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As eleições europeias são importantes a vários níveis, um, o que me parece ser atualmenteo mais importante, é o de limitar, através do nosso voto, aqueles partidos a chegar ao Parlamento Europeu com a intenção de bloquearem a própria democracia.

(Continuação)

Extrema-direita e a estratégia para a obtenção de votos

 Extrema direita: conotações

Alguma extrema-direita, com algumas exceções, está, por vezes, para a maior parte dos eleitores, marcadamente conotada com as trágicas experiências do nazismo e do fascismo e, ainda hoje, continua a apresentar muitos traços originais do seu início como o irracionalismo, nacionalismo, defesa de valores e instituições tradicionais, intolerância à diversidade — cultural, étnica, sexual — anticomunismo, machismo, violência em nome da defesa de uma comunidade/raça considerada superior. Distancia-se das direitas tradicionais pela intolerância e pela violência de suas ações.

A extrema-direita populistas desde que se organizou em partidos, movimentos ou associações públicas, diz recusar por parte de seus membros as práticas atrás referidas. Desconhece-se ainda a evidência das características do recente partido “Chega” do ex-autarca André Ventura do PSD que, após algumas peripécias, acabou por ser aceite pelo Tribunal Constitucional (TC) como partido político do Chega, que recusou, contudo, o nome de coligação Europa Chega terminando por ficar registado como a coligação “Basta”. O Chega, de André Ventura, vai coligar-se com o Democracia 21 para as eleições europeias. As declarações públicas de André Ventura contrastam com a declaração de princípios do seu partido.

Robert Paxton escreveu um livro “A Anatomia do Fascismo” editado em Portugal  pela Paz e Terra à venda na livraria online WOOK, onde se refere à inviabilidade de reedição do fascismo como experiência particular do contexto entre as duas grandes guerras mundiais, ou seja, um fascismo com as mesmas características, mas não invalida práticas fascistas possíveis na atualidade embora com outros matizes, porque segundo ele não foram superadas, as determinações económicas e políticas que contribuíram para sua emergência e ascensão ao poder.

 Extrema-direita na Europa e as novas tendências

Há inúmeras expressões da extrema-direita na contemporaneidade. Algumas, organizadas em partidos, outras em associações, movimentos ou grupos, muitas pulverizadas em práticas violentas e inorgânicas dirigidas a imigrantes, negros, homossexuais. O perigo é que eles estão a recuperar os seus valores mais arcaicos.

A ascensão dos atuais movimentos de extrema-direita, principalmente na Europa, não é episódica. Essa ideologia nunca deixou de existir mesmo após a sua derrota na Segunda Guerra Mundial dos fascismos e nazismos.

Em França, a extrema-direita vem crescendo com o fortalecimento do Partido da Frente Nacional. A atual presidente do partido é Marine Le Pen, filha de Jean Marine, conseguiu triplicar não aceita que o seu partido seja identificado como sendo de extrema-direita. A Frente Nacional influenciou a criação de novos partidos da extrema-direita na Europa, em função de seu desempenho nas disputas eleitorais na década de 1980.

Um jornalista, alertava em tempo para a extrema-direita em França e Marine Le Pen escrevendo em 2013 que os franceses andaram três décadas a equivocar-se sobre a caracterização da extrema-direita dizendo que era um fenómeno passageiro, um voto de protesto, uma crise da representatividade, desconfiança conjuntural, abandono dos setores populares por parte das grandes formações políticas, antieuropeísmo.

A Frente Nacional, segundo o mesmo jornalista, “deixou de ser um partido de uma minoria para se converter no partido de todos: jovens, trabalhadores, votantes comunistas, eleitores oriundos da direita clássica, do Partido Socialista, executivos e agricultores. A época na qual só os fascistas votavam em Le Pen era uma anedota porque as suas ideias racistas tornaram-se banais e sem crédito na França rica, onde se vive com um conforto quase inigualado, onde as férias são extensas, os direitos infinitos, o Estado um protetor consequente, a educação gratuita, a saúde subvencionada pelo Estado e o seguro desemprego um benefício global”.

Plataforma ideológica da extrema-direita

A plataforma ideológica das várias extremas-direita é invariável: racista, anti-elites, antiglobalização, ultranacionalista e antieuropeia. A suas armas estratégica são já bem conhecidas ao longo de décadas são a exploração do medo nas sociedades traumatizadas e cheias de medos por acontecimentos emocionalmente dolorosos como o terrorismo que as torna particularmente sensíveis em situações similares.

São o medo dos árabes, do islamismo, dos africanos, dos imigrantes, da Europa, dos bancos, dos ciganos, da bolsa de valores ou de qualquer outra coisa imaginária capaz de encarnar o medo.

Recordemos os casos de ataques terroristas, não apenas vindos do radicais islâmicos mas também os ataques com motivações da extrema-direita como foi o ainda recente caso na Nova Zelândia, que provocou pelo menos 49 mortos e 48 feridos entre os quais crianças. Estes ataques correspondem a uma sucessão de ações violentas por elementos da extrema-direita, de entre os quais se destacam atentados contra muçulmanos e judeus praticados em vários países por inspiração supremacista e xenófoba.

O lançamento do medo na sociedade, por vezes sem fundamento, são matizes que alimentam certa aproximação de parte das populações à extrema-direita, e, às vezes até, a partidos de direita, com vocação racista e xenófoba dissimuladas, que surgem em momentos sensíveis.

No contexto contemporâneo a extrema-direita, e alguma direita mais conservadora, defende os valores, princípios e conceções duma sociedade através do princípio das crenças irracionais e do sagrado para justificar os seus discursos face a condições de profundas desigualdades, insatisfações, medo e insegurança. Embora com novas tonalidades e rejeitando através do discurso o sistema de ideias fascista e nazista, contudo, há uma latência que nos lembra uma aproximação das suas convicções e ações com aqueles ideários.

O enraizamento e a ampliação deste tipo de campo ideológico são riscos que a Europa está a correr e que já vimos nos EUA e no Brasil, embora aqui com outras embora muito diferentes.

 

 Ação mimética da extrema-direita

O mimetismo é uma das características da transformação e adaptação ao meio que é utilizado pela extrema-direita populista. De modo geral, esses partidos ultraconservadores e eurocéticos defendem o fim da União Europeia e da moeda única que consideram responsáveis pela perda da soberania e da identidade nacional. Ao culparem os imigrantes pelo desemprego e pelo aumento da violência pretendem impor o controle mais rígido à imigração.

Apesar de defenderem a extinção da U.E. as candidaturas para as eleições ao Parlamento Europeu têm como objetivo obterem visibilidade política e, também, como alguns líderes de alguns desses partidos já afirmaram, para destruir a U.E por dentro.

Comentadores políticos afirmam que alguns desses novos partidos que compõem a chamada nova extrema-direita das direitas, tentam distanciar-se da extrema direita fascista. Contudo as suas propagandas têm atingido um endurecimento generalizado de atitudes em relação à diversidade cultural e étnica que nos deixa com a sensação de que quer através de atitudes e expressões de extremismo violento, quer quanto a movimentos políticos populistas assumir um papel visível e influente de grandes proporções.

A contradição está entre os que defendem e o que fazem. Na prática mimetizam a sua ideologia. Se, por um lado, na agenda económica, esses partidos não são muito diferentes do que propõem os partidos da direita clássica, por outro diferem em alguns pontos no que se refere às propostas político-sociais. Isso torna-se evidente na propaganda feita por esses partidos ao negarem o racismo e ao reforçarem que são a favor da pluralidade racial.

Quem vota nos populistas?

Com rigor não se pode saber quem vota em determinados partidos, mas há estimativas que nos permitem conhecer as tendências em função e características dos grupos sociais tais como variáveis ​​sociodemográficas sexo, idade (<25 anos, 25-34 anos, 35-44 anos, 45-54 anos, 55-64 anos, > 64 anos), educação formal (ensino primário, ensino médio, educação universitária) e classe social.

Várias investigações têm sugerido que existe a expectativa de que, quem têm posições socioeconómicas mais baixas possa votar em partidos radicais de direita populistas, assim como tem sido demonstrado que aqueles que votam em partidos de direita populistas radicais tendem a ser menos instruídos. Têm ainda demonstrado que os eleitores radicais da direita tendem a vir de classes sociais mais baixas (Carter, 2006).

Os populistas sejam de esquerda, de direita ou do centro dizem defender os "cidadãos comuns", o povo que, segundo eles, é negligenciado e traído pelos políticos / ou por uma elite económica condescendente. Os que têm posições socioeconómicas mais baixas provavelmente identificar-se-ão com aquela categoria de "cidadãos comuns" ou de "homem comum" e, portanto, sentir-se-ão atraídos pelas mensagens indutoras de que são vítimas do comportamento dos políticos.

A que chama atenção nas projeções efetuadas em investigações é a crescente adesão dos jovens europeus a movimentos nacionalistas, principalmente através da internet. Preocupados com o futuro (emprego e educação), a identidade cultural e a influência islâmica na Europa os jovens revelam-se cada vez mais críticos para com os seus governantes e a União Europeia.

Esta inclinação pelas extremas-direitas pode dever-se ao facto de as faixas etárias compreendidos entre os 21 e os 40 anos terem nascido em momentos da história da Europa em que a fase mais aguda da reconstrução do pós-guerra já tinha sido superada. Em 1989 deu-se a queda do muro de Berlim a que se seguiu, em 1991, a dissolução da União Soviética, pelo que essas faixa etária viveram sempre em democracia e não desconhecem o que é viver sob o poder ditaduras onde os tribunais são controlados pelo Estado, a comunicação social é limitada e controlada, a liberdade de expressão é censurada, existem perseguições étnicas e religiosas, proibição de greves e de manifestações e em que as perseguições políticas são constantes. Estes são os paradigmas das políticas da extrema-direita e também das extremas-esquerdas mais radicais, mas, de momento, o perigo destas não está iminente.

O que está a acontecer na Hungria com Viktor Orban e o seu partido, o Fidesz, que é acusado de ter restringido a ação de alguns órgãos de soberania de fiscalização como, por exemplo o Tribunal Constitucional que perdeu autonomia. Outro alvo de repressão, segundo os relatores do Parlamento, é a imprensa húngara que passou a ser controlada por um órgão regulador que pode sancionar veículos de informação que difundam notícias consideradas por Orban como "falsas". Deve ler-se neste caso aquelas que sejam contrárias aos interesses do seu governo, do partido, do "cristianismo" e da "família tradicional". Sendo um partido de ideologia conservadora e considerado de centro-direita, após ter ganho as eleições aproximou-se de posições da extrema-direita com um forte carácter nacionalista e populista.

Sob a liderança de Orban a Hungria procedeu a uma reforma eleitoral realizada para beneficiar o seu partido, o que lhe permite dispor hoje de dois terços do Parlamento o necessário para mudanças constitucionais. É assim que funcionam os partidos extremistas populistas quando chegam ao poder que lhes é dado pelo povo. Ou seja, deturpação total do que se entende por democracia para se manterem no poder por largos anos. Basta lembrarmo-nos de que a Hungria foi um dos países que esteve sob o jugo da ditadura ex-União Soviética.

Instituições de ensino como a Universidade da Europa Central, financiada em parte pelo bilionário americano George Soros, tiveram a liberdade académica restringida, segundo a U.E. Por fim, ONG’s são com frequência classificadas como "agentes estrangeiros" e têm sua atuação limitada no país - como acontece na Rússia.

Não bastasse a reforma eleitoral realizada sob o comando de Orban que terá beneficiado o seu partido permitindo-lhe dispor hoje no Parlamento de dois terços - o necessário para mudanças constitucionais -, mesmo tendo 49,3% dos votos na última eleição.

Relatora da acusação, a eurodeputada holandesa Judith Sargentini (Partido Verde) apelou aos congressistas a posicionarem-se em maioria de dois terços contra Orban - o necessário para a aprovação. Segundo Judith Sargentini, Orban "Perseguiu migrantes, refugiados e minorias como os ciganos. Há indivíduos no governo que beneficiam dos fundos europeus e dos contribuintes. Infelizmente nada melhorou desde que o relatório foi votado em junho na Comissão Europeia."

Foi a primeira vez que na União Europeia que o Parlamento Europeu elabora e aprova um relatório sobre a ativação do artigo 7.º do Tratado da União Europeia, que prevê, como sanção máxima, a suspensão dos direitos de voto a um Estado membro.

A extrema-direita populista aproveita-se da democracia para poder tomar o poder e, quando o consegue através de maioria confortável ou coligações passa a executar o seu programa ideológico.

 A ascensão e a atração de eleitores

Segundo alguns estudos, os principais motivos que têm dado origem à ascensão dos partidos da extrema-direita estariam na crise económica e financeira que assolou por contágio a U.E..

Há, no entanto, uns estudos que têm verificado que os desempregados e os que têm rendimentos mais baixos também são suscetíveis de apoiar ideologias de esquerda radicais populistas (Kraaykamp, Jaspers, 2013) e outros que mostraram que as populações das classes mais baixas são mais propensas a votar em partidos populistas de esquerda do que em outros partidos. 

Não raras vezes a educação exerce um efeito positivo na votação na esquerda radical.  Outros autores mostraram que, quando se trata de votar em partidos populistas na Bélgica, na Alemanha e na Holanda, a educação não exerce um efeito negativo geral

É provável que a condição socioeconómica, e não a educação, seja preponderante e tenha um efeito negativo sobre o voto populista. Uma possibilidade é a de que os partidos populistas possam ter em comum o facto de ser mais provável as suas bases eleitorais consistirem em indivíduos que ocupam posições socioeconómicas mais baixas, isto é, virem de classes mais baixas, estarem desempregados e ter rendimentos mais baixos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.

Uma pergunta que se pode colocar é porque é que uma posição socioeconómica mais baixa poderá levar à votação num partido populista. Haverá alguma relação entre a posição socioeconómica de alguém e a sua inclinação para votar em partidos populistas?

Nas questões que a extrema-direita levanta estão presentes atitudes populistas de euroceticismo daí que andem intimamente relacionados. Respostas justificativas poder ser dadas pela relação entre a posição socioeconómica, o euroceticismo, e a votação populista devido à ameaça de que a abertura das fronteiras por temerem que imigrantes de países da Europa Oriental, e outros, lhes "roubem" empregos. Outro aspeto é que, sendo eurocéticos, podem sentir-se atraídos por este tipo de mensagem populistas.

Os eurocéticos tendem a votar em partidos populistas da extrema-direita por acharem que os políticos dos seus países transferiram poder demais para a U. E. Como se sabe, vários partidos populistas posicionados à margem do espectro político tradicional tendem a expressar atitudes eurocéticas que atrai bases eleitorais pelo de consistirem em indivíduos que são mais propensos a serem eurocéticos do que aqueles que votam nos partidos tradicionais.

Não é apenas a condição socioeconómica e a atitudes negativas em relação U. E. que está na origem do voto em partidos populista, mas também a desconfiança em relação à política e aos políticos em geral e é aqui que também incide a mensagem desses partidos muitas da vezes veiculada por alguma comunicação social. Não é por acaso que muitos dos que estão desempregados e os que têm rendimentos mais baixos são mais propensos a estarem politicamente insatisfeitos, provavelmente porque tenderem a culpabilizar o sistema político pela sua situação económica.

Uma outra possibilidade é a tendência para os que votam em partidos de direita populistas desconfiarem da política, desconfiança alimentada por aqueles partidos que expõem a população a mensagens populistas em que criticam os políticos e a política.

Há um aproveitamento da direita radical populista em relação a todo o sistema político para obtenção do voto pelo recurso à desconfiança em relação aos políticos dentro do sistema democrático que dirige a mensagem populista não contra o sistema, mas contra as elites corruptas fazendo parecer que a responsabilidade dos fenómenos adversos que existe são os próprios políticos. Como os populistas levantam suspeições aos políticos e às instituições representativas exigem frequentemente inovações institucionais como a restauração da primazia do povo através de iniciativas populares e referendos como afirmou Paul Webb, num artigo publicado em 2013 aplicado ao Reino Unido e cujo título em português é “Quem está disposto a participar? Democratas insatisfeitos, democratas furtivos e populistas no Reino Unido”. Do meu ponto de vista estes populistas da direita radical estão a aplicar os mesmos métodos há muito utilizados pelas esquerdas radicais com algumas diferenças como sejam a aplicação de referendos aplicados indiscriminadamente a todos os atos políticos, porque sabem que dessa forma poderão manipular os povos de forma rápida e facilmente.

Basta conferirmos sobretudo nas redes sociais na Europa e em Portugal, para se confirmar que elas estão repletas de discursos de alienação política e de apatia por parte dos cidadãos. A culpa é a maior parte das vezes atribuída aos políticos, partidos políticos e outras instituições e processos importantes da democracia representativa.

Estes partidos populistas tentam criar um regime de negatividade e de deceção democrática artificiais aproveitado pelas próprias características do sistema democrático cuja possibilidade de alternância promove a crítica “favorecendo o discurso político que normalmente é caracterizado pela negatividade”. Diariamente verificamos isso na política em Portugal pelos discursos negativistas dos partidos quando se encontram na oposição. Não é também é por acaso que nas ruas não raramente escutamos comentários como o de “eles não de entendem!”. Pois é isso mesmo a democracia, ainda que às vezes nos custe, mas sempre é preferível a discursos uníssonos que esses partidos radicais de direita populistas mimetizados de democratas que no querem impor logo que consigam utilizar a democracia para chegarem ao poder.

As eleições europeias são importantes a vários níveis, um, o que me parece ser atualmenteo mais importantes, é o de limitar, através do nosso voto, aqueles partidos a chegar ao Parlamento Europeu com a intenção de bloquearem a própria democracia.

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publicado às 20:53


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