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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
David Dinis, diretor do jornal Público, disse que a entrevista dada por Marcelo Rebelo de Sousa à SIC é para ler nas entrelinhas. Ler nas entrelinhas serve para tudo, é uma leitura subjetiva, é ler aquilo que gostaríamos que fosse escrito ou dito.
Ler nas entrelinhas é ler o que está implícito ou subtendido, é uma inferência, que deduz o que está implícito. Muitas vezes o que se dia ou escreve tem um significado escondido, o autor não transmite diretamente por motivos por causas estranhas, significa encontrar a mensagem escondida que está implícita e propositadamente não foi explicitada.
David Dinis encontra, ao seu modo e ao seu agrado, mensagens implícitas no que o Presidente da República disse na entrevista. Ler nas entrelinhas é uma arte praticada conforme os interesses ideológicos e partidários de cada um que comenta mensagens políticas. Pessoas diferentes farão “leituras entre linhas” também diferentes. Veja-se as diferentes leituras que cada partido faz de discursos, entrevistas, mensagens de políticos relevantes seja um Presidente da República ou um Primeiro-Ministro.
Parece ser objetivo de comentadores e produtores de notícias criar confusão mental e cognitiva aos leitores ou ouvintes fazendo com que, por um lado, as pessoas menos avisadas se sintam impossibilitadas de pensar com clareza ficando desorientadas sobre acontecimentos, e por outro lado, lançar dúvidas, por vezes inexistentes, nos recetores das mensagens.
Só o incompleto e pouco desenvolvido espírito crítico de cidadãos autónomos que capacite para a interpretação das mensagens políticas, raciocinando com lógica não se deixando influenciar é que se compreende os que querem ser os intérpretes oficiosos, de forma subjetiva, das mensagens de terceiros que denominam de “leitura das entre linhas”.
Se eles sabem ler nas entrelinhas nós também, escusamos interpretações.
Duma maneira geral a comunicação social é vista como um dos fatores mais responsáveis pela criação de instabilidade social e de desconfianças sobre as práticas políticas dos diversos atores em presença. Não inventa as notícias, elas existem, mas molda-as, adequa-as para terem mais impacto, alterando ou acrescentando sentidos. Os objetivos para tal podem ser vários e dependem das linhas editoriais, da necessidade de amplificação do impacto que o acontecimento ou a notícia possam ter para atrair o interesse do público para a compra e, no caso da televisão, para o aumentar as audiências.
Sem que seja caso único é um bom exemplo o que tem alimentado nos últimos dias, debates, notícias, informações e contrainformações sobre o caso dum potencial imposto sobre o património acumulado desnecessariamente causado por Marina Mortágua do BE.
A liberdade de imprensa que temos (impressa e televisiva) é um bem que deve ser preservado, contudo, corre sempre o risco de estar a ser limitada, condicionada, mesmo não existindo trâmites censórios próprios dos regimes ditatoriais, como era no tempo de Salazar e Caetano.
A pergunta que podemos colocar é a de saber se em democracia existe ou não uma tendência para o controle da comunicação social por grupos económicos através de "correias de transmissão" ligadas a ideologias e partidos políticos, mais ou menos dissimuladas.
A análise dos jornais, noticiários e comentários televisivos mostra-nos algumas tendências que se manifestam mais a favor, ou mais contra, consoante o ponto de vista ideológico de quem está no poder.
Não deve ser noticiado apenas o que é bom e agradável mas estamos exaustos de ver e ouvir todos os dias notícias negativistas, o fatalismo como sendo as únicas notícias. Noticia-se o que é superficial e fútil e não o relevante. Sabe-se, eles sabem, os da comunicação, que isso é que "vende" e, por isso, insistem. A competição comercial entre canais a isso obriga, deixando a ética como se fosse um objeto sem valor. Espetacularização e sensacionalismo são a chave do negócio.
O alinhamento noticioso dos canais de televisão começou a adotar o modelo de outros canais como o CMTV onde, diariamente, se gasta tempo demais com são oferecidos crimes, marginalidade, corrupção, dinheiro sujo, estúpidos concursos, factos privados enfatizados ad nauseam, gira-se à volta de quem tem dinheiro e declarações de má política, mas compacta-se ao máximo no espaço e no tempo uma qualquer ideia, reflexão construtiva ou qualquer contributo positivo.
O que vemos nos canais noticiosos será de facto o retrato do país onde tudo o que acontece é mau? Desde que não esteja em linha com o que ideologicamente eles, os senhores dos comentários, pensam e que acham deveria ser e porque se quer estar do lado dos opositores que perfilham é tudo mau. Foi assim no passado recente, mas ao contrário.
Não se pode ser otimista irrefletido mas, o que se vê na "fotografia" dos media é um pessimismo paralisante e um fatalismo permanente. Comentar é também criticar com imparcialidade, com isenção, não apenas atacar por mera fação e questão ideológica de que, afinal, acusam outros. Ou, então, criticam porque sim.
Penso que já referi várias vezes neste blog a impressão negativa que tenho sobre alguns comentadores da televisão e sobre artigos de opinião escritos, independentemente de estar ou não de acordo com eles, venham da direita ou da esquerda. Nem tudo o que uns gostam de ouvir ou ler agradará a outros. Uma coisa é o debate de ideias e de pontos de vista em democracia, outra é o "arranjo" argumentativo falacioso propositadamente construído com deturbação e interpretação abusiva de opiniões, acontecimentos ou factos ainda não comprovados. Outro caso ainda é dizer-se que uma coisa é preta quando é evidente a perceção comprovada de que é branca. Isto é, nega-se uma realidade, lança-se-lhe umas pinceladas de frases mais ou menos demagógicas e populistas para se poder a continuar a dizer que aquela coisa é preta.
Neste segundo semestre aconteceu haver uma agitada dança de cadeiras a nível das direções em jornais e rádio, o que para o cidadão comum não é novidade. As justificações são sempre as mesmas, reorganizações, ajustamentos, rentabilizações, etc. e, por vezes, estas mudanças estão também ligadas a mudanças de orientação editorial. Desta vez estas mudanças verificam-se ocasionalmente num ano em que um Governo é apoiado por uma maioria parlamentar de esquerda.
Na direção do Diário de Notícias encontra-se desde setembro Pedro Baldaia que era diretor da TSF; David Dinis que saiu do jornal Sol, fundou com outros o jornal online Observador e foi para diretor da TSF donde sairá para passar a dirigir, a partir de 3 de outubro, o jornal Público. Também, José Miguel Tavares, passou a ter direito naquele jornal a mais um diazinho por semana para divulgar as suas facciosas opiniões. A direção do jornal i que mudou várias vezes (em pouco mais de seis anos de vida, o jornal já teve quatro proprietários e sete direções), cabe desde 15 de dezembro de 2015 a Mário Ramires que também é presidente do conselho de administração da proprietária do jornal, a NEWSPLEX, SA., e também do semanário Sol. O jornal i e o Sol anteriormente pertenciam à Newshold, empresa angolana liderada por Álvaro Sobrinho que tinha investido na entrada do capital da Cofina, (dona do "CM" - Correio da Manhã) e da Impresa (dona do Expresso).
A crise que há na imprensa escrita vai alastrando e por ela a liberdade de expressão dos jornalistas pode ser condicionada face a uma potencial perda de emprego à vista. As razões apresentadas são várias, normalmente de natureza financeira e económica que levam ao despedimento e a rescisões por mútuo acordo de jornalistas. A razão para que este ano exista tal azáfama leva-me a pensar. Mas isto de momento não nos interessa.
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