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Comunicações e opiniões pessoais sobre o dia a dia da política e da sociedade. Partidos, demografia, envelhecimento, sociologia da família e dos costumes, migrações, desigualdades sociais e territoriais.
Há quem escreva artigos de opinião, mais ou menos polémicos, conceptuais e filosóficos que pretendem mostrar e evidenciar conhecimento pleno e absoluto das problemáticas que as redes sociais levantam. Divagam e divulgam numa escrita erudita dirigida aos da mesma tribo de intelectuais depois, outros, inserem no espaço online comentários mais ou menos elevados à categoria do incompreensível.
Fora do domínio da escrita que o rigor científico exige nos comentários prefiro utilizar uma linguagem acessível a maiorias de leitores de modo a ser compreendido mesmo por iletrados, e sem palavras de jornalista emproado e sabedor de tudo.
Quado se escreve um artigo de opinião há sempre quem concorde e quem discorde. Note-se, todavia, que, nem quem escreve nem quem comenta são donos da verdade, nem se pense que conseguem alguma vez converter-se mutuamente aos seus pontos de vista. Em janeiro de 2018 coloquei neste mesmo blog algo relacionado com este ponto de vista.
Sobre as redes sociais, tecnologia com que Pacheco Pereira, como muitos outros, parece não conviver bem, escreveu um artigo de opinião no jornal Público que merece ser lido e que, por isso, dada a liberdade de expressão também está sujeito a comentários. Foram vários os comentários ao artigo de opinião escritos com grandes tiradas, algumas até despropositadas para o tema, onde se brandem espadeiradas afastadas do objetivo do artigo. Alguns desses comentários, embora válidos, manifestam várias e possíveis interpretações, carecem de fundamentação e revelam mais emoção do que razão.
O dr. Pacheco Pereira, pessoa que admiro e considero enquanto intelectual e comentador, acha que as redes sociais são perversas e que são “formas de activismo simplista e grosseiro que o radicalismo “social” e político provoca nos nossos dias”.
A linguagem utilizada por quem frequenta as redes sociais é, a maior parte das vezes, exacerbada, não intelectualizada, não refletida; é sentida, irresponsável, espontânea. As redes sociais são frequentadas por um conjunto heterogéneo gente que vai desde a populaça ululante, tal qual uma manifestação de rua anti qualquer coisa onde os participantes apresentam cartazes insultuosos contra alguém ou alguma coisa, estes, felizmente uma minoria, até intelectuais bem-falantes, políticos, jornalistas, professores, comentadores, escritores, cientistas, pessoas não eruditas mas bem-intencionadas e muitos outros.
A linguagem dos que frequentam as redes sociais é, como diz Pacheco Pereira, primitiva onde surge uma “mão-cheia de “seguidores” que propagam e “amplificam todo o estilo de ataques, insultos e afirmações de má-fé que acabam por ter uma circulação em que o testemunho directo é substituído pelos comentários dos comentários dos comentários”.
Insurge-se Pacheco Pereira com o que se escreve nas redes sociais, e com alguma razão, mas a tecnologia das redes sociais e dos blogs apareceram muito depois do aparecimento da rede, vulgo internet, que possibilitou a qualquer cidadão ser também um potencial produtor de informação, (falsa ou não), para além de mero consumidor que lhe chegava unilateralmente apenas pelos clássicos órgãos de comunicação social imprensa, rádio, televisão. Pagando o aluguer de um espaço num qualquer servidor podia, desde logo, formatar uma página e colocar o lá que bem entendesse. Aceder à “fala” pública deixou de ser possível apenas a alguns “eleitos” para passar a ser aberta a todos.
O problema agravou-se com o surgir das redes sociais, com a sua miríade de interações, onde se angariam amigos, sejam eles quem forem, a maior parte das vezes aleatoriamente, e com o acesso a blogs, onde se publicam emoções e sentimentos sinceros ou inventados, opiniões e nuvens de perceções, manipulação de notícias e de factos forjados, e outros escritos não fundamentados. O livre acesso e direito a publicar na rede foi uma mágoa que se entranhou em muitos que consideram que tudo quanto se escreve nas redes sociais são heresias.
Quem frequenta as redes sociais deve estar informado sobre os seus conteúdos daí que tem de ser capaz de distinguir o trigo do joio, o que só se consegue com treino aturado ao longo do tempo. A leitura de comentários nas redes sociais e nos artigos de opinião exige treino para quem costuma ferver em pouca água.
Nesta amálgama de comentários que aparecem nas redes sociais, blogs e afins, alguns com uma linguagem de falsa neutralidade, acusa-se, condena-se, julga-se, injuria-se, ofende-se, destroem-se imagens, fazem-se autos de fé, e se manipula informação e deturpam factos, surgem também os inquisidores e os falsos moralistas que não aconselham, não sugerem, mas criticam, repreendem, ameaçam… Outros utilizam palavras acaloradas, menosprezo e desrespeito pela posição do outro, feito de forma muito fria e educada mas não menos ofensiva, com defesas e ataques de parte a parte conduzindo ao confronto de pontos de vista que, longe de permitir o enriquecimento de cada um ou de possibilitar uma posição de consenso, apenas redunda em desconforto, ou a ideias mais extremadas e repisadas pelo confronto.
Para mim o problema não está na linguagem utilizada por esses ululantes da escrita de comentários porque esse tipo de linguagem ouvimo-la ao virar da esquina duma qualquer rua ou café frequentados por jovens e adultos. O problema é, e Pacheco Pereira salienta-o, a repetição por ditos seguidores que propagam e repete até à exaustão “afirmações e opiniões grosseiras, falsidades, deturpações, que, não sendo verdadeiras, acabam por ganhar um estatuto competitivo com a verdade”. É neste ponto que reside o problema e o perigo que não se resolve nem evita com mediações ou verificações por uma espécie de “validadores” de comentários que podem vir a ser alcunhados de censores, ou como lhes queiramos chamar, que não validariam a veracidade ou a falsidade do que é escrito nem tão pouco as fontes, mas apenas e só a linguagem. Seria bom que estes inquisidores se limitassem apenas a questões de linguagem, mas vão mais fundo, pretendem silenciar o pensamento de outros. É aqui que para mim se deve centrar a discussão.
A linguagem não é neutra, ela está relacionada com fenómenos comunicativos e tem a capacidade que possuímos para expressar pensamentos, ideias, opiniões e sentimentos, estimula comportamentos e atitudes e pode moldar convicções. Um dos problemas da linguagem é as palavras terem tantos significados - e tão diferentes.
A maior parte das vezes são as emoções e os sentimentos, contra ou a favor de algo, que geram uma linguagem utilizada por quem não tem argumentos e, por isso, os que escrevem e insistem em utilizar uma linguagem insidiosa, frases caracterizadas pelo exagero e tentam distorcer a realidade acabam sempre por ficar expostos à rejeição e ao voto ao desprezo pelos seus pares, e por outros. O reforço desta rejeição pode ser promovido pelo debate livre e aberto das ideias por argumentos e contra-argumentos refutando e pondo a descoberto o que for torpe. É nisto que se baseia a liberdade de imprensa que deve ser de liberdade absoluta para a linguagem. Todavia, como a liberdade de expressão de pensamento absoluta é uma utopia, para tal deveria ser universal, restrinjo a linguagem do calão grosseiro, sem conteúdo sustentável, utilizado apenas e para o ataque pessoal, político e religioso nem tão pouco manifestações racistas e xenófobas de extremistas de cabeças rapadas e ocas.
A manipulação de informação não existe apenas nas redes sociais ela também existe, embora de forma subtil, nos clássicos órgãos de comunicação social. Veja-se os títulos dos jornais que por vezes levam a falsas interpretações para quem não lê própria notícia.
Como anteriormente referi, há quem, mergulhado em preconceitos e conservadorismo do passado, advogue uma espécie de verificação prévia, nova fórmula light para censura, para o que se escreve nos comentários das redes sociais e noutros sítios, mas, neste caso, estou parcialmente de acordo com Pedro Norton quando escreveu na revista Visão que “se eu tivesse de escolher um mundo de censores sem insultos ou um mundo de insultos sem censores, eu não vacilaria um instante em preferir o último. Prefiro, sem sombra para qualquer dúvida, ser exposto a ideias e a palavras ofensivas e pre-conceituosas permanecendo livre para rebatê-las do que ser obrigado a prescindir da minha liberdade para ser defendido pelo poder sem freios de censores iluminados”.
A este ponto de vista que me parece ser mais ideológico do que realista acrescento que, apesar de tudo, não nos podemos esquecer de que a liberdade de expressão de pensamento não pode ser absoluta, sem regra nem lei, onde os insultos e puro calão asneirento são correntes, sobretudo quando em conflito com os invioláveis princípios e direitos relativos à imagem e ao bom nome. A publicação de matéria dita jornalística de opinião ou outra tem de respeitar a veracidade dos factos que relata não podendo extrair conclusões acerca da conduta das pessoas nela mencionadas ou incitações à violência e dignidade da pessoa humana tais como racismo, nazismo e outras formas de segregação e violência religiosa, política ou étnica.
Quando se fala em manipulação de informação e de difusão de notícias falsas (fake news) há vários exemplos que mostram que se generalizou e, até personalidades em altos cargos nos estados utilizam as redes sociais para fazer política através de mensagens frequentemente falsas, sendo o presidente dos EUA, Donald Trump, o exemplo mais paradigmático. Trump já fez nos seus tweets várias declarações falsas, mentiras por omissão, falsificações de verdades que funcionam para desvalorizar e ignorar a realidade de facto. Mas os que o apoiam não se importam e a outros parece não lhes interessar fazer desmentidos utilizando a própria verdade. À tribo que elegeu acriticamente Trump não lhe interessa a verdade e assimila sem intermediação o que ele lhes diz. Quando Trump afirma que o facto A não é verdade, sendo-o de facto, os seus apoiantes entram em coro a dizer que estão a conspirar contra ele e forjam e divulgam notícias falsas que possam comprovar o que ele disse. Trump percebe isso e usa o Twitter para comunicar “directamente” com a sua “base” sem intermediação. Como ninguém vai verificar a veracidade ou falsidade do que foi dito ou escrito, e é gratificante para os seus apoiantes, está lançada a replicação através da rede chegando até aos seus opositores que as aceitam sem se questionarem sobre a sua veracidade.
A minha pequena homenagem através de imagens
Um breve resumo do 25 de Abril de 1974
Depois da apresentação pelo Partido Socialista do documento para a década elaborado por um conjunto de economistas das mais variadas áreas e tendências políticas a coligação PSD/CDS no Governo, em especial o PSD, em aberta campanha eleitoral parece ter entrado num círculo (ou será circo?) de insanidade política.
Primeiro foi o caso do projeto da validação prévia do acompanhamento e programação da campanha eleitoral pelos órgãos de comunicação social, apresentado pelo PSD, CDS e pela deputada socialista Inês de Medeiros que mais pareceu ir a reboque dos outros dois acabando todos por cavar a sepultura do projeto.
Agora é essa voz da demagogia do PSD, Marco António Costa, com mostras de fã de partido único, quer transformar órgãos independentes do Parlamento numa espécie de órgãos de exame prévio aos programas e propostas apresentadas pelos partidos políticos (será só de alguns?).
Quer o PSD goste ou não, as coisas têm que ser chamadas pelos seus nomes. Ao que chamam escrutínio de documentos não é mais do que um exame prévio mas sem lápis azul. Quem tem que escrutinar os programas e os projetos dos partidos são os eleitores e mais ninguém. O que Marco António quer é música para desviar o debate sério e disfarçar a fraqueza e a indigência das propostas do seu partido e do Governo.
A proposta de marco António é como a dum mau aluno e mal comportado que pretende boicotar e desautorizar o professor que tinha marcado um teste para determinado dia e diz que tem dúvidas porque a matéria não foi toda dada. Pede então ao professor para haver uma aula prévia para dúvidas e assim adiar o teste e confundir os outros alunos. Alinhavou à pressa uma série de perguntas para levar para a aula esperando que lhe caiam de mão beijada algumas das respostas para depois as escarrapachar no teste.
A iniciativa duma proposta como esta é a evidência da insanidade política que prolifera nas hostes do PSD e do Governo cuja patologia está relacionada com o stress, o mau estar e a desorientação que lhe causou o relatório apresentado pelo Partido Socialista.
A abertura duma porta como a que Marco António e o PSD pretendem abrir passaria a instrumentalizar partidariamente um órgão independente como a UTAO - Unidade Técnica de Apoio ao Orçamento que se pretende seja autónomo face aos partidos.
Isto é, um partido que apresentasse ao país um programa económico na sua campanha eleitoral teria que o submeter a uma avaliação prévia. Marco António pretende abrir caminho para uma censura prévia encapotada aos programas e propostas partidárias.
No limite, a ideia estereotipada dum órgão independente passar levaria a impossibilitar ou não, que um programa de um qualquer partido que não agradasse ao poder pudesse ser invalidado. A partir daí poderia ficar fora da corrida eleitoral e tudo seria possível.
Deixem-se de tretas, visões distorcidas e artimanhas de baixo nível e debatam o documento mas com pés e cabeça.
A comunicação social é muito importante para uma democracia. Alguns jornais e jornalistas estão a ser alvo de uma manobra para calar vozes que informam aquilo que deve ser conhecido pela opinião pública. Se não fosse a imprensa e todos os jornalistas que nela trabalham nunca teríamos conhecimento de muitas coisas que se passam em Portugal.
Várias tentativas têm sido feitas para calar consciência pelos governos dos últimos anos, mas nunca como agora. A liberdade de informação pode estar em risco.
O objetivo é calar as vozes que têm feito com que determinadas situações sejam divulgadas e que apenas sabemos pela comunicação social. Todos sabem com certeza quais são essas situações.
A última é a venda de vários jornais a um grupo angolano, país que, como sabem, não prima pela liberdade de imprensa e o despedimento de alguns jornalistas do Jornal Público, de entre os quais alguns denunciaram situações, que alguns políticos que têm telhados de vidro não gostaram.
Os mais jovens nunca souberam o que é viver num regime de imprensa controlada e censurada. A censura que, na ditadura do Estado Novo se denominada revisão prévia acabou, mas há atualmente outras formas de censura mais subtis como, por exemplo, pressões diretas ou indiretas sobre jornalistas, diretores de jornais e direções de informação.
Se alguns jornais, como dizem, estão a dar prejuízo, porque é que há grupos que os querem comprar? Não há coincidências em política!
Devemos, por qualquer forma ou meio, estar solidários com os jornalistas que têm ao longo dos anos contribuído para que todos nós saibamos o que se passa em Portugal. O monolitismo jornalístico e informativo e o controle da comunicação pelos governos, não é opção. Passaríamos a conhecer apenas a versão que lhes interessasse quando estivessem no poder. Para onde estamos a caminhar? Sem informação plural não pode haver democracia.
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