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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
O cansaço de António Costa e o de alguns dos seus ministros e secretários de estado estão a vir à tona depois destes meses todos de Covid-19, coronavírus, Novo coronavírus SARS-CoV-2 ou lá o que é que nos tem trazido a todos numa azáfama de paciência e de receios fundados empurrando a economia para o limite de um precipício no alto duma arriba.
O esforço de Mário Centeno e de todos nós foi destruído no espaço de três meses. Alguns comentadores da esquerda radical, um dos quais me escuso dizer o nome, escreve contra tudo e todos quantos têm elogiado Centeno pelo seu trabalho. Se fossem potenciais candidatos a ministros diria que estariam no domínio da síndrome de que grande parte dos portugueses sofre: a chamada dor de cotovelo. Mas não, são apenas comentadores de política e partidários de uma esquerda que está sempre contra todos e tudo o que não provenha do seu sectário mundo político-ideológico, mesmo que, comprovadamente, seja bom e se mostre útil, eficaz, e traga riqueza que possa vir a melhorar Portugal e a vida dos portugueses. Convém aqui esclarecer que no quadro dos extremistas de direita também os há, e até piores, mas aí o que muda são as moscas e o resto. Para bom entendedor meia palavra basta!
Saiu no Expresso no dia de Santo António um artigo de Sousa Tavares muito acutilante sobre o pós Covid-19, com o qual em parte concordo, e o que nos poderá trazer se forem cometidos os mesmos erros do passado. Refiro-me aos oportunistas e clientelistas dos costume no que se refere a verbas de milhões a fundo perdido que se esperam da União Europeia para fazer face à crise causada pela pandemia Covid-19 e às quais muitos se irão lançar como gato a bofe. Não apenas os que andam por aí, mas também novos que se estão já a perfilar e a elevar-se nos céus para vislumbrarem com olhos capciosos, quais abutres famintos, os dinheiros que hão de vir.
O ministro da economia, Siza Vieira, numa entrevista à “Visão” refere-se ao apelo que anda a fazer às empresas: “Preparem-se, porque vão ter uma oportunidade provavelmente única na nossa História para aplicar recursos naquilo que faz falta e criar condições de crescimento, de competitividade e de produtividade para as vossas empresas.”
Se fizermos uma retrospetiva encontraremos na nossa história política governos onde houve promessas de utilização de dinheiro vindo da U.E. que viriam a incentivar a nossa economia e o nosso desenvolvimento. Entretanto no correr dos acontecimentos surgiram empresas efémeras que nasceram às centenas e que propunham para serem financiados projetos que era sabido serviam apenas para “sacar” dinheiro dos fundos europeus.
Muitos privilegiados de “famílias muito bem” criaram na altura empresas financiadas pela U.E. para darem cursos de formação nas mais variadas áreas com os dinheiros vindos de Bruxelas, muitas delas fictícias e autênticas burlas.
Muitas outras situações se verificaram. O caso da agricultura por exemplo em que dos cerca de 400 mil agricultores 220 mil receberam subsídios para não produzir. Eram agricultores que se encontravam num regime em que eram apenas obrigados a manterem-se em condições para voltarem a ter produção nos mesmo terrenos de onde arrancaram o que lá tinham, havendo outros dois mil que receberam mais 250 milhões de euros do que todos os outros juntos, tendo o país perdido entre 1999 e 2009 25% das explorações agrícolas segundo dados do Instituto Nacional de Estatística.
No passado também houve uma universidade privada situada lá para os lados do Príncipe Real, em Lisboa, o ISCEM que foi financiada por Bruxelas e licenciado pelo Governo em 1990 que acabou por ser extinta em setembro de 2019 tendo sido um dos seus alunos o chef José Avillez.
Agora são mais milhares de milhões de que alguns oportunistas estarão à espera. Cerca de 15,5 mil milhões de euros em subvenções (distribuídas a fundo perdido) e 10,8 mil milhões de euros sob a forma de empréstimos concedidos em condições de juros muito favoráveis que pode confirmar aqui, ao que se acrescem os milhões do Quadro Plurianual 21-27 e os que ainda restam do de 20-23. Vamos a ver senão se isto não irá ser uma espécie de “bodo aos pobres” direcionado aos mais ricos.
Em teoria à espreita também estrão o PCP e o Bloco de Esquerda cujo dinheiro quererão que seja distribuído para aumentos salariais da função pública e na admissão de pessoal para o Estado. Para eles quanto mais melhor até que em Portugal tudo seja, até a mercearia do bairro, estatizado sem qualquer critério. Padecem da síndrome da estatização de tudo quanto sejam empresas.
Esperemos que a alcunha de despesista com que a direita denominava o Partido Socialista e que se foi esbatendo com António Costa e Mário Centeno não venha de novo à tona embriagados pelos milhões que, se espera, cheguem.
A distribuição e o seu destino sem critério e rigor de verbas que não sejam minuciosamente analisados é um perigo. Os lóbis que por aí devem andar irão pressionar no sentido de exigirem uma grossa fatia. Muitos irão sugerir, para distribuição das fatias do bolo, uma espécie de “simplex”, ou seja, o mesmo que alívio ou a eliminação da burocracia na distribuição das fatias por um Estado de clientelas e protetor dos amigos em vez do rigor e disciplina.
Que estes milhares de milhões não nos façam cair na desgraça idêntica à do passado em que alguns se aproveitaram da grande fatia do bolo em proveito próprio deixando desenvolvimento e recuperação económica de Portugal mais uma vez à míngua e a navegar à vela como no passado.
A conferência de imprensa de Passos Coelho após a reunião do Eurogrupo, provavelmente encomendada, foi mais uma manobra sem vergonha de manipulação da opinião pública portuguesa. Num olhar distanciado a conferência de imprensa foi fastidiosa por ser extensa e repetitiva. Foi mais uma forma de propaganda e de autoelogios ao Governo.
Quem se der ao trabalho de a rever com cuidado encontra-se perante uma confusão e repetição de argumentos e auto elogios, onde se misturam uma mesquinhez política e uma falta de sentido de Estado sem precedentes.
Explorando os sentimentos mesquinhos duma população pouco informada sobre o tema da Grécia, solta o que ele sabe fazer de melhor, explorar a mesquinhez e acicatar o divisionismo latente contra um país em dificuldades que é tão membro da U.E. como o é, e está Portugal. A redundância discursiva sobre a ajuda de Portugal à Grécia em mil milhões de euros aproxima-o das raias do ridículo.
Repetiu várias vezes que os portugueses já contribuíram com os seus bolsos para ajudar a Grécia, mas o que ele não completou é que a Grécia também contribuiu quando entrámos em situação de resgate em 2010, pois foi neste ano que Portugal contribuiu assim como outros países para ajuda à Grécia.
O que Passos e Cavaco Silva não explicam é porque Portugal, necessitando ele mesmo de ajuda, se propôs a ajudar a Grécia como dizem. Solidariedade? Não, não foi!
Mas ainda o mais evidente da manipulação engendrada foi que as perguntas colocadas por três dos jornalistas foram na prática cópias umas das outras dando a possibilidade a Passos Coelho de poder repetir e de salientar até à exaustão o que já tinha dito por várias vezes (terá sido combinado?).
Portugal participou no passado em empréstimos à Grécia e à Irlanda, com uma quota calculada de acordo com a sua participação no capital do Banco Central Europeu. Com a assinatura do seu próprio acordo de empréstimo, Portugal já não participa nesses programas de ajuda.
Passo Coelho e Paulo Portas com a ajuda de Cavaco Silva têm vindo a repetir que Portugal vai pagar antecipadamente parte da dívida para mostrar que Portugal não é a Grécia, mas apenas dizem metade da verdade e escondem a outra parte da realidade, valendo-se da falta de informação de muitos portugueses sobre este assunto.
O que acontece é que foram colocados no mercado títulos de dívida pública a um juro mais baixo do que aquele que estamos a pagar pelo empréstimo da troika. A dívida não diminuiu, o que acontece é estarmos a pagar juros mais baixos.
Se pedirmos a alguém, por exemplo, 10 milhões e nos cobram juros de 3,5% temos uma dívida de 10 milhões mais os juros. Se conseguirmos que alguém empreste 10 milhões a juros de 2,3% podemos pagar ao primeiro credor os 10 milhões que pedimos emprestados mas ficamos na mesma com uma dívida de 10 milhões a outro credor apenas com juros mais baixos, mas a dívida mantem-se no mesmo montante. Claro que se tira sempre a vantagem de juros mais baixos, mas apenas isso.
Foi isto que aconteceu, portanto, enganam os portugueses premeditadamente fazendo-lhes passar mensagens deturpadas da realidade.
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