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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
A conduta do Bloco de Esquerda (BE) e da sua coordenadora Catarina Martins, olhando à distância para as próximas eleições legislativas, tem vindo a ser orientada por duas estratégias que se destinam a captar dois tipos de eleitorado de esquerda: os que se situam no campo da influência do PCP e os se situam na ala mais à esquerda do PS.
Se algumas vezes Catarina Martins mostra um rosto menos radical, conciliador até, afastando-se do radicalismo do PCP, outras, mostra um rosto de ameaça, uma rutura com o partido que lá vai apoiando no Parlamento. A mensageira do BE, Catarina Martins, quer mostrar aos seus apoiantes que lidera a política de oposição à esquerda e, ao mesmo tempo, apoia o partido do Governo no Parlamento. O PCP por seu lado tem-se mostrado mais sóbrio com uma responsabilidade q.b. A sua movimentação faz-se mais através dos sindicatos e organizações de trabalhadores do que na praça pública, mostrando nas suas intervenções públicas para os seus militantes o que lhe vai na alma, dele e do comité central, em relação ao governo do Partido Socialista.
Catarina Martins quer apresentar um bom resultado eleitoral nas próximas legislativas daí a sua entrada em ebulição com a fervura centrada agora em Mário Centeno em relação à revisão do défice que Centeno quer ver reduzido para 0,7%. Mostrar a Bruxelas o que conseguimos é positivo e pode, no futuro, trazer-nos apoios e credibilidade. A fervura de Catarina Martins leva-a ao ponto de fazer ultimatos para que o ministro das Finanças recue na intenção de ir além das metas do défice definidas com Bruxelas e que use essa folga para investir em serviços públicos. Os avisos saem em tom mais duro e concertado, mas a concretização das ameaças só será conhecida quando o Governo apresentar o documento, conforme notícia do jornal Público que pode ver aqui.
Encontrando-se ainda Portugal numa circunstância para uma consolidação financeira sustentável após a saída da crise e com resultados económicos favoráveis quer agora a esquerda que apoia o Governo no Parlamento que se abram indiscriminadamente os cordões à bolsa.
A direita apoia neste sentido os pontos de vista da esquerda porque lhe interessa que o diabo volte a aparecer para haver argumentos para o regresso ao poder. Se o que não passa de uma ameaça de rutura e esta se concretizar e a direita vier a aproveitar vantagens políticas os portugueses irão penalizar os partidos que ajudaram a essa rutura. Todavia resta-nos a esperança de que tal não aconteça já que Catarina Martins vai dizendo que "Tudo o que nós queremos é que os compromissos se mantenham", e "que se mantenha o espírito de negociação, de convergência e de cumprir os compromissos que tivemos até agora na maioria parlamentar".
Num artigo de opinião Sónia Sapage no jornal Público diz que “Hoje mesmo, o Governo aprova em reunião de ministros um documento que nada diz à generalidade dos portugueses, o Programa de Estabilidade, mas que pode interferir com a estabilidade governativa. Pode mesmo? Vem aí uma crise? O Bloco saltaria fora da "geringonça" a meses de ser aprovado o último Orçamento do Estado (OE) desta maioria? E o PCP, que não quer ser a peninha no chapéu do Governo, poderia chumbar um orçamento? Até o Presidente acabou a dizer que "uma crise política envolvendo o OE é duplamente indesejável". E termina “Mário Centeno mostra-se inamovível nas suas pretensões de não falhar metas – já lhe basta a percentagem da dívida estar acima do desejável. Não somos todos Centeno, mas não nos iludamos: Costa "é" Centeno. E é daí que vem a força do ministro das Finanças.”.
Não é novidade, pois é por demais conhecido que quem tem mais poderes nos governos europeus são os ministros das finanças serem que têm mais poder nos governos europeus durante a crise e na recuperação que ainda decorre nesta pós-crise que é necessário não deitar a perder o que se conseguiu. Se em muitos setores é necessário investimento público para melhorar serviços há que por enquanto ir com calma valendo mais acautelar do que darmos um passo maior que a nossa perna e é nas finanças que está o segredo.
Aliás, esta nova meta do défice, que se pretende constar no Programa de Estabilidade a ser remetido para a Comissão Europeia até ao final do mês, pretende assumir novas metas e sobre a U.E. são conhecidos os pontos de vista do PCP e do BE em relação.
O BE assim como o PCP, cada um ao seu modo, manifestam o desejo de que, num futuro mais ou menos próximo, a U.E. se desmantele e que Portugal abandone o grupo, mesmo que isso vinha a tornar-se a tragédia do século. Uma situação deste tipo, com a escalada das extremas-direita nacionalistas e xenófobas que se verifica em alguns países da U. E. seria a concretização dessa tragédia. As razões de cada um dos partidos são idênticas. Jerónimo de Sousa disse já depois das eleições, em 2016, que “adesão foi um desastre e a permanência é um desastre ainda maior. Recuperar a soberania monetária é recusar esta sentença. É não nos conformarmos com o subdesenvolvimento, nem com o empobrecimento, nem com a submissão do País. A integração no euro é um grande obstáculo ao desenvolvimento nacional, que tem de ser removido, a adesão ao euro foi um desastre e a permanência é um desastre ainda maior”. Em março de 2017 a coordenadora do Bloco de Esquerda defendeu a urgência de preparar o país para a saída do euro e rejeita que "Numa Europa em degradação, o nosso país não pode ficar alegremente no pelotão da frente para o abismo". Na mesma altura Marine Le Pen dizia que se ganhar presidenciais a União Europeia "vai morrer"
A direita tem demonstrado qual é a sua forma de prestar serviço ao país: desestabilizar, com o apoio de grande parte da comunicação social, para ocupar novamente o poder com estratégia idêntica a que partidos extremistas quer de direita, quer de esquerda adotam por esse mundo. Destabilizar, criar convulsões políticas que lhe abram o caminho ao poder. Quando não há motivo inventa-se um que passe a ser, supostamente, um assunto nacional. Só falta o golpe de Estado palaciano.
Faltava agora o sinistro ex-Presidente da República, Cavaco Silva, aparecer com livros e livrinhos e para ajudar a oposição de direita. Lançando piadinhas provocadoras sobre otimismos do então primeiro-ministro José Sócrates. A este pretexto vai fazendo uma provocação subtil ao atual Presidente Marcelo Rebelo de Sousa e a António Costa contaminada por certo estado de espírito dado à invejinha. Posso até pensar que poderá terá havido uma espécie de conluio com a oposição de modo a ser feita nesta altura a apresentação do livro que me parece ser mais uma forma a dar uma ajudinha à sua fação partidária.
Apesar de Manuela Ferreira Leite, quando se lhe fala de Cavaco, entrar sempre em sua defesa, talvez derivado a tempos passados de governo, ele é o exemplo perfeito da representação da direita deste país. O livro poderá ser idêntico a um volumoso resumo de apanhados de alguma imprensa sensacionalista com mais ou menos considerações para ajudar esta direita cuja reforma está a ser pedida há muito.
Esta é a direita da abjeção. A direita do jogo baixo, como sempre foi, mesmo quando esteve no governo. Enganou, omitiu, trapaceou. É uma direita umbilical cujo poder, dizem, lhe foi tirado. É uma direita amoral, sem ética, cuja luta pelo poder se baseia, e só, em atacar pessoas, é uma direita que não olha para dentro de si. Não olha para os submarinos, para os vistos Gold, para as “Tecnoformas”, para as listas VIP das finanças que não se podiam divulgar e outras, é a direita que usa e abusa de julgamentos na praça pública com o apoio de certa comunicação social, é uma direita que olha para os seus interesses em detrimento de todos nós, portugueses, é uma direita onde se encontram alguns descendentes duma elite que, perdendo as colónias e integrados, pretendem aproveitar Portugal para benefício próprio (felizmente nem todos).
Lembram-se das vezes em que os deputados do PSD e do CDS-PP votaram contra o pedido para ver as mensagens trocadas entre Paulo Portas e os diretores da Mota-Engil? E no caso da Ferrostal, recordam-se? E quando os deputados do PSD e do CDS-PP negaram o acesso a ver as mensagens trocadas entre Maria Luís Albuquerque e os bancos com quem renegociou swaps, recordam-se? E as mensagens trocadas com o Santander Totta como eram? Recordam-se dos deputados do PSD e do CDS-PP terem exigido ver tudo isto tudo alegando a defesa do interesse público?
São agora estes os impolutos e os falsos moralistas. Hipócritas da política, nunca visto em Portugal.
Não lhes vai chegar a CGD, António Costa, e o ministro das finanças. Seguir-se-á a vez do Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, a quem não perdoam o apoio institucional que dá ao Governo face aos resultados obtidos. Resultados conseguidos, elogiados, mas pouco divulgados pela nossa “isenta” comunicação social. Recordo apenas que, durante o anterior governo de Passos Coelho, eramos diariamente bombardeados com notícias dos “sucessos” do dia, com o relevo dado a décimas mostrados pelos indicadores, e com os juros quando eram favoráveis da colocação nos mercados da dívida pública. Agora, apenas vemos amostras rápidas dos sucessos do governo atual em notícias dadas atabalhoadamente e de forma confusa.
Precisa-se duma direita sem falsos moralismos, com ética, com valores, séria e faça mais oposição e menos rábulas.
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