Saltar para: Posts [1], Pesquisa e Arquivos [2]
Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Merkel defende o agravamento de sanções a países da zona euro que não cumpram os critérios de estabilidade, incluindo a perda de soberania. Se isto não é humilhação hegemónica para país como Portugal então o que é? Será por acaso que em alguns países tentam fazer omparações com o passado alemão?
|
A Alemanha teve sempre projetos e ideais hegemónicos e de domínio sobre outros países e povos sustentados pelos mais variados pressupostos e pretextos. Duas guerras mundiais tiveram a sua génese com a Alemanha.
A construção europeia que começou com a Comunidade Económica Europeia e mais tarde com política da moeda única, foi um projeto que teve como objetivos unir a Europa, procura da solidariedade entre os povos e fazer face à concorrência económica por parte dos Estados Unidos da América. Na altura da sua formação não era suposto que países ricos quisessem oprimir e dominar os mais pobres. A prova está nos recursos financeiros, os chamados fundos europeus (FSE,FEADER,FEAMP,FEDER) que eram recebidos por estes países para o desenvolvimento das suas regiões mais deprimidas, para além dos QREN’s o último dos quais foi o QREN - Quadro de Referência Estratégico Nacional 2007/2013, novo ciclo na aplicação dos fundos comunitários.
A mobilização do povo alemão pela Chanceler Angela Merkel, coadjuvada por outros países do norte, contra os países do sul, gastadores e preguiçosos, e a cruzada em favor da austeridade custe o custar, que alguns governos do sul apoiam, tem a ambição de dominação e submissão subtil através da opressão económica e financeira do povos.
Não somos contra uma austeridade sustentada e a prazo para tentar compor as finanças públicas. O problema é quando a austeridade é imposta para deixar países sem folego e sem capacidade de reação. A opressão dos povos não é executada apenas pela invasão territorial de exércitos, tem atualmente formas mais subtis através do controle económico e financeiro. Veja-se o caso de Chipre. Vergar e submeter países é, atualmente, uma das funções de alguns países da EU liderados pela Alemanha.
Angela Merkel rejeitou esta segunda-feira, 22, a ideia de que a Alemanha procura exercer a hegemonia na UE, dizendo que "A Alemanha tem por vezes um papel complicado porque nós somos a maior economia europeia (...) Mas a Alemanha agirá unicamente em concertação com os seus parceiros. A ideia da hegemonia é-me totalmente estranha". Porque será que Merkel teve necessidade de se justificar? Não costuma haver fumo sem fogo…
Mais grave ainda é a afirmação por ela proferida em que defende o agravamento de sanções a países da zona euro que não cumpram os critérios de estabilidade, incluindo a perda de soberania. Se isto não é humilhação hegemónica para país como Portugal então o que é?
Painel central do tríptico O Juízo Final de Hieronymus Bosch
|
Estamos na Semana Santa, momento de recolhimento, tempo propício para a contemplação de arte religiosa selecione uma obra de arte que me possibilitou uma reflexão política sobre a União Europeia e as políticas atualmente praticadas penalizadores para os sacrificados países do sul, entre os quais Portugal.
A Europa está a ser avassalada por um tornado económico e financeiro que a está a devastar e a encaminhar para uma espécie de Juízo Final, onde os maus, que são os países do sul, gastadores, perdulários, preguiçosos, que vivem acima das suas possibilidades, devem ser condenados ao inferno de uma austeridade sem fim mesmo que tenham passado pelo purgatório do bom comportamento.
Partindo do tríptico do pintor flamengo Hieronymus Bosch (1450-1516), “O Juízo Final”, podemos construir uma representação imagética e metafórica sobre o que hoje se passa na União Europeia. Para tal, basta fazermos, com alguma imaginação, uma leitura do quadro com alguma analogia com a atualidade.
O conteúdo daquela pintura retrata as condições do imaginário medieval, as quais podemos relacionar com os valores da política da União Europeia por via dos factos históricos ocorridos no passado que nos levam a condicionar uma construção comparativa do que se passa no tempo presente.
Prestemos atenção aos pormenores do painel central do tríptico. No plano superior evidencia-se o império celeste com os seus anjos santos e beatos seguidores adoram o senhor. Transpondo para o nível político europeu, ao primeiro nível, símbolo de poder, podemos associar um país dominante e ao segundo nível também ao nível simbólico associamos os que com ele se alinham e giram à sua volta.
Na parte inferior, abaixo daquele plano mais elevado, uma espécie de vale com ausência de luz, cenário da condenação, onde se vive o quotidiano e onde se encontram todos os que irão ser julgados e condenados. Os castigados, figuras minúsculas preponderantes, que segundo a mitologia grega eram entregues às Erínias, deusas que estavam encarregadas de castigar os crimes e delitos, que eram supervisionadas por Hades, deus impiedoso e imune a preces e a sacrifícios. A analogia estabelece-se aqui com os países do sul, os condenados e o país ou países que supervisionam os castigos, a Alemanha e os seus aliados do euro em substituição de Hades.
Uma das obsessões da igreja medieval era o Juízo Final, pelo que ensinava aos crentes o caminho a seguir para terem acesso à felicidade eterna, e alertava os pecadores para os castigos que os esperavam se não fizessem penitência. Mais uma vez podemos estabelecer uma associação com a União Europeia, onde a penitência para os países pecadores, são a austeridade, o empobrecimento e o confisco (veja-se o atualíssimo caso de Chipre), decididos por um deus impiedoso.
Se repararmos na faca ameaçadora do canto inferior direito do painel central, podemos fazer, com um pouco de imaginação, uma associação à ameaça dos cortes orçamentais a que são obrigados os condenados, países que viviam acima das suas possibilidades.
É bom recordarmos que, se tudo correr como está previsto, a formalização da adesão da Croácia à União Europeia far-se-á em 1 julho de 2013 se todas as etapas necessárias correrem sem imprevistos. Assim acontecendo, a Croácia vai entrar para o mesmo inferno onde nós estamos ficando, mais tarde ou mais cedo, sujeita aos mesmos castigos.
A subscrição é anónima e gera, no máximo, um e-mail por dia.