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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
O jornal i, primo pobre do semanário Sol, ambos propriedade da Newplex, SA e ambos com orientação de direita embora com algumas, poucas, opiniões de esquerda, traz hoje na primeira página a notícia da abertura de inquérito pelo Ministério Público a André Ventura, candidato pela direita, (agora apenas do PSD porque o CDS retirou-lhe o apoio), à presidência da Câmara de Loures, na sequência das afirmações feita sobre a etnia cigana.
Recordando, André Ventura critica a “impunidade” da comunidade cigana e que se julgam acima do Estado de direito, entre outras afirmações polémicas que pode consultar em jornal i de 17 de julho próximo passado, o que levou o CDS a retirar-lhe o apoio.
Por tais afirmações explicitas aos ciganos foi apelidado de racista e xenófobo, o que levou o Bloco de Esquerda a considerar que essa entrevista “não só difama as pessoas de etnia cigana, dizendo que estas são beneficiadas, como incita explicitamente à discriminação destas pessoas”.
À semelhança de muitos racistas e xenófobos que, com algum efémero e ilusório atravessaram a história, André Ventura, para captar votos, tornou-se o intérprete do sentir de setores da população, e não são poucos, que não têm coragem para se revelarem.
Diz Ventura que não retira uma vírgula ao que disse relativamente à comunidade cigana e que ficou “surpreendido com a decisão de instaurar um inquérito sobre algo que é evidente estar no domínio da liberdade de expressão e opinião, fundamentais à nossa democracia”.
Tem todo o direito de fazer críticas sobre políticas aplicadas a grupos sociais e apresentar soluções para tal sem referir casos específicos. O que ele devia denunciar não é oportunismo como se fosse exclusivo de um grupo étnico, neste caso os ciganos. A denúncia deveria ser da política errada aplicada na generalidade, quer fosse uma etnia, agremiação religiosa, raça ou a qualquer outros grupo social.
Como não podia deixar de ser, como sempre faz a direita, André Ventura clama pela liberdade de expressão e de opinião querendo fazer crer que é direito exprimir publicamente, enquanto responsável político, ou não, quaisquer opiniões sejam elas de que natureza forem. Veio-me agora à memória o caso de Miguem Sousa Tavares chamar palhaço a Cavaco Silva e este lhe levantar um processo, posteriormente arquivado. Isto é, para Ventura vale tudo quando é dito pela direita. O que diria se fosse qualquer afirmação polémica contra a direita ou a qualquer grupo da sua pertença ideológica vinda da esquerda? A direita quando lhe convém refugia-se na liberdade de expressão.
Já agora, o caso de Passos Coelho ter mantido o apoio a Ventura levou a que alguns entusiastas dos clubes do disparate e dos que julgam dever ser o bom tom do debate político de esquerda, viessem chamar ao líder do PSD racista e xenófobo. De certo esta gente não sabe o que diz.
Quem tem lido os meus postes neste blogue conhece bem qual tem sido, ao longo dos últimos anos, a minha posição crítica sobre as políticas de Passos, por isso estou à vontade para poder dizer claramente: porque não se calam!
A oposição de direita está doente e, pior ainda, em vez curar as suas chagas internas utiliza-as para propagandear valores que há muito vimos varrer da face da Europa e que não são os nossos para obter mais uns votos.
O candidato pela PáF, PSD-CDS/PP, às autárquicas de Loures, André Ventura, provocou a indignação até na própria direita no seu partido devido a declarações proferidas sobre a etnia cigana. São estes os jovens na política, deserdados de valores, que se perfilam para liderar os partidos de direita e mais tarde a Nação.
O dirigente do CDS-PP Francisco Mendes da Silva chegou até a afirmar que já deseja que o candidato perca, e passo a citar: “Não há praticamente nada que André Ventura diga que eu não considere profundamente errado, ligeiro, fruto da ignorância e de um populismo que tanto pode ser gratuito, telegénico ou eleitoralista. Já o vi falar de tudo e mais alguma coisa, em muitos casos de assuntos que conheço técnica e/ou factualmente. Nunca desilude na impreparação e no gosto em ser o porta-estandarte das mais variadas e assustadoras turbas. Se perder, tudo bem: que nem mais um dia o meu partido fique associado a tão lamentável personagem. Apenas guerrinhas entre jovens do partido? Acredito na sinceridade de Mendes da Silva que se insurgiu face às declarações do seu companheiro de partido.
André Ventura sabe bem o que diz, e porque o diz. Para ganhar uns votinhos aqui e ali vai no sentido de interpretar o pensamento corrente de alguns setores da sociedade que estão a ser contaminados por certos vírus partidários, de cariz social racista e étnico, e que inoculam cada vez mais vírus em lugar de procurar antitudos para os eliminar. Agora são os ciganos, seguir-se-ão os africanos e que mais haja. Para aqueles penduras da política serão todos eles causa dos males sociais.
Recordo-me (2009?) de Paulo Portas também se ter insurgido com um discurso idêntico, embora mais subtil, de forma mais contida e mais pensada, dizendo que "Este país avança com trabalho, avança com aqueles que contribuem para a riqueza da nação, (...) não avança com financiamentos à preguiça", e acrescentava existem "cada vez mais abusos, cada vez mais fraudes", por parte de beneficiários do RSI. "Gente que, pura e simplesmente, não quer trabalhar e quer viver a custa do contribuinte", acusava, numa ação de campanha num mercado local na Figueira da Foz. Mas Paulo Portas é Paulo Portas, sabe quando e como dizer. Não identifica, lança para o ar e quem quiser que apanhe.
Em 2013 também um elemento do PPD/PSD, Carlos Peixoto, deputado por aquele partido, num artigo de opinião publicado no jornal i, referindo-se ao aumento da população idosa, afirmou que “a nossa pátria foi contaminada com a já conhecida peste grisalha“.
Portanto, a direita, pela voz de alguns dos herdeiros ideológicos de famílias do passado, está, tendencialmente, caminhando para a criação de fenómenos de ostracização e de exclusão de setores da população.
Dirão alguns que estes são umas andorinhas e que uma andorinha não faz a primavera. Pois é, mas termino dizendo que grão a grão enche a galinha o papo.
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