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Professores e polémicas.png

 A colocação de professores, tanto quanto me recordo, ao longo dos anos de democracia, esteve sempre sujeito a concurso e os professores provisórios, em concurso anual, selecionavam as escolas mais próximas possível das suas residências e as que mais lhe convinham em função dos critérios definidos.

Parangonas (do jornal Público) dizem agora que professores vão ter de mudar de escola outra vez, como se tal não fosse habitual. Diz o mesmo jornal que "esquerda e direita uniram-se, no Parlamento, para obrigar o Governo a abrir um novo concurso destinado a todos os professores do quadro. A Secretária de Estado alerta que vão ser postas em causa mais de 13.000 colocações".

Parece-me que o objetivo é criar entropias para que tudo corra mal na colocação de professores do próximo ano letivo. Para uns, é motivo para greves, contestações e manifestações lideradas pelo manipulador mor dos professores, o dr. Mário Nogueira. Para outros, a direita, é motivo para explorar o descontentamentos e, através disso, mobilizar professores para oposição ao Governo.

Tendo em conta a educação e os atores mais em evidência no processo educativo que devem ser os alunos, os professores devem deixar a observação do seu umbigo e centrarem-se mais sobre o tema da contextualização e da fundamentação sobre uma nova educação que mais tarde ou mais cedo virá a impor-se. Essa é a reivindicação!

 Manuel A Rodrigues

Março 2013

Educação e professores: contextualização e fundamentação

 - Poderia dizer-me, por favor, qual o caminho para eu sair daqui?

- Oh, mas isso depende muito, minha cara menina, do lugar para onde você quer ir...

- Não me importa muito para onde.

- Neste caso, não importa muito por onde você vá...

Lewis Carrell

Alice nos País das Maravilhas

 

Uma das principais características das sociedades contemporâneas é a rápida velocidade da mudança, donde a necessidade de lidar proactivamente com a mudança ao longo da vida que é marcada pela informação que tem de ser gerida, selecionada e transformada em conhecimento, pelo que se impõe uma mudança de paradigma educacional (Fullan, 1993).

Deste modo os professores precisam de ter clareza sobre o caminho educativo por onde querem ir. Isto significa que é preciso que, cada educador, se indague sobre o tipo de pessoa que pretende ser e sobre o tipo de sociedade que deseja ajudar a construir.

Numa sociedade, em processo de mudança acelerado, cada dia mais voltada para a tecnologia, é preciso refletir sobre se querem ajudar a construir sujeitos ativos, transformadores ou meros sujeitos passivos, recetores de conhecimentos.

A Sociedade da Informação exige novos conhecimentos, novas competências e novas práticas o que se reflecte numa necessidade de formação e aprendizagem permanentes que não se adequam em termos de tempo espaço com os atuais modelos praticados ainda na maior parte das escolas. A abertura à receptividade e à mudança inicia-se nas escolas e nas universidades, para que seja dada resposta à necessidade de professores mais flexíveis e dinâmicos.

É função inerente  dos professores contribuírem para a melhoria dos processos de ensino-aprendizagem, e o seu alargamento a grupos populacionais afastados geograficamente das Escolas e Universidades, pelo que existe a necessidade de desenvolvimento de conteúdos educacionais específicos para este tipo de ensino em quem as redes sociais podem ser um instrumento de comunicação  que  assumem um papel fundamental.

Por outro lado, os professores devem centrar-se eles próprios na importância da necessidade de educação/formação ao longo da vida decorrente da constante produção de novos conhecimentos, dinâmica que professores e escolas devem estar conscientes pela necessidade que se impõe no ensino e na aprendizagem.

Harasim, et al (1995) refere algumas investigações efetuadas em vários países desde a década de oitenta, que tiveram como base a utilização do correio electrónico, com crianças do ensino básico que se corresponderam com crianças do mesmo ou de outros países. Outras investigações pretenderam saber até que ponto a escrita dirigida para audiências reais através da socialização virtual poderia, ou não, melhorar a escrita, tendo concluído com resultados positivos.

Desde então as aulas em rede têm florescido, tirando vantagens das novas comunicações em rede para incluir discussões, projectos, pesquisa em actividades científicas, ambientais, sociais, políticos e económicos, etc..

Os professores precisam, então, ter um norte, um horizonte que os oriente. Quando o professor tem clareza sobre onde quer chegar, encontrará teorias que o ajudem a descobrir o melhor caminho para lá chegar. Se o horizonte da escola é a busca da construção da cidadania, serão procuradas respostas sobre o caminho a seguir com os alunos e espaços da construção de conhecimentos de forma autónoma e solidária.
Técnicas e métodos significam muito pouco se não se tem um horizonte em vista.
Cada professor terá de saber onde quer chegar. Sabendo o ponto de chegada fica mais fácil traçar o roteiro da viagem com os alunos.

Até há pouco tempo os currículos organizavam-se de forma disciplinar. Disciplinas estanques, sem integração entre si, eram discutidas com os alunos, através de conteúdos isolados, com finalidade em si próprios.

Atualmente, cada vez mais, os professores têm a oportunidade de poder articular entre si os conhecimentos das várias disciplinas, com maior razão quando se trata da formação de professores para o 1º Ciclo do Ensino Básico que irão exercer a sua actividade em regime de monodocência. Os professores devem repercutir na sua atuação devem evitar sempre tal for possível, discutir conhecimentos desvinculados da vida e fragmentados entre si.

A realização de práticas interdisciplinares depende de factores como sejam a humildade, a comunicação, espírito crítico, criatividade, compromisso e trabalho em equipa, que são pouco comuns nos espaços educativos das escolas sejam organizados segundo princípios de segmentação temporal, espacial e programática.

Os conteúdos das disciplinas tendo como eixo os princípios educativos e núcleos conceptuais, deveriam interpenetrar-se num todo harmónico e pleno de significado para os alunos, pelo que a interdisciplinaridade poderá ser uma via para atingir estes objectivos. A interdisciplinaridade exige uma mudança radical e uma flexibilidade para aceitar a inovação o que gera um confronto com as estruturas montadas, com a acomodação, com os dogmatismos e preconceitos ideológicos.

Não existindo aquela “ruptura” continuará a existir uma instituição cujo espaço e o tempo não coincidem com o espaço-tempo da cultura atual, que tenderá a manter-se anquilosada pelos discursos ideológicos conservadores da direita e da esquerda para se manter o status quo que lhes mantenha o poder de mobilização reivindicativa dos professores destituídos do interesse dos alunos

A vida moderna caminha cada rapidamente para a eliminação de fronteiras nos campos económico, político e cultural. O desenvolvimento das telecomunicações e das redes sociais e outros novos media vieram atenuar os limites geográficos. As ciências, progressivamente integram conhecimentos de várias áreas. A medicina, por exemplo, já incorporou ao seu campo de actuação princípios da moderna física, avançando na medicina nuclear. A agricultura tem beneficiado da engenharia genética. O mesmo deve acontecer em educação. Assim sendo, um professor de Geografia, por exemplo, não se pode isolar, nos limites de sua disciplina, sob pena de continuar a lidar com o saber de maneira fragmentada e desarticulada.

Não basta que alunos e professores, sejam capazes de realizar apenas procedimentos elementares nas suas aprendizagens, mas que desenvolvam também competências de aprendizagens transdisciplinares com um tempo significativo de prática sem afastamento das competências e objetivos curriculares venha a garantir aos alunos a transferência das aprendizagens e autonomia.

A perspetiva interdisciplinar visa preparar/formar alunos para novos ambientes de aprendizagem cuja vantagem se insere numa auto-formação ao longo da vida.

Experiências anteriores em redes de aprendizagem demonstraram que podem ser obtidos benefícios significativos na educação.  A qualidade das interações pode ser aperfeiçoada e melhorada, pois que, a interação, através de redes, ajuda a quebrar as barreiras e inibições da comunicação que limita a troca aberta de ideias nas salas de aula tradicionais (Eisenberg e Ely, 1993).

Os professores que participam em comunidades profissionais de aprendizagem envolvem-se em reflexões e debates acerca do impacto que as tecnologias têm nas suas práticas e nos seus alunos (Shapiro eLevine, 1999). As ferramentas de cooperação “online” utilizadas em comunidades de aprendizagem e desenvolvimento profissional   podem ser usadas para o diálogo e para produção de produtos pelos professores para análise e discussão e avaliação entre os diferentes elementos do grupo. Daqui a lógica, que tem em conta o desenvolvimento dos professores para adquirirem competências no domínio do ensino on-line para que o possam utilizar para si ao longo da vida preparando também os seus alunos com a fluência necessária nestes domínios.

 A internet proporciona um nível motivacional muito elevado para professores e alunos que interagem com o computador com entusiasmo, o que falta normalmente nas aulas mais convencionais, estimulando ao mesmo tempo a partilha de ideias com outros colegas quer professores quer alunos.

A decisão para a adopção educacional de redes fundamenta-se segundo Kaye (1991) em desenvolver oportunidade para estabelecer interacções sociais como os seus parceiros.

Já em 1993 Harasim e Yung, num levantamento efetuado na Internet entre 240 professores e alunos, 70% mudaram a forma como eles viam a educação. Em 176 respostas à questão sobre o que é diferente na comunicação mediada por computador é diferente das aulas tradicionais 90% foram respostas positivas e notavam que:

  • O papel do professor mudava para o de facilitador e orientador;
  • Os alunos eram mais activos e participativos e as discussões eram mais detalhadas e profundas;
  • Os alunos tornavam-se mais independentes;
  • O acesso ao professor torna-se mais directo e como pessoa idêntica;
  • A aprendizagem torna-se mais centrada no aluno, e ao seu próprio ritmo;
  • A oportunidade de aprendizagem para todos torna-se mais equitativa e as interacções entre o grupo aumentam significativamente;
  • O ensino-aprendizagem é colaborativo;
  • Há mais tempo para refletir ideias e explorá-las;
  • A hierarquia professor-aluno é quebrada e os professores aprendiam e os alunos ensinavam.

As interacções on-line partilham muitas das características com o modelo da educação presencial, como sejam a entrada de ideias discussões de turma, debates, e outras formas de conhecimento através da troca de ideias. O conteúdo do currículo pode ser organizado por tópicos sequencial e atempadamente, e os alunos podem trabalhar em pequenos ou grandes grupos e individualmente. Desta forma os ambientes on-line facilitam o resultado da aprendizagem sendo iguais ou superiores aos gerados em situações presenciais. (Hiltz, 1994; Wells, 1990)

 

Bibliografia

Eisenberg, M. B.; Ely, D. P.

1993, Plugging into the Net. ERIC Review 2(3), 2-10

http://www.kidsource.com/kidsource/content2/ how_can_computer_network.html

Harasim, L.; Yungt, B.

1993, Teaching ans Learning on the Internet. Department of Communication, Simon Fraser University, Canadá

Hiltz, S. R.

1994, The Virtual Classroom: Learning without Limits via Computer Network. Human-Computer Interactions Series, Norwood, Ablex Publishing Corporation

Wells, R. A.

1990, Distributed Training for the Reserve Component: Remote Delivery Using Asynchronous Computer Conferencing, Idaho National Engineering Laboratory.

Shapiro, N. S.; Levine, H. J.

1999, Creating Learning Communities: A practical guided to winning support, organizing for change, and implementing programs. Josey-Bass Publishers, Inc, Sam Francisco

Fullan, Michael

193, Changes Forces, The Fal~mer Press, London

Gaspar, Maria Ivone

2001, Ensino a Distância e Ensino Aberto – Paradigmas e Perspectivas, Perspectivas em Educação, Nº especial, Junho 2001, U.Aberta

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publicado às 17:18

Zombies

por Manuel_AR, em 16.10.14

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Há zombies que de vez em quando saem das profundezas predestinados a atormentar as vítimas sobreviventes dum regime em estado de decomposição, qual série televisiva "Walking Dead" onde os sobreviventes da destruição têm conhecimento limitado sobre o que realmente está a acontecer e lutam desesperadamente para se manterem.

Numa analogia com a série nós somos os sobreviventes que somos rodeados de informação confusa com que dia-a-dia nos confronta um Governo em estado de decomposição que nos arrasta também para um estado de mortos vivos. Veja-se o caso do Orçamento para 2015.

Mas agravando a situação o Presidente da República surge de vez em quando sorumbático a tentar inocular à população ameaçada pelo veneno zombie mensagens falaciosas tendo sempre em vista auxiliar o Governo zombie a branquear os seus elementos apesar da incompetência factual.

Estão desta vez em causa as declarações do Presidente da República sobre o desastre que está a ser o arranque do ano letivo.

Com grande pesar critica o que aconteceu na colocação de professores, todavia aligeira o facto dizendo que "alguns professores viveram tempos de angústia sem saberem onde é que iam trabalhar". O pormenor de "alguns" é relevante, claro que não foram todos, mas a utilização do advérbio é a minimização do facto. Não foi apenas a angústia de não saberem onde iam trabalhar, mas o também saberem se teriam ou não colocação, o de terem organizado as suas vidas em locais onde ficaram colocados vendo-se depois obrigados a ir para locais diametralmente opostos ou até de ficarem sem colocação após terem tido despesas.  

O senhor Presidente afirma que "estes problemas são recorrentes". Quem lhe terá prestado tal informação? Deveria ter conhecimento que nada de comparável aconteceu durante trinta e tal anos a não ser no tempo de Santana Lopes, um Governo de coligação do partido PSD com o CDS/PP quando era ministra da educação a também incompetente Maria do Carmo Seabra. Os problemas pontuais e ocasionais que tem ocorrido não têm relevância significativa e em nada são comparáveis ao caos destes dois. Portanto o senhor Presidente refere-se a coisas incomparáveis. Cavaco Silva sem querer denuncia-se e coloca-se no campo de presidente de alguns portugueses. Estrategicamente e sem se o explicitar apoia a degradação da escola pública que é um dos objetivos de Nuno Crato. A estratégia é conhecida, por tudo em estado de sítio para depois vir dizer que o ensino público está de tal maneira que é melhor privatizar. O mesmo para outras áreas públicas, o que leva a desconfiar que tudo isto não foi erro mas premeditação.   

Assistimos a mais uma tentativa de desculpabilização e apoio dado a este Governo pelo Presidente da República. Parece estar implícito que pelos vistos o Ministério das Educação não tem que resolver assuntos destes e pelo modelo de Nuno Crato nem deveria resolver nenhuns. A educação pública deveria implodir de vez e aí ele já não teria problemas.

De seguida Presidente comenta o modelo de colocação de professores justificando com o caso inglês (porque teve filhos a estudar em Inglaterra) a descentralização da colocação apoiando apoiar descaradamente a política deste ministro. Pede mais reflexão sobre um tema do modelo de colocação de professores que está mais que refletido para ganhar tempo. O senhor Presidente deveria saber que cada país tem a sua cultura própria e que a democracia existe naquele país há quinhentos anos. Por outro lado é um país onde os favoritismos e os compadrios são a exceção. Em Portugal um modelo de colocação de professores descentralizado, se não houver critérios bem definidos, poderá dar lugar a colocações por amizade, conhecimento ou outras formas.

Enfim são intervenções lamentáveis a que o senhor Presidente da República já nos vem habituando.

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publicado às 23:59

Impunidade.png

O que se passa na justiça e na educação não são apenas casos  técnicos mas também de substancia política que o governo e a maioria que o apoiam tentam futilizar, continuando a manter-se na senda da impunidade como se tem visto neste país.

O que está a passar-se no ministério da educação com a colocação de professores é um escândalo e um atentado à vida profissional de um grupo social, não apenas no que se refere aos problemas técnicos, mas sobretudo por ser um caso político nunca visto. Nem no tempo da ministra da educação Maria do Carmo Seabra, no curto governo de Santana Lopes, se verificou tal confusão apesar dos graves problemas na colocação de professores que houve na altura.

Como cientista (?) o ministro Crato deveria saber que, quando se mexe bruscamente na essência de um sistema, pela característica do globalismo ou totalidade, uma ação que produza mudança bruscas e não refletidas numa das unidades dum sistema há uma grande probabilidade de produzir mudanças em todas as outras unidades. Foi o que se verificou quando quis aplicar no terreno ideias pré-concebidas e pouco refletidas mandou executar uma alteração profunda às características do sistema de colocação de professores que estava a funcionar bem. Tomou a decisão de avançar com uma modificação apressada sem acautelar o tempo necessário para a sua implementação e teste em todas as variáveis de funcionamento criando entropias no sistema.

O problema não foi bem estruturado por não ter sido claramente definido, pois uma ou mais das variáveis envolvidas não foram determinadas com confiança, daí a grande probabilidade de falhanço. O ministro Crato criou um problema técnico e, ainda mais grave, um problema político.

O primeiro-ministro entre os seus apoiantes é tido como determinado. Confundem determinação com teimosia e com obstinação na persistência do erro que é a força de vontade dos fracos. Os problemas não se resolvem com quedas de ministros e de governo mas há ministros cuja a noção que têm da responsabilidade é pobre.

Não é de estranhar que Nuno Crato não seja demitido, pois, de acordo com Luís Osório no editorial do Jornal i diz que, a propósito da Tecnoforma, Passo Coelho "afirmou no parlamento que não levantava o sigilo bancário porque isso seria fazer a vontade voyeurista aos jornalistas". Que ilações se tiram daqui? Que ele ou qualquer ministro podem fazer o que quiserem que ele não satisfará quaisquer vontades mesmo que as mesmas prejudiquem largos setores do país. Olha apenas para a sua imagem (tal como Presidente da República Cavaco cuja dita está de rastos), quer mostrar que tem coragem mas esta não é a prioridade. Por isso, continua Osório, "não é de estranhar que Crato não seja demitido. Acontecerá apenas quando a situação estiver normalizada. Só depois, e seguramente a pedido do ministro…".  Eu direi que não que não demitirá qualquer ministro porque, neste momento não haverá ninguém que queira aceitar qualquer lugar no Governo a menos que se queira autodestruir. Está em causa a sobrevivência do governo que o Presidente da República apoia com ambas as mãos e ao colo, mesmo sabendo que está em cauda a credibilidades das instituições, nomeadamente a educação pública que Crato, talvez por revanche de tudo o que é passado, e com o apoio do seu chefe do executivo, quer fazer implodir e descredibilizar. A impunidade em Portugal está para durar.

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publicado às 17:19


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