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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
O CDS deve estar a sofrer da síndrome de charme e não é de agora. Já em 2018 Assunção Cristas, ainda sem sonhar o que lhe iria acontecer, disse numa entrevista alto e bom som que “estava preparada para ser primeira-ministra”.
Ela procurava atrair a atenção dos eleitores mesmo quando sabia que o poder não estaria ao seu alcance, mas poderia tirar alguma vantagem. Uma espécie de prazer como é o ritual da conquista e por pensar ser desejada pelos portugueses para líder do governo do país.
Aliás, a líder centrista elogiou os atributos do candidato centrista durante as eleições para o Parlamento Europeu quando por entre sorrisos da assistência afirmou que o CDS “tem uma cara engraçada”, referindo-se a Nuno Melo, tentando contrapor a diferença com o candidato socialista. O termo sexy, enquanto sinónimo de encanto sedutor e pessoa sexualmente atraente e possuir também um caráter erótico que estimula o desejo sexual e excitante, parece que vai passar a fazer parte do ideário e do programa do CDS.
O novo líder do CDS, Francisco Rodrigues dos Santos, disse na sua intervenção no 28º congresso que “Seremos um partido que se tornará sexy” e que promete devolver a “identidade” ao partido. Será de presumir a identidade sexy?
Ter a arte da sedução e do encanto parece passar a fazer parte do envolvimento político do partido. Temos de ter cuidado senão arriscamo-nos a ser seduzido pelo sexy do CDS.
Voltar a “andar no terreno com uma identidade clara e um rosto visível” são os desejos do “Chicão”, como se o partido, nos últimos tempos, não tivesse um rosto visível quando esses rosto até afirmava que estava preparada para ser primeira-ministra.
A explicação para ser um partido sexy está ali, como nunca. Ele, o novo rosto do partido, diz assim ser por passar a utilizar estratégias de comunicação acutilantes, disruptivas e atuais. Este foi o momento mais sexy do partido. Será sexy também, mas não por defender os valores que não são nossos, disse. Esperem lá, se eu não defender, ao nível partidário, os valores dos outros serei sexy? Humm!
Estamos entendidos, quem quiser apanhar uma dose de erotismo partidário corra ao CDS.
O CDS precisa de construir pontes e não erguer muros, disse, Rodrigues dos Santos, pelo menos ficamos a saber que é suposto estar contra os muros de Trump. Mas é estranho, porque o novo líder do CDS, quando André Ventura sugeriu no Facebook que a deputada Joacine do Livre devia ser "devolvida" ao país de origem, Francisco Rodrigues dos Santos, recém-eleito líder do CDS, depois de uma audiência com Marcelo Rebelo de Sousa, também comentou a relação entre a deputada do Livre e o partido com a frase: “no CDS não existem Joacines". O Livre, partido de esquerda, vê nestas afirmações da direita “contínuos ataques de caráter e referências de índole racista".
Será isto também o sexy a que Rodrigues dos Santos se refere?
As reações sucedem-se e, desta feita, também Adolfo Mesquita Nunes do CDS deixou o seguinte comentário nas redes sociais:
“André Ventura sugere deportar uma deputada à conta de uma proposta discutível e há quem, nos comentários ao meu post anterior, veja na sugestão dessa deportação a verdadeira direita e, o que é pior, nela veja a direita dos valores do CDS. Acham-se muito corajosos e chamam-me de cobarde, como agora é moda. Pois a esses, os da coragem na ponta da língua, só tenho a dizer o seguinte: não quero saber se acham que são de direita ou se acham que são cristãos ou se acham que tudo vale desde que seja para malhar na esquerda, porque cada um acha-se o que quiser, mas há uma coisa de que eu jamais prescindirei, que é do princípio da dignidade da pessoa, princípio estruturante da matriz judaico-cristã e a raiz da igualdade entre os Homens. Cobardes são os que prescindem de princípios estruturantes sempre que a esquerda os enerva, e só porque a esquerda os enerva".
Será que o novo líder centrista vai seguir de perto o Chega deixando a matriz de partido de direita e passar a adotar a da extrema-direita racista e xenófoba? A ver vamos.
Poucos dias antes do congresso do CDS-PP que se realizou no dia 10 de março em Lamego Assunção Cristas andou agitada, expansiva, exacerbadamente otimista, e arrogante por antecipação, com potenciais vitórias do CDS-PP caso venha a concretizar-se uma subida substancial daquele partido nas próximas legislativas. Se tal acontecer deve ser cobrado a Passos Coelho devido à hesitação na escolha de última hora do candidato, neste caso candidata, para a Câmara de Lisboa em 2017.
Os eleitores do PSD que em 2017 não concordaram com a escolha de Passos Coelho para a Câmara de Lisboa terão votado no CDS-PP o que resultou numa subida substancial das suas votações conseguiu 20,59%. No mesmo anos o PSD sozinho obteve apenas 16,07%. Em 2013 o CDS-PP, em coligação com o PSD, obteve 22,37%. Em 2009 a coligação PSD.CDS-PP obteve 38,69%. Portanto o CDS tem andado até agora atrelado ao PSD, ou se coliga ou retira-lhe votos.
O 27º Congresso do CDS-PP confirmou Assunção Cristas como líder e o seu objetivo será o de recolher os votos dos neoliberais (órfãos de Passos) descontentes com a nova direção e orientação ideológica do PSD. Cristas com o seu partido pretende ser líder aglutinadora das direitas e quer liderar a oposição.
Se o PSD com Rui Rio pretende ser o centro-direita o CDS-PP abandona sua a democracia cristã e diz querer também ocupar o espaço do centro direita. Por outro lado, Assunção Cristas poderá vir a perder votos dos desalojados da direita mais conservadora e democrata cristã. Veremos se o CDS-PP irá delinear, ou não, uma estratégia populista, mas tudo aponta para que sim a ver com um programa que parece prestar-se para isso.
Após o congresso do PSD temos assistido a uma espécie de competição entre das direitas que se vão digladiando com vista às próximas eleições.
Assunção Cristas, senhora com cara de menina, quer jogar forte durante o chá canasta que ela pensa irão ser as eleições legislativas e vai dizendo que o CDS-PP é um partido dos ricos, mas do povo, e “faz de conta que o representa”. É certo que, para muitos, emana simpatia, mas isso não chega para governar. Assunção é o engodo para os que votaram em Passos Coelho e não veem com bons olhos a viragem do partido com Rui Rio à sua frente.
Assunção Cristas quer substituir-se ao PSD como grande partido nacional e diz querer fazer do partido a única alternativa "de centro e de direita" às “esquerdas encostadas”, e quer que o CDS-PP seja “o primeiro partido no espaço do centro e da direita sem hesitações sem complexos”, apontando o dedo ao Governo e deixando um recado implícito ao PSD. Em resumo Cristas quer crescer à custa do PSD e afirmou que o tempo de maiorias de um só partido já lá vai! Se o tempo das maiorias de um só partido já lá vai não é o mesmo que dizer que o CDS não terá maioria e que, portanto, terá de fazer alianças? Antecipa no futuro uma possível aliança com o PSD? Assunção Cristas quer mostrar por um lado que o CDS será um partido progressista, mas ao mesmo tempo assume que é a “casa do centro e da direita das liberdades, juntando conservadores e liberais”.
Assunção Cristas assumiu-se como a “primeira escolha” alternativa ao PS. A líder do CDS definiu já os eixos programáticos para as legislativas de 2019: demografia, economia digital e a coesão território como os eixos estratégicos da sua agenda para os próximos dois anos. Nada de novo nestes eixos parecem um plágio de pontos estratégicos de outros partidos nomeadamente os do Partido Socialista.
Após o congresso comentadores políticos conotados como liberais de direita tentam descredibilizar Rui Rio para fazer sobressair Assunção Cristas de modo a contribuir a que Rio perca votos nas próximas eleições. Para tal estão a postos os neoliberais do PSD como Montenegro, os companheiros de infortúnio de Passos Coelho e outros que já estão na fila e que insistem em prejudicar o partido em que militam. O Partido Socialista pode ir consolidando a sua posição.
No PSD, ou há unanimidade e consenso em torno do novo líder Rui Rio, ou vão contemplar, com grande desgosto, o CDS de Assunção Cristas ocupar o seu lugar no espetro eleitoral.
Em fevereiro, segundo o jornal Público, Rio dizia querer vincar é precisamente a ideia de uma “não cedência”. Segundo a nova direção do PSD a ideia do novo presidente é a de “fazer uma rutura com o passado próximo”, ou seja, com a liderança de Passos Coelho - e que “não se desvia do seu objetivo”. Veremos!
A direita PSD e CDS não querem ser de direita, negam que haja qualquer ideologia nas suas opções e colocam-se ambos no centro-direita do leque partidário. Alguns teóricos e militantes do PSD já o fizeram, coube agora a vez do CDS-PP.
A ideologia é um sistema de ideias, valores e princípios que definem uma determinada visão política do mundo, fundamentando e orientando a forma de agir de uma pessoa ou de um grupo social, seja partido ou movimento político, seja grupo religioso ou quaisquer outros.
O princípio que orienta certa direita portuguesa, segundo a voz de alguns dos seus militantes e apoiantes, é que atualmente a ideologia está fora de questão na governação não interessa dentro do partido. Não se pensa em termos ideológicos, mas em termos de realizações e de práticas. Como se, em política, a pragmática estivesse afastada da ideologia! Por mais que neguem existe ideologia de direita assim como há a da esquerda, do centro, seja qual for o arrumo político.
Parece-me ser isto uma iliteracia cultural, muito comum nas últimas décadas no meio de certas juventudes partidárias de direita ou em políticos delas oriundos, para além de ser também uma aberração intelectual que vai até contra o senso-comum. A ideologia é intemporal, sempre existiu e não há o exercício da política sem ideologia. As religiões têm as suas específicas ideologias de ordem teológica.
Todavia, para a direita, interessa que este tipo de mensagem passe. Há uma estratégia que vai no sentido de evitar o pensamento e a reflexão ideológicos para afastar qualquer comparação entre os conteúdos programáticos ou medidas políticas tomadas pelos partidos que não sejam apenas “pragmática”.
Fazer política sem uma base ideológica baseada apenas no pragmatismo que desemboque numa espécie de era pós-ideológica parece-me impossível. A prática e o exercício da política são direcionados para as pessoas e para as nações e afetam as suas vivências sociais e pessoais que, por si só, têm já uma carga socioideológica devido a diferentes visões do mundo. A negação da ideologia não é mais do que uma inadequação desta atitude às necessidades sociais pela prática política.
A atual negação da ideologia pelos partidos de direita relaciona-se com um preconceito porque era um conceito considerado marxista no século XIX. Este preconceito é devido à ignorância cultural dos jovens políticos de direita e está fora do racional porque tudo o que falamos, pensamos e fazemos está marcado por um conjunto de ideias produzidas ou não por cada um de nós. Ainda que sejamos meros reprodutores de reflexões alheias, ainda aí, no âmbito do senso comum, está presente um conjunto de pensamentos que tomamos por verdades especialmente em política.
A negação da ideologia pelos partidos de direita não é mais do que uma pressuposta imposição hegemónica dum outro tipo de ideologia, não manifesta e insidiosa, porque não oculta, como única forma de pensamento possível e de valores tomados como absolutos que parte de um imutável senso-comum. É uma não-ideologia mistificada pela lógica da estabilidade política associada a uma democracia sem densidade onde dominaria o poder financeiro. Sabemos bem onde esta falta de ideologia nos poderá levar.
Assim, a direita ao mesmo tempo que pretende desvalorizar o conceito e se identifica politicamente com a área liberal está, por inclusão, a defender uma ideologia, a sua. A ideologia está em toda a parte, não vale a pena escondê-la porque mais tarde ou mais cedos ela revela-se.
Antes do congresso do congresso do PSD em novembro de 2017 discutiam-se opções ideológicas do partido e Santana Lopes falou em “liberalismo” e procurou fugir aos rótulos ideológicos. Pediu um partido que respeitasse a sua “identidade” e o seu “programa”, mas, sobretudo, “próximo das pessoas”, (confira-se com a posição de Assunção Cristas na sua moção ao congresso do CDS), houve até quem afirmasse que “O PSD é um partido catch-all. Tem vários setores”.
O CDS está a preparar o congresso para março e também, à semelhança do PSD, o CDS pretende esconder a ideologia da sua matriz inicial e substituí-la por outra o exemplo é a moção de estratégia de Assunção Cristas ao próximo congresso que situa o CDS-PP como um partido do centro-direita omitindo a sua matriz democrata-cristã.
Também a questão ideológica é rejeitada por Assunção Cristas apesar de constar na moção da líder recandidata que contrasta com outras moções globais e rejeita a acusação e assume a opção de não carregar a moção com ideologia e a preferência pelo pragmatismo argumentando que essa explicitação doutrinária já consta da sua moção ao congresso de 2016. Mas no partido há quem assuma a posição ideológica e defenda como Lino Ramos, ex-secretário-geral, que defende que “este é seguramente o momento de afirmar o CDS, de regressar às suas origens e de afirmar a democracia-cristã”. Está então aqui a assunção ideológica essencial para as políticas que defende.
A direita PSD e CDS vêm de momento desvantagem assumirem-se como partidos de direita querendo mostrar-se ao eleitorado como sendo de centro-direita. A moção de estratégia global de Assunção Cristas ao congresso coloca o CDS-PP como uma força de “centro-direita”, mas é omissa quanto à matriz democrata-cristã do partido. Isto é, nega que haja uma questão ideológica e, ao mesmo tempo, pretende redirecionar o partido no sentido do centro-direita. Mas afinal o que é isto senão uma tomada de posição ideológica.
A propósito do congresso do CDS-PP do passado fim de semana que culminou com o discurso de Assunção Cristas, eleita como líder do partido, recuperei da minha memória o congresso do PSD onde foi eleito Passos Coelho com 95% dos votos. Este feito que foi por aí muito notado omitiu contudo outra realidade que foi o facto de apenas 46% ditos sociais-democratas é que votaram.
O ar contido e entristecido de Passos Coelho enquanto assistia ao congresso do seu ex-aliado CDS-PP que pretendia mostrar para as câmaras das televisões o seu ar enternecedor era música para os ouvidos de quem ainda o vê como primeiro-ministro no ativo mas por outro lado alguma preocupação face ao discurso de Assunção Crista
Passos Coelho diz, agora, querer que o PSD regresse à social-democracia numa tentativa de abandonar o seu cunho de direita. Neste mesmo local afirmei várias vezes que o PSD com Passos Coelho tinha abandonado a sua matriz social-democrata, o certo é que o PSD sempre foi de direita. O PSD insere-se no conjunto do Parlamento Europeu, juntamente com o CDS-PP, no agrupamento político e partidário que é o PPE - Partido Popular Europeu onde se encontram partidos do centro-direita e conservadores. O Partido Socialista, por sua vez, pertence ao grupo do PSE onde se encontram os partidos sociais-democratas e socialistas, e também partidos trabalhistas dos estados membros como por exemplo o Partido Social-Democrata da Alemanha (SPD) e o Partido Social-Democrata da Áustria, entre muitos outros.
O extraordinário Passos Coelho, resta-lhe apenas o ex, afirmou, quando foi eleito líder, que o PSD é um partido “que não quer gerir o dia-a-dia, que não quer andar para trás, que não quer populisticamente procurar aquilo que é mais fácil ou mais demagógico”, mas antes, com “mais algum esforço, um futuro melhor”. Que é isto senão populismo e demagógico! E isso de não querer andar para trás o que é? Quem quis colocar o país aos níveis de há vintes anos atrás? Sim, já sabemos, foram os outros que obrigaram ao resgate. A direita PSD e CDS-PP utilizam, não raras vezes, para justificarem as suas opções políticas que são em nome dos “altos interesses da nação”. Podemos perguntar quem é, ou o que é para direita o conceito de nação. Será para eles apenas uma pequena parcela da população que pretendem favorecer?
Depois do congresso do CDS-PP Passos Coelho passou a ter dois adversários eleitorais de sentidos diferentes. O Partido Socialista é, por princípio, o que agora o preocupa mas, a médio e a longo prazo, vai ter também que enfrentar o seu antigo parceiro de coligação que irá tentar ocupar parte do seu espaço.
O PSD de Passos Coelho não aceitou a mudança e a sua estratégia de oposição irresponsável não terá sido a melhor.
Recordo-me dum livro milenário chinês que é a Arte da Guerra de Sun Tzu que em determinado passo diz: “O general deve conhecer a arte das mudanças. Se ele se fixa num conhecimento vago de certos princípios, numa aplicação rotineira das regras da arte bélica, se os seus métodos de comando são inflexíveis, se examina as situações de acordo com esquemas prévios, se toma as suas resoluções de maneira mecânica, é indigno de comandar.”.
O CDS-PP de Assunção Cristas enquanto partido de direita está a criar espectativas e não será fácil para Passos Coelho lidar com ela quando chegar a altura própria. Ela irá tentar ocupar parte do espaço do seu adversário mais próximo que é o PSD de Passos Coelho.
Ontem, 15 de março, Assunção Cristas foi recebida por Passos Coelho na sede do PSD com muitos beijinhos e abraços. Passos talvez ainda tenha uma vaga esperança de obter uma nova coligação que o leve de novo ao poder. Espera que nas próximas eleições, quando as houver, terá uma votação confortável, mas Assunção Cristas, a menina “bem” e agora a mais que tudo do CDS irá, nessa altura, fazer-lhe frente para lhe captar algum eleitorado. E começou agora com a tomada de posição sobre o atual governador do Banco de Portugal iniciada no congresso por Paulo Portas.
E termino citando mais uma vez Sun Tzu: “Uma das tarefas essenciais que deves realizar antes do combate é escolher criteriosamente o terreno do campo de batalha. Para isso, é preciso agir rápido. Não permitas que o inimigo tome a dianteira. Ocupa o terreno antes que ele tenha tempo de te reconhecer, antes mesmo que ele possa estar ciente de tua marcha. Qualquer negligência nesse sentido pode ter consequências nefastas. Em geral, só há desvantagem em ocupar o terreno depois do adversário”.
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