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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Nem na paz e no sossego da calma do campo da Beira Interior, com o silêncio do campo, o chilrear dos passarinhos durante o dia e agora que é de noite o cintilar das estrelas, não consegui libertar-me da político-dependência. E hoje muito menos. Foi dia da apresentação do trabalhinho das crianças da coligação a que foi dado o nome de apresentação preliminar do programa para os próximos quatro anos.
Mas porque lhes estou a chamar crianças? A justificação é dada neste mesmo local no “post” com o título “Onde está ó verdade que não te vejo”
A apresentação do grupo de trabalho destas crianças foi a maior seca de sempre e jamais ouvida em apresentação de programas, a não ser em congressos partidários. Começou um pouco após as 20 horas e durou até quase às 21,30 horas. Muitas frases feitas, imensas palavras, muitos desejos, muitas intenções mas nada de novo. Em síntese, nada de novo na frente ocidental que é, em termos que toda a gente entenda, o mesmo que fizemos e vamos continuar a fazer o mesmo porque está em causa a estabilidade. Como vão pagar o que devem e o juros não disseram, mas isso também não interessa nada.
Lá para 2019 (repare-se se a coligação ganhar, salvo seja, terminará o mandato nesse ano) será tudo uma maravilha:
Lá para 2019 serão repostos, pouco a pouco, os salários da função pública.
Lá para 2019 será retirada, pouco a pouco, a taxa extraordinária do IRS.
Lá para de 2019 será, pouco a pouco, bla, bla, bla…….
Dizem não fazer promessas com um ar de credibilidade e cheios de convicções.
O que se tira das horas gastas com palavras dos propagandistas de feira entre os quais Morais Sarmento foi a grande vedeta.
Paulo Portas, o mesmo de sempre, com as anáforas do costume (repetição da mesma palavra no início de frases diferentes), para salientar o seu pensamento limitou-se apenas a falar na economia e no crescimento e indiretamente a atacar o projeto apresentado em pormenor pelo Partido Socialista. Isto é, o Governo faz oposição em vez de apresentar projetos. Enfim, campanha eleitoral no seu melhor.
Quanto ao primeiro-ministro Passos Coelho mostrou, também no seu melhor, a sua vocação de mestre-escola e de propensão vocacional para fazer formação em uma qualquer Tecnoforma que por aí apareça e o convide.
Tudo em Portugal está uma maravilha e prevê continuar a estar ainda mais. A economia está em franca expansão, o desemprego está a baixar, os que emigraram podem regressar porque há trabalho para todos, e muito mais. Acrescenta ao rol, tudo aquilo que vai fazer mas que há muito por outros já foi feito.
Muitas palmas dos adeptos convivas e convidados. Pois mal ficaria se, como numa partida de futebol, os adeptos não dessem vivas ao seu clube.
Quanto a pensões nada de novo, piorou o que ainda não esclareceu.
Quanto aos 600 milhões de euros “tá quieto ó mau”, nem sombra de assomo.
Em suma muita parra e pouca uva.
O programa, digo programa preliminar de governo que é uma cópia fiel do DEO, Documento de Estratégia Orçamental, enviado para Bruxelas mas em formato de campanha eleitoral, revisto e melhorado para português engolir.
Com muito menos palavras já Passos Coelho já no passado tinha dito que não fazia e fez. Hoje, com muito mais palavras, diz o que vai fazer, que será o mesmo que já fez, e que fará o que diz que vai fazer. Mas nós sabemos que não fará.
Quem quiser acreditar neles e lhes der o votinho faça favor, esteja à vontade, mas depois não diga que não sabia!
Estou na beira interior longe do bulício da informação política, mas não resisto a dar uma olhadela. Por muita que se tenha, começa a faltar a paciência para aturar esta coligação do Governo. Truques, mentiras, omissões, atrapalhações, dito por não dito. A última foi a senhora ministra das finanças Maria Luís Albuquerque com todo à vontade e perante os deputados da oposição, negar que tinha dito que era necessário por uma questão de sustentabilidade a possibilidade de cortar nas pensões em pagamento.
Não satisfeita com este ato de mentira descarada e face ao Documento de Estratégia Orçamental que enviou para Bruxelas que incluía um cortar 600 milhões de euros nas pensões a pagamento com o qual a oposição a confrontou não respondeu diretamente à questão e avançou com uma trapalhada qualquer sobre receita e despesa no sentido positivo, negando o inegável.
A hipocrisia do Governo e do PSD é lamentável. Quer consensos com o PS sem apresentar quaisquer propostas para discussão. A estratégia deste Governo é estar a transformar-se num partidos que faz oposição à oposição em vez de apresentar claramente o que pretende vir a fazer caso ganhe as eleições.
Ainda hoje, vimos e ouvimos na sede do CDS Mota Soares e Marco António Costa que em vez de falar dos projetos da coligação passou o tempo a falar das propostas do PS. Há uma coisa que é certa, este Governo nasceu da mentira antes das eleições, mente durante o mandato e faz omissões ou mente no que respeita ao futuro.
Será que ainda há paciência para a ouvir esta gente a falar?
Parece que sim, e eu sou um deles, mas começa a faltara paciência…
A troika foi, em grande parte, trazida pela direita, portanto, teria que libertar-se dela, já que mais não fosse virtualmente.
Todos os que agora querem, advogam, pedem e apelam ao consenso com a oposição para validarem medidas cada vez mais austeras que querem impor aos portugueses são os mesmos que, em 2011, não se interessaram em o fazer.
Obcecados que estavam pelo poder ajudaram a empurrar Portugal para um pedido de resgate de 78 mil milhões de euros da troika que veio de facto a governar secundarizando o próprio governo que, mesmo com a limpeza da saída, por cá vai ficando atrás da porta até 2021.
A política financeira do país, na altura muito pouco cuidada e desastrosa de José Sócrates, pese embora os sinais dados pela Europa no sentido da promoção do investimento público, a verdade é que Passos e Portas, quando decidiram recusar o PEC 4, tinham na mira do poder.
Não se ouviu naquela altura o Presidente da República apelar a quaisquer consensos e entendimentos como o faz agora tão insistentemente querendo ir para além do mero entendimento do DEO (Documento de Estratégia Orçamental).
Teria sido oportuno efetuar um acordo ou um pacto parlamentar que, na altura, evitasse o resgate da troika para que não tivéssemos hoje:
O empobrecimento da população em geral.
Um Estado social a enfraquecer bruscamente.
Um aumento dos desempregados cuja baixa se deve a meios artificiais e não por criação de postos de trabalhos reais.
Diminuição progressiva dos apoios sociais.
Cantinas socias cheias pelo que se vangloria o ministro Mota Soares.
Venda das melhores e mais rentáveis empresas do Estado.
Promessas da continuação da austeridade por muitos anos embora a propaganda diga que estamos a começar a entrar no melhor dos mundos e cantam loas de vitórias virtuais.
A Espanha, aqui ao lado, lá conseguiu recuperar sem tutelas externas e sem passar por humilhações como aquelas que ainda hoje passamos, como a da ingerência e pressões sobre as nossas instituições democráticas. Durão Barroso descobriu agora o seu país intrometendo-se na política interna, diz e desdiz o que já disse ajudando a que a humilhação continue, e o governo aceita tudo isto como de uma normalidade se tratasse.
A direita bem pode fazer um ato de contrição porque grande parte da responsabilidade pelo que hoje estamos a passar, senão a maior, também é dela.
Quando tivermos que fazer escolhas para as eleições europeias devemos tomar em consideração que elas são mais importantes para o nosso futuro do que aquilo que nos querem fazer crer. O DEO (Documento de Estratégia Orçamental) apresentado por este governo que, digam o que disserem, não é mais do que um PEC (Pacto de Estabilidade e Crescimento) mas para pior. Aquele documento já foi ou irá ser enviado para a União Europeia, como o foram, em tempos, os PEC. Desiludam-se aqueles que pensam que os cortes nas pensões e nos salários ficarão por aqui. Irá caber a vez ao setor privado, não através de cortes diretos, porque não o poderão fazer, mas outras medidas serão possíveis como por exemplo o aumento de taxas sobre o trabalho ou outras que possibilitem às empresas poder fazê-lo, justificando, a baixa produtividade, a falta de encomendas, os custos de produção e ameaça de insolvência.
Os valores dos salários em atraso, devido às mais diversas causas dispararam em 2013 mais de 66% que em 2012 o que corresponde a 36,5 milhões de euros.
A experiência tem-nos dito que em campanhas eleitorais todos os partidos fazem promessas que depois não cumprem, mas não há memória termos um governo que enganou os portugueses antes das eleições e está a continuar a enganá-los no presente com promessas que, sabe, à partida, não irá cumprir porque empurra para quem as vier a ganhar em 2015.
É um governo sem rumo cujo objetivo é reduzir os portugueses à penúria sem que haja qualquer estratégia que não seja a do empobrecimento. Mudaram o discurso mas os princípios e a ideologia neoliberal continuam, apenas estão adormecidos. Mostram-se agora com um cariz social adotando uma estratégia de esforço para tentar minimizar os sacrifícios dos trabalhadores, reformados e pensionistas. Logo que consigam captar alguns na teia que estão a tecer, após eleições, se as ganharem, lançam-se novamente qual aranha sobre as suas presas.
Refere-se a construção de um Portugal aberto e mais moderno para quem? Quando todos já estivermos mortos, após termos passado sacrifícios extremos para permanecermos num euro que, cada vez mais, se prevê estar em desagregação. |
O DEO – Documento de Estratégia Orçamental 2013 a 2017 na página V da Introdução faz uma ameaça. Já estamos habituados a vários tipos de ameaças, quer por parte do primeiro-ministro Passos Coelhos, quer por parte de Vítor
Gaspar e dos seus apoiantes economistas de serviço. Agora, ameaças dignas de comícios partidários colocadas em documentos oficiais é coisa nunca vista.
Diz então aquele documento que “A alternativa de regressar a comportamentos passados implica, numa versão mais radical, a bancarrota e a saída do euro. Numa versão mais mitigada, essa alternativa envolve um percurso penoso dentro do euro, com soberania nacional reduzida por um largo período de tempo. A troika tornar-se-ia uma presença habitual e constante no nosso país. Qualquer uma destas hipóteses mingua e amesquinha o papel de Portugal na Europa e no mundo. Trata-se de desistir ou adiar a construção de um Portugal aberto e moderno.”
Refere-se a construção de um Portugal aberto e mais moderno para quem? Quando todos já estivermos mortos, após termos passado sacrifícios extremos para permanecermos num euro que, cada vez mais, se prevê estar em desagregação. Se temos que passar por sacrifícios e por austeridade extremas para nos mantermos no euro então talvez seja preferível sair da moeda única porque ao menos recuperamos a nossa autonomia e soberania e sermos senhores do nosso destino.
Pois bem, se há que fazer sacrifícios, para os quais venha o diabo e escolha, que existirão em qualquer das opções, então porque não fazer um grande debate nacional em torno da saída, ou não, do euro com posterior lançamento de um referendo à população sobre a permanência ou não naquela moeda. Então, se o resultado for a saída iniciar a saída sem sobressaltos.
(Imagem de http://whispersfromtheedgeoftherainforest.blogspot.pt/2012_05_01_archive.html)
em:www.ladroesdebicicleta.blogspot.pt |
Por que merecem uma reflexão e não porque esteja ou não de acordo, vou transcrever parcialmente, e com a devida vénia, dois artigos publicados no Jornal Expresso e respetiva Revista do dia 28 de abril onde podem ser lidos na íntegra. O primeiro é de Martim Avilez e o segundo de Clara Ferreira Alves sem quaisquer espécie de ordem preferencial mas apenas pela minha ordem de leitura.
O primeiro, denominado "Eles não sabem que o sonho", com base num estudo efetuado por Elísio Estanque do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Martim Avillez aponta os políticos como traidores da classe média dizendo, com base naquele estudo, que "da mesma forma que a memória da revolução está em risco, também a classe média nacional pode desaparecer". A classe média que praticamente não existia até 1974, e que "em 30 anos nasceu uma nova classe social no país, fundada na convicção de que, em comparação com os pais, deram um enorme salto na escada social...". E que "Uma das grandes conquistas de abril foi a legítima ascendência social de filhos de operários e agricultores. Esta nova classe média, porém pode estar no fim do sonho....".
O desemprego disparou sobretudo nesta classe não apenas do emprego por conta de outrem e no Estado, mas também se instalou entre trabalhadores e empresários de pequenos negócios. "É na educação, saúde, justiça, administração pública e poder local (os novos empregos da classe média) que mais cortes estão a ser feitos." A classe média está na "emergência de deixar de o ser - e são mais de 2 milhões de famílias." E mais não digo porque vale mais ler o artigo completo na p. 40 do já referido jornal.
O segundo artigo, de Clara Ferreira Alves com a qual não concordo em muitos pontos de vista desde o tempo de José Sócrates nos debates televisivo da "Noite dos Diabos". Intitula-se "Os "Abrileiros"" e devo reconhecer que este seu artigo mostra uma parte do que se está a passar em Portugal e sugiro a sua leitura na íntegra. Todavia não resisto a citar uma parte que é muito preocupante para todos nós, mesmo para aqueles que dizem não ligar à política.
Diz a autora do referido artigo que "...Portugal está a ser vendido a retalho. A água, a eletricidade, o gás, o petróleo, o cimento, a energia, a rede elétrica, a companhia aérea, os correios, a televisão pública, a imprensa independente, a rede comunicações, a banca, e de um modo geral tudo o que implique tarifas monopolistas, manipulação dos media e lucros garantidos está a ser alienado. Só falta o ar que respiramos. E o futuro, os fundos de pensões, os impostos por vir, a segurança social, a saúde pública e a educação pública estão a ser negociados. Em nome da crise e da Troika, este Governo está a vender o nosso tecido económico, a nossa capacidade de rejeição, a nossa possível insensatez. Está a vender os futuros estudantes, os trabalhadores, os desempregados, os pensionistas, os emigrantes...". Vale a pena ler o antes e o depois desta citação no original.
Digo eu agora: privatizar sim mas com peso conta e medida. Tudo isto em nome da recuperação económica e para salvar Portugal da bancarota? Quem vão ser os beneficiários? Os portugueses?
Rejeitaram o PEC 4, sugeriram e participaram na vinda das entidades internacionais (CE,BCE e FMI) que com elas colaboraram. Ajudaram a derrubar o anterior governo do qual, diga-se de passagem, muitos já estavam fartos. Afinal com que objetivo? Para salvar Portugal? Talvez não!
Se quisessemos fazer juízos de intenção poderíamos afirmar que a obsessão do PSD e de Passo Coelho pelo poder, mesmo com a Troika dentro de "casa", esse seria o momento e um bom pretexto para pôr em marcha toda uma política que o PSD e Passos Coelho queriam impor. Tinha uma desculpa. Daí a ânsia pelo poder. Para além dos esqueletos escondidos dentro do armário do anterior governo, Passos Coelho tinha também os seus próprios esqueletos muito bem escondidos que tirou do armário só depois das eleições, como não podia deixar de ser. É isto que o governo atual tem para oferecer a quem lhes deu o poder: esqueletos escondidos nos seus armários. E isto nada tem a ver com ideologia, dizem, mas sim com o passado!
Já agora, vale a pena ver as últimas notícias sobre as previsões do governo para a nossa economia traçadas no DEO – Documento de Estratégia Orçamental e os respetivos comentários em:
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