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Ao publicar no blogue o artigo de opinião, da autoria de Clara Ferreira Alves, publicado na Revista do jornal Expresso, não significa que esteja de acordo com tudo os que ela escreve. O artigo merece aqui espaço pela acutilância da sua escrita sobre o que se passa na atual política nacional e internacional e numa altura em que os populistas radicais de direita andam a colocar em perigo as democracias.

Aqui fica o artigo de opinião.

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 20/11/2020) e (no blogue Estátua de Sal)

“A política é um capítulo da moral e por isso estamos aqui” Sophia de Mello Breyner (Sessão de apoio ao Solidariedade da Polónia, promovida por Mário Soares nos anos 80)

Apontando a “urubuzada de prato cheio”, Jair Bolsonaro atesta que é tempo de o Brasil deixar de ser um “país de maricas” e de ter medo da covid. “Toda a gente tem de morrer” diz o másculo profeta que compara os jornalistas a um bando de abutres ou urubus. Quase 170 mil mortos mais tarde, aqui chegámos no país irmão. Pode ser que haja um cidadão a achar graça a Bolsonaro, gabando-lhe o estilo solto e incorreto que cai muito bem nas redes e nas seitas. Pode ser que haja um cidadão que veja neste chefe de caserna um labrego moralmente responsável por milhares de mortos no país. E não vamos falar da destruição das florestas da chuva da Amazónia. Nenhuma das duas definições apaga a principal característica de Bolsonaro, a ignorância aureolada de estupidez. Sim, Bolsonaro é um estúpido, ou boçal, ou bestial (de besta), ou entupido, ou grosseiro, ou falho de inteligência e delicadeza, segundo a velha definição do dicionário. Bolsonaro é idiota, imbecil, estólido, estulto. É um asno na definição popular que compara o estúpido a um animal inocente como o burro, que de estúpido nada tem. Disse Einstein que só havia duas coisas verdadeiramente infinitas, o universo e a estupidez humana. E sobre a infinitude do universo, não estava certo. A estupidez está descrita clinicamente, e tem leis que a regem descritas por Carlos Cipolla. É uma verdade científica a sua existência, embora possa ser empiricamente apreciada com facilidade. E é subestimada, ao subestimar-se o número de indivíduos estúpidos em circulação. Cipolla, historiador da economia e medievalista, preocupou-se em distinguir o estúpido do ingénuo, com o qual pode ser confundido com benevolência. No exemplo de Bolsonaro, a ingenuidade não entra. Neste mandarim detetamos a luz bruxuleante dos parcos atributos escoados numa política assassina. Bolsonaro é um estúpido clássico promovido muito acima da sua competência num país com uma subclasse sem instrução e uma classe superior instruída na corrupção, no oportunismo e na manipulação que autorizem a manutenção da subclasse num estado supersticioso, iletrado e miserável. Uma perfeita sociedade pós-colonial que se julga moderna e civilizada. Um chefe de uma democracia europeia ocidental não pode nem deve ignorar isto. E não pode nem deve aliar-se a isto, sob pena de trair tudo o que postulam a constituição, o Estado de direito e a liberdade de expressão. Sob pena de trair a democracia ocidental tal qual a conhecemos e construímos, desde Atenas. No dia 8 de agosto deste ano, lemos a notícia de que André Ventura foi recebido na residência de Duarte de Bragança, na companhia de Diogo Pacheco de Amorim, vice-presidente do Chega. Na reunião, os dois foram pedir a interceção do duque de Bragança para chegarem a Bolsonaro, que admiram. O candidato à Presidência da República de Portugal admira também o nacionalismo de uma dinastia defunta, a de Orleães e Bragança, que no Brasil apoia Bolsonaro. O candidato a presidente admira as monarquias, e parece que queria ainda “estabelecer contacto com a monarquia de Marrocos e as casas reais europeias”. A desenhar a ponte brasileira, estava o deputado italiano Roberto Lorenzato, descendente de aristocratas, íntimo de Matteo Salvini, o líder fascista italiano, e de Bolsonaro, tendo apresentado os dois. Podemos concluir que esta gente é política e afetivamente próxima. Salvini é não um idiota clássico, é um fascista clássico, sem a cultura do Mussolini que lia livros e ouvia ópera. Descontando as contradições entre monarquia e república, e a vassalagem a monarcas destituídos, o que se retém deste estranho encontro é o tráfico de influências e a vassalagem a Bolsonaro, a que Ventura e afins reconhecem atributos. Isto, por si só, deveria ter feito acender todas as luzes vermelhas e campainhas de alarme de Rui Rio, um chefe de um partido que dá pelo nome de social-democrata. Diz-me com quem andas dir-te-ei quem és, diz o povo. É com os estúpidos que Rui Rio resolveu aliar-se, comprometendo o programa do partido fundado por Francisco Sá Carneiro e traindo os eleitores, todos os que não se reveem na aliança de António Costa com as esquerdas e que são de centro-direita ou de direita clássica, a direita democrática e historicamente pró-europeia, a direita liberal secular ou cristã que não aprecia as ditaduras e que fundou a democracia em Portugal. A direita que acredita na liberdade, na prosperidade e na paz social, e que detesta a demagogia, a revolução e o extremismo. Nenhuma das escusas da praxe desculpam este PSD. António Costa teve uma oportunidade de, a bem do interesse nacional, ter chamado o PSD de Rui Rio como parceiro para um acordo de regime. A situação trágica do país assim o exigia. Num assomo de estupidez que pagaremos caro, Costa resolveu que era outra vez de esquerda e podia dispensar o PSD. E o PSD, posto fora da mesa, aproveitou a oportunidade para, numa estupidez orgástica, aliar-se nos Açores a um partido como o Chega, que não passa de uma cortina de fumo democrático num movimento sustentado pela iliteracia, a pobreza e o populismo autocrático. Costa e Rio traíram as expectativas dos eleitores e traíram o país quando, na história da democracia portuguesa, o país mais precisava que se entendessem. Não subestimem a gravidade da crise económica que vem aí e a gravidade da crise política que se sobreporá. Não subestimem a raiva que fervilha por aí, o desespero, o cansaço, a depressão. E com este país doente, Costa e Rio resolveram tornar-se em inimigos e cavar trincheiras. O Chega não é nem será um partido de matriz democrática, é um partido que alinha com Salvinis e Bolsonaros. E que, instalado no coração da democracia, tudo fará para a destruir ou falsificar. Podemos exemplificar com vigor no caso de Trump e das eleições americanas. E do golpe populista contra a democracia. Quando Trump foi eleito, fui urubu. E fui das raras pessoas que avisaram que um dia isto iria acontecer. Participei em debates e programas onde me foi dito que era necessário dar uma oportunidade a Trump e que ele seria presidenciável assim que assentasse o traseiro na Sala Oval da Casa Branca. Estes são os ingénuos, que não devem ser confundidos com os estúpidos, mas facilitam a vida dos estúpidos. Rui Rio não pode alegar ingenuidade. Nem, noutro assomo de estupidez à Chamberlain, esperar que o Chega fique “mais moderado”. Rio aqueceu o ovo da serpente. Ou o PSD se vê livre de Rio, ou Rio tentará ver-se livre do histórico PSD e erguerá um partido à sua imagem e semelhança, um partido instrumental e sem princípios, um partido antidemocrático e caudilhista. Para começo de festa, Rio e Bolsonaro estarão de acordo numa coisa, ambos detestam a urubuzada.

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publicado às 17:15

Deixar a bonacheirice de vez

(Clara Ferreira Alves, in Expresso, 06/06/2020)

Clara Ferreira Alves

Em Portugal, nação valente e imortal, morre-se clandestinamente. O Presidente e o primeiro-ministro andam por aí em concertos, almoços e praias como se nada se tivesse passado, no torvelinho de regras de desconfinamento que obedecem a conveniências económicas e a contraditórias indicações da nova autoridade sobre as nossas vidas, a DGS. Posso ir ao Campo Pequeno, não posso ir à praia nem ao ginásio. Para as vítimas de covid, nem uma palavra pública e sonante.

Nem um ramo de flores. Como sempre, envergonhado, horrorizado pela sua condição de pobreza ou de doença, ou das duas, o país fez de conta que nada se tinha passado. Há enterros de covid clandestinos, morreu de quê, ninguém sabe, e pessoas que estiveram doentes e fingem que nunca estiveram doentes. Psicologicamente, os danos permanecem invisíveis e confinados, dentro das famílias. O atavismo faz de nós sobreviventes medrosos e clandestinos. Ninguém conhece ninguém que tenha morrido de covid, não vá dar-se o caso de sermos confundidos com putativos portadores do vírus. Teve uma pneumonia, não era covid, era outra coisa. Em Portugal, tudo é sempre outra coisa.

Ao contrário de países onde os mortos tiveram um rosto e um nome, aqui tornaram-se o que só acontece aos outros. Uma psicóloga veio dizer que era melhor assim, para não traumatizar. Os ricos têm horror de dizer que apanharam, exceto se tiver sido “na neve”, chique, e os pobres têm horror de perder qualquer coisinha. Incluindo o emprego ou o subsídio. Quanto aos trabalhadores da saúde, não sabemos quem teve e não teve. Nem quantos, nem onde, muito menos porquê.

Há uma razão atávica para isto, classista e estratificada na consciência coletiva, que aprecia a clandestinidade como um serviço público, assim tendo sobrevivido ao apagão da História secular e a uma ditadura, e uma razão turística para isto. Quanto menos se souber sobre o covid em Portugal, melhor. Por mais que este período aconselhasse recolhimento intelectual e pensativo sobre o futuro, sobre o clima, o ambiente, o modelo, a infraestrutura, o uso dos fundos europeus, sobre a educação e a saúde públicas, a agricultura intensiva e os usos e abusos da mão de obra imigrante, sobre as terras, as águas e o ar, sobre os meios de transporte, o que vai acontecer é o que costuma acontecer. Lisboa como a grande estalajadeira da Europa e do mundo, e Portugal como lar de terceira idade para pensionistas ricos.

O Presidente veio anunciar uma “boa notícia” lá para agosto, quando estivermos entretidos na fila do semáforo para a praia. Champions, um campeonato de futebol, pode vir cá parar. Estamos salvos. O país da Web Summit e das magnas reuniões e cimeiras, do turismo religioso e laico, o país dos estádios e recintos, marcha em frente com glória. Venham os turistas, infetados ou não porque o aeroporto vai abrir sem restrições, venham todos, somos o país covid free. Os mortos não falam. Há para aí uns surtos, em regiões sem interesse para o turismo, nos subúrbios de Lisboa e nos meios de operários e imigrantes. Estamos salvos.

A qualidade do ar em Lisboa, cidade verde, não esqueçamos, que nunca foi boa conforme atestam os medidores mundiais, em breve vai voltar a ser péssima e altamente poluída porque os carros regressam em força, e as horas de ponta também. Se pensam que meia dúzia de pistas de bicicletas vão mudar isto, pensem duas vezes. Com o desespero acrescido da paragem forçada, vamos ter o abandono de todas as regras e o salve-se quem puder. Mais alojamento local, mais barato, mais turismo, mais barato, mais voos, mais carros, mais poluição. As lojas grandes não podem abrir, dentro dos aviões voa-se lado a lado. E os turistas vão desembarcar, claro. Covid free, não esqueçam. O que são mil e tal mortos? A Grécia, menos mortos e infetados, acolheu já um avião do Qatar (a Qatar Airways nunca parou e o hub de Doha também não, sendo agora o único hub ativo da Ásia) com 12 pessoas com covid lá dentro. E recuou. Imaginem o movimento entre Portugal e o Brasil. Ou Espanha. Não interessa, covid free, enfiem-se dentro dos carros porque os transportes públicos são perigosos, e venham trabalhar. Em agosto, podemos ter Champions. E estamos em saldos.

O turismo vai ser repensado? Não. Podemos continuar a depender do turismo low cost e que consome escassos recursos naturais? Não. É assim a vida, a nossa vocação não é inventar, é servir.

Depois de tantos meses de sacrifícios e privações, regressar à normalidade significa o quê? Regressar à normal normalidade de ver Lisboa histórica convertida num parque temático onde não existia uma casa para arrendar e os alojamentos locais se tornaram, com a famosa hospitalidade, o único modelo de negócio? Ouvir as rodinhas no empedrado, esbarrar nos tuk tuks e ouvir os aviões aterrar e descolar da Portela de dois em dois minutos? Abrir as portas de par em par a todos os estrangeiros que queiram fugir de países infetados? A Tailândia, que depende mais do turismo do que nós, não abrirá à Europa e aos Estados Unidos antes do último trimestre, para acautelar novos surtos, e nós falamos de estabelecer corredores bilaterais com o infetadíssimo Reino Unido, que ultrapassou os 50 mil mortos. Aproveitando o facto de a Espanha exigir quarentena e que baixe o britânico número de mortos e infetados. Corredores bilaterais significam apenas que os ingleses desembarcam quando e como querem em Portugal, sem serem maçados pela vigilância. E nós desembarcaremos no Reino Unido? Não, obrigado, podem ficar com as praias. Ninguém por aqui passa férias em Margate ou Blackpool. E, se vier o ‘Brexit’, cada vez mais hard devido à incompetência épica de Boris e amigos, abriremos corredores nos aeroportos, para não serem maçados com a fila dos não europeus. Lá para o sr. D. Fradique é o que quiser. É este o interesse da pátria. Temos o Algarve à disposição de Vexas. E damos a água para o golfe.

Apreciar-se-ia um plano económico de um Governo que respeitasse o ambiente, diversificasse do turismo para outras formas de criação de riqueza e de investimento, pusesse um travão no desenvolvimentismo sem regras e sem gosto, preservasse regiões do Norte e do Alentejo (o Algarve perdeu-se), cuidasse do interior e das zonas costeiras, diminuísse a selvajaria imobiliária e especulativa das capitais e dos capitais e pensasse, por uma vez, não nos estrangeiros mas nos portugueses. Nos que pagam impostos e não nos que não pagam impostos. Usando os fundos europeus não para meia dúzia de compinchas do crony capitalism, ou para empresas e empreendimentos fictícios, para enriquecimento sem causa e para obscuros negócios escorados na banca e aconchegados nos escritórios da advocacia milionária.

Deixemos de vender o país a retalho a quem quer comprar, a angolanos e chineses, e de vender os esmaltes e joias. Portugal tem uma nova geração qualificada e empreendedora que não obedece às regras do passado e ousa arriscar. Está na altura de deixarmos de exportar os cérebros e empreendedores que educámos e qualificámos, os verdadeiros champions, e importarmos turistas baratos e capitalistas infames. De deixarmos de vez a bonacheirice, a relassa fraqueza que nos enlaça a todos nós Portugueses, nos enche de culpada indulgência uns para os outros e irremediavelmente estraga toda a disciplina e toda a ordem.

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publicado às 12:11

Os almofadados

por Manuel_AR, em 18.03.14

Será que já não se pode, nem deve, discutir os problemas do país por causa dos mercados?

Será que já não se pode apresentar alternativas diferentes do poder estabelecido?

Será que passou a haver uma censura, já não através do lápis azul, mas de pressões de outra natureza por causa dos mercados, da Merkel ou de qualquer outra desculpa?

 

O manifesto "Preparar a Reestruturação da Dívida" provocou no primeiro-ministro e nos setores neoliberais uma polémica desnecessária, nomeadamente nos comentadores e jornalistas que apoiam e defendem as medidas do Governo.

Escreveram-se e verbalizam as maiores atrocidades e disparates, algumas ofensivas, sobre as personalidades que subscreveram o manifesto, para além de mentiras descaradas ditas por irritadiços jornalistas dos jornais económicos onde a falta de isenção foi mais do que evidente.

Foi longe demais o descaramento ao expressarem nos seus comentários sectários, frente às câmaras de televisão, mentindo sobre o conteúdo do manifesto deturpando o seu sentido e acrescentando da sua lavra o que muito bem entendiam para confundir a opinião pública.

Estes sujeitos sabem que aqueles para quem falam e escrevem não têm acesso ao documento ou, não têm a formação suficiente para o descodificarem e, por isso, reservam-se o direito de fazer interpretações falseadas do seu conteúdo. Para o confirmar bastaria que fosse lido com atenção.

Clara Ferreira Alves, no último programa Eixo do Mal, foi clara no seu esvoaçar de borboleta, desta vez, fazendo voos de toca e foge às posições defendidas por Passo Coelho no que respeita ao momento próprio para o manifesto que, segundo ela, já devia ter sido feita há mais tempo e referindo-se à Alemanha como a "Grande Alemanha". Até falou em "haircut" da dívida coisa que nem está no manifesto. É notório, ao longo dos programas, o seu esvoaçar de pensamento errático não clarificando a sua posição. Como ainda não tem almofada procura uma com todo o afinco.

Jornalistas e comentadores têm o direito e a liberdade de exprimirem livremente a sua opinião dentro de uma ética e moral que não agrida a liberdade dos outros, o que nem sempre é praticado.

Aqueles a que me refiro defendem até à exaustão Passos Coelho e as suas políticas, e enodoam a maior parte das vezes a opinião pública com propaganda descarada, na expectativa de poderem obter uns cargozinhos pagos à custa dos nossos impostos. Veja-se a o caso de Pedro Lomba.

Mas há mais, por exemplo Henrique Raposo, nas suas opiniões demagógicas, às vezes futurológicas, transforma o manifesto como se fosse uma discussão menorizada sobre as reformas dos que a assinaram, o que revela a pequenez duma mente que avalia a dívida portuguesa, que é grave e necessita de alternativas, como uma questão de receber ou não receber reformas. Este escriba de opiniões tem responsabilidades porque escreve no Jornal Expresso. Apesar de muito expectante e pessimista no que se refere à sua futura reforma está de certeza bem almofadado. Como o estão, decerto, todos que ele apoia e fazem parte do governo.

Defendem medidas iníquas e desproporcionadas a aplicar a outros porque sabem que não serão atingidos por elas e, mesmo que assim fosse, estariam bem almofadados para ficarem sempre bem acomodados.

Eruditos jornalistas e comentadores, nas suas crónicas e comentários opinativos, têm vindo a alinhar e a subscrever as medidas do Governo e temem que se proponham outras alternativas que possam colocar em causa as suas próprias crenças que vêm apregoamndo durante tanto tempo. Até o próprio primeiro-ministro, creio que sem ler o documento, irracional e emotivamente, entrou quase em pânico atirando para os jornalistas disparates vagos e sem consistência.

A questão que se coloca é a saber qual é o problema de cidadãos chegarem a um consenso sobre determinados pontos, tão fundamentais para o país, e não poderem e não deverem ser discutidos publicamente. A desculpa já gasta é a dos mercados e da credibilidade. Quer dizer, qualquer debate interno, sobre política económica e assistência financeira, num país livre são à partida coibidos de poderem ser refletidos e discutidos. Será que já não se pode, nem deve, discutir os problemas do país por causa dos mercados? Será que já não se pode apresentar alternativas diferentes do poder estabelecido? Será que passou a haver uma censura, já não através do lápis azul, mas de pressões de outra natureza por causa dos mercados, da Merkel ou qualquer outra desculpa?

Apresentam os papões dos mercados, da troica, do protetorado, da credibilidade.

Os portugueses já não temem os papões porque maior papão do que este Governo não deve existir.

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publicado às 17:24

O que outros dizem!

por Manuel_AR, em 30.04.12

 

em:www.ladroesdebicicleta.blogspot.pt

Por que merecem uma reflexão e não porque esteja ou não de acordo, vou transcrever parcialmente, e com a devida vénia, dois artigos publicados no Jornal Expresso e respetiva Revista do dia 28 de abril onde podem ser lidos na íntegra. O primeiro é de Martim Avilez e o segundo de Clara Ferreira Alves sem quaisquer espécie de ordem preferencial mas apenas pela minha ordem de leitura.

O primeiro, denominado "Eles não sabem que o sonho", com base num estudo efetuado por Elísio Estanque do Centro de Estudos Sociais da Universidade de Coimbra, Martim Avillez aponta os políticos como traidores da classe média dizendo, com base naquele estudo, que "da mesma forma que a memória da revolução está em risco, também a classe média nacional pode desaparecer". A classe média que praticamente não existia até 1974, e que "em 30 anos nasceu uma nova classe social no país, fundada na convicção de que, em comparação com os pais, deram um enorme salto na escada social...". E que "Uma das grandes conquistas de abril foi a legítima ascendência social de filhos de operários e agricultores. Esta nova classe média, porém pode estar no fim do sonho....".

O desemprego disparou sobretudo nesta classe não apenas do emprego por conta de outrem e no Estado, mas também se instalou entre trabalhadores e empresários de pequenos negócios. "É na educação, saúde, justiça, administração pública e poder local (os novos empregos da classe média) que mais cortes estão a ser feitos." A classe média está na "emergência de deixar de o ser - e são mais de 2 milhões de famílias." E mais não digo porque vale mais ler o artigo completo na p. 40 do já referido jornal.

 

O segundo artigo, de Clara Ferreira Alves com a qual não concordo em muitos pontos de vista desde o tempo de José Sócrates nos debates televisivo da "Noite dos Diabos".  Intitula-se "Os "Abrileiros"" e devo reconhecer que este seu artigo mostra uma parte do que se está a passar em Portugal e sugiro a sua leitura na íntegra. Todavia não resisto a citar uma parte que é muito preocupante para todos nós, mesmo para aqueles que dizem não ligar à política.

Diz a autora do referido artigo que "...Portugal está a ser vendido a retalho. A água, a eletricidade, o gás, o petróleo, o cimento, a energia, a rede elétrica, a companhia aérea, os correios, a televisão pública, a imprensa independente, a rede comunicações, a banca, e de um modo geral tudo o que implique tarifas monopolistas, manipulação dos media e lucros garantidos está a ser alienado. Só falta o ar que respiramos. E o futuro, os fundos de pensões, os impostos por vir, a segurança social, a saúde pública e a educação pública estão a ser negociados. Em nome da crise e da Troika, este Governo está a vender o nosso tecido económico, a nossa capacidade de rejeição, a nossa possível insensatez. Está a vender os futuros estudantes, os trabalhadores, os desempregados, os pensionistas, os emigrantes...". Vale a pena ler o antes e o depois desta citação no original.

 

Digo eu agora: privatizar sim mas com peso conta e medida. Tudo isto em nome da recuperação económica e para salvar Portugal da bancarota? Quem vão ser os beneficiários? Os portugueses?

Rejeitaram o PEC 4, sugeriram e participaram na vinda das entidades internacionais (CE,BCE e FMI) que com elas colaboraram. Ajudaram a derrubar o anterior governo  do qual, diga-se de passagem, muitos já estavam fartos. Afinal com que objetivo? Para salvar Portugal? Talvez não!

Se quisessemos fazer juízos de intenção poderíamos afirmar que a obsessão do PSD e de Passo Coelho pelo poder, mesmo com a Troika dentro de "casa", esse seria o momento e um bom pretexto para pôr em marcha toda uma política que o PSD e Passos Coelho queriam impor. Tinha uma desculpa. Daí a ânsia pelo poder. Para além dos esqueletos escondidos dentro do armário do anterior governo, Passos Coelho tinha também os seus próprios esqueletos muito bem escondidos que tirou do armário só depois das eleições, como não podia deixar de ser. É isto que o governo atual tem para oferecer a quem lhes deu o poder: esqueletos escondidos nos seus armários. E isto nada tem a ver com ideologia, dizem, mas sim com o passado! 

 

Já agora, vale a pena ver as últimas notícias sobre as previsões do governo para a nossa economia traçadas no DEO – Documento de Estratégia Orçamental e os respetivos comentários em:

 http://sicnoticias.sapo.pt/economia/2012/04/30/portugal-cresce-25-e-defice-fica-nos-05-em-2016-afirma-ministro-das-financas#commentsContainer

 

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publicado às 18:26


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