portas não têm apresentado propostas de governo preferindo acenar aos portugueses com o medo da instabilidade, com novas e piores "troikas" que podem vir. Preocupam-se mais em comentar as propostas do PS do que divulgarem as suas porque não lhes interessa que se saiba quais são de facto, mas os portugueses sabem bem o que farão se, por mero acaso, chegarem novamente ao poder. Não cumprir as promessas e continuar e agravar a obra iniciada há quatro anos, desta vez sem a desculpa da "troika". Aliás, Passos Coelho já afirmou várias vezes que seguirá o mesmo trajeto. Por isso só se deixará enganar quem quiser.
A propaganda da coligação tenta alimentar no povo falsas esperanças e, ao mesmo tempo alenta, com a ajuda dos seus corifeus, hostilidades contra tudo e todos os que apresentem uma pequena possibilidade que seja de mudanças de natureza política e que proponham vias alternativas, demonstrando a insensibilidade e a frieza que os anima sobre tudo quanto seja de natureza social. Para incauto ver vêm agora mostrar-se muito preocupados com os vários problemas socias por eles criados.
As propostas que esta gente e os media que os apoiam defendem perante o eleitorado são alimentadas pelo engano, pela mentira, pela ocultação ardilosa e pela deturpação premeditada dos factos do Portugal invisível, traçando sobre ele um muro espesso e opaco de silêncio.
As estatísticas selecionadas para divulgação são demonstração do que acabo de dizer. Divulgam-se as que lhes interessam e escondem-se as que não lhes interessa que sejam conhecidas. Das estatísticas económicas apenas as que lhe são favoráveis são mencionadas, as sociais não existem. Para comparação escolhem anos, apenas de interesse para estudo da evolução histórica, que lhes sejam favoráveis para demonstrarem que os indicadores estão a subir, todas a subir ou com tendência para subir.
Quanto às privatizações é o que se tem visto, comparam o mau com o pior que poderia ter acontecido. É do tipo de partiste uma perna? Olha, poderia ter sido pior se partisses as duas.
A venda do Novo Banco irá ser apresentada como sendo uma venda lucrativa e de excelência comparada com uma suposta venda que nunca esteve em cima da mesa das negociações mas que seria uma alternativa muito pior. É a estratégia para consumo popular; apresentar o mal feito como um mal menor.
É este o discurso de propaganda da coligação PSD/CDS; este tem sido o seu programa de governo; este é o programa que os partidos da coligação continuarão a seguir, se lhe dermos oportunidade para isso.
Surpreendidos pelo documento "Uma década para Portugal" apresentado pelo Partido Socialista sucedeu-se o contra-ataque com duas reações opostas, uma à direita do PS outra à esquerda. A primeira, desvairada, agita o fantasma da troica e do regresso ao passado, argumento que já mais do que gasto ao longo de quatro anos, e diz que não apresenta nada de novo. A intervenção de ontem de Paulo Portas no Parlamento foi disso a prova da preocupação da maioria. A segunda, tenta colar o PS à direita, afirmando que é um documento que não se distingue em nada do que a direita propõe.
Não vou agora abordar os aspetos eventualmente mais polémicos do documento, que alvoroçou e promete alvoroçar a campanha eleitoral. Não é por acaso que Maria Luís Albuquerque já avançou com uma promessa baseada na diminuição dos prazos de devolução dos salários da função pública apresentada no PE, (agora Programa de Estabilidade, antes PEC Programa de Estabilidade e Crescimento). Isto é, numa tentativa de desespero, e contrariamente ao que ela tinha avançado na passada semana, tenta fazer ajustamentos em função do documento do PS. Passos Coelho disse que o documento apresentado pelo PS era eleitoralista, e isto o que é?
O que falta em todas as propostas não são as mexidas na regulação do mercado de trabalho nem a descida da TSU das empresas e do IRC mas outro tipo de incentivos que estimulem as empresas ao investimento e à da criação de emprego na agricultura, na indústria e nos serviços. Tudo quanto seja reduzir encargos das empresas com o trabalho e os impostos são apenas redução de custos que vão aumentar o lucro das empresas que não será reinvestido mas para acrescentar à distribuição de dividendos aos acionistas e aos donos das empresas. Temos como exemplo o caso mais gritante da EDP.
A partir de agora a direita fará tudo para conquistar alguns votos ao Partido Socialista e os partidos à esquerda deste farão tudo para colar o PS à direita para conquistar também alguns votos. Entre os partidos à esquerda do PS a guerra da caça ao voto também vai iniciar-se não se sabe ainda é em que moldes.
Será que no centro onde o PS se coloca é onde estará a virtude? Uma coisa é certa, já basta desta direita que nos afoga, não apenas na austeridade mas também nos argumentos sem sentido, falaciosos e sem a certeza de que fala verdade aos portugueses.
Ainda se lembram da saída da "zona de conforto" e do empreendedorismo lançada por Passos Coelho? Neste momento de pré-campanha eleitoral é bom recordar e satirizar.
Como declaração de intenções digo que não tenho nada contra os que criam emprego, empreendedores e empresários competentes com sentido social. Bem pelo contrário. Eu próprio poderia ter sido um, mas apercebi-me que era melhor não fazer figuras tristes e cair no ridículo. Assim, achei preferível fazer essas figuras escrevendo pois não estarei só, e o prejuízo que daqui advém é exasperar a paciência de quem se dignar ler-me.
O desejo, de vácua realidade, de Passos Coelho de querer fazer de cada desempregado um empresário empreendedor, e também a de alguns dos seus ministros que indo mais longe propuseram em tempo a criação duma disciplina transversal de empreendedorismo no currículo das escolas, poderia ser traduzido mais ou menos assim:
- Tu aí pá! Não tens emprego e queres trabalho? Não consegues uma colocação? Então não fiques na tua zona de conforto, sê empreendedor!
Para quê fomentar e dar condições às empresas privadas para criação de postos de trabalho quando os desempregados podem ser empresários de sucesso. Se há mais de setecentos mil desempregados poderia haver o mesmo número de empreendedores, eles é que não querem. Poderíamos acabar assim com o desemprego. Quem trabalharia depois?
O Estado passou a ser cada vez mais uma agência temporária de empregos e a porta de entrada para alguns na zona de conforto. Muitos dos jotas do PSD e do CDS (e também de outros!) que se encontram metidos nos gabinetes da função pública fazendo sabe-se lá o quê (também os há no parlamento), assessores muitos deles “cunhados” e incompetentes deveriam fazer o mesmo, desamparar a loja do Estado onde recebem ordenados elevados, de duvidoso merecimento, pagos com os nossos impostos. Saiam da vossa zona de conforto sejam empreendedores e larguem o tacho.
A palavra artimanha vem, em alguns dicionários, como um palavra composta por arte e manha que significa artifício, estratagema, astúcia, fraude, ardil. Pois foi a uma artimanha a que o ministro das finanças recorreu, acolitado por Passo Coelho, quando decidiram diluir pelos doze meses do ano um ou os dois subsídios de férias e de natal.
Esta decisão, com que alguns concordarão, pode aparentemente ser boa, mas não o é para quem vive apenas do seu salário. Para as empresas é vantajoso porque, financeiramente, não as sobrecarrega com o pagamento de dois meses de salário nos meses em que devem ser pagos.
A verdadeira razão da decisão não é olhar para as empresas mas uma artimanha para diminuir o enorme impacto dos impostos que vão incidir sobre o salário mensal de quem trabalha e recebe por conta de outrem. Tratando-nos como imbecis o governo pensa enganar, com o valor mensal que os trabalhadores vão receber devido ao acréscimo do duodécimo dos subsídios, criar a ilusão de que, afinal, não irão ficar assim tão prejudicados.
Há, contudo, outra razão subjacente que é a de minimizar o efeito sobre a quebra de consumo que está prevista ao longo de 2013. Assim, a distribuição por doze meses dos subsídios poderá vir a compensar a quebra de poder de compra, evitando, assim, um maior agravamento da recessão devido à redução do consumo interno, caso fosse recebido apenas o salário mensal líquido que baixa muito com resultado do agravamento dos impostos. Há ainda outra vantagem, não para quem trabalha, mas para o fisco, porque, estando os subsídios também sujeitos a imposto este passa a ser também cobrado mensal e antecipadamente e não apenas como seria aquando do seu recebimento integral.
Se após os anos de 2013 ou 2014 esta modalidade continuar podemos todos dizer adeus aos subsídios enquanto verba recebida na totalidade visto que passarão a ficar integrados no salário mensal e que, por isso, poderão vir a ficar também congelados durante vários anos.
Com este ardil o governo fica na expectativa ilusória de que o valor dos subsídios, recebidos mensalmente, irá compensar a perda do salário líquido recebido causado pelo agravamento dos impostos. A grande surpresa surgirá quando, chegados ao mês de férias e de natal e nada houver a receber para cobrir eventuais encargos assumidos tais como seguros, revisões de carro, amortizar uma ou outra dívida contraída e a falta de dinheiro para passar férias que poderá ter já sido gasto entretanto com o entusiasmo do consumo. Claro que, a melhor ou pior gestão das finanças familiares depende das opções de cada um, pelo que, neste campo, fazer generalizações é sempre perigoso.
Contudo, o artifício do governo não é em benefício das famílias nem das empresas, mas tentar que os indicadores económicos não caiam ainda mais do que aqueles que estão previstos em relação ao consumo interno, à recessão e ao desemprego e mais défice. Mas desiludam-se, hoje mesmo a OCDE prevê para Portugal uma contração da economia de 1,8% em 2013, o dobro das previsões do governo, e 17% de desemprego mais do que o previsto. Esperemos pelos resultados, mas, por favor, não façam dos portugueses parvos porque eles não aceitam mais patranhas.
Expliquem-me como se eu fosse tótó
Gostaria que alguém me explicasse, sem recurso a modelos teóricos de economia que apenas servem para simular a realidade, como é que a TSU era uma medida para ajudar a baixar o défice.
Racionemos agora sobre este último ponto como se nós fossemos uma empresa que vendesse bens que adquiria aos seus fornecedores. Reduziam-nos os custos com o trabalho, logo deveríamos vender os nossos produtos mais baratos. Tentaríamos então, para manter as mesmas margens de lucro, negociar preços mais baixos com os nossos fornecedores que, por sua vez, já estão em dificuldades devido às suas baixas margens que lhes são impostas pelos seus clientes. Procederíamos então à baixa de preços na nossa empresa baixando também a nossa margem de lucro. Mas temos outro tipo de custos que não apenas o do trabalho como por exemplo a energia, as rendas e alugueres de instalações, o aumento do IMI dos edifícios que eventualmente fossem nossa propriedade, os combustíveis, etc.. Por outro lado, poderíamos perguntar se, de facto, o consumo aumentaria na mesma proporção em que diminuiríamos os nossos preços de venda ao público, já que, para os nossos clientes também existem sobrecargas, despesas e cortes de salários de todos os que vivem do rendimento do trabalho. Seria provável que houvesse rapidamente uma descida generalizada a curto prazo de preços de todos os bens e serviços e dos custos dos fatores de produção? Sem me servir de qualquer modelo macroeconómico[i] arrisco-me a dizer que não.
Para vermos o que se passa noutros países juntamos uma tabela comparativa
Por favor, haverá por aí alguém que me contacte e que me possa explicar a mim, que sou tótó, o meu vício de raciocínio!
[i] Prever um dado fenómeno não quer dizer que se tenha a sua compreensão. Podemos prever um fenómeno em compreender os processos envolvidos, isto é, prever com base na associação dos dados não implica necessariamente a compreensão de todas as relações causais que nele estão envolvidas. Os modelos macroeconómicos baseiam-se em relações causais que procuram compreender ou explicar uma realidade e proporcionar alguma capacidade de previsão. No que reporta a várias avaliações os efeitos tendem a ser mais prospetivos, sendo necessária alguma previsão de referência sobre qual se possa analisar os efeitos de uma política que está a ser avaliada. A obtenção de Obter uma previsão de
referência credível constitui um fator importante no uso de modelos macroeconómicos. Uma previsão instável pode ser indicativo de problemas de especificação e de estrutura do modelo.
Hoje o sr. António Borges, segundo o Diário de Notícias Economia, acusou os empresários, eu diria ofendeu, ao chamar-lhes “ignorantes” . Não sr. Borges, não somos contra o capital nem contra o trabalho, porque ambos são coisas boas. Não se trata de ter medo de perder o poder de compra nem da austeridade. Para si o trabalho é que é coisa má, e o capital é bom. Ignorante é o senhor que não sabe que ambos se complementam e têm ambos uma função social. A si é-lhe conveniente ofender e ir buscar fantasmas como o do marxismo que, com afirmações como as suas, só o faz avivar ainda mais. O que o sr. defende é que as empresas sejam financiada pelo trabalho sem quaisquer contrapartidas motivadoras para este. Para si só as empresas é que devem ter vantagens. A competitividade está em ambos que têm que ser motivados. Talvez fosse melhor desamparar-nos a loja, o que sempre seria menos uma despesa inútil o estarmos a sustentá-lo com o ordenado que lhe está a ser pago pelos contribuintes. Caro senhor, vá pregar para outra freguesia e deixe de ofender quem cria postos de trabalho neste país, coisa para o qual o sr., com certeza, nunca contribuiu investindo no país o seu capital. Emigre e faça o favor de nos deixar em paz.
Veja reacções em Jornal de Notícias.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.