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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Imagem alterada a partir do original do jornal Público
Os candidatos à eleições internas no PSD dão voltas à cabeça para arranjarem argumentos convincentes para convencerem os militantes que vão votar. As voltas são tantas que saltam do partido para fora e centram-se no partido do Governo. Como nada têm agarram-se ao que está à sua volta. É o caso de Montenegro que dá a volta à praça e, numa atitude de recusa em aceitar uma realidade empiricamente verificável, acusa outros daquilo que foi feito pelo seu próprio partido quando nos últimos anos esteve no governo e ele, na altura, era líder parlamentar do PSD.
Essa atitude negacionista e de esquecimento intencional leva-o a declarações provocatórias como as que fez num encontro de militantes em Leiria: “Este é o Governo com maior insensibilidade social de que há memória”. Que insensibilidade? – Cortar salários e pensões, aumentar impostos, reduzir ou eliminar subsídios a classes mais desfavorecidas, empobrecimento das pessoas, aumento do desemprego, entre outras? Onde esteve a insensibilidade social?
Montenegro justifica com omissões e mentira descarada quando diz que o partido da austeridade e da “troika” é o PS. Quem pressionou a vinda da “troika” foi Passos Coelho. Compreende-se que tenha sido devido aos destemperos financeiros do tempo de Sócrates, mas será que a insensibilidade social a que Montenegro se refere e que atribui ao atual governo significa que se deveria voltar ao tempo dos desregramentos financeiros de Sócrates que levaram Passos ao poder?
Grave também foi Luís Montenegro ter afirmado querer o PSD um partido "à Cavaco". Apesar de ser frase ser mais para fazer campanha para atrair as hostes cavaquistas que ainda proliferam no partido a afirmação diz muito do que Montenegro pretende se algum dia chegar a primeiro-ministro.
Quando não há argumentos de peso numa eleição à liderança partidária, caso do PSD, buscam-se argumentos geracionais e etários para desacreditar os adversários sustentados igualmente por jornalistas simpatizantes. É o que está a acontecer no PSD. Comparações de idades, por um lado os quarentões a que chamam jovens, como Luís Montenegro e Miguel Pinto Luz e dizem pretendem rejuvenescer o partido, e, por outro, o de mais idade, mas com experiência que é o sexagenário Rui Rio.
Isto é o argumento falacioso da idade, com a falta de outros que sejam significantes para o debate e que serve apenas para atrair rapazolas sem qualquer ideologia consistente no que à política diz respeito, esquecendo-se que os grandes líderes de relevo mundiais e regionais sempre tiveram, e têm, idades superiores aos cinquenta anos e revelam experiência política correspondente a muitos anos de prática.
Renovar geracionalmente o partido colocando à frente rapazolas sem carisma e sem experiência por apenas perfilharem o liberalismo sem saberem para onde podem conduzir a eles e ao país! Tivemos exemplos destes nos parlamentares do PSD no tempo de Passos Coelho. Tenham paciência, os portugueses já deram para esse peditório e muitos militantes do PSD também.
Será que pretendem deixar o centro para ser ocupado PS a troco de congregar uma direita liberal e neoliberal que tem andado órfã e cujos simpatizantes desertaram lá para os lados das iniciativas liberais e dos chegas?
Torna-se evidente uma cobiça pelo poder dos que querem derrubar Rui Rio com a desculpa das eleições perdidas fazendo acreditar que, caso se encontrassem nas mesmas circunstâncias, teriam ganho essas eleições. Duvido que assim fosse. Mas quem sou eu para duvidar? O que acho é que essa avidez de poder tem por detrás projetos de tramoia a que, aliás, Rui Rio já aludiu ao dizer que quer evitar que o PSD seja tomado “por grupos organizados (…) de perfil pouco ou nada transparente”. Mas não só, também quer impedir a “grave fragmentação” do partido, com consequências imprevisíveis para o seu futuro, e defender a “social-democracia”.
Por detrás destas guerrinhas é capaz de estar Miguel Relvas que em algumas intervenções, sem dar nas vistas, tem vindo a fazer declarações. Não apoia Rui Rio porque poderá haver alguns interesses estratégicos no apoio a outros candidatos para as suas atividades relacionadas com a(s) empresas a que está ligado se os liberais do partido ganharem as eleições para liderança do PSD.
Lobo Xavier confirmou isso mesmo no programa Circulatura do Quadrado ao afirmar que “Rui Rio disse coisas que eu espero que tenham consequências. Ele disse que se candidatava para evitar grupos, a intervenção de grupos, de negócios, de redes de tráfico de influência, da influência da maçonaria no partido. E eu quero dizer o seguinte: isso existe”, confirmou António Lobo Xavier. E acrescentou: “existem redes mafiosas de tráfico de influência ligadas a políticos e ex-políticos que fazem negócios, que fazem pressões, que fazem ameaças, que envolvem gente do mundo da justiça, que envolvem gente do mundo dos jornais, que envolvem gente política.”, que pode confirmar no Público. Devemos, contudo, acautelar que Lobo Xavier, sendo do CDS, partido de direita, poderá ter algum interesse partidário nestas afirmações?
Rui Rio já disse e não me parece que isso seja posição de mero confronto ou de pré campanha que: “O PSD precisa de uma liderança que defenda a social-democracia e mantenha o partido no centro político, não permitindo que ele se transforme numa força partidária ideologicamente vazia ou de perfil eminentemente liberal”, e teme que levem de novo o PSD para o lado do liberalismo.
Pinto Luz promete fazer renascer o partido através de “um projeto político capaz de ser alternativa ao projeto socialista que asfixia os sonhos dos portugueses e limita a liberdade de escolha”. Como se, sem o PSD, não houvesse liberdade de escolha nem iniciativa privada!
As pistas neoliberais estão lá, não há dúvida de que projeto se trata, nada mais nada menos do que a renovação na continuidade passista, senão pior ainda.
Na convenção promovida por Santana Lopes no sábado passado coloca-se a Pedro Passos Coelho e diz ao partido que esteve sempre lá. Passos Coelho, diz Santana, “não pôde fazer mais e fez um trabalho absolutamente excecional”.
A razão desta colagem, na minha opinião, faz parte da sua estratégia na campanha eleitoral à liderança do PSD. E porquê? Poderá perguntar-se. Primeiro, porque Passos Coelho ganhou as eleições em 2011 embora com maioria relativa pelo qual teve de se coligar com o CDS. Segundo, porque Passos Coelho também ganhou as eleições em 2015, perdendo votos, ficando com o CDS com minoria parlamentar face à esquerda. Assim, Santana Lopes acha que os “fãs” de Passos Coelho o verão, a ele, Santana Lopes, como um futuro e potencial vencedor nas próximas eleições legislativas. A estratégia de colagem a Passos Coelho por Santana pode ser a de vir a conseguir captar a direita mais conservadora que se afastou para o CDS, contudo, esta pode ser espada de dois gumes virando-se contra ele porque alguns consideraram que Passos e as suas políticas já não teriam futuro.
Após o frente a frente entre Rui Rio e Santana Lopes, um dos comentadores que analisou o debate, José Manuel Fernandes, afirmou, em determinada altura, que as orientações ideológicas do partido para as eleições não interessam nada porque as pessoas iriam votar em pessoas e não em ideologias. É, também neste ponto, que Santana se apresenta pensando que, quem irá votar, é uma espécie carneirada destituída de qualquer ideologia e que irá votar apenas pelo “look” do candidato. É nisto que Santana aposta. Aliás, parece que apostas são com ele porque aprendeu enquanto esteve à frente da Santa Casa da Misericórdia que, segundo parece, até desempenhou bem a função, exceto no caso da intervenção no capital do Montepio e foi ainda um dos motores para a abertura do Casino de Lisboa.
Para bom entendedor meia palavra basta. Se Santana Lopes ganha o PSD teremos um novo Passos Coelho, mas para pior, se, por mero acaso, vier a ganhar as próximas legislativas. E os neoliberais do PSD estarão nessa. Se, pelo contrário perder as eleições, o PSD bem pode pedir uma reforma de fundo.
Habitualmente a comunicação social avança com prognósticos de como os políticos vêm o novo ano. Como seria de esperar, quer a esquerda e a maioria que apoia o Governo, quer a direita têm visões diferentes para os seus prognósticos. Quanto aos primeiros não vale a pena falar porque são sempre positivos e os partidos mais à esquerda querem “prendas” para 2018 ainda maiores.
Dedico-me, portanto, aos pessimismos da direita que já vêm desde a célebre frase do “vem aí o diabo” quando o atual Governo tomou posse.
O jornal Público colocou algumas perguntas aos candidatos a líder do PSD e à centrista Assunção Cristas sobre como viam o ano que entrou em termos de oposição. Santana Lopes recusou responder, assim, apresento apenas as respostas mais representativas da direita PSD e CDS sobre como pensam vir a fazer oposição em 2018.
Santana Lopes ao formalizar ontem a sua candidatura à liderança do PSD, demonstrou falta de originalidade e colou-se à mensagem de Ano Novo do Presidente Marcelo Rebelo de Sousa quando disse que “é preciso reinventar o futuro”. Santana, para além de se colar oportunisticamente ao discurso do Presidente, inscreve o termo no texto da sua moção.
Se podemos perceber, ou até imaginar, a mensagem que o Presidente Marcelo pretendeu o mesmo não se pode dizer com o que Santana pretendeu com o “reinventar o país” já que o conceito é aplicado de forma tão pouco clara, vaga e descontextualizada quanto a sua moção o é. Sabemos que “pretende honrar o passado e perspetivar o futuro”. Não sabemos a que passado se refere Santana Lopes, se ao passado longínquo do PSD ou ao passado mais recente. Frases vagas plenas de ambiguidades.
Rui Rio, candidato à liderança do PSD prevê para 2018 um maior desgaste do Governo, uma pressão maior dentro da coligação parlamentar com confrontos ao nível da Assembleia da República assim como ao nível do movimento sindical. E, como seria de esperar, para Rio haverá seguramente um PSD mais atuante depois “deste demasiado longo período de tempo dedicado à substituição da liderança”.
Quanto às prioridades para 2018 “ganhar as eleições internas no PSD. Se tal acontecer,
a construção de uma alternativa de governo à solução parlamentar atual”. Que base serão propostas nessa alternativa de governo é que ficamos sem saber. Será mais do mesmo do passado recente?
Para Assunção Cristas, presidente do CDS-PP, entusiasmadíssima com os 21% alcançados em Lisboa, diz que tem os pés bem assentes na terra e estar “otimista para a construção alternativa para os portugueses”, mas também ficamos sem saber qual é. Ao nível interno diz que 2017 foi um ano trágico e fala, mais uma vez, dos incêndios tragédia de que ela tão bem soube tirar partido. Diz ainda que o país (o deles, lá do CDS, digo eu), “deve estar particularmente atento ao que o Governo vai ou não fazer em matéria de prevenção e combate aos incêndios, nomeadamente se cumpre as promessas que fez”. Veremos quando o ordenamento do território e da floresta forem levados para a frente pelo Governo, se o forem, se o CDS estará na disposição de contribuir paral tal ou se atuará de forma reacionária e conservadora contra as medidas que forem tomadas.
E, para Assunção Cristas o país, (a vigilante do país deles, os do CDS, digo eu, mais uma vez) “deve estar particularmente vigilante em relação às tentações de uma governação eleitoralista, a par de um escrutínio grande da qualidade dos serviços públicos, cuja degradação é notória. Esqueceu-se, esta vigilante em nome do país, de dizer que a degradação dos serviços públicos foi devido ao contributo que o seu partido deu quando esteve no governo de coligação de direita PSD/CDS que originou tal degradação e que, depois da terra queimada, é difícil a reconstrução instantânea.
Vigilante relativamente às tentações eleitoralistas? Dr.ª Assunção lembramo-nos bem do seu eleitoralismo quando das eleições autárquicas em Lisboa.
Para Cristas as prioridades para 2018 à semelhança de Rio “é afirmar-se como uma alternativa sólida e credível ao Governo das esquerdas unidas, através de uma oposição firme e construtiva”. Mas vai mais longe, quer que o CDS seja a primeira escolha dos portugueses. Com que projeto de governação é que também não sabemos. Ah! Já sei, o projeto é “Ouvir Portugal” como ela diz. Desejos há muito, é como os chapéus também há muitos.
Para terminar e numa antevisão do jornal Público O julgamento de José Sócrates poderá
começar ainda em meados de outubro de 2018 ou, na pior das hipóteses, em 2019, como anteciparam em outubro próximo passado vários juristas ligados ao processo Operação Marquês. No final do pré-julgamento o juiz Carlos Alexandre decidirá se leva os arguidos todos a julgamento ou se arquiva o caso, se entender não haver indícios suficientes que possam conduzir à sua condenação pelos crimes que constam da acusação do Ministério Público.
Se assim for esta antecipação mostra que, mais uma vez, está-se a conjugar tudo para a proximidade das próximas eleições legislativas. Ou será mais uma vez uma invetiva da minha parte quando tenho escrito que, no que respeita ao caso Sócrates, há um calendário judicial alinhado com o calendário político?
No programa “Poder Laranja” do último sábado, moderado por Constança Cunha e Sá, foram convidados Feliciano Barreiras Duarte apoiante do Rui Rio, Duarte Marques apoiante de Santana Lopes, António Leitão Amaro sem candidato assumido e Sebastião Bugalho jornalista do jornal i.
Todos eles são militantes ou simpatizantes do PSD. O debate foi um vazio total de ideias, propostas e programas o que já seria de esperar especialmente por parte do apoiante de Santana Lopes. O apoiante de Rui Rio foi o que melhor defendeu a candidatura.
Em vez da defesa das candidaturas e da apresentação das propostas dos candidatos refugiaram-se no ataque ao Governo socialista com argumentos estafados e já por demais utilizados por Passo Coelho, não faltando até a evocação de Sócrates. Mais pareceu um debate sobre a defesa do ainda atual líder e o ataque ao Governo do que a defesa das próprias candidaturas.
A pobreza argumentativa foi evidente centrada na questão da identidade e na posição do partido dentro do espetro partidário. Não se pode desejar que o PSD seja igual ao partido socialista dizia o apoiante de Santana. Dizia o apoiante de Rui Rio que havia que regressar às origens do partido, a social-democracia. Defendiam-se outros dizendo que o PSD não é de direita, mas do centro-direita ou de centro. No final não se ficou a saber qual é o espetro ideológico do partido. Mas a ideologia não interessa aos portugueses nada lhes diz, como disse o apoiante de Santana, o que querem ver é factos concretos. Já vimos e bastante no passado e o que prometiam para o futuro, diria eu!
Parece que, segundo se pode deduzir pelo debate, ao PSD nada interessa nem sequer a ideologia. A ser assim não se percebe ao que vão nem o que pretendem.
Parece que, segundo eles, lá para a semana vai sair um programa. Como já disse Santana Lopes numa entrevista ainda não há projeto, mas está tudo na minha cabeça.
Apesar de eu já ter escrito várias vezes que o PSD abandonou a sua matriz social-democrata acantonando-se na corrente neoliberal, coisa que refutaram alguns dos presentes no debate. De cada vez que os oiço falar mais me convenço de que não há volta a dar ao PSD, afinal não é social-democrata e não tem vontade de o ser, então, sem dúvida, é um partido de direita e com alguns laivos radicais e populistas que foram nascendo.
Foi um debate de nada, e sobre nada, um vazio total. Quem não estava esclarecido ou tinha dúvidas como eu ainda ficou pior.
Todavia Rui Rio é o único que se afasta um pouco da linha dos outros jovenzinhos que vieram da JSD, agora bem instalados no partido e com cargos políticos que vêm a público dizer balelas ou cantando o refrão do que ouvem por aí. Para mim, uma coisa ficou clara: o apoiante da candidatura de Santana Lopes e Leitão Amaro tentaram fugir ao rótulo de direita que, segundo dizem, lhes foi colocado pela esquerda. Ficámos sem saber no final e apesar de o negarem se não são de direita então o que são afinal…
Hoje a candidatura de Santana Lopes anunciou o seu programa que já tinha dito estar apenas na sua cabeça ao mesmo tempo que um dos elementos que o apoia invoca Deus para vir em seu auxílio ao dizer numa reunião que Santana “graças a Deus vai ser eleito”. É a primeira vez que em política se recorre claramente à religião como fonte aliciadora de almas simples e sãs para uma causa deveria ser estritamente laica.
Não é novidade que a igreja tenta em época de eleições influenciar eleitorado católico para a direita durante as homilias, o inverso para mim é novidade e, tanto mais, que chega já às raias do populismo de baixa ética. Invocar o nome de Deus em vão misturando-o com causas políticas parece ser a transformação duma candidatura dum político que mais parece ser a de uma espécie de seita religiosa.
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