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O engraxador dos portugueses

por Manuel_AR, em 22.01.16

Marcelo_Engraxa_Sapatos.pngAproxima-se a data da eleição para a Presidência da República que deu uma sensação de perda de dignidade e falta de valor pessoal por parte da maior parte dos candidatos. Marcelo já ultrapassou largamente a votação obtida pela direita nas legislativas de outubro (36,86%), mas está à frente nas sondagens com vantagem de apenas 1,8% para obter maioria absoluta e ganhar à primeira volta.

Apesar de Marcelo avisar que a sua candidatura não é a segunda volta das legislativas, a direita quer arrecadar dividendos políticos e daí aposta tudo em Marcelo Rebelo de Sousa. Maria de Belém que poderia ser o bolo que a direita inicialmente pretendeu abocanhar, já que Marcelo lhe apresentava muitas reticências sobre a posição tomada sobre o atual Governo, e porque, querendo apanhar tudo, atirava à direita, à esquerda, ao centro, em suma, a tudo quanto mexia. Mais uma vez a esquerda dividiu-se e a direita concentrou-se em volta dum candidato. A esquerda não aprende com os erros, os pontos de vista ideológicos e partidário, até para a presidência, tolhem-lhe a racionalidade.

Inexplicáve,l aprioristicamente, é como Marcelo Rebelo de Sousa conseguiu entrar também no eleitorado de esquerda. A confusão dos eleitores é tal que começa a perguntar-se como é que, existindo um Governo que resultou duma negociação à esquerda, nesta campanha eleitoral para a Presidência da República mostra-se a mais dividida de sempre.

O pior candidato pela sua arrogância e falta de tento de oportunidade política é Cândido Ferreira, pessoa em quem nunca votarei, mas que acertou na mouche quando disse que "ser Presidente da República não é a mesma coisa que participar num casting par um Big Brother". De facto isto aplica-se a todos os candidatos, nomeadamente a Marcelo Rebelo de Sousa" que parece estar num concurso para ver se fica na "casa" e ganhar o prémio de Presidente. O populismo é tal que até pede para lhe engraxarem os sapatos, ou será que ele tem andado anos a engraxar os portugueses?

Não tivesse ele a visibilidade que a televisão lhe deu e estaria ao nível de todos os outros candidatos, ou pior.

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publicado às 14:57

O pensamento dum candidato a presidente

por Manuel_AR, em 17.01.16

Marcelo_Presidente.png

 

Podemos muito bem imaginar uma comunicação ao país do futuro Presidente da República se for Marcelo Rebelo de Sousa. A propaganda que Marcelo faz nesta campanha para as eleições presidenciais ainda tem o “tic” do comentador de política que, sozinho, e sem contraditório, mais parecia um comentador de futebol, com todo o respeito por estes últimos.

“ Bommm! Portugueses,

Tenho na minha posse uns diplomas para promulgar vindos da maioria de esquerda. Não precisei de os mandar analisar porque eu sou professor de direito constitucional e, como tal, analisei-os eu próprio. Não vou promulgar alguns por uma questão de conteúdo, mas não de forma, não que sejam inconstitucionais, mas porque eu acho que são, mas podem também não ser. Vou devolvê-los à Assembleia da República para mudarem a forma mas manter o conteúdo. Se viessem da direita devolvia-os também por causa da forma e não do conteúdo.

Bomm! Hummm!, à direita vou dar nota 19, porque o 20 é só para mim, e aos da maioria de esquerda vou dar nota 9. Aliás eu acho que a direita faz tudo bem, o que faz de mal são erros de comunicação.

 Portugueses,

Nas minhas intervenções vou passar a dar notas ao Governo e á oposição, como fazia quando comentei política unilateralmente na televisão, por mais de uma década. Como dei classificação negativa ao Governo vou ter que arranjar uma estrangeirinha para dissolver a Assembleia da República e convocar eleições.

Bommm!…, para terminar aconselho que leiam um livrinho que eu escrevi publicado pela editora MRS sobre como se deve exercer o cargo de Presidente da República.

E termino porque tenho que ir tirar umas “bejecas” para umas pessoas do povo que convidei para virem aqui ao palácio de Belém.”.

***

A campanha para estas eleições são uma espécie de circo e de teatro para a qual contribuíram algumas televisões, nomeadamente a TVI e, de certo modo, a sua direção de informação de alguns anos atrás, para a promoção de uma pessoa que, aproveitando isso se tornou popularucha retirando a dignidade ao cargo que pretende exercer.

Não sei se alguém se recorda de Peppe Grillo artista e humorista a quem chamavam “palhaço” que fundou em Itália o movimento 5 Estrelas que em 2013 obteve 25,5% (3º lugar, tendo em conta as coligações) dos votos. Grillo teve mesmo uma percentagem maior que o Partido Democrático (PD), de Pier Luigi Bersani, que teve 25,4%. Ainda assim, o PD coligado com o Esquerda, Ecologia e Liberdade e outras pequenas formações de centro-esquerda, obteve 29,5%.

Não está nas minhas intenções chamar palhaço a Marcelo Rebelo de Sousa, mas artista já não diria que não. Não está em causa a pessoa, mas a forma como ele encara a função presidencial e como fez, e faz, propaganda da sua imagem que o conduziu a esta corrida presidencial. Não é uma questão de conteúdo mas de forma como ele próprio diria.

Se para o Tino de Rans lhe podemos desculpar alguma coisa, a Marcelo Rebelo de Sousa não se lhe pode desculpar. Veja-se a pobreza de argumentação que Marcelo tem tido com outros candidatos frente a frente. Uma coisa é falar para quem o escute sem ninguém que o confronte com outros argumentos, outra é estar presente em debates. Uma coisa é o comentário político com linguagem popularucha para telespectador ver e passar um tempo frente à televisão, outra coisa é o debate e o confronto sério, coisa em que Marcelo não se sente à vontade, mas a maioria do povo parece gostar de poder vir a ter um presidente assim! Tristeza política confrangedora.

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publicado às 15:35

Cómicos da política

por Manuel_AR, em 13.01.16

Cómicos da política.png

 

O candidato à Presidência da República Marcelo é um cómico que anda pelo país a fazer o quê? Segundo São Marcelo disse, durante uma das suas digressões, que a proximidade com as pessoas "é muito importante mas que em rigor não caça votos nenhuns, isto é, as pessoas já têm na cabeça o voto ou não voto, à distância de dez, nove, oito dias já ninguém muda de voto". Mas então para que gasta ele tempo e dinheiro? Será para aproveitar e fazer turismo? Veja-se a arrogância do senhor que viveu mais de dez anos a autopromover-se e a fazer a cabeça a muitos portugueses. Só não percebe isto quem não quer.

Marcelo é um candidato da história de certa direita portuguesa. Quando intervém regressa ao seu passado político e professoral, (vejam só, 25 mil alunos, importante para ser bom Presidente) sem clarificar o que pensa sobre o futuro e nisso compete com Maria de Belém.

Num futuro mais ou menos próximo o mais provável é apostar na conivência com as propostas da oposição geridas pelo anterior Governo. Está-lhe no gene político-partidário. O objetivo pode ser tentar jogadas para empossar, através de eleições antecipadas, um novo Governo de direita, e a direita apostou nisso quando perdeu a esperança com Cavaco Silva. Será que Marcelo vai dizer que as decisões que tomar são apenas de forma e não de conteúdo como ele várias vezes disse enquanto comentador político para com nada se comprometer ou descomprometer.

Defende aqui e ali que o seu projeto é unir os portugueses que estão divididos mas não esclarece o conceito. Em democracia há consensos mas também há divisões maiores ou menores, é normal. Só existe união em regimes de partido único em condições de obrigação.

Consideremos que o pretende fazer, não diz é como, a menos que algum produtor de cola-tudo o ajude com matéria-prima (ironia). Será que a estratégia, se chegar a Presidente, é obrigar o Partido Socialista e a atual direita neoliberal que controla o PSD a aliarem-se contra "potenciais inimigo"? Cavaco Silva também tentou ou quase exigiu isso mesmo. Se assim for, Marcelo está contaminado pelo vírus do pensamento cavaquista. Marcelo é um cómico da política. Parece que a sua candidatura serve também para preparar o fim da sua carreira para obter mais uma série de regalias vitalícias que o cargo lhe irá proporcionar.

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publicado às 14:36

A galinhola e o pássaro

por Manuel_AR, em 12.01.16

Galinhola.pngPássaro com peixe.png

Marcelo é como um pássaro que se prepara para capturar os peixes que o contemplaram durante anos num aquário em forma de aparelho de televisão.

Há dois candidatos em campanha eleitoral para a presidência da república que têm condições para serem apoiados pela direita. Um deles ora diz ser da esquerda, do centro, da direita e do centro-direita, a outra não o diz mas repete até à exaustão o seu "currículo vitae" como se o estivesse a defender num concurso para o exercício de funções numa qualquer empresa.

A candidata Maria de Belém, apesar de ter o apoio difuso do PS, tem também o apoio de alguma direita que não vê em Marcelo o seu candidato. Maria de Belém tem um discurso monótono, vago, cansativo e sem conteúdo significativo, refugia-se com argumentos desinteressantes e meramente pessoais. É uma espécie de galinhola que debica aqui e ali para apanhar alguns bichinhos que andam por aí perdidos.

O candidato Marcelo Rebelo de Sousa, com o seu já maçador discurso de comentador de televisão sem contraditório, não se saiu bem nos debates televisivos com os candidatos que mais lhe poderão fazer frente. Marcelo é um mito criado pela televisão com a ajuda semanal dum(a) jornalista, um "entertainer" da política cujas propostas quer destinar a todos os quadrantes mas que, se for eleito, não saberemos o que fará. Quem se coloca numa posição ambígua e de equilibrismo alguma vez terá que cair para algum lado e não será para o lado contrário ao dele, a direita.

Ainda há portugueses que votam por representações que têm sobre os candidatos, se é ou não conhecido. Não votam em políticas, em ideias, em projetos, porque também os desconhecem, mas em pessoas. Rejeitam presidentes como Cavaco, mas são capazes de apoiar, sem o saber, candidatos cujas ideias são iguais.

As campanhas de Marcelo e de Maria de Belém para o cargo de Presidente da República têm apenas servido para exibir impotência (já mostrada por Cavaco Silva). Não basta fotogenia e presença sucessiva na comunicação audiovisual, para tal há por aí vários palhaços e humoristas. Um candidato a Presidente da República não pode passar mensagens como se de um cangalheiro se tratasse, suspenso sobre o passado, e dissimuladamente fugindo ao elogio dum defunto que já foi enterrado.

Marcelo é como um pássaro que se prepara para capturar os peixes que o contemplaram durante anos num aquário em forma de aparelho de televisão e Maria de Belém esgravata a terra à procura de algo que a alimente.

 

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publicado às 10:11

A dama ofendida

por Manuel_AR, em 31.10.15

Ofendida_Inês Teotónio.png

E, já agora pergunto: a Inês Teotónio Pereira já alguma vez leu os comentários vindos da direita e da extrema-direita sobre afirmações da esquerda? Então leia é um bom Passa-Tempo.

O que se passa nas redes sociais onde muitos, à falta de argumentos, entram numa linguagem ofensiva pessoal utilizam linguagem grosseira de calão mais emotiva do que política.

Inês Teotónio Pereira insurge-se num artigo de opinião no jornal i deste sábado com o tipo de linguagem que lhe foi dirigida nas redes sociais onde, a propósito do lançamento da candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa, disse que “Só o Prof. Marcelo para me levar a um sítio com operário no nome”.

Não tenho procuração para entrar em defesa de Inês Teotónio Pereira cuja ideologia política e opção partidária nada têm a ver com a minha mas, dum ponto de vista ético, entendo a sua indignação.

Inês Pereira, ao fazer parte duma rede social onde existe de tudo, o bom e o mau, o menos mau e o menos bom, está a pôr-se a jeito quando se colocam opiniões e estados de alma, seja eles da extrema-direita à extrema-esquerda.

Inês Pereira deve recordar-se das campanhas de difamação a que foi sujeito José Sócrates por parte da direita durante as campanhas eleitorais, não tenho a certeza se foi em 2005 ou em 2009, para não falar de outras ocasiões. A direita nunca se insurgiu contra estas campanhas difamatórias, pelo contrário, alimentava-as.

Ler este tipo de impropérios numa rede social faz parte dos custos de quem quer frequentá-las publicamente. Quando ainda exercia funções universitárias, sempre que alguém se queixava sobre alguma coisa que tinha que fazer, ou estava indignado com algo, eu costumava dizer: caro colega, as chatices que me apresenta também fazem parte do ordenado que recebe. Pode não ser bonito mas dava jeito.

E, já agora, pergunto: a Inês Teotónio Pereira, já alguma vez leu os comentários vindos da direita e da extrema-direita sobre afirmações da esquerda? Então leia é um bom Passa-Tempo.

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publicado às 15:53

Marcelo_marketing.png

 

Ainda estou para decidir se deva ou não chamar loucura a todo o erro de espírito desta panóplia de vedetas mediáticas oportunistas do propagandeio, comentadores ditos isentos que proliferam nas televisões.

 

A comunicação social há tempo que andava sôfrega por lançar para o universo da confusão política a questão das eleições presidenciais, antes até da constituição do novo governo, Marcelo Rebelo de Sousa deu-lhes agora uma ajudinha oportuna.

As candidaturas para a Presidência da República foram transformadas numa espécie de corrida louca dada a enfase com que a comunicação social a começou a "trabalhar" e a lançar para o mercado jornalístico.

Quando se falou na potencial candidatura de Marcelo Rebelo de Sousa a Presidente da República coloquei um "post", neste mesmo blog, onde ironizei com a possibilidade duma candidatura de Luís Goucha ou de Cristina Ferreira, também eles figuras públicas, mediáticas e comunicadores de sucesso.

Jornalistas e comentadores sorriem em estado de grande contentamento e tecem nas televisões discursos laudatórios à apresentação da candidatura de Rebelo de Sousa que foi o início da sua pré-campanha eleitoral e o primeiro passo para dar voz perfil para candidato, revendo-se como sendo um político com as condições mais do que suficientes para exercer o cargo de Presidente justificando assim as sondagens, prova indubitável da sua vitória logo à primeira volta.

Passos Coelho, em janeiro de 2014 no Congresso do PSD, traçava o perfil do que deveria ser o futuro Presidente da República: "protagonista catalisador de qualquer conjunto de contrapoderes ou num catavento de opiniões erráticas em função da mera mediatização gerada em torno do fenómeno político". Nem "deve buscar a popularidade fácil". Nestes dois pontos e apenas por uma questão de forma concordo com Passos Coelho,

Houve controvérsia sobre esta descrição, uns dizendo que se referiam a Marcelo Rebelo de Sousa e outros a dizer que nada tinha a ver com ele e que podia referir-se a qualquer um. A versão dos primeiros parecia ser mais verosímil

Coloquemos a seguinte hipótese: o candidato A. não é conhecido e não tem currículo político relevante e, por isso, não tem perfil para o cargo; o candidato B. não tem apoio de nenhum partido sendo quase nula a possibilidade de ser obter vantagens nas intenções de voto; por sua vez o candidato C. é muito conhecido pela visibilidade como comentador de televisão e pode vir a ter apoios alargados. O candidato C. é, de imediato, personificado por Marcelo Rebelo de Sousa porque todos o conhecem, não por ter funções políticas ativas mas porque tem uma visibilidade mediática permanente na televisão e faz comentários políticos semanais há anos e anos. Como poderia não ser conhecido? Quantos não haverá que, não sendo conhecidos nem tendo visibilidade mediática, podem ter perfil para Presidente da República.   

Rebelo de Sousa ao longo dos anos passou a ser um profissional da comunicação, um oráculo semanal da política. Não necessita de grande esforço para fazer uma campanha, mesmo sem falar muito. Despe a pele de comentador, vestindo a de candidato a Presidente comentador.

O segredo de Marcelo é ter-se "dedicando à comunicação social em jornais, na rádio e na televisão contactando milhões de leitores, ouvintes e telespetadores" como ele próprio afirmou no discurso de apresentação da candidatura que o jornal Expresso divulgou na íntegra.

Comunica como se estivesse perante o seu público da televisão, milhões de telespectadores, como afirma. Para salvaguarda do caso de alguns apenas o conhecerem apenas como comentador da televisão e como o professor encarregou-se de tecer a sua biografia profissional, diria antes um curriculum vitae, escusando assim que lha escrevam por ele. Diz-se "católico, influenciado pelo Vaticano II, concílio bem presente hoje no magistério do Papa Francisco" frase muito conveniente e convincente para captar votos de todos os devotos deste Portugal.

Para além de benemérito ao "devolver ao país tudo aquilo que Portugal lhe deu" segura também o discurso da estabilidade governativa que justifica através de argumentos de peso que apelam à fácil emoção quando revelou que para ele a "estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maio na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social." Palavras do agrado do governo e do ainda Presidente da República que serviram de mote à campanha da coligação PSD-CDS para gerar em parte da população um estado de temor.

Acrescenta ainda frases bem conhecidas e já pronunciadas pela direita e por Cavaco Silva quando diz "considero essencial que haja, como nas democracias mais avançadas, convergências alargadas sobre aspetos fundamentais de regime" de coloca ainda um toque de emoção: "a estabilidade e a governabilidade têm de estar ao serviço do fim maior e o fim maio na política é o combate à pobreza, é a luta contra as desigualdades, é a afirmação da justiça social.". "Considero ainda que não há desenvolvimento, nem justiça, nem mais igualdade com governos a durarem seis meses ou um ano, com ingovernabilidade crónica e sem um horizonte que permita aos governados perceberem aquilo com que podem contar no quadro da composição parlamentar resultante daquilo que votam.". Pensamentos déjà vu.

É consensual que ninguém quer instabilidade, mas as palavras de Marcelo Rebelo de Sousa são as mesmas da direita e de Cavaco Silva, divergindo apenas na forma e no tom que o traquejo de longos anos de comunicação televisiva lhe ofereceu.  

Com uma frente neoliberal, que diz ser agora social-democrata, a governar o país, Rebelo de Sousa, se for eleito Presidente da República, teremos novamente o lema "uma maioria, um governo e um presidente". Cabe perguntar o que fará diferente de Cavaco Silva nestas circunstâncias.

As posições defendidas à volta da candidatura de Marcelo por jornalistas e comentadores, conduziram-me à sátira "Elogio da Loucura" escrita em 1509 por Erasmo de Rotterdam.

Para finalizar transcrevo partes do texto de Erasmo com uma adaptação à atualidade política, livre e satírica, tendo, para tal, modificado e acrescentado umas poucas palavras.

 

Sei muito bem quanto o meu nome soa mal aos ouvidos dos mais tolos, orgulho-me de vos dizer que esta Loucura, sim, esta Loucura que estais vendo é a única capaz de alegrar os deuses e os mortais. A prova incontestável do que afirmo está em que não sei que súbita e desusada alegria brilhou no rosto de todos ao aparecer eu diante deste numerosíssimo auditório. De facto, erguestes logo a fronte, satisfeitos, e com tão prazenteiro e amável sorriso me aplaudistes, que na verdade todos os que distingo ao meu redor me parecem outros tantos deuses de Homero, embriagados pelo néctar do vinho embriagante.

Se, agora, fazeis questão de saber por que motivo me agrada aparecer diante de vós com uma nova roupa, eu vo-lo direi em seguida, se tiverdes a gentileza de me prestar atenção; não a atenção que me costumáveis prestar enquanto comentador que era a dos charlatães, e pantomineiros.

De facto, que mais poderia convir a Loucura do que ser o arauto do próprio mérito e fazer ecoar por toda parte os seus próprios louvores? Quem poderá pintar-me com mais fidelidade do que eu mesmo? Haverá, talvez, quem reconheça melhor em mim o que eu mesmo não reconheço? De resto, esta minha conduta parece-me muito mais modesta do que a que costuma ter a major parte dos grandes e dos sábios do mundo.

No entanto, esses insignificantes faladores a que atrás me refiro envaidecem-se com a sua vazia erudição e experimentam tanto prazer em ocupar-se dia e noite com essas suavíssimas nénias que nem tempo lhes sobra para ler ao menos uma vez programas e opiniões de outros. E o mais bonito é que, enquanto assim cacarejam nas suas escolas, imaginam-se os defensores do povo, que cairia na certa, se cessassem um momento de sustentá-la com a força dos seus silogismos, exatamente como Atlante, segundo os poetas, sustenta o céu com as costas.
Contam ainda os nossos discutidores com outro grande motivo de felicidade. A política e a governação são, nas suas mãos, como um pedaço de cera, pois costumam dar-lhes a forma e o significado que mais correspondam ao seu génio. Pretendem que as suas decisões uma vez aceitas por alguns outros devam ser mais respeitadas do que as leis de Sólon. Erigem-se em censores dos outros e, se alguém se afasta um pouquinho das suas conclusões, diretas ou indiretas, sentenciam oráculos: Essa proposição é escandalosa, esta aqui é temerária, aquela cheira a esquerdismo, aquela outra soa mal.

Para uma campanha eleitoral há que ter coragem, vamos! Dissimular, enganar, fingir, e apontar os defeitos dos adversário mas fechar os olhos aos defeitos dos amigos, ao ponto de apreciar e admirar grandes vícios como grandes virtudes, não será, acaso, avizinhar-se da loucura? Beijar, numa feira ou numa rua uma velhinha, sentir com prazer o fedor do seu nariz e, num mercado beijar peixeiras com cheiro a peixe e prometer atender um pai que o filho está desempregado não será isso uma verdadeira loucura?

Ainda estou para decidir se deva ou não chamar loucura a todo o erro de espírito desta panóplia de vedetas mediáticas oportunistas do propagandeio, comentadores ditos isentos que proliferam nas televisões.

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publicado às 16:49


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