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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Li no jornal DIA 15 do mês de junho uma entrevista com António Bagão Félix que foi Ministro da Segurança Social e do Trabalho no XV Governo Constitucional chefiado por Durão Barroso e depois Ministro das Finança XVI Governo Constitucional no tempo em que Santana Lopes foi primeiro-ministro. Embora sem filiação partidária sabe-se da sua simpatia pelo CDS/PP.
Nessa entrevista o Dr. Bagão Félix faz várias afirmações que me parece padecem de uma visão clara e coerente no que se refere a alguns aspetos, mas falha noutros mais básicos.
Bagão Félix poderá ser um humanista que aceita uma visão do neoliberalismo, do meu ponto de vista, enviesado com “rosto humano”. Menos Estado, melhor Estado, é o lema em que a procura de lucros sem limites, responsável pela destruição humana e ambiental, se compatibiliza com a assistência social feita pela caridade cristã.
Quando se está no topo de um pensamento teoricamente elaborado sobre os temas que são colocados numa entrevista e se abdica da perceção e da compreensão do pensamento popular sobre os mesmo temas, o pensamento do nosso interlocutor pode falhar na objetivação de ideias que deveriam e poderiam ser concretizadas na prática. Ideias e pensamento profundos que, apesar de verbalizados por um discurso coerente, mas demasiado especializado e teórico, não chegam “ao céu”, isto é, os cá debaixo, por não ser influenciador.
Vejamos alguns casos simples sobre os quais Bagão Félix reflete com saber e convicção:
Quem pode não concordar com esta afirmação? Claro que, de uma forma genérica, temos de concordar. Primeiro porque a redução do IVA veio inibir receitas aos Estado que poderiam ser canalizadas para outras áreas mais necessárias. Segundo porque a redução do IVA não veio trazer uma baixa dos preços de venda ao consumidor na restauração, como seria de prever. Em terceiro lugar também podemos concordar quando afirma que “a restauração é um bem opcional” que o é de facto. Aqui Bagão Félix esquece-se do povo trabalhador que é um ponto essencial. Devia saber que grande parte dos trabalhadores se deslocam, por vezes, a grandes distâncias para irem trabalhar longe das suas residências por isso almoçar fora é quase obrigatório porque nem todos as empresas têm refeitórios ou cantinas. Por outro lado, há algumas empresas que oferecem subsídios de refeição por isso mesmo.
Compreendo que o dr. Bagão Félix fique incomodado quando quer entrar num restaurante e encontra sempre tudo cheio nos restaurantes que frequenta, mas isso é outro caso! Se estão cheios ainda bem porque foram criados postos de trabalho à custa da procura.
Será que o dr. Bagão Félix gostaria que se voltasse ao tempo de Passo Coelho quando muitos trabalhadores foram obrigados a levar para os empregos marmitas com o almoço o que ainda acontece hoje para certo tipo de trabalhadores?
Estou em plena sintonia com ele. A regionalização tem um caráter decisório-político e pressupõe órgão políticos regionais tais como parlamentos regionais e governos regionais. Num país unitário como o nosso em termos linguísticos e culturais entre outros serve apenas criar “tachos” e aumentar ainda mais a despesa do Estado.
Esqueceu-se o dr. Bagão Félix de falar dos sindicatos. Estamos em democracia e existem sindicatos. Sim, existem pressões e reivindicações sindicais orientadas por esquerdas e direitas e até ordens profissionais que condicionam a reorganização dos setores. Ele sabe bem que, quando algo se pretende alterar ou melhorar, os sindicatos dão saltos e aqui vai greve…
Ou se enfrentam os sindicatos de facto como o fez António Costa ou por mais críticas mesmo construtivas e bem-intencionadas como as do dr. Bagão Félix não há nada a fazer.
Muito haveria para comentar, mas vou finalizar porque já se faz tarde…
A comunidade clerical da igreja católica quando as coisas não lhe correm de feição intromete-se diretamente na política. Neste registo, o cardeal patriarca e os bispos resolveram interferir apoiando a manifestação organizada pela minoria de colégios privados que, segundo a lei, vão perder contratos de associação deixando assim de “sacar” o dinheiro dos contribuintes para manter privilégios de alguns alunos.
Acreditando nos números de pessoas que foram divulgados e estiveram envolvidas na manifestação até parece que todos os colégios participaram. Pensando melhor, e sabendo que há milhares de colégios privados espalhados pelo país, uma minoria tinha contratos de associação e que uns poucos deixaram de o ter pergunta-se donde vieram tantos milhares para o dito protesto sob a proteção dos bispos? A resposta é simples: as maiorias dos “protestantes” que foram mobilizados nada tiveram a ver com as escolas porque, se assim fosse, as ditas escolas privilegiadas que perderam contratos de associação resumiam-se apenas a algumas centenas contando com professores, pais e alunos. Podemos até imaginar as homilias mobilizadoras que, terão sido feitas propagandeando e mobilizando esta operação de ilusionismo. Muitos terão sido recrutados em algumas juventudes partidárias de direita.
A igreja católica é a comunidade dos fiéis da religião católica e os clérigos também a integram, mas estes zelam mais pelo interesse dos seu grupo do que pelo da comunidade, rebanho que dizem apascentar.
Durante o Governo anterior, perante o desastre social que provocou, não vimos a mesma veemência por parte dos clérigos, nomeadamente dos bispos. Antes pelo contrário. Perante os factos deitavam “água na fervura”. Zelam mais pelos interesses que lhes possa trazer, e aos seus satélites laicos, alguns benefícios financeiros às custas da caridadezinha que a tantos estimula o ego.
Não, não sou antirreligioso, nem anticatólico, porque sou um deles, sou antes contra uma mentalidade clerical egocêntrica, egoísta, hipócrita, interesseira da hierarquia da igreja que olha apenas para si e disfarça estes adjetivos com uma falsa caridade e interesse pelo próximo.
Apesar de tudo devemos reconhecer que a igreja católica, enquanto comunidade religiosa, tem prestado contributos em apoios socialmente importantes. Mas num rebanho há sempre ovelhas ranhosas.
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