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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Este artigo de opinião irá provocar indignação a muitos por pensarem que sou contra as artes e a cultura no seu todo. Podem pensar o que quiserem, mas é o meu ponto de vista distanciado, fora da emoção, de preconceitos e baseado no que me é dado pela informação recolhida na comunicação social.
Após anos de estagnação da Cultura pelos anteriores governos a consolidação das entidades culturais era necessária a alteração aos modelos de apoio de forma sustentada. Neste contexto, não discuto o modelo de apoio às artes. Não discuto os apoios à cultura. Não discuto o prestígio das artes. Não discuto os subsídios aos grupos de teatro sejam bons, medíocres ou maus. Não discuto o valor das artes na cultura nacional. Não discuto as razões que movem as artes e os artistas (todos) para obterem apoios. Discuto que possa haver distribuição indiscriminada de subsídios à cultura. Se estas afirmações lhes parecem saídas de um discurso salazarista acertou, elas foram de facto nele inspiradas. Utilizo propositadamente o termo subsídio que alguns acham ser ofensivo e humilhante, mas que, afinal, são dinheiros públicos, contributos do Estado para apoiar as artes, saídos dos nossos impostos.
"Quando ouço falar de Cultura saco logo a pistola" é a frase que é atribuída a Goebbels, ministro da propaganda nazi, mas, ao que consta e, ao contrário do que muitos pensam, pertence a uma peça teatral. A célebre frase que foi proferida é "Sempre que me vêm falar de Cultura... retiro a patilha de segurança da minha pistola Browning" e consta da peça de teatro ‘Schlageter’, escrita pelo nazi Hanns Johst.
A peça Schlageter de Hanns Johst é geralmente considerada como a peça bem-sucedida do teatro nazista, está em conformidade com os objetivos do Terceiro Reich e foi uma peça que alcançou relevo devido à sua manipulação inteligente das emoções do seu público. O termo “pistola” pode ser lido como uma metáfora de todos os instrumentos e mecanismos que derrubam a cultura.
Estou contra as artes? Não! Não estou! Estou é contra as manifestações de descontentamento, indignação, protestos, reivindicações pelas estruturas de criação artística como reação aos resultados dos concursos de apoios sustentados às artes (teatro, música, dança, artes circenses e de rua, artes visuais e cruzamentos disciplinares) para os anos 2018-2021, que vão no sentido de pressionar o poder para a obtenção de verbas cada vez maiores.
São muitos os pedidos e os recursos são escassos. Quando os recursos financeiros são escassos há que ter a habilidade suficiente para fazer a distribuição em função de prioridades e de necessidades. Alguns argumentam que, de entre os países da UE, Portugal é o que terá a menor percentagem destinada às artes, menos de 1 %. Não me recordo de ter visto nos anos do anterior governo, a não ser dois casos pontuais, tanta indignação por parte dos vários representantes culturais. Pois é, os recursos dos países que apresentam como exemplos são diferentes dos nossos. Portugal ainda está a pagar o que se pedimos à troika a que acresce o facto de que há muito pouco tempo saímos duma crise financeira e o oxigénio necessário para a respiração está a libertar-se aos poucos. Estragar o que está a ser feito é um aventureirismo que a direita poderá no futuro aproveitar para voltarmos atrás.
Falando de espetáculos, porque será que, concertos de música pop e rock, apesar de preços caríssimos, esgotam e espetáculos de qualidade estão por vezes a menos de meia casa? Porque será ainda que outros espetáculos que, não recebendo verbas estatais, têm casas cheias. Não consigo dar resposta a tais e a outras questões que poderão ser colocadas. Talvez seja a altura de, antes de pedir mais dinheiro, fazer um diagnóstico das causas da crise na cultura e nas artes. A arte apenas para as elites sobranceiras e intelectuais talvez não seja solução porque as necessidades básicas como alimentação, educação, saúde e habitação, para a maior parte das famílias que vivem apenas dos seus salários neste nosso país, sobrepõem-se à própria cultura e estão primeiro do que as artes. Ou não será? As artes são ao alimento para o espírito, mas se falha o do corpo nada adianta.
Com a globalização que nos envolve inexoravelmente as artes tais como teatro, dança, música, cinema, literatura, pintura, artes circenses e muitas outras das suas manifestações, estão agora a impor-se outras como a moda, a publicidade, o turismo, o urbanismo, etc.. Nada escapa ao domínio da cultura. Surgiram as chamadas indústrias culturais e muitas outras que, não conseguindo sobreviver com os recursos que geram encostam-se ao bolo do orçamento, há que, portanto, saber premiar os setores de atividade cultural que manifestem ser socialmente mais abrangentes e de inegável qualidade e que prestigiem Portugal.
A cultura que caracteriza o nosso tempo já não é a que herdámos do passado, ela será definida pelo fim da separação entre cultura e economia que irá, cada vez mais, ser absorvida pelo domínio mercantil deixando de ser considerada como o pequeno mundo das artes e das letras a que se chama alta cultura. Caminharemos, infelizmente para a padronização da cultura.
As tecnologias da comunicação irão terminar com o vanguardismo artístico possibilitando o aparecimento de uma cultura que não é produzida para uma classe social intelectual elitista, mas para todos, sem fronteiras nem classes. As vanguardas artísticas de interpretação destinada apenas a alguns eleitos irão ficar no oposto da cultura de massas, mais social e com a maior acessibilidade possível destinada a distrair o maior número de pessoas, sem a exigência de uma referência cultural erudita, permitindo divertir e dar prazer. É a arte para consumo comercial, mas também com singularidade. O que hoje se verifica é que um filme afasta outro, uma vedeta toma o lugar de outra, um disco substitui o anterior. É tudo uma questão de competição que, por vezes, troca a qualidade pela mediocridade. Neste mundo os subsídios do Estado serão residuais e apenas dirigidos aos tais vanguardismos que ninguém tem interesse em consumir, a não ser algumas elites intelectuais.
Não tenho quaisquer dúvidas sobre a importância da cultura (inclusivamente a política) em qualquer sociedade. Nos países de socialismo revolucionários a artes eram subsidiadas para a produção de obras de vanguarda que elogiassem as revoluções populares e o culto da personalidade dos líderes. Eram as artes por encomenda.
Para a direita as artes como uma parte da cultura, ao lado da ciência e da tecnologia, são algo que normalmente se afasta das suas prioridades governativas. Por outro lado, é sabido que grande parte do eleitorado ligado às artes está tendencialmente mais à esquerda do PS e, como tal, reagem como forma de pressão.
A direita neoliberal nunca deu muita importância às artes e o seu ponto de vista é que devem ser autossustentadas e apoiadas através do mecenato. Até o ex-secretário de Estado Barreto Xavier (PSD) que nada fez na altura pela Cultura escreveu um artigo de opinião contra o modelo agora implementado assim como outros ex-responsáveis políticos pelo pelouro da cultura. Vendo o furo eleitoralista a direita, nomeadamente o CDS de Assunção Cristas, quer também ser voz participativa nas reivindicações sobre o modelo e o orçamento para cultura e diz que “a cultura não pode ser uma área onde a direita está proibida de entrar”, o que causa espanto é que, quando o seu partido fez parte do poder o silêncio no que respeita à cultura e às artes foi ensurdecedor. Na altura acabar com o ministério da Cultura foi uma das primeiras e mais polémicas decisões do atual governo. Na sequência de uma política de fusão de ministérios operada pelo executivo da altura. A Cultura foi despromovida a secretaria de Estado, tutelada por Francisco José Viegas. A medida visava poupar ao Estado 2,6 milhões de euros, consequência direta da redução de 31% nas estruturas orgânicas, de 36% no número de dirigentes superiores e intermédios, e de 28% nos custos dos cargos dirigentes. Podem recordar aqui.
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O desporto e a ação cultural podem propiciar espaços que resgatem, preservem e criem novos vínculos de solidariedade, onde o ser humano se sobreponha a todas as coisas, mas a despreocupação do Governo com a cultura e o desporto escolar tem sido notória.
Para a direita a cultura e o desporto, (exceto o futebol, que convém para captar votos), são atividades de segunda escolha e, por isso, tiveram direito apenas a uma secretaria de estado que, para além de ineficaz, ficou subordinada e dependente do primeiro-ministro e seu visto neoliberal.
As dificuldades financeiras do país dão para tudo. A cultura é a filha pobre do orçamento. Aliás a privatização total e progressiva da cultura é um dos pontos das políticas neoliberais. Deixar que ela sobreviva apenas através da iniciativa privada de patrocínios e de mecenas ou então morrer.
Há uma lógica de privatização para que o poder público se desvencilhe da sua função social. Os neoliberais endeusam o mercado e o culto ao individualismo exacerbado. É preciso cada vez mais valorizar a cultura e outros desportos, e não e apenas o futebol, como identidade de um povo.
Todavia, são sobretudo os clubes de futebol que têm dinamizado outras modalidades desportivas contribuindo para a formação física e mental de crianças, jovens e também adultos.
Encontra-se neste caso na linha da frente o clube Sport Lisboa e Benfica que no dia 10 de junho proporcionou um sarau de diversas modalidades desportivas onde estiveram presentes não apenas classes do Benfica mas também de outros ginásios. São exemplo o Acroáguias no Gym for Life 2015, cujo o vídeo se insere abaixo com imagens da modalidade de Ginástica Acrobática.
Esse ator principal que ascendeu à política com empurrões paternais foi George W. Bush, Jr. que bem poderia ter-se dedicado à "stand up Comedy".
Não admira que a impreparação, a incultura, o desprezo por tudo quanto não seja, como dizem, a ligação das escolas ao mundo do trabalho e uma visão tacanha de desprezo por tudo quanto sejam ciências sociais e humanas, (lembram-se do jornalista português da área da economia que disse publicamente que a disciplina de história não servia para nada?), traduz-se nisto.
Vejamos alguns extratos de intervenções durante o mandato de George W. Bush Jr. como presidente dos Estados Unidos da América. Se procurarmos bem encontraremos também bons exemplos em Portugal.
Teatro, do mau Miró-O cantor
Esta gente inculta que surgiu no PSD, e também no CDS, desejosa de viver à mesa dos impostos que o Estado nos cobra e do esbulho duma grande parte da sociedade portuguesa que não tem poder reivindicativo, na sua maior parte sofre de distorções culturais e sociais que contrariam os princípios que deveriam ter adquirido nas escolas que frequentaram ou que não lhes foram incutidos no seio familiar. A resistência que têm em romper com as barreiras da sua incultura social e política apenas são comparadas à resistência que houve em admitir as observações de Galileu que na altura punham em causa a Bíblia. Um exemplo da sua incultura revela-se através do caso do leilão das obras de Miró que, para eles, não são arte mas apenas uns rabiscos sem interesse a não ser para alguns pretensiosos intelectuais que são um peso para o país.
Não aceitam a realidade com que se deparam e, por isso, não renunciam às suas práticas tecnocráticas que aprenderam nos manuais por onde estudaram por não terem a capacidade suficiente para proceder à sua aplicação. O pensamento deles situa-se numa atitude do este povo não presta, devíamos era substituir o povo para que tudo desse certo.
Escudam-se em argumentos, por vezes contraditórios para justificarem a sua incompetência e, ao mesmo tempo, atacam tudo quanto mexe que saia fora da realidade virtual que eles criaram a partir do que simplesmente assimilaram sem reflexão em universidades privadas, por vezes de credibilidade duvidosa, com um corpo docente de pensamento vincadamente unilateral e de mente cientificamente pouco aberta.
Infelizmente, muitos daqueles fazem parte de grupelhos isolados com tendências protofascistas infiltrados em partidos democráticos de direita, são o resultado de uma pequena parte da geração do antes 25 de abril de 1974 que nunca aceitou esta data como uma realidade no que reporta à cultura e prática política democrática.
O pensamento liberal radical desta gente radica na premissa de que para haver justiça social é necessário sacrificar o povo, todos nós leia-se, para que a economia resplandeça como um milagre. Pouco importa que alastre, ou não, a miséria, que a saúde regresse ao passado e a doença seja algo que é benéfico para que muitos idosos morram, que a educação seja um privilégio para alguns, disfarçando-a de ser para todos.
Propagam-se as ideias de fé, de esperança, aa falsas promessas e, sobretudo, pretendem expandir a caridade praticada por instituições, embora dignas de apreço, às quais são concedidas verbas dos impostos pagos por todos e pelos cortes sociais retirados aos que deles necessitam para, depois, irem estender a mão à tal caridade.
Esta gente faz teatro, do mau, diga-se, e no teatro tudo se finge. Mas neste teatro que tristemente representa a pobreza, a miséria, o sacrifício dos mais fracos, continuamente açoitados pelas mãos duras dos carrascos, são reais. Esta frase, inspirada na leitura da Cidade de Ulisses, adequa-se perfeitamente à atitude política dos que atualmente fazem de conta que governam o nosso país.
O chefe desta canalhada que governa Portugal tem uma resiliência ilusória, qual metal oxidado há muito por exposição ao ar mas que, ao ser dobrado quebra mas ao mesmo tempo suja as mãos de quem lhe pegou com a cor ocre da ferrugem.
Leio as crónicas de Miguel de Sousa Tavares sempre que posso. Claro que nem sempre são do meu agrado e nem me revejo em muitas das suas afirmações. Mas opiniões são opiniões e cada um pode ter as quiser, para isso vivemos em democracia. Todavia esta passou das marcas e merece críticas, e muitas. Por achar que a afirmação de Sousa Tavares que se lê abaixo é muito injusta e generalizante, resolvi publicar neste blog, e na íntegra, este texto da autoria de Ana Maria Gomes que retirei do Facebook e que merece ser divulgado. Sousa Tavares é mais um polémico que acabou por se revelar.
Miguel Sousa Tavares afirmou que "os professores os inúteis mais bem pagos deste país.’ A resposta veio de Ana Maria Gomes, professora.
"Sobre os Professores É do conhecimento público que o senhor Miguel de Sousa Tavares considerou ‘os professores os inúteis mais bem pagos deste país.’ Espantar-me-ia uma afirmação tão generalista e imoral, não conhecesse já outras afirmações que não diferem muito desta, quer na forma, quer na índole. Não lhe parece que há inúteis, que fazem coisas inúteis e escrevem coisas inúteis, que são pagos a peso de ouro? Não lhe parece que deveria ter dirigido as suas aberrações a gente que, neste deprimente país, tem mais do que uma sinecura e assim enche os bolsos? Não será esse o seu caso?
O que escreveu é um atentado à cultura portuguesa, à educação e aos seus intervenientes, alunos e professores. Alunos e professores de ontem e de hoje, porque eu já fui aluna, logo de ‘inúteis’, como o senhor também terá sido. Ou pensa hoje de forma diferente para estar de acordo com o sistema? O senhor tem filhos? – a minha ignorância a este respeito deve-se ao facto de não ser muito dada a ler revistas cor-de-rosa. Se os tem, e se estudam, teve, por acaso, a frontalidade de encarar os seus professores e dizer-lhes que ‘são os inúteis mais bem pagos do país.’? Não me parece… Estudam os seus filhos em escolas públicas ou privadas? É que a coisa muda de figura! Há escolas privadas onde se pagam substancialmente as notas dos alunos, que os professores ‘inúteis’ são obrigados a atribuir. A alarvidade que escreveu, além de ser insultuosa, revela muita ignorância em relação à educação e ao ensino. E, quem é ignorante, não deve julgar sem conhecimento de causa. Sei que é escritor, porém nunca li qualquer livro seu, por isso não emito julgamentos sobre aquilo que desconheço. Entende ou quer que a professora explique de novo? Sou professora de Português com imenso prazer. Oxalá nunca nenhuma das suas obras venha a integrar os programas da disciplina, pois acredito que nenhum dos ‘inúteis’ a que se referiu a leccionasse com prazer.
Com prazer e paixão tenho leccionado, ao longo dos meus vinte e sete anos de serviço, a obra de sua mãe, Sophia de Mello Breyner Andersen, que reverencio. O senhor é a prova inequívoca que nem sempre uma sã e bela árvore dá são e belo fruto. Tenho dificuldade em interiorizar que tenha sido ela quem o ensinou a escrever. A sua ilustre mãe era uma humanista convicta. Que pena não ter interiorizado essa lição! A lição do humanismo que não julga sem provas! Já visitou, por acaso, alguma escola pública? Já se deu ao trabalho de ler, com atenção, o documento sobre a avaliação dos professores? Não, claro que não. É mais cómodo fazer afirmações bombásticas, que agitem, no mau sentido, a opinião pública, para assim se auto-publicitar. Sei que, num jornal desportivo, escreve, de vez em quando, umas crónicas e que defende muito bem o seu clube. Alguma vez lhe ocorreu, quando o seu clube perde, com clubes da terceira divisão, escrever que ‘os jogadores de futebol são os inúteis mais bem pagos do país.’? Alguma vez lhe ocorreu escrever que há dirigentes desportivos que ‘são os inúteis’ mais protegidos do país? Presumo que não, e não tenho qualquer dúvida de que deve entender mais de futebol do que de Educação. Alguma vez lhe ocorreu escrever que os advogados ‘são os inúteis mais bem pagos do país’? Ou os políticos? Não, acredito que não, embora também não tenha dúvidas de que deve estar mais familiarizado com essas áreas. Não tenho nada contra os jogadores de futebol, nada contra os dirigentes desportivos, nada contra os advogados. Porque não são eles que me impedem de exercer, com dignidade, a minha profissão. Tenho sim contra os políticos arrogantes, prepotentes, desumanos e inúteis, que querem fazer da educação o caixote do (falso) sucesso para posterior envio para a Europa e para o mundo. Tenho contra pseudo-jornalistas, como o senhor, que são, juntamente com os políticos, ‘os inúteis mais bem pagos do país’, que se arvoram em salvadores da pátria, quando o que lhes interessa é o seu próprio umbigo. Assim sendo, Sr. Miguel de Sousa Tavares, informe-se, que a informaçãozinha é bem necessária antes de ‘escrevinhar’ alarvices sobre quem dá a este país, além de grandes lições nas aulas, a alunos que são a razão de ser do professor, lições de democracia ao país. Mas o senhor não entende! Para si, democracia deve ser estar do lado de quem convém. Por isso, não posso deixar de lhe transmitir uma mensagem com que termina um texto da sua sábia mãe: ’Perdoai-lhes, Senhor Porque eles sabem o que fazem.’
Ana Maria Gomes Escola Secundária de Barcelos "
Mesmo nas eleições autárquicas votar na manutenção desta gente, esquecendo-nos do engodo em caímos aquando das últimas eleições legislativas é sermos duplamente parvos. A democracia fez-se para que haja mudanças, não que se espere que a situação melhor a curto prazo, mas para que, em conjunto, quem governa e é governado partilhem dos mesmos objetivos geradores de uma unidade de facto de emergência nacional e não de uma qualquer união nacional que apenas garante os interesses de quem está neste momento no poder. |
Ainda desligado dos comentários políticos e dos aparecimento constante e propagandístico do primeiro-ministro nos canais de televisão, contemplo o mar sereno a partir de uma varanda num lugar do algarve fora do reboliço do mês de agosto, preferencial da maioria dos portugueses, não resisti, mesmo assim, de refletir sobre atitudes e comportamentos politiqueiros de quem dirige o governo deste país de quem a a maioria que o elegeu já está farta.
O apego ao poder do primeiro-ministro Passos Coelho, a sua inexperiência política e a falta de competências governativas é uma mistura explosiva quando se trata de governar um país em crise. Teria sido mais sensato se os portugueses tivessem na altura optado por uma solução de, quem provocou a crise que a gerisse e nos fizesse sair dela porque tinha pleno conhecimento das suas causas e consequências. Mas o engodo foi lançado e aqui estamos nós. É bem de ver que a atual liderança do PSD foi impulsionada pela amálgama da direita mais radical do partido e por uma geração de alguns retornados na ânsia de reconquistar poder e dinheiro através do estado.
O Estado para esta gente é demasiado grande e gastador, há que reduzi-lo à sua infíma espécie que apenas sirva os interesses dos políticos e de quem gravita à volta deles. Um estado que sirva apenas os que governam e os que já se alinham para governar.
Querer governar a todo o custo acima das instituições democráticas e das leis fundamentais nunca foi uma boa política para acordos com outros partidos sejam eles da direita ou da esquerda. O mais grave é que o primeiro-ministro para pagamento de favores, porque chegar a uma liderança tem custos, rodeou-se de assessores e conselheiros (?) jovens radicais inexperientes na governação que acumulam incompetências perigosas e com desconhecimento da cultura e sentir da maior parte das populações do país. A prova está nos desaires e desastres políticos e económicos que foram manifestos nestes dois últimos anos, apesar de casos pontuais de algumas poucas medidas positivas.
O que tem valido a Passos Coelho é o CDS/PP, também este agarrado ao poder, com os desaires oportunamente provocados e convenientes, mas que, à custa do partido que apoia se vai enterrando cada vez mais. Por mais que custe a Paulo Portas o CDS sairá mais ferido e enfraquecido do que quando entrou. O PSD dos jovens radicais neoliberais, se não forem neutralizados, se encarregarão disso.
Passos Coelho e a sua trupe de “advisers” parecem desconhecer que governar um país e uma nação não é apenas propaganda partidária concertando saídas e eventos para aparecer à hora nobre nos canais de televisão dizendo as vagas patacoadas do costume. Em vez de unir desune, ora elogiando o que o governo tem feito, mas não fez, ora atacando a oposição por não ir de encontro aos seus caprichos governativos. Como é óbvio o papel da oposição em democracia, é fazer oposição não é participar nos desmandos de quem governa.
Apesar da importância do contacto com o país é no gabinete que se estudam e preparam com tempo e consciência os dossiers para a tomada de decisões e resolução dos problemas para bem coordenar os conselhos de ministros, coisa que Passos Coelho parece desconhecer.
Mesmo nas eleições autárquicas votar na manutenção desta gente, esquecendo-nos do engodo em caímos aquando das últimas eleições legislativas é sermos duplamente parvos. A democracia fez-se para que haja mudanças, não que se espere que a situação melhor a curto prazo, mas para que, em conjunto, quem governa e é governado partilhem dos mesmos objetivos geradores de uma unidade, de facto, de emergência nacional e não uma qualquer união nacional que apenas garante os interesses de quem está neste momento no poder.
Detesto viajar pelas estrada portuguesas durante o mês de agosto, especialmente pelas da Região Centro, Norte e Algarve. A cidade de Viseu e arredores, que visito frequentemente ao longo do ano, tornam-se insuportáveis naquele mês. Desde os anos setenta que é assim quando os emigrantes vêm passar férias às suas aldeias para visitar e apoiar os seus familiares.
Sobre este tema vi o filme A Gaiola Dourada de Rubem Alves que pinta um retrato de psicologia social e da mentalidade dos emigrantes da segunda geração que, no meu ponto de vista, não corresponde à realidade porque habituado a vê-los ao longo dos anos. Catarina D` Oliveira crítica de cinema da Vogue tece sobre o filme afirmando que “Uma das preocupações recorrentes relativas à “Gaiola” prendia-se com a possibilidade de retrato caricatural ou de observações pejorativas e preconceituosas que ainda hoje perduram no imaginário estrangeiro (e não só) sempre que questionado sobre a sua noção do povo português. Enquanto o filme de Ruben Alves nada faz para negar esse estereótipo nem sempre real, a verdade é que decide corajosamente “agarrar o touro pelos cornos”, e vestir essas noções pré-concebidas como uma armadura, usando-as mesmo para exaltar a natureza poderosa de um povo que tantas vezes se perde no seu próprio pessimismo e autocrítica esquecendo a sua grandeza – um pouco como acontece com o próprio filho dos Ribeiro, que afirma sempre com embaraço e temor as raízes.”. Apesar de tudo é um filme que aconselho vivamente a ver o que, eu próprio, irei fazer uma segunda vez para uma leitura com um outro olhar mais atento.
Gerações de emigrantes passaram e passam por aqui todos os anos. As mais novas à semelhança dos que antecederam trazem a sua bagagem recheada de bazófia bem típica do português.
As jovens gerações regressam às origens dos seus progenitores, também eles emigrantes, para reviverem amizades e tomar conta dos seus haveres que por cá deixam e do que, ano após ano vão construindo.
As remessas de dinheiro que enviam ou trazem para Portugal, ao contrário dos seus antecessores que serviam para aforrar preparando os seu regresso à sua terra natal, destinam-se a apoiar os seus familiares tentando minimizar os efeitos da crise que os atingiu. As poupanças já não vêm para Portugal mas ficam no país onde trabalham e vivem. É assim esta geração de emigrantes.
A boçalidade cultural típica do português, essa nada mudou. Quando chegam assumem o seu papel transformista adaptando-se ao meio dos seus conterrâneos mas espaventando o seu sucesso por vezes aparente.
Combinam almoçaradas em restaurantes com os seus familiares e amigos, onde num papaguear misto de franciú e portuga tecem as mais variadas calinadas ao mesmo tempo que repreendem os filhos mais pequenotes num franciú e se viram para os outros convivas em portuga.
Experiência muito pouco edificante foi aquela a que assisti à hora de almoço num restaurante a caminho de Sátão, muito conhecido e frequentado por várias pessoas de vários estratos sociais que procuram iguarias típicas da região. O restaurante praticamente esgotado. Mesas ocupadas por grupos famílias onde se poderiam distinguir crianças, pais, avós e amigos cujas conversas entrecruzadas originavam um bruaá ensurdecedor. Numa mesa ao dado daquela onde me consegui instalar um grande grupo que tinha chegado antes de nós aguardava pelos pitéus encomendados. Já no final da refeição, bem comidos e bem bebidos um dos elementos, ao ver aproximar-se o que eu supus ser um amigo ou conhecido do grupo, à laia de brincadeira (?) lança para o ar em altos gritos um léxico de palavras do mais vernáculo e boçal português de obscenidades que se possam imaginar. E tudo isto, imagine, em presença de crianças e esposas (?) que se encontravam na mesa da suposta família, para não falar nos restantes que se encontram no restaurante. Tudo isto sem que qualquer reparo fosse feito pelas empregadas de mesa. É este o povo que somos, são estes os emigrantes que nos visitam.
Contudo, é bom notar que, felizmente, ainda há exceções e são muitas.
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